Capítulo 64

Maddy P.O.V

  Talvez o problema agora não fossem os sentimentos e sim ao que me mantinha presa em certos lugares, como aqui em Portugal. Enquanto via a chuva cair sobre o caixão do meu avô e as pessoas jogassem suas pás cheias de terra no fundo do buraco, eu não sentia nada. Uma fila foi feita para darem um último adeus. Eu não queria mais um motivo que me prendesse aquele lugar, havia duas pessoas na minha frente se esquivando para ver quando chegariam sua vez.

  O Shawn me encarava com uma expressão arrependida, mas ao mesmo tempo dura como pedra. Eu sempre me perguntava como deveria ser a sensação de se "despedir" de uma pessoa que você tanto ama, agora sei como é. Ceifadora... era assim como todos me conheciam, por matar pessoas e seguir ordens.

  Havia chegado a minha vez, saí debaixo de um guarda-chuva e peguei a pá da última pessoa. Eu não podia fazer aquilo, não podia "enterrar" meu avô sabendo que a pessoa culpada está por aí ainda se divertindo. Quando faltar motivos eu vou lembrar do meu avô e do que fizeram com ele. Olhei para todos que me encaravam com uma certa expressão confusa, já outros queriam prestar logo as suas condolências e saírem de lá o mais rápido possível.

— EI VOCÊS TODOS! — gritei. — Quero só um minuto de vocês antes de continuarem essa cerimônia fúnebre desnecessária. Quero deixar bem claro que ele estava doente e que talvez ele pudesse morrer em dois dias, duas semanas ou dois messes, não sabíamos. Não foram uma nem duas coisas que aprendi com aquele velho chato. — disse e ri. — Foram várias e podem apostar, as tarefas no final do dia não eram fáceis. Bem, ele não iria querer que vocês chorassem. — comecei meu teatrinho. — An... eu acho que nunca vi meu avô ter tantos amigos e conhecidos como na hora da morte dele. E isso não vai ser diferente quando vocês morrerem. — disse e finquei a pá no monte de terra e olhei para minha mãe que estava do lado da Lydia, ela me olhava com certa indiferença e parecia surpresa com minha atitude. Sabia o que eu iria fazer, e isso não demoraria muito. Saí dali e o Mark veio correndo na minha direção chorando.

— Eu quero sair daqui. — disse entre um soluço e outro.

— Tudo bem, vamos embora. — disse e peguei em sua mão.

  Olhei de relance para aquela multidão e vi que a fila tinha dado continuidade. O Shawn estava encostado em uma das lápides com as mãos no bolso e balançando levemente a cabeça.

Dois meses depois.

Maddy P.O.V

  Não demorou muito para as coisas voltarem ao normal. O Mark pareceu entender que o meu avô não iria mais estar nas suas férias de verão, e aceitou que ainda tinha a mim. Resolvi me mudar para o Canadá e começar uma vida nova, levando o Fêlix e a Lydia para morarem na enorme casa que havia comprado com o dinheiro do racha, junto com a venda da casa em Boston e também com a venda do meu consultório de psicologia. Havia voltado a ativa das viagens e dos prazeres que era a vida de modelo. O Fêlix tinha arrumado um namorado e estava feliz da vida e a Lydia tentava cada vez mais roubar a atenção do Mark para si, e ele gostava. Não tinha falado com a Cloe desde então, ela havia se mudado para o Brasil por causa de uma das plataformas onde agora, o Aaron comandava.

Flashback On

Sabe qual foi meu maior erro? — disse e apontou o dedo pra o meu rosto. — Não ter te dado um pé na bunda logo na primeira transa.

  Dei um tapa no seu rosto. Vi o maxilar dele travar, na altura do campeonato eu já estava chorando...

— VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO! — gritei

— Descul...

— Não, não me venha com desculpas. Suas palavras já foram ditas e eu já ouvi o suficiente para saber o que realmente sinto por você. — disse. — ÓDIO. — gritei e dei vários socos no seu peito, o mesmo segurou meus pulsos e me encarou.

— Terminou? — perguntou.

Flashback Off

  As recordações dos últimos meses eram torturantes, principalmente quando se tratava do Shawn. Resolvi me afastar de vez dele, seria melhor para os dois. Não, eu não dei uma de morta e fugi sem que ninguém soubesse. Dessa vez dei um basta naquilo que eu chamava de sentimentos

— MADDYYYYY! VEM VER, PARECE QUE TEMOS NOVOS VIZINHOS! — gritou da sala.

  Tirei o avental e fui até a sala onde encontrei o Fêlix bisbilhotando as pessoas de várias posições.

— Seu fofoqueiro. — sussurrei e ri.

— Cala a boca e olha. — disse.

  Tentei olhar de várias maneiras, mas o Fê me impedia. Dei um chega para lá nele e continuei olhando.

— Sua grossa. — disse e saiu da sala.

  Os ajudantes tiravam as caixas do caminhão enquanto os que eu julgava ser os novos vizinhos, olhavam a casa de todos os ângulos, reconheceria aquele tufo de cabelo dourado e aquelas tatuagens no braço do homem em qualquer lugar.

— CLOE! — gritei.

— Quem? — perguntou o Fê com um muffin nas mãos.

— Se você comer todos os muffins antes do jantar eu dou na sua cara. — disse.

— Ai ai, quanta agressividade. — respondeu.

  Abri a porta e atravessei a rua no momento em que ela olhou para trás.

— OH MEU DEUS! — gritou e veio na minha direção.

  Ela me abraçou e ficamos assim por um bom tempo.

— Eu estava com tanta saudades... — falou. — Não sabia que tinha se mudado para o Canadá.

— Estamos sem nos falar há quase dois meses. — disse como se não fosse óbvio. — Por que para cá? — perguntei.

— O Aaron foi promovido, você sabe como o Shawn é... — disse. — Aliás, esqueci de te dar isso, espera aqui, dois minutos eu já volto. — disse e entrou dentro da enorme casa.

— Maddy? — olhei para o lado e vi o Aaron com um caixa, deixou-a no chão e veio me abraçar. — Não sabia que havia se mudado para cá.

— Vocês agora são os meus mais novos vizinhos. — disse e rimos.

— Espera. Maddy Campbell morando numa parte longe do centro da cidade? Acho que esqueceram de te avisar que por aqui não tem boate ou bar. — disse irônico.

— Engraçadinho. — disse.

— Está aqui à trabalho? — perguntou.

— Não, agora é definitivo. Trouxe até a Lydia e meu assistente para vir morar aqui também. — soltei uma risada.

— Soube que voltou a vida de modelo e deixou a de psicóloga para trás.

— Sim, descobri que as pessoas iam aos psicólogos em busca de soluções e não sabiam resolve-los sozinhos, parei de tentar entender as pessoas e passar me entender. — disse.

— Uau.

  Depois de passados mais de dois minutos a Cloe saiu da casa com uma caixa nas mãos.

— Eu espero que goste. — disse e sorriu. — Aliás, vamos dar um social aqui amanhã para comemorar o dia internacional da mulher, quer vir? — perguntou.

— An... eu não sei. — disse.

— Tudo bem, vamos deixar você sóbria o suficiente para você levar o Mark no outro dia na escola. — disse.

— Tudo bem, eu venho. — disse e pus a andar de volta a casa.

— DIZ A LYDIA A AO SEU ASSISTENTE QUE ELES TAMBÉM PODEM VIR! — gritou o Aaron.

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