Capítulo 59

Maddy P.O.V

  O carro nem tinha parado e eu já estava fora dele, como se algo tivesse me empurrado para fora. Andei as pressas até a porta da frente e comecei a bater sem pensar duas vezes.

— Oi. — disse a Lydia com um sorriso cativante.

— Onde está o Mark? — perguntei como de minha vida dependesse daquilo.

— Está lá em cima no seu antigo quarto com...

  Passei por baixo do seu braço e corri para escada. Andei devagar quando cheguei no corredor que dava para o meu quarto. Fazia tanto tempo que eu não tinha voltado aquela casa que tudo me parecia meio desconfortável. Nada era igual, exatamente nada. Do carpete aos lustres que tinham no estreito corretor. Ela não era convidativa como antes.

— Eu sabia que você iria voltar, Shawn. — escutei a vozinha do Mark e andei um pouco mais rápido.

  Cheguei até a porta e comecei a olhar o que eles faziam.

— Shawn Mendes sempre volta. — disseram em uníssono.

— Shawn? — chamou.

— Sim?

— Esse tempo todo, você sentiu a saudades da Maddy? — perguntou o Mark.

  Vi ele abrir a boca várias vezes e fechá-las sem que um som saísse de lá.

— Talvez. — disse e baixou a cabeça.

— Talvez não é resposta. — disse.

— Você aprendeu a ser careta e teimoso igual a ela. — riram.

  Até que me peguei rindo também.

— Sim, eu senti saudades dela. Mas todo mundo supera um dia. — disse e passou a mão sobre o cabelo, deixando que algumas mechas caíssem na sua testa.

— Todo mundo, não é você, Shawn. — disse o Mark.

— Quantos anos você tem Mark? — perguntou irônico.

— 11. — disse e riu. — Por quê?

— Por que você é novo demais para maturidade que tem. — disse.

— É por causa das perguntas um tanto invasivas que eu estou fazendo? — perguntou.

— Onde aprendeu essas palavras? — perguntou o Shawn.

— Shawn, eu tenho 11 anos, não 5.

— Qual faculdade quer fazer? — perguntou o Shawn mudando de assunto.

— Psicologia, igual a mamãe. — disse o Mark.

  Mamãe...

— Isso explica seu vocabulário avançado e sua língua afiada para perguntas. — disse o Shawn.

— A coisa que eu notei é que você respondeu nenhuma delas. — disse o Mark.

  Vi o maxilar do Shawn travar.

— Eu tenho o direito de não responde-lás?

— Claro, se você respondesse elas eu saberia se estivesse mentindo. — disse.

— O que eu faço quando falo uma mentira? — perguntou o Shawn.

— Você coloca as mãos no bolso detrás da calça. — disse e sorriu. — Shawn, você pode mentir para qualquer um, mas para si mesmo nunca. Lembre-se disso quando for conversar com a Maddy.

  Nessa mesma hora bati na porta do quarto.

— Ahn... cheguei. — isso, somente isso saiu da minha boca.

— Eu vou deixar a família colocar o papo em dia. — disse o Shawn e pegou sua jaqueta batendo no meu ombro assim que passou pela porta, fui mais rápida e puxei seu pulso.

— O que está acontecendo? — perguntei.

— Nada com que a Sra. Sveedia deva se preocupar. — disse e recolheu seu pulso.

— Shawn, eu estou falando sério. — disse.

— Eu também. — respondeu.

— Chega de brincadeiras. — bati o pé.

— Chega de mentiras. — disse o Shawn e desceu as escadas.

  Entrei no quarto vendo o Mark me encarar com os braços cruzados em sinal de reprovação.

— Não me olha assim não. — disse.

— Eu estava com saudades. — disse e veio me abraçar.

— Eu também. — disse. — O Henry fez alguma coisa com você? — me agachei ficando do seu tamanho.

— Nadinha. — balançou a cabeça.

— Tem certeza?

— Sim, mãe. — disse e revirou os olhos.

  Aquela era a primeira vez que ele tinha me chamado de mãe. O puxei para um abraço tão forte que o mesmo deu tapinhas na minhas costas para soltá-lo.

— Desculpa. — disse rindo e tirando algumas lágrimas que escorriam do canto dos meus olhos.

— Vai atrás dele. — disse e saiu do quarto.

— Não agora. — sussurrei e levantei.

  Desci as escadas onde encontrei minha mãe sentada no sofá chorando nos braços do Henry. Assim que seus olhos pararam em mim sua expressão de dor se tornou raiva.

— Isso tudo é culpa sua. — disse saindo dos braços do Henry.

— Mãe, não fala assim com a Maddy. — disse a Lydia.

— Deixa, ela sempre procurou alguém para colocar a culpa. — disse.

— Agora você que não deve falar assim com nossa mãe. — respondeu a Lydia.

— Você matou ele. — disse minha mãe.

— Ele estava doente. — disse.

— MENTIRA! — gritou.

— ELE ESCREVEU UMA CARTA PARA MIM DIZENDO QUE A DOENÇA QUE ELE TINHA HAVIA CURA, MAS QUERIA VIVER COMO SE NÃO EXISTISSE EXATAMENTE NADA COM A SAÚDE DELE. — gritei de volta.

— OUTRA MENTIRA!

— Acredite se quiser. — dei de ombros.

  Terminei de descer as escadas e fui para o jardim que ficava atrás da casa. Por incrível que pareça ele continuava o mesmo, exatamente igual, diferente da casa. A casa na árvore continuava intacta, o balanço que pendia de outra árvore também, só faltava alguém para brincar. Com os braços cruzados fui até o balanço e sentei nele, fechei os olhos e embalei meu corpo para frente depois para trás.

  Senti a brisa fria tocar minha pele e o aroma das roseiras naquele lugar.

— O funeral do vovô vai ser amanhã, por favor. Eu estou te pedindo por favor Maddy, não brigue com a mamãe. Se você quiser amanhã mesmo você pode ir, mas não briga com ela.

  Continuei com os olhos fechados ouvindo cada súplica que ela fazia, cada palavra que entrava na minha cabeça nos últimos dias acabava ficando lá muito tempo. E eu rezava para que elas entrassem por uma orelha e saísse pela outra.

— A Cloe acabou de chegar. — disse e escutei cascalhos sendo esmagados. Ela tinha ido embora.

  Eu não estava pensando em nada, apenas deixei que eles vagassem por toda imensidão da minha cabeça e dos meus pensamentos. Não sentia nada, nem mesmo a dor psicológica me afetava naquele momento.

[...]

  Não sei quanto tempo fiquei com os olhos fechados naquela posição, sentindo apenas a brisa o cheiro das rosas.

— Não sabia que praticava meditação. — escutei uma voz rouca atrás de mim.

— Não pratico. — disse.

— Desculpa por hoje mais cedo, eu fui grosso de todas as formas possíveis com você...

— Não precisa se desculpar, você tem razão. — disse.

— Tenho? — perguntou com um ar surpreso.

— Sim, talvez devêssemos parar de mentir, talvez só devêssemos parar...

— Você não está com raiva? — perguntou

— Claro que não. — abri os olhos. — É uma escolha sua, não minha. — o encarei.

— Maddy eu não estou te entendendo, eu juro...

— Cá entre nós Shawn, você não queria estar aqui, queria? — perguntei.

  Ele colocou as mãos no bolso e desviou seu olhar para as plantações de trigo a nossa frente.

— Era o que eu imaginava. — disse e depois voltei a minha posição

  E mais uma vez ouvi barulho de cascalhos sendo esmagados, sinal que de mais uma pessoa havia ido embora.

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