IV
Jungkook P.O.V
- Quero te fazer uma proposta querido. - A garota de cabelos grandes e longos falou.
Eu já vi aquela menina na cidade, o nome dela se não me engano era Jade.
Garota bonita até, cabelos longos e em castanho-claro, tão liso que talvez nenhuma presilha pegaria nele. Seus seios eram fartos, mas talvez fosse somente uma ilusão já que a roupa que estava vestindo era tão apertada que eu sentia falta de ar por ela.
A cor da pele dela era um branco não muito chamativo, e seus olhos eram tão azuis que podiam encantar uma serpente.
- Sou todo ouvidos. - Disse me escorando na mesa de madeira que ficava no depósito de minha loja de conveniências.
- Eu vou dar uma festinha na minha casa sabe, e lá é um local onde não se tem vizinhos, então ninguém pode chamar a polícia por barulho. - Ela começou e se sentou na cadeira que ficava de frente para minha mesa, logo cruzando as pernas de modo elegante.
"Essa pirralha está tentando me seduzir?"
- Você poderia vender algumas de suas coisas por lá, se meus convidados soubessem que teria venda de drogas na festa, eles poderiam com certeza te dar muito lucro e falar muito bem da minha festa por aí. - Ela diz com um sorriso de lado.
- É uma boa proposta, mas eu tenho uma melhor ainda. - Olho para meu notebook observando as câmeras de segurança da loja. Seokjin e Taehyung estavam saindo para a escola. - Meu irmão Seokjin vai comigo, nós vendemos ou até as drogas acabarem, ou até eu ficar muito louco, e todos saem felizes.
- Achei perfeita. - Ela põe sua mão a frente do corpo para eu apertar, como um selo do acordo. - Sabe, como você é novo por aqui, não julga que precisa de alguém para mostrar os lugares da cidade?
- O que essa cidade tem de bom? - Falei com uma de minhas sobrancelhas arqueadas.
Aquela garota era realmente uma comédia, se ela queria sexo era só pedi, eu não costumo falar não para coisas assim, porém como era o horário que eu estava trabalhando com certeza não dava para fazer nada naquele momento.
- Bem, não muitas coisas, mas tem umas baladas até que legais, e também um parque muito bonito, e tem eu obviamente. - Ela diz rindo de modo calmo.
- Você quer sexo é isso? - Falei de modo direto vendo ela me olhar por alguns segundos e piscar rapidamente os olhos.
- Eu? Nunca, não faria esse tipo de coisa, eu sou da igreja sabe? - Ela acariciou o pingente de ouro em forma de crucifixo.
- Você não é a Jade? - Olhei-lhe com um olhar de desdém.
- Você já me conhece? - Ela perguntou com um sorriso de orelha a orelha.
- Ouvi falar muito sobre você, não é a garotinha que senta em todos os garotos da escola com a cara de pau de falar para o namorado que é pura? - Olhei nos olhos dela. Como se eu tivesse tirado uma máscara, a menina riu de modo sarcástico se levantando.
Em passos lentos ela chegou perto de mim e sentou em meu colo, como se eu a todo momento tivesse dado total consentimento para tal coisa, ou como se nos conhecêssemos a anos.
- Sabe, falam muitas coisas de mim por aí, algumas são verdades, outras não, porem ninguém nunca teve coragem de me falar elas na cara. Você é bem interessante. - Ela disse chegando perto de meu rosto e em seguida beija minha bochecha. - Te espero domingo às onze, o tema é... Bem, chegue chapado.
Ela saiu do meu colo e andou educadamente para fora do depósito, com sua bolsinha brilhosa em um ombro só.
- Essas crianças desse lugar vão me arranjar muito problema. - Digo comigo mesmo.
Sei que talvez eu posso parecer alguém duro com as pessoas, ainda mais com meus irmãos mais novos, mas eu tenho que cuidar deles.
Eu vim da Coréia, mas especificamente de Busan. Sempre fui um aluno nota dez, fazia esportes, sempre voltava para casa na hora que minha mãe pedia, pois ela tinha depressão e estava sempre doente, e tentava ao máximo ajudar em casa. Até descobrir que a mãe que estava comigo não era minha mãe de sangue, quando descobrir isso meu mundo desabou, e desabou mais ainda ao saber que eu tinha mais dois irmãos.
Com 15 anos eu tive que me mudar para a Daegu tudo para cuidar de minha família, toda essa mudança na cabeça de um adolescente era muito difícil, Seokjin tinha 12 anos, e Taehyung tinha somente 10, não entendiam direito.
Eu continuei sendo um bom filho, mas era tudo muito estranho, como eu não cresci com aquela mulher, para mim ela não era minha mãe, até o sobrenome dela diferia do meu, aquilo foi me deixando mal, ficar longe da minha outra mãe me deixou quase que depressivo.
Com 17 anos eu conheci um garoto que era literalmente a pessoa que eu mais andava, com isso ele me fez conhecer outras pessoas, e essas pessoas me deram xanax, eu gostei da sensação que senti, a sensação de não pensar mais na saudade que eu sentia. Esses garotos se tornaram meus irmãos, quando um deles foi morto deixou 80℅ da fábrica de drogas em que ele fazia parte para mim.
Meu pai já era metido com coisas erradas, então eu sempre tinha um sofrimento bem no fundo sobre essas coisas, mas guardava pra mim, guardava as mortes que tinham em sua conta, tudo para mim.
Com 18 anos eu entregava maconha por toda a Coréia. Mas tive que tornar tudo mais sério quando minha mãe de sangue teve AVC e entrou em coma, e logo em seguida minha mãe de criação ficou muito doente, e faleceu 2 meses depois.
O mais rápido possível arrumei as minhas malas e a da minha família, antes de conseguir vender as drogas eu tive que mostrar para o país que eu era alguém confiável, menti arranjar dinheiro editando vídeos para canais famosos, e tive que ter o máximo de cuidado possível ao trazer minha mãe. Os aparelhos dela não podiam ser desligados por mais de 2 minutos, então tudo teve que ser feito as pressas.
Meu destino não foi esse lugar de primeira , foi uma Las Vegas, em seguida eu tive que me mudar, o intuito não era ficar nesse lugar, mas os garotos adoraram aqui, sentiram como se esse lugar fosse o certo para se viver, então somente aceitei.
- Jungkook? - Sid entra no armazém e me olha. - Taehyung e Seokjin perderam o ônibus, você precisa buscar eles.
Respirei fundo e confirmei com a cabeça olhando o horário que havia passado de modo muito rápido.
Sidney, ou Sid, era o cara que eu conheci assim que pisei nesse lugar, ele era amigo do Nico, ex-traficante da área que agora era minha, o garoto era fera em coisas como esconder drogas e armadilhas para possíveis policiais que encontrem o local.
A primeira coisa que Sid me contou quando me conheceu é que foi demitido por Nico, e por conta disso a amizade deles tinha ido por água a baixo. Outra coisa que ele havia me contado era que Nico ia sair da área pra voltar pro pais de onde ele veio, Brasil, porém o chefe dele não havia gostado nada da ideia, e que foi ele quem denunciou Nico para a polícia.
O maior medo de Sid era que o cara expulsasse Nico da cidade, ou que pior, matasse ele.
Peguei a chave do carro e fui em direção a rua, apertei o botão onde o carro era destravado e logo entrei nele, comecei a dirigir em direção ao local.
Ao chegar em frente a escola dos garotos eu sai do carro e me escorei no mesmo, em tempos os alunos começaram a sair da escola. Olhei um pouco para o lado vendo Nico em sua moto, apertei minhas sobrancelhas em sinal de confusão.
Em menos de 1 minuto consigo ver Taehyung, SeokJin e Jimin vindo juntos se empurrando e rindo. Ao ver Nico, Jimin correu até ele o abraçando forte, meus irmãos rolaram seus olhos como se estivessem entediados, mas logo abriram um sorriso ao me verem.
- Oi. - Falei quando o corpo deles bateram com o meu em um abraço.
- Recepciona a gente direito seu feioso. - Taehyung falou fazendo uma careta batendo em seguida no meu braço.
- Queria o que? Tapete vermelho? - Digo revirando os olhos.
Ouso o barulho de uma moto em alta velocidade, em seguida só deu tempo de piscar e escutar os disparos de arma em direção a Nico. Como instinto abracei os meninos e fiquei na frente deles os protegendo. Porém logo vejo os dois homens que estavam na moto saindo.
Olhei para trás e Jimin estava chorando, com sangue em sua roupa abraçado ao corpo de Nico que parecia já está morto.
- Jimin! - Seokjin falou e correu junto de Taehyung até o amigo.
Jimin P.O.V
Quando eu escutei os disparos senti uma adrenalina forte em meu corpo, como se eu fosse ser atingindo e morto alí mesmo, quando percebi estava no chão junto a Nico, que tinha dois buracos de bala, um em seu peito e outro na garganta.
Senti meu coração bate forte e uma profunda tristeza me invadir, sem pensar duas vezes coloquei o corpo do garoto em meu colo.
- Nico, acorda Nico, para de graça. - Falei chacoalhando o corpo dele devagar. - Nicolas, acorda não brinca comigo.
Percebi que aquilo não era brincadeira, era sério, a pessoa que eu amava estava em meus braços sem vida. As lágrimas começaram a rolar em minhas bochechas, e menos de 2 segundos eu me encontrava atordoado.
- Acorda Nicolas, você me prometeu que ia me esperar, você prometeu me levar pra casa! Acorda Nico! - Gritei em desespero, não lembro de ter chorado tão forte como naquele momento.
Minha vida estava sem vida em meus braços.
Eu amava Nicolas, amava de mais e, só fui perceber isso um dia antes de sua morte.
- Jimin! - Escutei a voz de Seokjin ao fundo, mas naquele momento nada importava.
- Você disse que não ia ser iguais os outros, que não ia me deixar! Eu odeio as pessoas que me deixam Nicolas, então é melhor você acordar se não eu vou te odiar! Acorda Nicolas! - Senti minha garganta doer de tão alto que eu gritava.
Senti alguém tentar me puxar para longe do corpo de Nicolas, porém eu somente abracei ele e o apertei para não deixa-lo ir, mesmo ele já tendo escorrido entre meus dedos.
Os barulho de ambulância e de carros de polícia começaram a ser ouvidos por mim. Não percebi mas parecia já ter passado quase 15 minutos que eu estava no chão da frente da escola, abraçado ao corpo de Nicolas.
Alguns médicos da ambulância tentaram falar comigo, tentaram me pedir para soltar o corpo de Nicolas, tentaram me fazer perguntas, sem sucesso todas essas tentativas.
Meu rosto foi fortemente puxado por Jungkook que ficou cara-a-cara comigo.
- Me escuta, Jimin. Você precisa soltar o Nico, eles precisam levar o corpo dele, você tem que se limpar e ajudar a polícia. - Ele disse de modo sério e me deu um choque de realidade.
Confirmei devagar com a cabeça e voltei a olhar para Nicolas que estava gelado, estava opaco, estava sem nenhum brilho, estava sem vida. Beijei a testa do garoto e enquanto isso tirei seu celular do bolso de sua calça sem ninguém perceber, em seguida coloquei no meu.
Com a ajuda de Jungkook e dos paramédicos eu me levantei e fui em direção a uma ambulância, me deram um cobertor para colocar em meus ombros e um pouco de água junto de um calmante.
- Jimin, você está me escutando? - Jungkook perguntou sentando ao meu lado.
Olhei para ele e confirmei, não tinha a minima vontade de falar, não saia nada da minha garganta além de soluços que estavam fracos.
- Eu preciso que você me responda se consegue responder os policiais. - A voz de Jungkook era mansa.
Neguei com a cabeça sentindo novamente as lágrimas quentes descendo minhas bochechas.
- Eu vou te levar para casa. - O moreno diz abraçando minha cintura e me ajudando a levantar.
- Não me leva pra casa. - Falei baixo, com as últimas forças que eu ainda tinha. - Liga para meus pais, eles devem tá sabendo disso, fala que não estou pronto pra ir em casa agora.
Peguei meu celular e dei para ele já no contato de meu pai. Ele pega o celular e me olha antes de começar a ligar para o mais velho saindo de perto de mim para poder conversar melhor.
Enquanto via Jungkook se afastando para falar com meu pai comecei a andar até a ambulância em que o corpo de Nico estava, ao bater o olho em somente a mão dele que não estava coberta e estava fora da maca eu senti todo meu corpo tremer.
Meu peito começou a arder e tudo começou a rodar, eu não sentia o ar indo para meus pulmões, tudo parecia está se mexendo rápido, parecia que todos estavam borrados de tão rápido que estavam.
O mundo ficou preto e então eu cai no chão sem consciência.
[Tudo na paz galera?]
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