Capítulo 51
Shawn P.O.V
Naquela noite adormeci com o rosto da Maddy vermelha de raiva. Ela parecia soltar fogo pelo nariz, era algo que já vi acontecer muitas vezes, mas aquela foi diferente. Ela estava com muita raiva, um tanto triste, mas a mente vaga e solitária. Como se o vazio que ela sentisse por perder a filha ainda não tivesse cessado.
Acordei com os pequenos raios entrando pela janela de encontro ao meu rosto, seria meu clichê dizer que eu podia sentir o leve cheiro de lavanda, do cabelo da Maddy vindo do travesseiro que ela tinha dormido na noite retrassada. Ela não quis dormir no mesmo quarto que eu, entendia seu lado de raiva, mas a Maddy é cabeça dura. Não iria olhar no meu rosto nem tão cedo.
Levantei e fui até o banheiro, tomei um banho um tanto demorado. Sentia a minha mão arder do soco que dei no Nash ontem, percebi também que os cortes nas minhas costas, agora não doíam tanto quanto o sentimento de amargura e solidão que vagavam dentro de mim. Mas esse sou eu, autoaceitamento era o que eu tinha que fazer, mas o que eu queria mesmo era alguém que pudesse me dizer que tudo vai ficar bem, mesmo com tudo que está acontecendo. Mesmo que o mundo possa está caindo aos poucos. O motivo desse pequeno corte na minha mão, fez a Maddy se afastar muito mais de mim. Um passo para frente, dois para trás. Era assim que eu me encontrava.
Coloquei um calça de moletom e uma camiseta qualquer, calcei meus sapatos de corrida e peguei meus fones. Fui até a cozinha pegando uma maçã e um copo de suco, sentei no balcão e lá mesmo fiquei.
- Shawn... - disse o Bruno entrando na cozinha ofegante.
- O que aconteceu? - perguntei franzindo as sobrancelhas.
- Tem... alguma... coisa... errada... com a Maddy. - disse entre pausas.
Ele apontou para escada e andei as pressas até lá, vendo a Maddy caída no final da mesma. Nesse momento vi um vulto passar no primeiro andar e subi as escadas correndo para ver quem era ou o quê era.
Entrei em todos os quartos, mas não tinha ninguém ali. Em nenhum lugar. Vi a janela do corredor aberta e, ao longe um carro indo em direção a estrada. Peguei o celular rápido e escrevi os números da placa do carro.
- Ela cortou os pulsos! - gritou a Clary sentada ao seu lado.
Isso não está acontecendo...
Desci as escadas de novo e pedi espaço. A Mona pegou uma coisa na sua mala e começou a examinar a Maddy.
- Ela está respirando bem, não tem nenhum problema na caixa torácica, o pulso dela não está fraco. O coração dela bate mais de 80 vezes por minuto, e aparentemente ela não teve traumatismo craniano, senão, tudo que eu disse estaria invertido.
Todos olharam para o rosto da Mona, menos eu. Mantinha olhar no rosto da Maddy, enquanto seu peito subia e descia. Puxei o celular do bolso e mostrei ao Bruno o número da placa.
- Pesquise e rastrei esse carro, vamos saber quem fez isso. - disse ainda sem tirar os olhos da Maddy. - Eu levo ela lá para cima.
- Eu levo. - disse o Nash.
- Não precisa. - o interrompi. - Você já causou demais. - disse colocando a Maddy nos meus braços.
Subi as escadas de novo a levando para o seu quarto. Coloquei a Maddy na cama e apoiei sua cabeça com delicadeza em seu travesseiro. Vi que no canto de sua testa havia um pequeno hematoma roxo. Então resolvi ir até a cozinha a procura de gelo.
Maddy P.O.V
Eu podia sentir literalmente minha cabeça gritar pedindo socorro. Toquei na minha testa, mas logo retirei minha mão como um choque. Minhas costelas doíam e minhas costas mais ainda. Ouvi alguém abrir a porta, me levantei rápido, mas logo me apoiei na parede, agora sentindo como se tudo no planeta girasse e eu continuasse parada no mesmo lugar.
- Ei, deita. - ouvi o som de uma voz familiar e um par de mãos grandes segurarem minha nuca e a outra estava espalmada no meio das minhas costas. - Coloca isso aqui.
Senti algo muito gelado entrando em contato com minha pele. Fiz uma careta certamente perceptível, depois posicionei minha mão por cima de uma mão grande que segurava o saco de gelo na minha testa.
- Está tudo bem. - sussurrou no meu ouvido.
Nesse momento senti exatamente cada pelo do meu corpo arrepiar, sabia quem era o dono daquela voz...
- Como se sente? - perguntou enquanto alisava meus cabelos.
- Minha cabeça dói. - disse rindo.
- Trouxe ainda uns analgésicos. -disse deitando minha cabeça de volta.
Vi o Shawn pegar um copo de água e uns comprimidos em cima do criado-mudo. Depois ele me pegou pelos ombros e me levantou me deixando sentada na cama, ele me entregou um copo d'água e os analgésicos. Coloquei tudo na boca e engoli.
- Eu vou deixar você descansar, ok? - assenti.
O mesmo deu um sorriso fraco e saiu do quarto fechando a porta, logo que o Shawn saiu do quarto cai no sono. Mas acordei me remexendo na cama e criando paranóias. Não entendia porque o quarto estava tão escuro, não sabia se minha vista estava embaçada demais ou se o sol estava de mal humor com o céu cheio de vida. Pensava em tudo o que estava acontecendo agora, e em como me sentia quando ele me tocava ou falava comigo, sufocada. Mas não era um sufoco ruim, e sim bom. O Shawn pode não ser lá essas coisas, pode ser que as vezes ele me trate com tal brutalidade, verbalmente, mas sei que em algum lugar tem um bom Shawn. A prova disso está a cada vez que ele sorri para mim, a cada vez que ele tenta me proteger, por mais que pareça que ele está sendo obrigado a cuidar de mim.
Levantei devagar, sentindo cada músculo do meu corpo gritar em sinal de redenção.
Batidas abafadas vindas da porta me fizeram sair dos meus devaneios.
- Entra. - minha voz saiu falha com um "ai", no final.
- Trouxe sanduíche e suco de laranja para você, seu favorito. - disse a Lydia com um sorriso largo no rosto.
- Pelo seu sorriso falso, parece que você foi obrigada a trazer isso para mim. - ri.
- Sim e não, na verdade. O Shawn fez o seu lanche e pediu para alguém trazer, em troca, ele daria aumento no salário. - disse rindo. - Mas, eu vim porque preciso conversar com você. Não é os trocados a mais no final do mês que fizeram eu vir até aqui. - disse com um ar de preocupada.
Franzi as sobrancelhas, pedindo que ela sentasse e me falasse o que estava acontecendo.
- Esses hematomas... - começou. - Isso não foi uma simples batida na cadeira. Você não escorregou no chão molhado do banheiro. Também sei que você não tropeçou num tapete e caiu da escada, Maddy. Foi o Henry? - perguntou.
- Lydia... eu... - gaguejei.
- Sem desculpas. - disse brava.
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