I

Jimin P.O.V

Eu não lembro se teve algum momento na minha vida onde eu não estava pensando de mais.

Porem, recordo de quando eu tinha quatro anos, e muitas das vezes tudo passava rápido de mais, e minha respiração era lenta de mais. Até que chegava os momentos em que ela ficava tão lenta que eu não conseguia saber se estava respirando ou não.

Em menos de segundos tudo ficava preto.

Em 90% dos momentos em que eu já estive bem, 10% eu lembrava, até porquê esses momentos eram tão poucos que eu ao menos tinha certeza se eram sonhos ou lembranças realmente coerentes.

Com meus 8 anos eu já não aguentava mais. Havia sido diagnosticado com toda categoria de doença psicológica que se pudesse imaginar.

Ansiedade, depressão, estresse pós traumático, bipolaridade, transtorno de déficit de atenção, transtorno obsessivo compulsivo e anorexia nervosa.

Obviamente isso deixou minha família no chão, eu já não era muito feliz, já que ser um asiático adotado que morava em Corning, Nova York era um bom motivo de chacota.

Porra, ser adotado já não é triste o suficiente? Preciso ser obrigado a virar cidadão americano? Isso que, na verdade, era algo triste.

Não me levem a mal, eu até curto essas merdas de "patriotismo", mas até onde isso vai? Sério que ninguém percebe as mortes diariamente? E a obesidade excessiva dos adolescentes e crianças?

Para ser sincero o nosso país é meio sem sal. Não temos uma gastronomia, nossa cultura é uma droga e eu realmente prefiro mil vezes levar uma injeção na testa do quê ir a alguma 'boate' com os adolescentes de merda desse lugar.

Além de que minha cidade é conhecida por vidros. Sério! Não tinha nada melhor não?

Com 12 anos eu fui para uma festinha de aniversário, coisa que deveria ser de criança. Minha mãe me deixou lá largado, e eu como um pré-adolescente curioso, fui atrás de coisas para me distrair, acabei encontrando o aniversariante com alguns amigos dele, todos com um cigarro na boca.

Meu primeiro contato com a famosa maconha.

Para me deixarem calado eles me deram para experimentar, obviamente eu fui na deles.

E era aquilo que eu estava precisando, de algo que me fizesse não sentir tudo de uma vez como eu sempre sentia.

Em menos de alguns meses eu já estava cheirando crack, mas nada me fez sentir tão bem como a "bala".

Bom, talvez não saibam o que é, mas segundo a Google, a dietilamida do ácido lisérgico é uma das mais fortes substâncias alucinógenas conhecidas. É uma droga cristalina, que ocorre naturalmente como resultado das reações metabólicas do fungo Claviceps purpurea, relacionado especialmente com os alcaloides produzidos por esta cravagem.

Resumindo, me deixa doidão para caralho.

Eu vim conhecer essa balinha dos deuses com 15 anos, e juro, não sei o que minha vida poderia ser sem ela.

Talvez eu podia ter me tornado um assassino em série? Muito provável, porém por agora eu fico chapado de mais para poder ter uma certa certeza.

Espera ainda que minha história só piora.

Eu sou gay, ser gay em uma cidade consideravelmente pequena não é uma dádiva, porém os adolescentes hoje em dia são todos merda, ser gay só vai me fazer ir para o inferno mais rápido, palavras da minha mãe.

- Jimin, você está paralisado de novo. - inha mãe diz respirando fundo.

Em que momento eu me teletransportei para a mesa de jantar?

- O quê? - Olhei para a mulher de cabelos ruivos, sardas em marrom-claro, e óbvio, uma pele tão branca que um giz perderia feio para ver qual dos dois é mais claro.

Minha mãe é uma pessoa boa, em partes obviamente, até porquê nenhuma mãe é 100% boa, toda mãe tem seus prós e contras. O erro da minha é ser evangélica.

Nada contra evangélicos, esse negócio de Deus é muito foda, sério, porém minha mãe era uma evangélica maluca.

Desde que me entendo por gente eu era preso em casa, e não podia ao menos ir para a escola. A primeira vez que fui levado ao médico por ter desmaios constantes por conta da ansiedade, ela jurou que, na verdade, o que eu tinha era um demônio no meu corpo.

Eu tinha só quatro anos caralho, não fode né.

Ela nunca acreditou em todos os meus diagnósticos, por isso eu em nenhum momento tomei remédios para cuidar disso. Até completar meus 9 anos.

Acredito que ela concordou por livre e espontânea pressão do meu pai, que quando me viu quase morto no chão e com os pulsos cortados supôs que eu ficaria melhor internado na ala psiquiátrica do hospital que tinha no centro da cidade.

Depois disso comecei a tomar 3 tipos de remédios diferentes, não sei quais, mas sei que meu pai não deixa minha mãe cuidar deles, até porquê ela podia muito bem jogar todos no vaso e me levar para igreja até eu pedir para morrer na frente de todos os irmãos.

- Coma pelo menos seus brócolis, querido. - Meu pai falou com um sorriso fraco nos lábios.

Meu pai era o homem que eu mais amava na vida, todo o afeto que não recebi da minha mãe ele me deu em dobro.

Ele tinha um cabelo black power lindo, e sua pele era preta, seus olhos eram grandes e bem redondos.

- Isso não dará sustância a ele, Jake." Minha mãe fala e me arranca um revirar de olhos. - Saco vazio não para em pé. Amanhã você terá aula, e não da para todos te verem e acreditar que lhe matamos de fome.

- Hellen, você sabe que não devemos tocar nesse assunto em mesa. - Meu pai a olhou de modo bravo.

- Tudo bem papai, essa mulher é louca e não devemos dar ouvidos a loucos. - Disse com um sorriso visivelmente forçado.

- Jimin! Me respeite, você esta falando com sua mãe, não com uma colega. - Ela diz e em seguida pega a concha de carne, coloca em meu prato mais daquele animal morto. - Coma.

- Hellen, você sabe que ele não irá conseguir comer, e Jimin, fale direito com sua mãe. - O olhar de reprovação de meu pai ficou mais a amostra.

- Deixa papai, deixa ela pensar ser dona do mundo, ela fará isso até alguém voar nela e a bater, o que Deus fará Hellen? Mandar chuva divina para te proteger? - Me levantei já com muito raiva e menos ainda vontade de comer do quê antes.

- Não fale o nome de Deus em vão Jimin! E volte para a mesa! - Ela grita.

Continuo andando, mas não antes de lhe mostrar um belo dedo do meio.

Não entendam mal, eu não odeio minha mãe, somente odeio as atitudes dela, e se as atitudes dela são parte dela isso não é minha culpa.

Fechei a porta do meu quarto e comecei a revirar todo o local, meu estoque de bala acabara, significa que se eu não comprasse teria que ir para escola de sangue limpo, e aquilo não iria acontecer nem fodendo.

Coloquei o primeiro sapato que vi, porém não achei o outro par.

- Papai, você viu o outro par do meu all star preto? - Gritei ouvindo de resposta somente um "não" curto.

Assoprei com o nariz bravo e peguei o all star azul-claro que estava por ali, aquela merda de ficar com sapato trocado tava na moda mesmo, ninguém ia se importar.

Peguei minha jaqueta e em seguida pulei a janela, pensei um pouco sobre andar de bicicleta ou não.

Se eles percebessem que minha bicicleta não estava ali com certeza procurariam por mim, porem meu pai agora vai ver novela e minha mãe vai se fingir de santa e fazer a uma hora de oração dela.

Sorri de lado e peguei a bicicleta rapidamente, subi na mesma e comecei a pedalar de forma rápida.

Eram quase 23:00 da noite, e mesmo assim não tinha muita pessoa na rua, dia de domingo era uma tristeza naquela cidade, ainda mais um domingo a noite.

Por vezes eu via uns adolescentes passando com seus carros comprados pelo papai que caga dinheiro, não que tenha algo de ruim nisso, mas eu sou um drogado que trabalho para comprar minhas drogas, eu tenho o senso né.

Não era igual a Jade, uma garota que era líder de torcida, presidente do clube de adolescentes cristãs da escola, e tinha a família dona da empresa Tre3, uma empresa que leva esse nome porquê os pais têm 3 filhos.

Ela, Jade, o Irmão do meio, Harry e o irmão mais novo, Stuart.

A garota era o ser humano mais mimado desse mundo, e também a mais descarada. Ela dava a buceta para mais pessoas do quê qualquer uma daquela escola, não que isso seja ruim, a buceta é todinha dela, porém a família jurava que ela era um ser humano puro e que estava se guardando para o namorado, Yuto.

Yuto era outro asiático que teve o azar de vim para essa cidade de merda, mas ele é japonês e eu sou um lindo e gostoso coreano.

A questão é que Yuto sim, é uma pessoa boa, o cara mais virgem que tive o prazer de conhecer, ele ia para a igreja por querer, só tirava notas altas, o filho que todo pai e mãe gostaria de ter.

Uma adentro, ele era trouxa de mais. Acredita plenamente que Jade era uma santa e estava esperando eles casarem para poder sentar nele.

Uma grande ilusão.

Yuto tinha uma irmã, Momo, ela sim, era a famosa "pessoa da família que deu errado". Toda droga que eu já provei ela provava desde os 10 anos. Aos 14 era a pessoa que mais fumava maconha nessa cidade, e a que mais tinha também, aos 16 ela foi presa por vandalismo junto a alguns amigos.

Ficou 1 ano no reformatório, mas depois foi solta por bom comportamento.

- Oi! Jimin. - Quando parei minha bicicleta no beco tão frequentado por mim, a asiática já conhecida me chamou.

- Oi! Momo. - Respondi.

Lembra quando eu disse que ela foi solta por bom comportamento?O bom comportamento dela foi o pai, que gastou rios de dinheiro para soltar a filha de um modo que não sujasse o nome da família, mais do que já estava sujo.


- Veio comprar com o Nico? - Ela sabia que sim, então por quê uma pergunta tão idiota?

- Sim, ele está? - Perguntei vendo a menina aperta um botão que tinha junto a chave de seu carro, fazendo o mesmo apitar e acender as luzes.

- Não está sabendo? Faz dois dias que ele foi preso.

O meu mundo ali caiu, meus olhos se encheram de lágrimas e senti um vazio como se eu tivesse perdido a pessoa mais importante de toda minha vida.

- Para de falar uma merda dessa Momo, alguém pode acreditar. - Eu disse com as mãos tremendo, e quando botei a mão na porta a garota me parou.

- As únicas pessoas que estão aí são as que forneciam para ele, vão tacar fogo no lugar, se eu fosse você não entrava. - A garota saiu andando até seu carro e em seguida entrou no mesmo.

Não podia ser, peguei minha bicicleta que estava no chão de modo rápido e então subi nela começando a pedalar sem direção certa.

Tudo bem que eu estava as férias todas sem ao menos sair de casa, mas como eu não sabia que uma coisa assim aconteceu? Eu não largava o celular em momento algum.

Quando eu ao menos percebi já estava em casa e pior, no chão caído junto da bicicleta.

- Jimin! - Lídia correu de seu jardim do outro lado da rua para me ajudar a levantar. "Você está bem?"

Sentei-me meio atordoado ali no meu chão mesmo, então a olhei confirmando com a cabeça.

- Meu Deus! Jimin! Você está sangrando! - Ela disse pegando na minha bochecha.

Parece que com somente aquelas palavras ela ativou algo em minha cabeça que me fez lembrar que eu era humano e que sentia dor, então em menos de segundos meus olhos se encheram de lágrimas.

- Não chore querido, venha até minha casa para limpar isso. - Ela segurou em meu pulso e me levantou devagar, em seguida me conduziu até sua casa.

Lídia era conhecida por ali como puta, só por conta de um idiota que gravou os dois fodendo, e em seguida compartilhou para todos os amigos e não amigos dela. Em menos de dois dias a cidade inteira já havia visto aquele vídeo, e em menos de um mês a publicação do site Xvideos havia batido um milhão de visualizações.

O cara foi preso por pornografia infantil, já que Lídia tinha apenas 15 anos quando o vídeo foi gravado e postado, porem aquilo não ajudou em muita coisa, já que o vídeo podia muito bem ter sido salvo.

E foi o que aconteceu.

- Senta aí, eu vou pegar o 'kit' de primeiros socorros. - Ela saiu do meu campo de visão.

Olhei para os lados vendo fotos dela com o pai, o único da família que acolheu ela, a mãe não aguentou o que o povo pensava e largou os dois. O que fez a garota ser extremamente protetora com todos que chegam perto, por exemplo, eu. Sou amigo dela desde os meus doze anos, quando comecei a me drogar ela quase morre do coração, porém logo se afastou alegando "não querer ver eu me matando".

- Jimin, você esta bem? - O pai de Lídia apareceu na sala com um copo de bebida na mão, uísque talvez.

- Estou sim, só cai da bicicleta, mas não foi nada.

- Você esta andando de bicicleta uma hora dessas por quê? Não sabe que isso é perigoso? - O homem diz vendo a filha chegar com um 'kit' de primeiros socorros. Ele pega o 'kit' das mãos da filha e abre o mesmo.

- Só fui passear um pouco para a comida descer. - Fiz uma careta quando ele começou a passar o remédio junto do algodão em meu machucado.

- Mas hoje não é dia disso, Jimin. - Ele pegou um esparadrapo colocando no machucado e grudou umas fitas brancas para prender no local. - Ainda mais agora que foi achado um vendedor de drogas na cidade.

- Quando? - Falo junto de Lídia.

- A dois dias atrás, como vocês não sabem disso? Era o que mais estava se falando na cidade. - O homem guarda as coisas na pequena caixa branca com uma cruz vermelha.

- Eu não saí nessas férias. - Eu disse me levantando. - Eu tenho que ir, meus pais devem está morrendo de preocupação.

- Eu te acompanho, Jimin. - A garota diz.

Sempre supus que Lídia era afim de mim, e que não tinha nada a ver as drogas com ela se afastar de mim, mas sim que quando comecei a usar drogas parei de esconder minha sexualidade.

Lídia não era uma garota feia, ela era negra dos cabelos cacheados e longos, sempre andava por aí sorrindo, ela tinha um espaço entre os dentes da frente e sempre que sorria tinha vergonha se alguém iria zoar ela por conta deles.

- Esta entregue. - Ela diz rindo baixo quando chega na minha calçada.

- Obrigada. - Digo.

Quando ia fazer menção de entrar ela tosse baixo me fazendo parar.

- Você realmente não sabia sobre o Nico? - Ela começa me fazendo revirar os olhos.

- Não Lídia, eu não sabia sobre ele, eu sou um drogado, não um jornalista da boca.

- Eu sei, mas você sempre vai lá para pegar mais dos doces e saber sobre quem te abastece é normal, certo? - A garota fala baixo olhando para os lados, tendo certeza que ninguém estava ouvindo a nossa conversa.

- Bom, como eu disse, não sou o jornalista da boca, agora eu vou entrar porquê amanhã vai ser um dia de merda, na merda daquela escola, boa noite! - Mandei um beijo no ar para a garota e em seguida entrei no meu quarto pela janela caindo direto na minha cama.

Mexi nos bolsos do meu casaco tirando a última bala que eu tinha dali, tirei a pílula da embalagem e em seguida coloquei na minha língua sentindo a mesma derreter.

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