[10] 나쁜 pain.

#JiminCoradinho

Demorou, mas essa é hora de alguém cair na real, hein...

❇️ Perguntinha!
Vem cá, hehe, vocês acham que lá na frente o Jimin vai chorar muito na hora que descobrir o que o Jungkook fez ou vai bater de frente com ele? Hum... se liguem. 😼

⚠️ Aviso muito importante no final do capítulo.

💚

💸

LEMBRANÇAS

[JUNGKOOK]

Ensino Fundamental.

Eu respirei bem fundo.
Contei até três, porque eu esperava que meu amigo não faltasse hoje.

Era a sua terceira falta na escola.

Meu dia foi ruim. Apesar disso, um novo vizinho chegou com seus pais. O nome dele era Min Yoongi, mas provavelmente não seríamos amigos porque ele não gostaria de mim.

Eu voltei pra casa, respirei fundo de novo pela milésima vez e apertei minhas mãos nas alças da mochila preta e grossa.

— Cheguei... — falei, um pouco baixo, não desejando tanta visibilidade.

A sala estava vazia, portanto caminhei até o meu quarto, sentindo um alívio gigante no peito por não cruzar com mais problemas. Hoje, eu não estava em um dia bom, descobri que minhas notas estavam baixas e colegas de classe falavam sobre mim pelas costas, sendo que eu nunca havia direcionado uma sequer palavra para eles, e muito menos sabia dos motivos.

Eu precisava do Joo.

Mas isso logicamente poderia piorar, pois assim que abro a porta do meu quarto, me deparo com meu caderno cheio de folhas rasgadas e jogadas pelo chão do cômodo. E quem estava de pé, virando-se para mim, era o meu pai.

— É isso que você é, Jeon Jungkook? Foi assim que eu criei você? — engoli seco, deixando a minha mochila deslizar pelo ombro e cair no chão, ainda sem entrar totalmente em meu quarto.

E nem precisei, meu pai fez questão de me puxar pelo braço pra dentro e me jogar na minha própria cama, em cima do meu caderninho verde cor limão, onde eu tentava escrever letras de músicas amadoras ou o usava como um diário.

— Eu li tantas besteiras nessa merda de caderno, garoto. — afirmou, vindo até mim de novo e me pegando pelo braço com mais força. Tentei proferir algo, mas ele foi mais rápido, me calando completamente. — Eu não quero te ouvir!

Me manti quieto, apenas esperando pelo possível pior. As ondinhas do meu cabelo quase caíam sobre os meus olhos, e eu sabia que não tinha idade pra ser tratado dessa forma quando não fazia absolutamente nada além de tentar estudar sozinho, ir para a escola e assistir desenhos animados na televisão quando ela estava livre. Porém, acho que eu conseguia fracassar em todas essas coisas.

— Quero que entenda uma coisa quando crescer, seu projetinho. — resmunguei um pouco com a dor, mas nada mais doía do que ouvir tudo que ele me dizia com a expressão fechada, a qual eu tinha tanto medo que mal dormia às noites, com receio de que ele fizesse tudo que faz comigo, só que durante o meu sono, meu único momentinho precioso de descanso. — Você não deve ser fraco que nem a sua mãe. O dia em que você ser como o seu pai aqui, vai aprender a lidar com o mundo. E eu quero que esqueça TUDO, toda essa baboseira ridícula que eu li nesses papéis, entendeu?! ESQUEÇA! Isso me deu nojo.

Eu tentei respirar fundo, até a minha respiração falhava. Ele me chacoalhou.

— Me entendeu?! — falou alto, mesmo sem gritar, e eu assenti com a cabeça rapidamente.

Tudo que ele fez foi sorrir e finalmente me soltar, mas de um modo brusco no colchão.

— Então, hoje você vai ganhar um presente. — senti meu estômago revirar. Eu odiava os seus presentes.

— Não quero. — respondi de imediato, me levantando da cama de forma impulsiva. Ele fechou a expressão drasticamente pra mim desta vez. Eu tinha medo de negar, mas dessa vez eu senti que deveria.

— O que foi que você disse? — comprimiu seus olhos pra me fitar bem, enquanto eu estive começando a tremer.

— Pai... — fechei os olhos e os apertei, tentando respirar direito por conta do tremendo medo que eu estava sentindo agora. — Me d-deixa sozinho, por favor, eu prometo que não vou fazer mais isso, de verdade...

E aquele sentimento ruim foi comprovado, porque a única coisa que eu senti em seguida havia sido um tapa do meu próprio pai em meu rosto, me jogando no chão imediatamente com dor e sem equilíbrio nenhum, fazendo com que eu batesse a cabeça.

Depois disso, eu nem me lembrava mais onde acordei, não sei se foi em um hospital por conta das paredes brancas e uma médica que estava olhando pra mim. Talvez aquilo fosse só um sonho.

Tudo que eu sabia era que no primeiro momento em que meus olhos se abriram, nos primeiros segundos, eu havia esquecido até mesmo do meu próprio nome.

💸

[JIMIN]

Aquilo era loucura.

— Eu n-não tô entendendo você, Jungkook, de verdade... — eu me pronunciei. Woosung pareceu tão abismado quanto eu.

— Você o quê? — ele se colocou na minha frente, encarando Jungkook sem compreender totalmente, inconformado.

— É, eu gosto do Jimin. E ele sabe muito bem disso porque eu mesmo o contei. — continuou, sem hesitar. Eu estava, no mínimo, assustado com a situação.

— Isso é verdade? — Kim olhou direto pra mim. Eu demorei um pouco, mas assenti devagar, automaticamente, porque de fato não era uma mentira. Ele voltou a olhar pra Jungkook. — Por que me ajudou com ele, então?

Como assim? Dessa parte, eu não fazia ideia.

— Jungkook, você quis me fazer de idiota, por acaso? Pensei que fôssemos amigos!

— Eu nunca fui seu amigo, só conversamos algumas vezes. — rebateu, realmente decidido com suas palavras.

— E eu te ajudei com várias garotas, seu ingrato. — sem nem aumentar seu tom de voz, Woosung realmente pareceu incomodado. Ele considerava o Jeon?

Woosung não era uma má pessoa, ele estava decepcionado...

— Gente, e-eu sinto muito mas acho que vou voltar pra casa, é melhor do que essa briga toda. — me pronunciei, levemente trazendo meu olhar para o chão e prestes a dar as costas, tentando evitar tudo aquilo e fugir antes que eu começasse a ficar maluco. Portanto, senti alguém me segurar pelo braço sem força.

— Ei, você me deve um encontro, não se lembra? — era a voz de Jungkook. Quando o encarei, seus olhos transpareciam sinceridade. Sim, mas...

Olhei para Woosung, ao seu lado agora, me encarando. Ele aguardava uma reação minha, e era o que eu fazia também, afinal eu não tinha ideia do que pensar no momento.

— Acho que sim... — respondi baixo, incerto. Eu me soltei de Jungkook, caminhando até Woosung com muita vergonha. Eu me odiava.

— Eu pensei que sairia comigo. — ouvi ele dizer, e realmente era verdade. — E agora, o Jungkook surge entre nós dois do nada e você simplesmente não pensa duas vezes ao aceitar. Tá acontecendo alguma coisa que eu não sei, Jimin?

Eu não sabia o que dizer. Não queria negar, nem afirmar nada.

— Você gosta mesmo dele?

Nesse exato momento, encarei Jungkook, e depois ele simultaneamente. Se eu dissesse que sim, talvez Woosung ficasse triste comigo e eu perderia a sua amizade, ou até a chance de conhecê-lo ainda mais. Se eu dissesse que não, acredito que Jungkook também ficaria muito chateado.

E eu gosto sim, dele.

— Talvez. — foi o que eu respondi, em um fio de voz, receoso o suficiente.

— Tudo bem, eu entendo, não precisa realmente se preocupar.  — Woosung assentiu com a cabeça, forçando seu melhor sorriso e suspirando por fim. — Te mando uma mensagem depois e marcamos outro dia.

Ele me abraçou de repentino e um cheirinho suave de laranjinha entrou pelo meu nariz. Kim Woosung era simplesmente uma pessoa incrível, onde eu claramente poderia ter todos os problemas do mundo, mas que não iria pensar um segundo neles enquanto estivesse com ele.

Quando se despediu de mim, fofo como sempre havia sido, contornou seu carro e entrou, eu o acompanhei com meus olhos até que ele desse partida, olhando pra mim também. Ele sorriu, talvez compreendendo que havia um coração ainda muito confuso dentro de mim.

E encarando ele assim, acho que Woo nunca me julgaria por nada.

— Está apaixonado por ele ou por mim? — Jungkook perguntou, me fuzilando com seus olhos escuros e sua atitude grosseira apenas ao falar.

Mas por que eu me sentia tão atraído?
Eu me sentia como algum protagonista de filme que escolhia o badboy, ao invés do bonzinho.

Talvez as pessoas se atraíssem pelo caminho mais difícil, ao invés de pegarem o mais fácil e que com certeza poderia dar certo. Pregamos as nossas próprias peças.

Mas certas vezes, o caminho mais difícil é o único que dá certo se houver persistência.

— Nunca disse que estava apaixonado nem por você e nem por ninguém. — cruzei meus braços, ele levantou as sobrancelhas em pura incredulidade e se aproximou de mim. — Muito feio o que fez agora.

— Espera aí, eu fui o errado? Simplesmente sou cuidadoso com as pessoas que gosto.

— Isso me parece mais uma frase decorada do que uma fala sincera. — Jungkook também cruzou seus braços.

— Certo, e nós vamos discutir isso aqui na rua?

— Olha, pra onde você vai me levar, limãozinho?

— Do que você me chamou? — franziu o cenho, largando os braços ao lado do corpo. Eu ri, não conseguindo segurar e tombando a cabeça levemente para trás. — Limãozinho?

— É por causa das mechinhas verdes do seu cabelo, calma. — expliquei, simples. Ele pareceu aliviado, então, sorrindo de orelha a orelha, continuei: — E porque você é azedo como um.

Antes que ele falasse qualquer coisa com aquela famosa cara de "é sério isso?", caminhei um pouco para trás e dei as costas, andando em passos rápidos.

Eu ouvi seus passos também, logo atrás de mim, então um sorriso largo se abriu em meu rosto e eu comecei a brevemente correr, nem me importando se caso as pessoas encarassem dois idiotas correndo um atrás do outro do nada. Comecei a rir, e ouvia Jungkook tentando me chamar.

Mas após somente alguns segundos, de repente não o ouvi mais, eu parecia estar naquilo sozinho. Parei e olhei para trás, assim como lhe vi parado também, só que agora ao telefone, em frente a uma loja de roupas da calçada.

Me aproximei correndo um pouquinho, ouvindo a conversa mais próxima e Jungkook passando a mão livre no cabelo, com seus dedos bagunçando os próprios fios por segundos.

— Certo, certo, eu já tô indo pra aí! — dizia, com o nervosismo estampado em sua voz. Ele desligou.

— Aconteceu alguma coisa? — respirando levemente ofegante por conta da corrida, perguntei, de cenho franzido e uma preocupação repentina por conta de sua expressão.

Quando ele finalmente encontrou os meus olhos, percebi os seus em repleta confusão. Ele parecia atordoado, o que significava que algo grande provavelmente havia ocorrido. Eu cheguei mais perto, sem saber o que fazer por exatamente nunca ter lhe visto assim.

— É... Eu p-preciso ir, é um pouco urgente. — se atrapalhou, fechou os olhos e respirou, guardando seu celular no bolso de maneira desajeitada, antes de continuar: — Meu amigo passou mal e acabou indo pro hospital, eu não sei o que aconteceu direito m-mas eu tenho que correr.

Eu não consegui dizer uma única palavra.

— Desculpa, Jimin. — pediu, realmente sincero e ainda assustado. Ele se virou pra ir embora, mas peguei em seu ombro para finalmente falar algo de útil.

— Quer que eu vá com você?! Tem certeza que consegue ir sozinho assim ou-

— Tenho, eu... — desviava o olhar várias vezes, sem nem saber pra onde olhar. Jungkook estava realmente assustado com a possível conversa que teve pelo celular. Então, ele respirou fundo, me encarando triste de uma forma que eu definitivamente quis abraçá-lo. De repente, ele acabou assentindo, engolindo seco. — Você pode ir comigo?

Aquele não era o Jeon Jungkook que eu me acostumei a presenciar.
Na realidade, aquele parecia não ser o Jungkook que ele mesmo me permitia ver.

— Eu vou, vou sim. — assenti, sem dúvidas. Portanto, passei por ele de imediato e fiquei de frente para a rua com uma única função: — Eu vou chamar um táxi.

O apartamento dele não era longe, mas eu não poderia arriscar com ele nervoso ao meu lado. Eu queria chegar lá o mais rápido possível, e Jungkook sequer reclamou, porque era o que ele desejava no momento também.

E de fato, quando entramos no carro, Jungkook se manteve calado, mordendo o lábio inferior de maneira nervosa. Estava pálido também, e não pegava em seu celular de maneira alguma. Talvez quisesse evitar ler qualquer notícia ruim.

Assim que terminei de pagar o táxi, dei de cara com Jungkook correndo pra dentro de seu pequeno prédio. Eu tive que segui-lo, apressando meus passos e quase lhe perdendo de vista no momento em que entrei.

Simplesmente subiu as escadas sem pudor, ignorando completamente o elevador que ainda parecia descer ou subir, sem previsão e com demora para chegar ao térreo.

Quando colocou os pés no corredor onde morava, andou largamente até a sua porta e a abriu bruscamente também, a qual nem sequer estava fechada. Eu corri, antes que ocorresse de eu acabar ficando pra fora sem querer.

— Cadê o hyung? — lhe ouvi, me aproximando devagarinho do apartamento aberto, observando uma parte do corpo de Jungkook bem em frente a porta, falando com alguém. Eu não quis ser invasivo, então preferi não adentrar o cômodo, ficando um pouco atrás da porta, levemente a segurando para não se fechar. Silêncio.

— Ele teve que ir pro hospital. — era a voz conhecida de Yoongi, seu melhor amigo que recentemente encontrei, além do seu companheiro de moradia, pelo que notei.

— Como assim? Como assim ele teve que ir pro hospital?! E por que ele passou mal?! Você nem conseguiu me explicar direito e me deixou desesperado, Yoongi! — Jungkook discutia alto, jorrando toda a angústia que relutou enquanto esteve comigo no caminho até aqui.

— Eu não tenho culpa! — subiu ao mesmo tom. — Não sabia como te contar, eu não-

— Me leve até lá. — decidiu-se. — Eu quero saber exatamente o que aconteceu.

— Jungkook, é melhor esperarmos aqui porque nós-

— EU NÃO QUERO ESPERAR! — gritou. Consegui ouvir a sua respiração profunda e atrapalhada. E ele clamou, com a voz choramingando: — Por favor, eu preciso ir até o Namjoon hyung...

Silêncio novamente. Eu não visualizava Yoongi, mas provavelmente ele estava pensando no que responder. Por que não podia simplesmente aceitar e levá-lo até o hospital?

E Namjoon seria o amigo de Jungkook com quem ele divide o apartamento?

Talvez fosse alguém muito importante.
Como Taehyung era pra mim.

Ambos saíram do cômodo, Jungkook foi na frente e acabou passando por mim com toda a sua urgência. Yoongi parou em seus pés assim que me viu.

— Jimin? — ficou alguns segundos me encarando, mas logo fechou a porta, apressado, voltando para a sua preocupação principal.

— Eu só estou acompanhando ele... — receoso, abaixei um pouco a cabeça. Era a verdade.

Quando ele iria dizer algo, seu celular em sua mão tocou e eu consegui ler o nome escrito na tela: Hoseok. Era o mesmo que eu conhecia?

Então, senti a mão de Yoongi no topo da minha cabeça, dando uma leve bagunçada como se eu fosse uma criança. Foi mais como um carinho rápido.

— Tudo bem, vamos lá. — e assim, eu apenas o segui quando ele passou por mim, atendendo a chamada logo em seguida. Jungkook provavelmente já havia descido e eu entendia o seu desespero.

Eu lhe vi enxergando seu melhor amigo como se fosse eu enxergando o Tae. Em uma situação dessas, eu provavelmente teria uma crise, talvez a pior de todas por ter que manter a calma em uma situação semelhante.

Já no carro de Jungkook, fiquei quietinho atrás, em um dos lados da janela. Jeon estava do outro, calado. Tentei não encará-lo muito, mas era inevitável. Yoongi dirigia. Ninguém dizia mais nada. A atmosfera era outra.

Quando paramos no estacionamento aberto, Jungkook arregalou os olhos e abriu a porta sem pensar uma sequer vez. Yoongi saiu ao mesmo tempo que eu.

Eles seguiram pra dentro do estabelecimento limpo e claro, Jungkook andava atrás do amigo, que ia diretamente até a recepção. Eu estava apenas como um acompanhante qualquer, pois só conhecia Jungkook.
Ou pelo menos um pouco dele.

— Olá, eu sou Min Yoongi, estive aqui há uns dias com Kim Namjoon por causa de algumas consultas. — a moça rapidamente assentiu, pegando certos papéis.

— Namjoon fez consulta aqui? Eu sei que ele vem aqui pra checar coisas normais de saúde, sei que ele é muito precavido, mas por que você foi junto e eu não soube? — Jungkook questionou enquanto pareceu sentir estar com todo o direito. O de cabelos pretos tentou se manter calado, e por sorte a mulher que lhe atendeu apareceu ao nosso lado. A atenção foi tomada.

— Por aqui. — ela seguiu pelo corredor, mas não precisamos andar muito. Era a segunda porta à direita do corredor vazio. A mulher nos encarou e sorriu dócil. — Prontinho, estão lá dentro. — e nos deu as costas.

No mesmo instante, Jungkook pegou na maçaneta em desespero e abriu a porta com tudo, soltando o ar com alívio ao encontrar o melhor amigo dentro do quarto não tão grande quanto eu era acostumado a ver nos hospitais que conhecia.

Eu pude ver estando atrás dos dois que entravam no quarto. Jungkook caminhava até Namjoon, que lhe encarava sem dizer absolutamente nada, surpreso por vê-lo. Um outro homem alto, de cabelos escuros, também estava ali e se levantou na mesma hora que Jeon e Yoongi adentraram o cômodo silencioso. Eu o reconhecia, era o dono da sorveteria onde conheci Jungkook. Talvez eles fossem muito próximos exatamente como pareceu naquele dia.

Estive ofuscado o tempo inteiro e não me preocupava com isso. Na verdade, eu não queria ser notado em um momento tão impróprio, apenas segui como se pisasse em ovos super frágeis no chão.

Eu fechei a porta, sem fazer tanto barulho e fiquei por ali mesmo, ao lado dela, com as mãos juntas na frente do meu corpo. Decidi observar e estar pronto pra qualquer tipo de ajuda necessária que eu pudesse oferecer.

E pra acompanhar Jungkook.
Para o que ele precisar,
eu estarei bem aqui.

Seu amigo estava sentado na cama, com as pernas esticadas e recostado no travesseiro do hospital, como se estivesse de recuperação.

— Por que você passou mal? — começou, aparentando uma calmaria mascarada, aproximando-se de Namjoon, que fechou seus olhos e suspirou.

— Não era pra você estar aqui, Jungkook. — disse com uma voz firme. Então, colocou seu olhar em Yoongi que esteve de pé no fim da cama. — Por que trouxe ele? Era pra você ter ficado com ele em casa.

— Eu não tive escolha! Não acha que seria bom se o Jungkook-

— Não, você sabe que eu não queria que ele soubesse disso tudo dessa forma. — ele interrompeu, suspirando em seguida novamente. Imaginei que Jungkook provavelmente estivesse confuso demais pra compreender, afinal eu não via sua expressão por estar de costas pra mim.

— Soubesse do quê? — a atenção se voltou ao Jeon, os outros dois permaneciam quietos, nenhum deles queria olhar pra Jungkook por um motivo que se ele não sabia, eu nem imaginaria.

— Jungkook... — hesitou. — Você sabe que certas vezes eu venho ao médico, não sabe? E eu tenho vindo muito aqui, faz tempo, na verdade.

— E por que eu não sei disso? Então, quando você não estava em casa, estava aqui no hospital?

— Eu não quis que se preocupasse tanto, você tem a sua vida e não-

— Mas você é o meu melhor amigo, você literalmente mora comigo, hyung! — dizia, inconformado. — Você é a minha única família, por que prefere ficar escondendo essas coisas de mim? E é a sua saúde em jogo, não entende?

— Exatamente. — concordou, decidido. — É a minha saúde em jogo, Jungkook. E eu só quero que saiba que vou melhorar, agora o melhor que pode fazer é voltar pra casa.

— Eu não vou. Primeiro quero entender o que fez você passar mal. Eu nunca vi acontecer algo assim com você, então por que tão de repente?! — um tanto desesperado pela preocupação intensa, ainda batia de pé firme na mesma questão.

— Depois conversamos, eu disse que é melhor você voltar pra-

— Conta logo. — era a voz de Yoongi. Ele os interrompeu, passando uma de suas mãos na cabeça e bagunçando seus fios escuros. Yoongi respirou fundo. — Eu também não aguento mais esconder isso dele.

— Foi uma decisão do Namjoon, Min. Nós iríamos contar uma hora ou outra, e agora não seria o momento certo. — o outro, que estava calado até então, se pronunciou. — Mas pelo jeito...

Quando a atenção foi tomada pela expressão de Jungkook, a qual eu não conseguia ver, o silêncio se alastrou pelo quarto. A única coisa que podia-se ouvir era a respiração nervosa de Jeon.

— Hyung. — chamou com a voz calma, aproximando-se mais da cama e de seu melhor amigo. Namjoon pareceu desconfortável com a situação, e muito menos eu ali sabia o porquê... — O que vocês estão escondendo de mim? O que tá acontecendo?

Namjoon pressionou seus olhos ao fechá-los rapidamente, parecendo tomar certa coragem.

— Eu estou doente, Jungkook. — afirmou.

Naquele momento, até o meu coração disparou e eu fiquei em choque.

— O que? C-Como assim d-

— Tumor cerebral. — respondeu, somente a sua voz soava no cômodo que agora, esteve dolorosamente silencioso. — Há meses.

Tudo que vi foi Jungkook cambalear um passo para trás. Eu senti calafrios.

— Ele tá se cuidando, fazendo tratamento e o Namjoon é realmente muito bom nisso. Estamos ajudando, queremos que ele faça a cirurgia também. — Yoongi continuou calado, enquanto o outro amigo falava. Tentou colocar uma mão em seu ombro. — Jungkook-

— Vocês acham que eu sou uma criança que não pode saber de coisas assim? — se afastou bruscamente, começando a falar sério. — Por que me esconderam algo tão grave, caralho?! E por meses?! — aumentou seu tom, realmente perdendo a cabeça naquele instante.

Olhou pra Yoongi, portanto pude ver sua expressão descrente.

— Pensei que contasse tudo pra mim.

— Jungkook, eu prometi ao Nam que-

— ATÉ QUANDO?! — gritou, logo soltando um suspiro. — Até quando iam esconder isso?! Até o dia em que... — parou, encarando o chão, instável.

— Eu não queria que você se preocupasse comigo. — Namjoon dizia, fazendo Jungkook encarar-lhe na hora. — Você é a única pessoa que eu conheço que vive a vida como se não houvesse o amanhã, e apesar de implicar por me preocupar, eu admiro esse seu jeito. Muitas coisas que fez, é claro, eu não me arrependo de ter brigado feio com você. Mas eu realmente não queria que começasse a se preocupar demais comigo e esquecesse de curtir a sua vida. Além do que, você também é a minha família. Quando eu descobri, foi péssimo, mas nada que me derrubasse.

O peito de Jungkook subia e descia, respirando fundo.

— Desculpa. — o homem da sorveteria lhe pediu, simples. — Eu queria te contar também, desde quando descobri e eu juro que não faz muito tempo, foi recente. Yoongi ainda não havia voltado  pra Daegu e estava comigo quando tivemos que levar Namjoon ao hospital há um tempinho de novo, então acabamos descobrindo.

— E onde eu estava nesse dia que ele passou mal de novo? — perguntou, cada vez parecendo mais atordoado. — O que caralhos eu estava fazendo que não soube de nada disso e por que ninguém me contou?!

— Na casa de alguma garota qualquer, fazendo o que sempre gostou de fazer depois de eu ter chamado a sua atenção como sempre fiz. — respondeu, e foi ali que eu senti aquela resposta até em mim. Não imaginaria, nunca, em como ela havia atingido Jungkook também.

O silêncio se alastraria pelo cômodo com cheiro hospitalar novamente, mas Jungkook deu as costas para todos e saiu, com pressa, abrindo a porta e correndo dali com um aura furiosa.

Agora sim, estava tudo silencioso. Eu acabei me perdendo em olhar para a porta fechada, pensando se eu deveria ir atrás de Jungkook ou não, o que era óbvio que sim. Portanto, decidi ir direto.

— Eu conheço você. — antes de abri-la, ouvi alguém dizer. Eu me virei. Os três estavam olhando pra mim. — É o carinha que conversou com o Jungkook na minha sorveteria?

Assenti, tímido.

— Foi assim que vocês se conheceram, então? — Yoongi sorriu pequeno.

— Conhece ele? — perguntou.

— Jin, é óbvio. Eu conheço todo mundo que o Jungkook conhece. — Yoongi confirmou. O nome do sorveteiro era Jin.

Mesmo querendo continuar um pouco ali pra poder conhecê-los de certa forma, eu ainda queria ir atrás de Jungkook.

— Eu acho que é melhor ir atrás dele... — decidi dizer, discretamente aflito, ainda distante deles.

— De quem? Do Jungkook? — Namjoon questionou. — Se importa com ele assim? Aliás, foi ele quem te chamou aqui?

— Sim. E... Na verdade, e-eu me ofereci pra vir junto com ele, caso... Ele precisasse de mim, não sei... — relutante, expliquei. Ao menos, tentei.

— Entendi... — continuou me encarando, portanto sorriu. — Vá, não gosto de deixar o Jungkook sozinho nesse estado. Ainda mais agora. — pareceu incomodado. — Ele pode... Sabe, é melhor ir logo.

— Tudo bem. — assenti, rápido. — E... Desculpa o incômodo, espero que você fique bem, de coração. — disse, sincero. Não queria ser intrometido, e muito menos passar uma má impressão. Sorri incerto. — Ah, e eu me chamo Park Jimin.

— Prazer, Jimin. Acredito que agora saiba quem somos. — Jin riu pouco. Confirmei com a cabeça mais uma vez.

— Fofo. — foi a voz de Yoongi, assim que dei as costas.

Logo, estava pra fora do cômodo em rumo para a porta do hospital. A saída.

Indo até Jungkook.

Ao lado de fora, olhei ao redor, ainda sob a luz do dia e o pôr do sol, pretendendo enxergar qualquer pessoa pra que pudesse achar ele de algum modo. Caminhei em passos apressados pela calçada larga, e continuei encarando tudo em minha volta.

Então, tive uma ideia.
Fui até o carro dele. Se ainda estivesse ali, provavelmente Jungkook estava dentro.

E eu acertei. O carro estava na ponta do estacionamento e longe dos outros. Eu não tinha a chave, por isso simplesmente cheguei e dei dois toques leves com o punho na janela. Eu esperava que ele estivesse me vendo. Até que ouvi a porta ser destrancada. Abri sem pensar duas vezes.

— Jungkook... — acabei lhe chamando assim que lhe vi, sentado da mesma forma de quando viemos pra cá. Ele estava de cabeça baixa e suspirou alto. O cabelo caía aos lados de seu rosto, não me permitindo ver como sua face estava, de fato.

Entrei e fechei a porta, tentando parecer calmo o suficiente para acalmá-lo.
Assim como ele havia feito comigo.

Eu abri a boca pra poder dizer algo em função de tentar ajudar, mas fui interrompido com um fungado e premeditei: Jungkook estava chorando.

— Você sabe dirigir? — perguntou de repente, sério e ainda sem olhar pra mim.

— Eu até aprendi com o Taehyung, mas... Nunca tirei a carta. — respondi, simples. Ele suspirou em derrota. — Por que?

— Quero ir pra algum lugar.

— Pra sua casa?

— Não. — respondeu, direto. — Não quero voltar pra lá, eu só queria... — parou, fungando novamente.

— O que você queria, Jungkook? — quis dar continuidade, tentando distraí-lo ou fazê-lo jogar pra fora.

Mas... A realidade era outra. Seus ombros e corpo se moveram minimamente e ele se encolheu. Foi aí que eu ouvi o seu choro reprimido, baixinho.

— Eu queria t-tanto que fosse mentira... — a voz saiu trêmula, quase falhando. Jungkook foi com seu tronco para frente e apoiou os cotovelos nas coxas, escondendo seu rosto nas mãos consideravelmente grandes. — Eu s-sempre estrago tudo, não consigo me manter na linha, e-eu tenho d-diversos problemas e merdas na minha cabeça, porra, eu...

Parou, sem conseguir continuar.
Jungkook estava chorando.
Era estranho vê-lo assim.

Me aproximei, sentando mais próximo de si.
Relutei muito, mas tive que fazer o que sentia que poderia ser o certo.

Agachei meu corpo um pouco pra frente também e fui com a minha mão até o seu cabelo, acariciando-o como forma de fazê-lo entender que eu estava aqui. Fiz isso pra que depois eu pudesse ter coragem de abraçá-lo. Mas antes de pensar sobre, assim que me sentiu, Jungkook tirou as mãos do rosto e devagar, olhou pra mim.

Encontrei seus olhos marejados. Eu nunca havia o visto assim no pouco tempo em que nos conhecemos, e mesmo sabendo que ainda tinha muito o que aprender sobre esse homem, não passava pela minha cabeça que ele poderia ter seus altos e baixos como qualquer outra pessoa. Talvez houvesse sido imaginativo demais. E além de tudo, qualquer um se desesperaria no seu lugar. Eu sei que ele tinha outros amigos, mas Jungkook disse que Namjoon era como a sua única família, e foi como se eu me sentisse da mesma forma em relação ao meu único amigo.

Eu não sabia bem o que aquela doença significava, mas pelo estado de todo mundo naquela sala de hospital, eu entendi que era onde as coisas ruins começavam. Doenças sempre são desesperadoras e a maioria das pessoas que via falecer ultimamente na televisão, estavam doentes de alguma coisa.

Era um baque descobrir isso sobre alguém que você ama. Eu posso não ter passado por isso ainda, mas talvez eu entenda. Talvez eu entenda somente por olhar nos olhos perdidos e agora desconhecidos de Jungkook.

Pensei que ele me diria algo por estar me encarando por tanto tempo. Então, vendo uma lágrima escorrendo em sua bochecha, acabei sendo impulsivo.

— Não chora, não... — tentei limpá-la com meus dedos curtos. — Seu amiguinho vai ficar bem logo e nada disso é culpa sua, tá bom? — sorri, apaziguando o clima.

Jungkook suspirou, ainda olhando pra mim. Formaram-se mais lágrimas, me senti em aflição com a situação toda.

— Vem cá. — me endireitei ao seu lado, afastando-me mais e indo até a janela onde eu estava. Coloquei as duas mãos nas minhas coxas, insinuando que ele simplesmente deitasse ali. — Deita aqui e pensa um pouquinho. Se quiser chorar e precisar de um abraço, eu posso te abraçar sem problemas também.

Seu queixo tremeu de novo, Jungkook logo desabaria. A iniciativa, portanto, foi dele. Jeon veio com tudo e me abraçou, agarrando meus ombros com seus braços fortes e não me soltando, ficando ali, enfiando o rosto um pouco na curvatura do meu pescoço.

Envolvi os meus braços em suas costas, apertando-o contra mim. Não estava muito confortável, de fato, por conta de estarmos dentro de um carro, mas o seu abraço era perfeito. Eu percebi que comecei a amar abraçá-lo porque me trazia paz, e agora também esperava que o meu trouxesse paz para ele.

— Vai ficar tudo bem, limãozinho... — ele soluçava, baixo, por talvez vergonha. Me apertou mais um pouco, mas era bom. Reconfortante pra ambos.

— Não quero... — começou, hesitando por conta do choro contínuo. — Que seja t-tão bom comigo... P-Por favor... — deu ênfase em seu pedido.

— Eu serei sim. — afirmei. — Sabe que eu gosto de você.

E por estarmos tão juntos, senti seu coração acelerando. O meu também, no mesmo segundo. Ele não disse mais nada, Jungkook continuou chorando, mas agora sem tanto medo, colocando tudo pra fora, um pouco mais alto do que esteve antes. Pelo menos era um indício de que havia alguma confiança dele em mim.

Ficamos daquele mesmo jeito, até que ele pudesse parar de chorar e respirar, pra poder chorar de novo e dizer que era tudo a sua culpa, que não era um bom amigo e todas as frases mais pessimistas possíveis.

Eu deixei, era o seu momento. Dizia que tudo ficaria bem, mas não era como se ele fosse compreender em um momento tão delicado, onde não poderíamos prever nada.

E aquela, foi a primeira vez em que vi, ou pelo menos uma partezinha, — por trás de toda aquela confiança e corpo cheio de tinta — quem era o verdadeiro Jeon Jungkook.

💸

[JUNGKOOK]

Eu odiei tudo.
Acho que sempre gostei de como minha vida era imprevisível. Mas agora eu a odiava.

Somente continuei deitado na minha cama, olhando para o teto e imaginando como seria se eu fosse mais útil para o hyung. Mais compreensível, menos impulsivo.

Em um de seus piores momentos, eu nem sequer estava ao lado dele. Eu estava me "divertindo".

Encarei minha gaveta ao lado, no móvel pequeno, e pensei se pegaria naquele anel novamente. De alguma forma, me confortava.

Por mais que em uma boa parte da minha vida eu houvesse me esquecido quase que completamente dele, de como ele era e como costumávamos ser, atualmente, não sabia o motivo de ele vir em minha mente todo santo dia.

Era uma pena, minha mente era uma confusão de fragmentos das coisas que passamos. Eu queria poder lembrar de detalhe por detalhe, mas desde o meu acidente, minha cabeça doía vez ou outra ao tentar.

— Toc toc. — era a voz de Jin, batendo duas vezes na porta aberta do meu quarto. O percebi e lhe encarei. — Peguei a chave reserva com o Nam.

— Eu não quero conversar, hyung. — senti meus olhos se encherem de lágrimas de novo. — Desculpe.

— Nem comigo? — então, a voz fininha fez-se presente aos meus ouvidos. Eu a encarei com rapidez e me levantei.

— Hanna-ah... — ela sorria, e eu somente abri meus braços pra que a pequena viesse até mim. Logo senti seu abraço e fiquei um pouco mais em paz.

— Titio Jun! — me apertou em seus bracinhos curtos. — Vai ficar tudo bem, eu sei que sim.

— Diz que não gosta de crianças, mas é doido pra roubar a Hanna de mim. — Jin tentou brincar, soltando um riso de fim.

— Eu nunca disse isso. — com os olhos cheios, lhe encarei com pudor, soltando-me de sua filha. — Só não quero ter filhos...

— Vamos ver daqui um tempo. — cruzou os braços, ainda tirando uma comigo. — De qualquer forma, a Hanna ficou preocupada com o titio dela triste. — disse, e eu acabei sorrindo com isso. Olhei pra pequena na minha frente, com seus cabelinhos escuros e escorridos até o ombro. Usava um vestidinho azul, fofa. Ela parecia uma fadinha.

— Estou bem, ok? Não se preocupe comigo. E também, caso eu estiver triste de novo, o seu papai irá te avisar, certo? — afirmei, ela assentiu com a cabeça.

— Hanna, vem cá! — Jin a chamou, lhe fazendo ir até ele e dar a mão para o pai, obediente. Ele me encarou. — Vou levar ela pra casa e qualquer coisa me liga, tudo bem? Só queríamos ver como você está e eu não queria te deixar sozinho com toda essa situação. Também não quero que se sinta assim, jamais, ouviu?

— Tem medo de eu cometer alguma loucura, hyung? — tentando distrair, dei um meio sorriso e quase ri, mas Jin revirou os olhos.

— Você entendeu, espertinho.

— Sim, e pode ficar tranquilo, não vou fazer nenhuma bagunça.

Eu sou a própria.

Com isso, dei de ombros, recuperando o meu semblante e cruzando os braços atrás da cabeça, me deitando na cama como se nada tivesse acontecido, olhando para o teto novamente. O quase choro até havia passado.

Jin resmungou um pouco e saiu, demonstrando que estava realmente preocupado comigo e que veio apenas para checar se eu estava bem.

— Sei que não posso fazer besteira... — estando sério e me sentindo sozinho de novo, um aperto muito grande voltou a surgir em meu peito ao recordar de tudo, largando toda a pose que acabei de fingir para Jin não se estressar demais. — Mas eu não tenho mais tanta certeza...

— JUNGKOOK, VOCÊ TEM VISITA! — ainda era Jin, que gritou da sala sem necessidade, sem receio nenhum de que eu fosse multado pelos meus vizinhos do prédio. Tomei um susto e levantei rápido, me recompondo.

Ouvi a porta ser fechada, provavelmente era Seokjin. Como ele poderia me deixar com visita se eu literalmente não chamei ninguém e ele não era bobo de não saber disso?

Até que quando pisei na sala, vi Jimin em frente à porta ainda, já do lado de dentro.

Dessa vez, ele estava todo de jeans claro. A jaqueta, a calça, e somente suas botinhas e a camiseta preta de dentro que diferenciavam. De fato, Jimin era estiloso quando precisava ser, sem contar que as suas roupas com certeza não eram nada baratas.

Ele tinha as mãos juntas na frente de seu quadril e seu olhar desviou-se do meu, encarando como louco cada canto em sua frente somente para não olhar nos meus olhos. Isso era, no mínimo, muito fofo.

Eu me aproximei, com calma.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei primeiro, curioso em saber porquê ele estava aqui, mesmo que eu tenha uma ideia.

— Comigo? A-Ah, nada! — negou rapidamente, se recompondo em seguida. — Eu só queria saber como você está.

— Entendi... — assenti, ainda sem muito o que dizer e encarando o chão.

Sendo bem sincero, esse era um momento em que eu definitivamente não estava com cabeça pra pensar em acordo nenhum.

Surgiram tantos problemas que a última coisa que passaria pela minha cabeça, seriam em formas ou falas decoradas para que Jimin fosse iludido. Agora, eu não tinha nenhuma ideia do que lhe dizer que fosse planejado.

Até porque, eu percebi que já não estive planejando mais nada.

— Eu sei que depois do que aconteceu, você não quis falar mais nadinha e só foi embora pra casa com um de seus amigos, mas eu realmente me preocupei quase o dia inteiro.

— E resolveu vir aqui essa hora? Não fica tarde pra você? — questionei. Ele negou com a cabeça.

— Meus pais não se importam muito. — deu de ombros, tristonho com sua própria fala. Eu somente assenti, compreendendo, porque não poderia falar nada, afinal eu já sabia de tudo isso. Ou quase. — Então... Eu queria saber se você quer sair comigo amanhã.

— Eu? Mas e o Woosung? Você não iria sair com ele? — resolvi perguntar sobre, afinal meio que interrompi seu passeio com o barista.

Eu não gostava nem de pensar nisso. Ainda bem que não estava com a cabeça pra esse assunto.

— Falei com ele hoje, expliquei algumas coisas e ele disse que tudo bem em marcamos pra sair juntos daqui uns dias, ele foi compreensivo. — sorriu, incerto. — Quero que você dê uma distraída também...

— Certo... — balancei a cabeça em afirmação, mas uma dúvida surgiu em minha mente e eu só pensei em tirá-la. — Você gosta dele, Jimin?

— O que? — acho que lhe peguei de surpresa pelo jeito que Jimin me encarou de volta. — O Woo é meu amigo, ele é muito gentil, muito mesmo, mas... — mordeu o lábio, nervoso. Jimin olhou pra baixo, mexendo um de seus pés pequenos. — Eu já meio que disse que gosto de você. — proferiu, baixinho.

Involuntariamente, um pequeno sorrisinho surgiu em meus lábios. E definitivamente não era pelo fato de ter cumprido uma parte do acordo. Talvez aquilo fosse um alívio pessoal.

Mas eu também me sentia triste por essa confissão.

— Tá bom, vamos sair. — aceitei, Park me encarou com seus olhinhos curiosos. — Pra onde nós vamos?

— Podemos comer sorvete que nem da primeira vez. — respondeu rápido, parecendo animado. Logo, se endireitou ao notar sua própria empolgação repentina. — Desculpa, eu pareço muito bobo, né?

— Não. — neguei, sincero.

E assim, tentando me distanciar de todos os pensamentos ruins que me cercavam por conta de como o dia começou e continuou a ser com o passar das horas demoradas, ao menos eu esperava terminá-lo de forma boa ou razoável.

Me aproximei do mais baixo e levei meus dedos até os fios de cabelo do Jimin, em uma mechinha que caía na lateral de seu rostinho, e a coloquei atrás da orelha enquanto o loirinho continuava olhando pra mim atentamente.

Ele estava começando a ficar com as bochechas coradas. Me segurei pra não sorrir com a cena.

— Você vai ficar aí mesmo? — perguntei, lhe tirando do possível transe em que permaneceu. Minha voz, talvez soasse sugestiva. Talvez, mas eu não descartava a ideia. — Veio só pra me convidar pra um encontro amanhã ou quer ficar mais um pouquinho aqui comigo?

— Aqui n-no apartamento? — eu assenti, cruzando meus braços em decisão. — São umas nove horas já...

— Quer ir pra casa? Não tem problema também, você escolhe se-

— Eu quero ficar. — ele me interrompeu, também decidindo-se. — E podemos emendar pra amanhã sairmos juntos, não?

— Essa é a ideia, então? — levantei as sobrancelhas, até um pouco surpreso com isso. Quando ele afirmou, resolvi avisar. — Mas... Sabe que isso significa que vai dormir aqui, não?

— Ah, sim... Tem razão, né? — passou a mão no cabelo, desviando seu olhar do meu de novo e mirando em tudo ao seu redor no meu apartamento. Eu acabei soltando uma curta risada com as suas reações.

— Como consegue ser tão fofo? — sem querer, soltei, fazendo Jimin me encarar de novo e a minha própria expressão suavizar sozinha ao notar o que eu acabei dizendo.

— Obrigado, eu acho...

— Certo. — soltei um suspiro, tentando quebrar o clima desconhecido que rondou nós dois por alguns segundos, e saí do meu lugar. — Pode entrar, fique à vontade.

— Seu sofá é macio, apesar de pequeno, acho que posso dormir aqui mesmo. — me virei e o encarei com a sua fala. Acho que foi sem perceber, pelo jeito que ele me olhou rapidamente depois. — Eu não quis ofender! Desculpa, só-

— Se você acha meu sofá tão pequeno assim, por que simplesmente não decide dormir na cama comigo logo de uma vez? — sorri de canto, encarando fixamente um Jimin ficando tímido a cada segundo.

— Dormir com v-você?

Cheguei perto de Jimin, parando em sua frente e olhando suas bochechinhas se tornarem rosadas de novo.

— Sim, por que? É só deitar do meu lado, não vejo problema nenhum nisso. A não ser que... — meus lábios se aproximaram de seu ouvido. — Você fique daquela mesma forma de quando eu estive lá no seu quarto.

— Ah... — ele se encolheu de pura vergonha, fofo. E mesmo assim, ele me encarou com o rosto provavelmente queimando. — Eu acho que... Quero...

— Quer o quê? — nossos rostos estavam próximos.

— Eu n-não sei... Se posso... hm...

Meus olhos desceram para a sua boca, e eu definitivamente poderia afirmar que nunca havia visto uma tão bonita. Não sei se era um delírio meu, mas quanto mais eu olhava...

Cheguei mais perto, e com toda certeza, nós iríamos nos...

Um toque de música foi ouvido de repente. E se não era do meu celular, era obviamente do de Jimin, que despertou rapidamente e colocou a mão em um de seus bolsos da calça preta.

Eu me afastei um pouco, lhe dando espaço pra atender caso precisasse e aguardei, sem dizer nada. Encarei sua expressão ao ler quem estava lhe ligando e o vi se assustar ainda mais, atendendo.

— Pai! — disse. Ah, era aquele velho, como eu pensei. — Sim, eu saí, mas... Não, eu sei que deveria estar em casa, m-mas foi urgente e eu... Pai, por favor, por que brigar comigo dessa forma? — quando Jimin percebeu que eu estava vendo tudo, ele começou a andar pra mais longe de mim e falar mais baixo.

A verdade é que eu simplesmente entrei de cabeça nesse jogo. Eu não sabia exatamente como o pai do Jimin era. Parecia ser só um daqueles que não aceitavam a orientação dos filhos, mas que no final se entenderiam. Ou só servisse de gatilho pra que o filho se tornasse independente ou forte no fim.

Mas a outra verdade era que eu estava incomodado em ver Jimin tão assustado somente com um telefonema.

Era curioso. Mesmo sabendo que eu não deveria me envolver.

Fiquei tão pensativo, que mal notei quando Park desligou e guardou seu celular, agora indo de encontro comigo. Ele mantinha uma expressão triste, aflita, e eu tentei decifrá-lo.

— Eu vou ter que voltar. — abaixou a cabeça, decepcionado consigo mesmo. — Meu pai quer que eu volte.

— Posso te levar? — sugeri logo em seguida, atento em suas reações. Jimin elevou seu olhar ao meu e o arregalou um pouco.

— Se meu pai ver você, ele vai-

— Ele não vai fazer nada. — fui firme, tentando convencê-lo. — Garanto isso pra você.

E de certa forma, eu sabia que estava certo. Afinal, ele me conhecia e entrou em um acordo comigo.

— Tá bom... — mordeu seu próprio lábio, mas de nervoso. Park respirou fundo e eu pude sentir o medo que ele exalava.

Da forma como disse, o levei em meu carro, mas ficamos em silêncio por quase o caminho inteiro. Jimin parecia bem frustrado, brincando com seus próprios dedos em cima de suas pernas e olhando pela janela, como se pensasse em uma saída pra algo.

Várias coisas passaram pela minha cabeça. Uma delas foi que talvez, o loiro fosse muito sensível às reações de seu pai rigoroso. Outra, — que eu gostaria muito que fosse somente um delírio meu — foi de que Jimin estivesse sendo maltratado frequentemente.

Ele não era como eu.
Ao contrário de mim, ele não merecia ser maltratado.

Virei na sua rua, avistando a bela mansão de longe, lembrando de quando fui lá e me impressionei com o quão era bem cuidada e bonita. O meu coradinho vivia como um príncipe.

Calma aí mente perversa, ele não era meu.

— Chegamos. — afirmei, tirando as mãos do volante e encarando Jimin ao meu lado, que ainda olhava o lado de fora pela janela.

— Ah, não... — murmurou, apreensivo. Eu não entendi, mas pude fazer isso quando me inclinei um pouco para olhar e percebi o velho ao lado de fora da casa, vindo até o carro.

Jimin abriu a porta de maneira apressada, bruscamente saindo do carro. Ele fechou a porta sem nem ao menos se despedir e eu fui obrigado a sair do carro segundos depois também, só que de uma forma mais lenta e discreta.

— Onde você estava, seu merdinha? — ouvi a voz cheia de raiva do velho, e assim que me levantei, encarei o homem bem na frente de seu filho. — Não me diga que foi pra casa daquele seu amiguinho ridículo que só tem fama de ser uma puta-

— Não fala assim do Taehyung! — Jimin demonstrou uma voz chorosa, e foi quando eu finalmente bati a porta do meu carro de forma proposital, chamando a atenção do homem mais velho. Park continuou de costas.

Contornei o veículo e me aproximei devagar dos dois, ambos agora calados, e vi o loiro tentando limpar seu rosto com a própria mão. Ele não queria que eu lhe visse nesse estado.

— Oh, você o trouxe aqui? — seu pai perguntou, Jimin não conseguiu olhar pra mim por talvez, vergonha da situação em que se encontrava encurralado.

Eu vi.
Eu vi nitidamente o olhar esperançoso que o velho deu a mim, somente por saber que eu provavelmente já estava saindo com o seu filho inocente.

Não sei exatamente o que isso me fez sentir.
Mas não foi um sentimento bom.

— Pai, p-podemos entrar? — tentou pedir, com a voz trêmula. — O Jungkook é m-meu amigo, e-eu-

— Cala a boca. — mandou com toda sua firmeza na voz autoritária, encarando o mais baixo. — Você nem tem que dizer nada, só tem que ficar calado.

"— Você só tem que ficar calado, Jungkook. Só isso e eu prometo que você não vai sentir nada, meu filho."

Eu nem consegui proferir nada.
A minha mente se embaralhou e eu parecia estar vivendo em um déjà vu.

— P-pai...

— Eu espero que não esteja de gracinhas com outro homem, me entendeu? — continuou com as suas repetidas palavras duras. — Pois eu acho muito bom que você aprenda uma lição na frente dele. Sabe do que eu estou falando, não sabe?

— Por favor, não faz n-nada! — Jimin reagiu rápido, encarando seu pai. Ele olhou pra mim. — Jungkook, v-você pode ir embora? Eu n-não quero que fique agora...

Eu neguei com a cabeça, encarando seu olhar marejado, que assim, tornava-se quase imperceptível a diferença nas cores de seus olhinhos, ofuscando todo o seu brilho. Isso era um pecado.

Jimin quase me clamou com o mesmo olhar enquanto me pedia isso.

Eu só tinha que decifrar se ele estava me pedindo de coração pra ir embora, ou se estava me implorando por ajuda.

— Ótimo, ele fica, e assim ele verá o que você realmente merece. Quem sabe ele reproduza pra que aprenda uma lição mais pra frente.

O velho continuou, e sentindo meus punhos se fecharem fortemente, eu lhe encarei agindo, assim como o loiro voltou a atenção ao seu pai.

Lembrei de uma mensagem sua, com uma de suas regras ríspidas.

"Não se intrometa em nossos assuntos, somos pai e filho e você está somente pelo dinheiro, não para intervir em alguma coisa nossa. Seja o que for que ele comente sobre mim, se concentre em seu trabalho ou ficará feio para o seu lado."

— Pai, não faz isso! — de repente, o velho pegou no braço de Jimin com força, machucando-o. E segundos depois, eu vi sua mão se levantar contra o próprio filho.

Ele iria agredir o Jimin.

Isso era doloroso. Eu sabia que era.
E nunca passou pela minha cabeça que Jimin merecesse algo assim.
Porque ele realmente não merece.

Eu entendia tudo que recebi quando pequeno. Porque eu sim, era alguém que merecia, e que talvez ainda mereça.
Mas nunca iria entender se uma pessoa como ele, passasse por isso também.

Por isso, eu decidi intervir.

Me apressei e rapidamente segurei o braço de seu pai, antes que ele atingisse Jimin, me colocando na frente do menor e lhe soltando das mãos daquele monstro.

O velho me olhou surpreso, intacto em seu lugar com a minha atitude.

Esteve um silêncio ensurdecedor, até que eu ouvi o choro de Jimin aumentar, ficando alto e de pura angústia e medo. Não só ouvi, como também senti meu coração acelerar quando seus bracinhos envolveram o meu tronco, abraçando o meu corpo por trás. Ele afundou seu rosto nas minhas costas e começou a chorar, botando tudo pra fora.

Jimin estava me pedindo indiretamente para protegê-lo.

Eu soltei o homem, continuando na frente de seu filho e assegurando que nada de pior aconteceria com ele nesse momento.

— O que pensa que está fazendo?

— Você não vai machucar ele. — rebati no mesmo segundo, convicto. Jimin me apertou mais. — Não, não vai mesmo.

Ainda sentindo o loirinho tremendo contra mim, eu levei minha mão até uma das suas, que apertavam o tecido da minha roupa, e tentei lhe passar segurança colocando-a por cima.

Seu pai franziu o cenho, não compreendendo aquela cena. Eu apenas neguei com a cabeça devagar, tentando fazê-lo entender de forma indireta que:

Eu não consigo mais.

Jimin era tão pequeno, tão amável e tão amoroso. Ele não merecia um pai assim, nem que lhe agredissem dessa forma. Tanto fisicamente, quanto no seu emocional ainda mais fragilizado.

Portanto, eu fiz uma nota na minha mente sobre o Jimin. Como um lembrete:

Naquele momento, eu decidi que não deixaria ninguém machucar o seu coração.

Mas então, eu finalmente percebi,
que o primeiro que faria isso,
seria eu.


[Anotação diária: Jimin]

💸

⚠️ Gente, fico muito triste quando leio que alguém parou de acompanhar a fanfic por conta dos comportamentos do JK e já li isso, infelizmente. Eu sei que é complicado, fico angustiada com vocês, mas é o começo (agora demos uma andada), e eu não acho que tudo deva ser flores desde o início ou que eles deveriam ser de "enemies to lovers" que nem quase todas as outras fanfics que me acostumei a ler. Eu queria transformar esse clichê em algo mais complexo e que realmente mexa com vocês ou mostrem pessoas com problemas de ansiedade, tendo suas crises como o Jimin, ou sendo um cara babaca pra c*ralho, parecendo um mau caráter como o Jungkook, mas que na real não é realmente toda essa personificação que ele somente mostra.

A realidade é que é um clichê com alguns acontecimentos óbvios, mas não se enganem, nem todas as coisas vão acontecer como pensam porque eu sou doidona, e vocês podem ficar tipo "o que?" "Mds como assim??" "POR QUE???" "MIMI EU VOU TE CAÇAR". Quem é meu leitor antes dessa fanfic, já sabe que sofre KKKKKKKKK.

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