[10.5] my best friend.
#JiminCoradinho
Primeiramente, feliz natal e feliz ano novo pra vocês, meus limãozinhos! 😛💚 (e tô de capa linda e nova feita pela articvmin e a elliedition, ai gente amo mudar sempre)
⚠️ Segundo, gostaria de avisar que este capítulo não é tão longo quanto os outros por ser um "especial" (o cap 11 tá com mais de 10k, vocês que lutem!), por isso, aqui vocês vão ver uma parte do passado deles, concretizar algumas teorias e talvez me xingarem como costume, hehe. Eu deixo.
Depois quero saber as conclusões de vocês.
Tem coisas que vocês já imaginavam, outras...
Guardem as lágrimas também.
💚
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• LEMBRANÇAS •
[JUNGKOOK/JUN]
Ensino Fundamental.
Não era nada ruim ter amigos, sempre pensei sobre isso antes mesmo de começar a estudar. Sobre se eu me daria bem com as outras crianças.
Acontece que eu não tive muitos, além do Joo.
Esses dias, descobri que o meu vizinho se chamava Min Yoongi. Seus pais não pareciam tão liberais pra deixar ele brincar ao lado de fora, sem contar que mal passavam seus dias em casa. Quando eu pensava em chamá-lo e conhecê-lo, o menino literalmente não estava em casa, muito menos os seus pais. Minha mãe me contava que eles viajavam muito pra cidade natal, mas eu não entendia tanto sobre o assunto.
Eu também tinha vontade de chamar Joo, sem ser da forma escondida como fazíamos, mas algo me dizia que ele não iria aceitar e também, eu sentia medo.
Tanto porque, quando eu tocava no assunto, ele mudava falando de qualquer outra coisa e eu nunca insistia, pois tinha receio de como meus pais reagiriam ao conhecer o meu primeiro amigo.
— Ei, o que você vai fazer hoje depois da escola? — perguntei, curioso, de olhos um pouquinho arregalados.
O de cabelos bem amarronzados mordia o pequeno sanduíche que comprou, do outro lado da mesa e na minha frente. Joo também comprou um pra mim, o que me deixou mais feliz. Meu dia não havia começado muito favorável.
— Eu acho que vou sair com a mamãe. — falou um pouco de boca cheia. Fofo. Tive que lhe dar um meio sorriso sem graça. — E você?
— Não sei. — olhei pro meu pão macio em cima do papel toalha, o qual eu quase nem mexi desde o início da hora do lanchinho. — Não costumo fazer isso com os meus.
— Por que não tá comendo, Jun? — eu o encarei, percebendo seus olhinhos piscando pra mim. Ele parecia preocupado comigo, o que ainda era irônico na minha cabeça porque ninguém mais demonstrava isso.
— Acho que pensei em algumas coisas ruins, mas desculpa, você gastou da sua mesada comprando esse hambúrguer pra mim. — suspirei, pegando na comida e finalmente tomando coragem para morder.
— Espera um pouquinho! — em sobressalto, deu um pequeno impulso quando pegou no meu pulso, somente para que eu não fizesse nada ainda. Então, voltou ao seu lugar, ainda me encarando firme com seus olhinhos curiosos. — Aconteceu alguma coisa? Não precisa comer se não sentir vontade, Jun.
— Eu vou, você comprou pra mim de coração, poxa... — afirmei, mas logo soltei o sanduíche na mesa com calma quando ele negou com a cabeça, me passando a tranquilidade de que realmente não teria problema nenhum. Desisti de comer. — É que eu tô sem apetite...
— Por nada?
— Porque... — parei, mas não sabia se ficava quieto ou contava. Engoli seco, poderia ser besteira. — Eu queria ter a mesma relação que você tem com os seus pais.
— Jura? — franziu o cenho, surpreso. — É por isso que você tá tristinho assim? Desculpa, eu prometo não falar deles ou do que eu faço com eles quando estiver com você, juro de dedinho! — dizia, tentando melhorar a situação. Eu neguei com a cabeça.
— Minha mãe também saía comigo pra fazer compras, e era tudo muito legal quando eu era pequeno porque morávamos nos Estados Unidos. — sorri, lembrando dos tempos bons, memoráveis. Ele também sorriu, admirado.
— Você me contou! E eu acho isso tão legal... Apesar de ter viajado, eu nunca morei realmente em outro país! — contou, e eu também sabia disso.
Gostava de ouvir sobre as viagens de Joo, desejava fazer elas algum dia, assim como mantinha suas histórias como uma motivação.
— Era muito divertido antes, só que hoje em dia... — desviei o olhar, desmanchando toda a alegria que ainda estava dentro de mim. Eu diria ao Joo? — Mamãe descobriu uma coisa ontem. E meu pai... Ele não gostou muito porque brigou com ela, colocando a culpa em mim... Mas eu jurei que não contei nada...
— Como assim? Ele acha que você contou alguma coisa pra sua mãe que não era pra contar? E você conseguiu falar pra ele que não disse nada?— confuso, questionou, querendo saber mais.
— É complicado... — me encolhi na cadeira, colocando meus braços na frente do corpo e olhando pra baixo.
— Seu pai brigou com você, Jun? — continuou olhando pra mim e eu sinceramente fiquei sem jeito de responder. O encarei, receoso. — Ei, ele brigou? Pode dizer pra mim, sabe que sim.
E então, ele se levantou, deixando seu sanduíche pela metade e vindo até o meu lado, se sentando.
Tudo que Joo fez foi pegar na minha mão agora um pouco gélida por baixo da mesa, ele entrelaçou nossos dedos de repente e eu senti meu coração acelerando por algum motivo. Era como se só estivéssemos nós dois aqui.
— Eu sempre vou estar aqui com você. — disse, e eu senti como se aquilo fosse uma promessa. Talvez, ouvir isso tenha me acalmado.
— Eu menti. — resolvi soltar. — Meu pai não é bom comigo. E fico com medo sempre que a mamãe vai trabalhar porque ela não tá em casa pra me proteger... — segurei meu choro porque estava na escola, no meio de várias crianças, jamais poderia chorar e correr o risco de alguém notar. Ou fazer isso na frente dele. Apertei sua mão pra continuar com coragem. — Meu pai me b-bate por qualquer coisa que deixa ele muito nervoso, mas quando ele fica muito feliz é pior...
— Pior? — o olhei nos olhos ao meu lado, e ele parecia preocupado comigo. Não sabia se continuava, se era uma boa ideia...
— Ele também desconta em mim... — respondi, com medo de machucar a sua mãozinha de tanto apertá-la. Tentei segurar ao máximo a vontade de chorar.
Não sabia se Joo estava me compreendendo, mas ele começou a ficar um pouco inquieto, talvez pensativo, encarando tudo ao redor e em seguida eu de novo com o mesmo olhar, e sobrancelhas franzidas de pura preocupação.
— Jun, me escuta, você já contou isso pra alguém além de mim?
— Não posso. — fui rápido pra responder essa, negando freneticamente com a cabeça. — Se ele ficou bravo comigo porque a mamãe soube sem eu nem ter contado, imagine se eu contar!
— Mas se ele continuar te batendo e sendo desse jeito com você, como quer que isso termine?! — rebateu. Por fim, ele soltou a minha mão e eu senti um vazio. — Jun, teve um dia que você chegou com um arranhão no braço. Acha que eu não notei?
— Não, não posso, não posso mesmo! — neguei de novo, sentindo um desespero como se eu já estivesse em casa. Porque era assim que me sentia lá. — Se eu contar pra alguém, o meu pai vai... — comecei rápido, mas parei por medo de continuar. Respirei fundo, tentando me controlar.
— Jun-ah...
— Ele vai me matar, Joo. — revelei, quase em um sussurro. O acastanhado arregalou seus olhinhos em cores diferenciadas, surpreso de forma negativa com o aviso que me perseguia todos os dias. O aviso que meu pai mesmo havia me dado.
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[JOO]
Aquilo que Jun me disse no refeitório ainda não saiu da minha cabeça. Mal consegui prestar atenção na aula.
O que ele queria dizer quando disse que seu pai desconta nele quando está muito feliz? E por que isso parece tão ruim? Seu rosto estava tão aterrorizado, se essa for a palavra certa...
Hoje estávamos com duas classes juntas pela falta de muitos alunos. Deixaram a minha e a de Jun juntas, o que me deu uma aliviada.
Olhei para trás e encarei seu rosto focado no professor explicando, na fileira de carteiras ao lado da minha. Ele me disse que suas notas haviam melhorado, e que queria ser tão inteligente quanto eu.
A verdade mesmo era que Jun já era bom o suficiente pra mim em qualquer coisa. Ele se dava bem em esportes, jogos e tudo que nos propúnhamos a fazer no tempo livre da escola. O problema era que ele parecia se privar de todos esses talentos, e algo me dizia que poderia ser por conta do seu pai.
Eu reclamava do meu, mas tinha medo de que Jun estivesse passando por coisas piores.
Ele olhou pra mim e sorriu, na carteira que estava sentado, atrás da que estava ao meu lado. Apontou para o professor em seguida, insinuando que eu deveria prestar atenção também. E eu o fiz.
Mas não demorou muito para que minha atenção fosse tomada novamente, só que agora de uma forma que me deixou curioso com o que estava acontecendo. O garoto também na fileira ao lado, na primeira carteira da frente, estava me encarando sem pudor de forma esquisita, abrindo um sorrisinho como uma forma de rir de mim e virando-se para frente de novo. Tinha algo engraçado na minha cara?
Aquilo me deixou um pouco inquieto, eu não gostava muito de estar sozinho perto de algum grupo de crianças do colégio, porque eu tinha a sensação de que elas estivessem caçoando de mim. E agora, ver que o menino estava fazendo isso na cara dura me permitia sentir um desconforto imenso.
Olhei pra Jun de novo e ele continuou focado na aula de matemática. E quando virei meu rosto, percebi o mesmo menino virar-se pra frente para que não fosse pego rindo de novo enquanto olhava fixamente pra mim.
Essa situação me despertou uma coisa muito esquisita. E eu só tinha onze anos pra me sentir tão desconfortável de repente no meio de tanta gente em sala de aula. Eu deveria gostar de todas as outras crianças, mas coisas como a que acabou de acontecer me deixavam com medo de tentar fazer amizade.
Por isso eu gostava muito de estar somente com o Jun. Eu o entendia e ele me entendia também. Era o meu herói dos dias ruins e eu era o dele.
Talvez eu não fosse um amiguinho tão bom quando notava hematomas em algumas partes de seu corpo e não dizia nada, quando ele expunha sem querer ou até mesmo vinha de camiseta, o que não costumava fazer.
Eu não falava porque não queria deixá-lo mal, ou que ele lembrasse do ocorrido. Por mais que na maioria das vezes eu achasse que ele era atentado em casa e caía muitas vezes, ainda assim Jun me parecia uma criança bem reservada. Mas não porque queria.
Então, como ele conseguia esses tons de roxo na pele tão branquinha que tinha?
A aula terminou e finalmente o sinal tocou para que pudéssemos guardar os nossos materiais e irmos embora. Eu me levantei e peguei a minha mochila, começando a colocar meu caderno e estojo dentro dela, até que senti um toque no meu ombro rápido. Virei meu rosto e era a criança que estava me olhando.
Ele continuava sorrindo como se achasse algo de engraçado em mim.
— Meus pais tem anéis bem brilhantes assim também. — apontou para a minha mão segurando a mochila aberta, e eu fiz o mesmo. Espera, ele estava falando do meu anel de amizade? — Que eu saiba, isso é pra casais, sabia? — soltou uma risadinha.
— Bom... — pensei, o encarando com uma expressão de puro incômodo. — É um anel de amizade...
— Acho que é de casal. — rebateu, rindo mais um pouco, apontando pra mim e em seguida, pra Jun, que estava aéreo com suas coisas, as arrumando direitinho. — Você e aquele menino da minha sala são namorados? — colocou a mão na frente da boca e arregalou os olhos pra mim, ainda com uma expressão risonha em seu rosto.
Eu comecei a negar com a cabeça, mas ele falava antes mesmo de eu poder me pronunciar.
— Sabia que isso é muito errado? Todo mundo tá comentando sobre vocês dois agora depois de hoje! — afirmou, e eu olhei ao redor, com medo de que fosse verdade. — Eu e a minha amiga vimos vocês dois na hora do lanche, todo mundo tá sabendo que estão namorando e que é errado!
— Mas não é isso! Eu e o Jun somos melhores amigos, nós-
— Seus pais vão acabar sabendo, menino. — me interrompeu. — Ei, Sunhee! — rapidamente foi até uma amiga sua próxima e apontou pra mim. — Esse é o namoradinho do menino lá!
— Verdade, verdade! — surpresa, a menina de cabelos loiros e jaqueta de frio na cor rosa claro bateu palminhas, começando a rir. — Vocês já se beijaram que nem meu pai e a minha mãe fazem?! — fez uma cara de nojo e riu mais. Sua fala foi em um tom comum, onde qualquer pessoa próxima poderia ouvir. — Quem você é? O homem ou a mulher? Já não basta seus olhos serem estranhos, você também é?
Eu não consegui dizer nada, sentindo um aperto no peito. Apenas tentei negar, mas assim que fui dar um passo para frente e falar algo para aquelas duas crianças que só cochichavam baixinho e riam de mim na cara dura, como uma fofoca, senti mais um toque em meu ombro, mas agora era alguém segurando meu braço. Me virei.
Jun estava sorrindo pra mim.
— Vamos? — o encarei, e depois olhei para as crianças que tentaram disfarçar, como se nada tivesse acontecido. — Aconteceu alguma coisa?
Quando encarei sua face novamente, tudo que fiz foi piscar várias vezes, olhando ao redor e para o chão em seguida, sem saber o que estava acontecendo comigo. Minha visão ficou um pouco embaçada.
De repente, comecei a ver as outras crianças finalmente indo embora me dando um último olhar, e parecia que todas estavam pensando coisas ruins sobre mim, ou falando sobre mim, caçoando livremente. Era como se todos me julgassem e aquilo estivesse me afetando como nunca antes.
Jun segurou em meus dois braços e me virou de frente pra ele, me encarando e assim, automaticamente fazendo com que eu acabasse voltando "pra realidade".
— O que foi? Por que você tá olhando assim pras coisas? Tá passando mal?! — com uma carinha preocupada, perguntou. Após alguns segundos olhando para o seu rosto adorável, neguei com a cabeça devagar, respirando fundo.
— Não é nada, tá tudo bem. — respondi, me sentindo mais calmo. Ele também soltou o ar como se agora respirasse aliviado, e então me abraçou.
Mas eu não o abracei de volta, olhando para tudo que nos cercava.
— Jun, acho melhor... — o afastei com as mãos, fazendo ele me encarar de maneira estranha. Eu tentei não fitá-lo nos olhos, mas a verdade era que eu não queria que nos vissem assim, as outras crianças das quais eu nem sequer conhecia poderiam pensar coisas fora do normal. — Melhor a gente ir pra casa, né?
— Claro, vamos sim! — assentiu. — Quer vir pra minha casa escondidinho de novo? Nós podemos ficar olhando o céu ou a lua como você gosta. — sorridente, questionou.
— Ah, é que... — acabei negando com a cabeça. — Desculpa, tenho que sair com os meus pais, lembra?
— Sim, você falou! — lembrou, balançando a cabeça em concordância. — Tudo bem, vamos pra casa, então. — deu as costas e seguiu para fora como se nada houvesse mudado. Tive que segui-lo.
Minha mente estava tão bagunçada agora.
O nosso anel era simplesmente de amizade. Eu havia lhe dado por ser o meu primeiro melhor amigo e me passar confiança o suficiente. Por mais que... Fosse especial.
Pra falar a verdade, meus pais nunca permitiriam que eu gastasse dinheiro comprando um anel significativo para o Jun. Não porque era caro, — apesar de que pra nós, nada era tão caro por termos sempre condições de comprar — mas sim por ser para um outro menino. De fato, poderia ser estranho aos olhos dos adultos, mas eu não fazia ideia de que as outras crianças também pensariam dessa forma...
Como eu não poderia pedir para que eles fossem comigo comprar com a mesada que me davam, eu fui com a minha amiga, que no caso era a nossa empregada, escondido. Ela era tão gentil comigo, e entendeu completamente quando a contei sobre o Jun. Acredito que ela realmente gosta de mim de verdade. E talvez fosse mais compreensiva do que os meus pais.
No dia seguinte, as coisas pareceram piores. Eu me senti intimidado diversas vezes em sala de aula, na hora do lanche, e até mesmo quando eu estava ao lado de Jun. Os sentimentos de incômodo só se aguçavam, porque eu sentia todos olhando pra mim mesmo quando literalmente não estavam.
E me sentia ansioso.
Acho que era essa a palavra.
O terceiro dia após a fofoca sobre mim, foi extremamente terrível. Jun havia faltado por algum motivo que eu não sabia, e ficar sozinho foi difícil. Muito difícil.
As mesmas crianças que falaram sobre nós estavam me importunando novamente, apontando pra mim, e automaticamente me deixando desconfortável. Pior, meninos e meninas que também nunca falaram comigo estavam sabendo da fofoca.
Eu não estava com o nosso anel. Estive com vergonha e medo de usar.
Estranhamente, hoje o professor me encarou vez ou outra no meio da aula, completamente sem motivo. Me senti esquisito, era como se ele também soubesse de algo.
Eu queria contar tudo ao Jun.
E agora eu estava ainda mais preocupado com a situação dele. Depois do que Jun confessou pra mim há alguns dias atrás, ficava preocupado de que pudesse estar ocorrendo coisas anormais na sua casa de novo. Esperava que o motivo da sua falta não tenha tido nada a ver, por mais que fosse impossível pensar nesse motivo, afinal Jun nunca faltava.
A única vez foi quando eu o encontrei no ônibus escolar com dores nas costas. Ele me disse que era porque caiu enquanto brincava.
Crianças não se sentiam estressadas. Mas a minha cabeça doía com tanta informação que fazia meu coração quase sair pela boca.
Quando cheguei em casa, minha barriga roncou de fome, pois não tive apetite o dia inteiro por conta do provável estresse que desenvolvi hoje, ainda mais sem a presença do meu melhor amigo.
— Jimin? — era a voz da minha mãe, assim que entrei na cozinha espaçosa. Ela acenou pra mim, insinuando que eu fosse até ela. Obedeci, segurando minha mochilinha verde nas costas. — Bem vindo, filho, tudo bem? Posso te fazer uma pergunta?
— Pode, mamãe. — respondi, e ela passou a mão no meu cabelo, arrumando-o um pouco. Amava seu carinho comigo, recebi um sorrisinho seu.
Ela se agachou um pouco para ficar na minha altura e falar comigo olhando nos meus olhos.
— Já disse que tem olhos lindos, meu amorzinho? — sorriu, dessa vez acariciando minha bochecha. Eu assenti, pois costumava ouvir dela que eu era muito único por isso.
Realmente, fui o único da família a nascer com essa diferença. Posso ter obtido de outras gerações, mas atualmente eu era o primeiro com o que chamavam de "heterocromia".
— Jimin, meu bebê, pode me contar se há algum problema na escola? — perguntou, e aquilo era repentino pra mim. — Se está tendo dificuldades ou se estão incomodando você.
— Ah... — meu semblante feliz sumiu e fiquei indeciso se deveria contar ou não. Mamãe era confiável, mas mesmo assim, eu sabia que ela contaria tudo ao meu pai porque no final, ele sempre sabia.
Percebendo a minha relutância em respondê-la, continuou:
— Meu amor, é que o seu professor-
— Então, você chegou?! — olhei pra trás rapidamente assim que lhe ouvi. Meu pai saiu do seu quarto e bateu a porta não tão forte, mas falando alto. A atenção toda foi para ele.
Se aproximou de nós, contornando a mesa extensa da cozinha e chegando perto. Minha mãe já estava reta novamente com a coluna e parecia somente esperar pelas falas do meu pai. Porque ela praticamente fazia o que ele mandava...
— Pode me dizer que história é essa de anel, Park Jimin? — me encarava firme, falando diretamente comigo e me abordando de uma forma totalmente diferente da minha mãe. Talvez ela também quisesse conversar comigo sobre isso.
Mas agora o meu pânico e o porquê do meu coração estar batendo forte era de ouvir que meus pais estavam sabendo da fofoca daquelas crianças maldosas também.
— Me responda, Jimin. Me responda enquanto estou sendo pacífico com você, garoto. — ele parecia conter sua raiva, na verdade. Eu nem sabia o que dizer, senti minhas mãos começarem a tremer de repente.
— É q-que...
— Estou esperando! — aumentou seu tom de voz, me assustando. — Como uma criança pode dar um anel para outra que é do mesmo sexo?! Isso só pode ser brincadeira! É ridiculo!
— Ele é meu m-melhor amigo... — foi o que saiu. Meu pai franziu o cenho.
— E você dá essas coisas pra um amigo, Jimin?! — perguntou, eu sentia sua aura raivosa. — Eu quero é entender porquê caralhos o meu filho está virando assunto na escola porque estava de mãos dadas com um outro garoto, porra! — agora, esteve quase gritando. A empregada chegou no cômodo assustada com o barulho que ele estava causando, observando a cena de longe.
— Amor, são só crianças, eles-
— Calada! — apontou o dedo pra mamãe. — E você, Jimin... — seu alvo voltou a ser eu, como sempre.
Meu pai simplesmente explodiu e me pegou pelo braço com força, me fazendo resmungar de dor enquanto me puxava.
— Espera, não machuca ele assim! É só uma criança, é o nosso filho! — minha mãe também falou mais alto, indo atrás de nós de maneira desesperada.
— Você vai aprender! Ah, você vai! — dizia, arrastando meu corpo para o meu próprio quarto e me jogando no chão do cômodo sem pudor.
— Jimin! — exclamou alto, super preocupada, quase entrando no quarto quando meu pai colocou seu braço na frente para que ela simplesmente não passasse para dentro.
— Isso é pra você aprender que filho meu não é criado pra ser piadinha entre os colegas de classe e muito menos pelo próprio professor, entendeu?! — era duro nas palavras comigo.
As lágrimas quentes já estavam escorrendo pelo meu rosto e eu senti um tremor intenso em meu corpo todinho, principalmente nas minhas mãozinhas. Ainda estava caído no chão, sustentando meu corpo pelo cotovelo e olhando para os meus pais na porta.
— A partir de hoje, você não volta mais pra aquela maldita escola e vai se comportar obrigatoriamente muito melhor na outra em que eu o colocar! — falou, e dessa vez eu reagi, me levantando rápido.
— Não! Não, você não pode me tirar dessa escola, pai! — corri aos tropeços até a porta, mas ela foi fechada brutalmente por ele e eu tive meu corpo contra ela ao tentar sair. Mesmo assim, bati nela com as duas mãos em desespero. — Pai, por favor! Eu prometo melhorar, só não me tira de lá!
— Pra quê? Pra você continuar essa amizade estúpida com um menino que eu nem conheço e já quero distância de você por lhe influenciar dessa maneira?! — respondeu do outro lado, praticamente gritando como eu também estava. — Está de castigo até a minha ordem!
— PAI! — gritei, mas ouvi seus passos se tornarem distantes. — Pai, não faz isso! Eu prometo melhorar! Por favor, por favor...
Nada. Ele realmente me mudaria de colégio.
Corri até a minha cama, tirando meu travesseiro e pegando o que estava debaixo dele por segurança. Meu pai ficou tão irritado com as fofocas que chegaram até o meu professor, que esqueceu da história sobre o nosso anel de amizade. E ele estava ali, muito bem guardado, agora em minhas mãos.
Coloquei em meu dedo e comecei a chorar muito. Eu nunca mais iria ver o meu melhor amigo? E sequer poderia avisá-lo? Mas e se ele precisasse de mim? E se algo acontecesse de ruim que seu pai fizesse? Como eu poderia ajudá-lo?
Chorei todos os dias.
E me senti mal também.
Estava de castigo, preso no meu quarto e na minha casa enorme que parecia vazia pra mim.
Também senti raiva.
De tudo. Daquelas crianças, e até de Jun.
Eu me sentia solitário demais e minhas noites não eram mais as mesmas, pois sentia frio e tremor. Tive diversos pesadelos, e mamãe acostumou-se até a dormir comigo, porque quando eu estava em seus braços sentindo o seu cheiro, os tremores e o medo passava.
Aconteceu tanto que minha mãe discutiu com o meu pai sobre isso. Eles tiveram uma briga feia e eu soube que era porque ela queria me levar para algum psicólogo ou até um psiquiatra. Fiquei receoso, sequer sabia que estava precisando disso. Parecia sério...
Foi então, que finalmente um mês depois que eu saí da escola em que estive por quase um ano inteiro, e desde quando comecei a me sentir estranho com as sensações esquisitas e os pensamentos terríveis que a minha mente parecia criar de repente, eu fui para o psicólogo.
Mas logo depois de duas sessões com ele onde tentei me abrir o melhor possível, soube que havia sido encaminhado para um psiquiatra. Meu pai estava cada vez mais impaciente comigo, mas minha mãe segurava as pontas. Ela se preocupava.
Poucas sessões com o psiquiatra e após ele parecer receitar remédios aos meus pais para que eu tomasse, finalmente descobri o que eu tinha quando o doutor mesmo contou pra mim.
Transtorno de ansiedade.
No fundo, acho que eu também estava desse jeito por sentir muitas saudades de Jun. E todas as noites, eu pedia para que ele não fosse mais machucado.
Será que um dia, ele finalmente estaria feliz?
Não, nosso Jun ainda não é feliz... :( e nem você, meu amor...
E aí, gente? Desculpa a autora falando com os próprios personagens aqui. 🥲
Ai, eu sou sofri escrevendo esse capítulo. Não sabia se boiolava ou se chorava.
Agora que vocês sabem que o Joo é o Jimin e ao menos boa parte do passado de ambos (não tudo), o que vocês acham que pode acontecer? Não é só mais um dinheiro em jogo.
Até mês que vem, voltarei no meu aniversário, fimzinho de Janeiro! 🥺💚 ESPEREM POR MIM, AMO VOCÊS E OBRIGADA PELOS 70K 😭😭😭
Sigam meus bebês no Twt!
@/BADTYPEJK e @/BADTYPEJM
Os outros personagens também!
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