III
Jimin P.O.V
Olhei assustado para trás vendo um homem asiático, seus cabelos eram longos, porem estava amarrado em um coque, ele tinha a pele meio bronzeada, suas unhas estavam pintadas de preto, ele tinha uma tatuagem no pescoço que não dava para ver direito o que era e também tinha dois 'piercings', um em sua sobrancelha e outro não muito a amostra na língua.
- Meu Deus! Jungkook! Que susto! - Seokjin fala colocando a mão em seu peito.
- Quem não deve não teme. Eu já estabeleci uma regra nessa casa, não iria ser trazido ninguém, no primeiro dia que eu saio tu já passas por cima da minha regra. - O homem andou em passos pesados até Seokjin sem ao menos olhar para mim.
- Ele machucou o tornozelo por minha culpa, eu não podia deixar ele machucado. - Seokjin falou de modo bruto com o irmão que franziu o cenho.
- Conversamos sobre isso depois, cuide de seu amigo, eu levo ele para casa de moto. - O homem se virou finalmente olhando para mim, ele parou um pouco. - Ele é asiático?
Engoli todo o medo que eu estava sentindo naquele momento para lançar um sorriso sarcástico para o tal de Jungkook.
- Não, tive erro genético, minha família toda é americana e só eu nasci asiático, foi um brinde do hospital. - Olhei para Seokjin que me lançava um olhar de reprovação.
- Engraçadinho, você ta na minha casa e ninguém da diretoria sabe certo? Para sumir contigo era só um estalar de dedos, então é bom respeitar as regras da minha casa e a mim. - Ele disse e deu leves tapas em minha cabeça como se eu fosse uma criança.
- Jeon, eu trouxe o estoque de drogas. - Um homem entra na casa com sacolas nas mãos.
Todo mundo ficou calado, e com a bochecha um pouco ruborizada Seokjin veio até mim, colocando meu pé em sua coxa.
- Você é o novo traficante! - Falei apontando para o Jungkook que se assustou com minha voz tão alta.
- E se você contar para alguém eu mesmo te mato. - Ele responde abaixando meu dedo que antes estava apontado para ele.
- Por que eu contaria a alguém? Eu ia vindo aqui hoje para comprar bala, por isso tava tentando fugir da escola. - Sorri e olhei para Seokjin que somente me olhou de volta como se tivesse brigando comigo.
Jungkook parou por um tempo, ele olhou para o cara que entrou e só fez um gesto para o seguir, os dois entraram em um quarto e a porta do local foi fechada.
- Me desculpa por isso, esse é o meu irmão mais velho, Jeon Jungkook. - O garoto suspiro colocando um 'spray' gelado em meu tornozelo.
- Tudo bem, sua família é mais normal que a minha. - Eu disse fazendo em seguida uma careta quando ele começa a enrolar meu tornozelo.
- Você precisa tomar um remédio para dor, aqui não tem nada. - Ele guarda as coisas no 'kit' e depois me olha. - Vou chamar meu irmão para te levar.
Confirmo com a cabeça vendo o garoto sair do meu campo de visão. Nunca imaginei que a casa de Seokjin, um garoto tão alegre seria um ponto de droga. Seu irmão, Jungkook, parecia ser alguém bem protetor, porém não muito responsável, já que deixa os irmãos mais novos conviverem com algo como aquilo.
Mas eu não irei julgar não é mesmo? Na maioria das vezes é o único jeito de sobreviver nesse mundo terrível.
- Daqui a dois meses eu volto, os adolescentes daqui são todo uns viciados, você vai ganhar bastante dinheiro. - O homem loiro e baixo cheio de tatuagens no rosto fala, logo ele sai da casa.
- Já acabou Seokjin? - Jungkook perguntou olhando para nos dois.
- Sim, você irá levar ele com a moto de Taehyung? - O garoto perguntou.
- Já disse que aquela moto não é de Taehyung enquanto ele não completar a maioridade. - O moreno fala pegando um capacete que estava em cima do armário e joga para mim.
- Taehyung já anda de moto com 14 anos? - Disse espantado. - Quer ser meu irmão também não Jungkook?
O garoto somente me olhou com uma cara de tédio e em seguida pegou outro capacete, foi até seu irmão e beijou sua testa, logo andou até a mulher deitada na cadeira e beijou sua cabeça.
- A bença mamãe. - Ele diz baixo fazendo um carinho nos cabelos alheios e em seguida segura em meu braço me puxando para fora da casa.
Acredito que as pessoas gostavam de me puxar para os cantos, é igual eu me machucar, sempre acaba acontecendo deu cair e quase morrer, igual sempre acaba acontecendo de alguém tá me puxando pelos pulsos.
- Você vai subir ou não? - Jungkook fala me fazendo sair de mais um dos meus transes daquele dia.
- Me desculpe. - Digo rápido colocando em seguida o capacete, logo subindo na moto um pouco pensativo se me segurava ou não nele.
Eu posso ser um maluco sedentário por sexo, mas quando uma pessoa fala que não quer ser tocada é bom vocês aceitarem, aprendi isso vendo Jade dando uma joelhada em um garoto que não aceitou direito o "não" dela.
- Você tem que se segurar, se não for irá cair com total certeza. - Em menos de segundos da sua fala me seguro de modo forte em sua cintura.
- A minha casa fica na- - Sou cortado por ele.
- Eu sei onde fica. - Ele acelera a moto logo a fazendo ela andar de modo rápido.
Ok, talvez eu nunca tenha andando de moto, e agora que eu to andando posso confirmar que essa merda é terrível, andar de carro é mil vezes melhor, até porquê isso não tem ao menos um cinto de segurança, se a moto bater? Minha única segurança vai ser esse homem gigante que está dirigindo?
Eu talvez posso ser um pouco dramático, mas sério que só eu pensei nisso? Como alguém pode andar em algo desse tipo?
E naquele momento entendi o porquê.
O vento batendo em meu rosto, e o jeito que nada importava, somente está ali seguro, era a sensação de liberdade, era isso que as pessoas gostavam.
Me sentir livre nunca foi nada que necessariamente eu precisava sentir, até porquê em minha cabeça eu era livre, meus pais não me prendia, sabiam sobre minha sexualidade, e em nenhum momento a partir dos meus 15 anos me sufocaram. Então, porque eu me senti livre andando em uma máquina mortífera como aquela?
Devagar a velocidade da moto foi abaixando, e com um piscar eu havia percebido que cheguei em minha casa.
Ele realmente sábia qual era o endereço, mas como?
Desci de sua moto com um pouco de dificuldade por conta da dor que ainda sentia em meu pé, em seguida tirei o capacete e entreguei para ele.
- Bom, obrigada por me trazer. - Digo tentando ajeitar os fios de cabelo que deviam ter saído do lugar.
Ele somente confirma com a cabeça, olho para os lados, porém, como ele não fala mais nada me viro de costas para o moreno fazendo menção de sair andando para dentro da minha casa.
- Bem, você usa maconha? - Ouvi a voz dele, o que me fez voltar a virar de frente para o rapaz.
- Uso, mas prefiro bala. - Ele apertou sua testa devagar como se tivesse confuso. - Lsd.
- Eu sei o que é bala, garoto. - O Jeon revirou os olhos. - Mas as pessoas muita das vezes preferem crack ou o famoso cogumelo.
- Crack é bom de vez em nunca, e eu odeio chá, ainda mais de cogumelo. - Fiz uma careta fraca para mostrar meu desprazer com tais drogas.
- Vai começar a comprar comigo? - Sua pergunta parecia inocente, era como uma criança perguntando "vai comprar 'cookies' comigo?"
- Vou, a pessoa que antes me vendia foi presa e eu não fico sem minhas balas.
- Bom. - Ele mexeu nos bolsos da jaqueta de couro que estava vestindo, tirando de lá quatro balas. - Por conta da casa já que meu irmão te ajudou a dar esse jeito no tornozelo.
Ele liga a moto pondo o capacete que estava sobrando em seu braço e o outro na sua cabeça.
- Obrigada, foi o melhor presente que já me deram. - Falo rindo baixo.
Ele nega devagar com a cabeça sem ao menos rir, logo acelera a moto saindo em disparada por minha rua, e sumindo rapidinho do meu campo de visão.
Olhei os lsd's em minhas mãos e suspirei, guardei as mesmas no bolso das minhas calças e andei com dificuldade para dentro da minha casa.
Assim que coloquei meu lindo pezinho machucado em casa, meu pai correu para perto de mim.
- O que aconteceu meu filho? - Ele colocou meu braço por cima de seu ombro e se abaixou para eu conseguir lhe alcançar.
Que chacota.
- Eu caí quando estava descendo do ônibus. - Falei com a maior cara de descarado desse mundo.
- Meu filho, você deve prestar atenção nessas coisas, vou te dar um remédio para ajudar com a dor. - Ele me deixou no sofá e saiu para cozinha, um tempo depois o homem volta com uma pílula na mão e um copo de água na outra.
- Obrigada, papai. - Digo pegando o copo e abrindo a boca, ele joga a pílula em minha língua e em seguida bebo a água do copo.
Olhei para o lado, havia algumas janelas em quadrados o que me fez fixar os olhos nelas. Em instantes os números começaram a aparecer, e então comecei a contar cada um, e quando eu acabava de contar em inglês, contava em coreano, e quando acabava de contar em coreano, contava em francês.
- Jimin? - Meu pai me chamou, olhei-lhe e então voltei rapidamente os olhos para as janelas vendo que os números haviam sumido.
- Droga, papai. - Falei com raiva e então voltei a contar, os números voltavam a aparecer conforme eu ia contando.
- Querido é melhor você ir para o quarto, sim? - Ele volta a fala constatando o que estava acontecendo.
Meu TOC estava se mostrando, eu podia ficar dias sem sentir nada do TOC, porém em qualquer momento, a qualquer dia, a qualquer hora ele se mostrava, quando era em casa tudo bem, mas quando estou na escola ou no meio da rua era um problema.
Olhei para o meu pai e somente sorrio de modo fraco, confirmei devagar com a cabeça.
- Tudo bem, papai. - Digo baixo e me levanto andando com dificuldade até meu quarto, destranco o mesmo e entro em seguida.
Deitei-me na cama e tirei a mochila das minhas costas jogando a mesma em algum local. Apalpei minha roupa tirando o celular do bolso das minhas calças.
- Que merda é essa? - Falei comigo mesmo quando entrei no Instagram e vi que iria ter uma festa e que só se entrava lá se tivesse doidão.
Jade era a organizadora.
Ela havia me mandado uma dm com o convite virtual da festa, e claro que veio falar sobre meu cabelo.
"jadeprice: Seu cabelo hoje estava a destruição, Jimin."
"jimincollins: Vai se foder, sem-vergonha."
Revirei os olhos com a mensagem da menina, vi minhas novas notificações e nela tinha 3 seguidores novos, Seokjin, Taehyung, e um cara que parecia ser fake, segui todos de volta e ri baixo quando Seokjin me mandou rapidamente uma mensagem.
"Seokjinkim: Oi!? Jiminzinho, você está melhor?"
"Jimincollins: Estou sim, tomei um remédio para dor e já estou novinho em folha."
"Seokjinkim: Vai para a escola amanhã?"
"Jimincollins: Vou sim."
- Jimin, venha comer! - Escutei minha mãe chamando.
- Estou sem fome. - Gritei de volta.
- Deveria ir comer, Jimin. - Me assusto com a voz repentina que entrou no meu quarto.
Olho rapidamente para de onde a voz veio, dando de cara com Nico escorado em minha janela com uma maconha na boca.
- Mas que porra é essa? Nico? - Olhei bem para ele e logo sorri indo o mais rápido possível para minha janela.
- Eu to bem, baixinho. - Ele diz quando pulo nos braços do mesmo lhe dando um forte abraço.
- Me falaram que você foi preso, o que faz aqui? - Pergunto com a visão embaçada, já que havia lágrimas que queriam teimar em cair.
- Fui solto bem rápido, às pessoas dessa cidade são bem corruptas, foi só dar uma bolada de dinheiro que consegui sair. - Ele disse com calma, me afastando devagar e me ajudando a sentar na janela. - O que aconteceu com teu pé?
- Fui fugir da escola para comprar droga e cai de mau jeito. - Falo de modo simples tirando a maconha da boca dele e pondo na minha.
- Isso é bem sua cara mesmo. - Ele rir baixo chegando perto do meu rosto. - Já soube do novo traficante?
- Como não saber? Ele é irmão de um colega meu. - Disse assoprando a fumaça que estava em minha boca.
- Ele é o oficial da área agora, parece que trabalha por si mesmo, não precisa de uma pessoa por trás, como eu. - Ele diz fazendo um leve carinho em minha coxa.
- Espera, você não vai mais vender as drogas? - O olhei com o cenho franzido.
- Não, eu quero voltar pro Brasil, to com saudade da minha família e de sentir calor. - Ele suspira fraco. - Não quero mais me envolver com esse tipo de coisa, Jimin.
Certo, eu posso ter esquecido de falar para vocês algumas coisas sobre o Nico.
O nome dele não era realmente Nico, era Nicolas Alves da Silva, ele era um brasileiro que morava em Bahia, salvador.
Mas a pergunta é, como ele veio parar nesse fim de mundo?
No Brasil existe uma prova chamada ENEM, ele fez essa prova quando tinha 17 anos e conseguiu 100℅ dos pontos. As grandes faculdades dos Estados Unidos se interessaram por ele, porém, o que Nico gostava mesmo era de desenho.
Nicolas tentou entrar primeiramente para Rhode Island School of Design, a melhor faculdade de artes dos Estados Unidos, porém eles já tinham todos que precisavam, rejeitaram Nico sem ao menos ver seu puta talento.
Até que outra faculdade o aceitou, The Juilliard School, a faculdade que treinava somente artista. Faculdade dos sonhos para cantores e dançarinos.
Mas Nico era desenhista.
Os custos da escola eram muito caros, ele tinha que além de tudo dividir uma casa com 4 pessoas, pois não podia bancar os custos de morar sozinho. Em menos de 1 ano ele se viu endividado e teve que trancar a faculdade.
Em uma festa Nico conheceu um cara chamado Flinn, esse cara disse conseguir tirar Nico daquele aperto que ele estava, disse ter uma cidade em Nova York chamada Corning, onde os adolescentes eram todos uns idiotas malucos por drogas.
Assim, com seus 18 anos e muito medo de ser deportado de volta para o Brasil, ele se mudou para cá, começou a vender drogas para Flinn e lucrou de mais com isso.
- Porra Nicolas, tu tá desde os 18 sendo assim, e agora com 22 quer mudar? - Digo indignado.
Certo, talvez eu não tenha contato toda a história. No começo desse ano eu e Nico transamos, mas tipo, muito.
Me deixa poxa, tenho 16 anos e sou drogado, até eu completar 17 tenho que me sentir um pouco vivo.
Eu sei, eu sei, não é certo eu foder com um cara de 21 anos, mas também não era certo eu me drogar, a Lídia ter que se esconder por conta de um vídeo, o irmão de Seokjin ser um traficante, meu pai ter um filho cheio de doença na cabeça.
O mundo não é certo galera, ou nós aceitamos, ou enlouquecemos.
- Eu pensei que você me apoiaria. - O homem me olhou de modo quase que bravo.
Sério, Nicolas bravo era um tesão.
Ele era um típico homem latino, a pele dele era bem bronzeada, seus cabelos eram tão pretos que doía os olhos, não tinha o cabelo cacheado, mas também não era liso, ele tinha um lindo porte atlético, e era alto, bem alto mesmo.
- Não é que eu não te apoie, muito pelo contrário, fico feliz que vai parar de arriscar a vida assim, mas Brasil não fica bem aqui do lado não, é outro país poxa. - Digo olhando para baixo.
- Jimin, eu fico feliz que tua geografia tá em dia. - O moreno diz rindo baixo, em seguida acarícia meu cabelo. - Mas eu tenho uma família que tá com saudade de mim.
- Eu também vou ficar com saudades. - Digo com um pequeno suspiro em seguida.
- Tudo bem, querido, eu ainda vou ficar um tempo aqui, eu posso te pegar na escola e também ir naquelas suas aulas chatas de dança. - Ele diz rindo pondo a mão em minha bochecha.
Por conta da maconha, o ar quente que saia da boca dele tinha um cheiro forte da planta que me trazia paz, eu realmente não sabia se era certo beija-lo, eu deveria ficar longe e me acostumar com a ideia de que ele não estaria perto de mim sempre, pois voltaria para o Brasil.
Eu já disse para vocês que entre a escolha certa e a errada eu sempre escolho a errada? Pois é.
Sem ao menos pensar mais sobre isso juntei nossas bocas começando um beijo afoito, o rapaz segurou forte minhas coxas me fazendo entrelaçar as pernas em sua cintura, ele entrou do meu quarto deitando por cima de mim na cama.
Como se sua ficha tivesse caído, ele separou nosso beijo de forma abrupta.
- Não, não, não Jimin, nós não podemos fazer mais isso, lembra da última vez? Riley veio para cima de mim me chamando de pedófilo. - Nico afastou nossos corpos.
Certo, vocês devem tá se perguntando, quem é Riley. Riley é outra amiga minha de infância, ela cuidou de mim quando eu entrei em uma quase overdose no beco onde Nico traficava suas drogas, e dês de então ela começou a ser aquele tipo de amiga super protetora.
Riley tem um ódio mortal por Nicolas desde que ele fodeu com um ex namorado dela, isso mesmo, ela levou chifre de um traficante e do namorado dela que até então se pensava ser hétero.
- Você pensa que isso é pedofilia? Está louco? Eu não sou uma criança, próximo ano já faço 18. - Falei indignado.
- Não é isso Jimin, sua amiga já não é muito afim de mim, se souber que transei contigo de novo ela vai me caçar até o Brasil. - Ele esfregou as mãos em seu rosto.
- Jimin? Tem alguém com você? - A voz da minha mãe foi ouvida por trás da porta.
Nico com o susto abriu mais seus olhos olhando para a janela, coloquei meu indicador sobre os lábios pedindo para ele fazer silêncio.
- Claro que não mãe, é um vídeo que estou vendo no celular. - E aí estava minha cara de pau outra vez.
- Entendi. Venha comer logo, se não seu pai é quem vai vim lhe chamar. - Ela diz e então ouso passos se afastando.
- É melhor eu ir. - Nicolas fala suspirando em seguida, ele coloca uma perna na janela e pula indo para fora do meu quarto. - Até amanhã?
Olhei para o lado, porem em seguida lancei um sorriso derrotado.
- Até amanhã! Nicolas. - Falei vendo ele ir embora, mas antes me mandando um beijo no ar.
[Não revisado]
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