los angeles
[I don't even miss you]
Se você nunca tivesse ido à Los Angeles antes, como você realizaria a viagem perfeita até lá? Na minha primeira visita à LA, eu estava ansiosa, nem dormi no avião, era uma viagem rápida, mas eu não havia dormido nada nas últimas 24 horas daquele dia. Minha mãe estava cansada, mesmo assim eu a convenci a me levar ao pier em seguida. LA sempre foi sobre realizar sonhos, mas eu não havia construído nenhuma dessas expectativas hoje. Não havia nada além da urgência, a ansiedade e o medo. Acredito que nenhum anjo esteja me acompanhando por esse caminho.
Mesmo com todos esses sentimentos me rondando, eu não pude evitar o déjà vu ao ver o carro prata de Edward esperando por mim, as borboletas no estômago quando seu olhar se encontrou com o meu, depois de tantos anos. Não pude evitar a ansiedade de estar sozinha com ele muito em breve. O carro tinha um novo modelo, diferente da minha velha ansiedade. Seria uma grande viagem no tempo.
Meu pai foi quem concedeu todas as informações a Edward, que seria minha babá, ele sabia da minha condição melhor do que meu pai, mas ele ficou lá, escutando cada palavra. É o que me irrita nele, sua paciência e empatia, essa bondade sem fim, eu não conseguia comprar nenhuma dessas coisas.
Eu minha última noite em Forks tentando encontrar os motivos que levaram Edward Cullen passar dois dias dirigindo até Los Angeles ao meu lado. E eu não fui capaz de encontrar nenhum. Ele não era o tipo de cara que quer fazer com que eu me sinta um lixo. Ao entrar naquele carro, prometi que me faria de louca, como se eu nunca tivesse arruinado sua vida antes. Eu deixaria ele pagar por tudo, mas assim que eu chegasse em Los Angeles eu lhe pagaria de volta, e então eu não o veria novamente.
- Então, como você se machucou? - Eu já havia ouvido a sua voz hoje, mas não diretamente a mim, eu fiquei processando as palavras. Sua voz já tinha um tom maduro, não parecia certo.
- Foi um acidente. - Minha voz era quase falha - Eu estava abrindo o meu presente de natal, meu pai quis comemorar, então ele abriu uma garrafa de champanhe no meio da sala de estar. A rolha voou na minha direção, eu caí e bati a cabeça na quina da lareira. - Edward escuta minhas palavras atenciosamente, tentando não rir da situação, mas eu o vi.
- Poderia ter sido pior.
- Como? - Ele sorriu.
- Conhecendo você, poderia ter sido pior. Você poderia ter caído no fogo, e se queimado, ou então ter ficado cega com a rolha. Ainda pior, cega e queimada.
Eu estava sem reação nenhuma a todo aquele senso de humor de Edward, porque ele estava quebrando todas as minhas expectativas que eram zero?
- Oh, obrigada por uma nova perspectiva, estou mais grata agora. - Meu riso ficou sem graça quando ele ficou sério.
- Quer que eu desligue a música? Faz quanto tempo que você tomou o seu remédio?
- Eu não estou sentindo nada, estou bem. A música está boa.
- Eu preciso que me diga se sente alguma coisa, okay? Mesmo que algo pareça bobo, me diga imediatamente. Certo?
Sua voz era autoritária, firme e séria. Edward nunca havia falado daquela maneira comigo antes. Eu me senti intimidada, e então eu percebi o que estava acontecendo ali: eu apenas uma paciente para ele. Ele estava fazendo aquilo por mim como um médico.
- Certo. - A música virou o elemento principal na viagem.
O silêncio não me incomodava, a playlist escolhida era impecável, ele misturou as músicas que sabe que eu gosto. Era um carro novo, cheirava a erva-doce e a Edward. Sim, ele tem um cheiro extremamente específico, mesmo que eu estivesse em uma sala com quinhentas pessoas, eu seria capaz de reconhecê-lo.
- Posso colocar meu pé no banco? - eu sempre fiz isso com ele, meu pai, minha mãe, mas Jacob odiava isso.
- Pode.
Me ajeitei da forma mais confortável que o cinto de segurança me permitia, o carro é bem espaçoso e estava repleto de malas e caixas com seus livros empilhados, alguns discos e CDs. O que mais me chamou atenção foi uma caixa de presente, intacta, parecia ser um presente de natal.
- O que você ganhou de natal?
- O que? - Ele não tinha prestado atenção no que eu disse.
- Qual foi o seu presente de natal? - Ele fez uma careta.
- Não julgue, nós estamos no meu presente de natal. - Demoro uns segundos e então percebo que ele se refere ao carro.
- Você está mentindo. Quem ganha um carro de presente de natal? Isso não faz sentido nenhum.
- Você acha que eu vim de Cambridge até Forks de carro?
Primeiramente: eu não sabia que Edward vivia em Cambridge, ele estudava onde? Em Harvard? Eu não ficaria chocada.
- Eu não acompanho sua vida, mas agora você me deixou confusa. Como você vai voltar à Cambridge?
Era uma pergunta boa, se ele vivia lá, porque está dirigindo até LA?
- Eu passei 8 anos em Cambridge, me formei em medicina, e surgiram muitas oportunidades, uma delas em Los Angeles. Então estou me mudando.
Imagine ir para Los Angeles por causa de um emprego e não para procurar um.
- Eu sempre achei que você fosse investir na música, ou algo mais artístico.
Edward tocava piano desde seus 5 anos de idade, ele sempre dizia que ser um médico é um fardo e como isso afetou a vida da sua família. Ele sempre sonhou em ser um artista.
- Acho que a música começou a ser apenas um passatempo para mim, quando eu cheguei na universidade e eu vi tantas pessoas mais talentosas do que eu, medicina não era um caminho tão ruim assim.
Sua voz trazia um tom meio agridoce, o que me deixou triste por um momento. Eu sempre imaginei a vida dele sendo perfeita, ele podia ser o que quisesse, já que tinha potencial e os meios para isso.
- Às vezes, talento não é o bastante Bella. - Ele respondeu ao ler minha mente, um poder que não havia perdido com o tempo.
Ouvi-lo dizer meu nome daquela forma realmente me deixou tonta, me senti com 16 anos de novo.
- Uma indicação do seu pai com certeza é.
- Meu pai não me deu o carro, eu tinha um carro em Cambridge, mas é caro trazer para cá, então ele vendeu o carro lá e comprou outro aqui.
- Era uma piada... E o presente no banco de trás, o que é?
- Não é para mim, esqueci de entregar.
- O que é?
- Um cardigan. - Sua voz tinha zero emoção.
Eu queria saber para quem era o presente, mas achei indelicado perguntar mais uma vez sobre a mesma coisa.
Depois de quatro horas de viagem, fizemos nossa primeira parada. Era um restaurante de estrada, bem avaliado, no qual nós iríamos almoçar e descansar. Eu aproveitei para ir ao banheiro e checar meu telefone, almoçamos sem trocar muitas palavras. Ele me lembrou dos meus remédios e quis fazer uma avaliação minha ali mesmo, mas eu não deixei.
- Você realmente planejou tudo? - Eu perguntei perplexa, ele havia me dito quantas paradas haveriam até Los Angeles e que a gente dormiria em um hotel aquela noite.
- Sim - Ele disse com um sorriso orgulhoso.
- Quantas horas até a próxima parada?
- Quatro. - Ele respondeu sem hesitar.
- Posso ir dirigindo?
- Eu não acho que seja uma boa ideia. - Ele nega, mas eu não sinto confiança nas suas palavras, eu não iria desistir assim tão fácil.
- Você pode ir me guiando, eu não quero dormir agora, preciso me manter acordada. - Reclamar sempre funciona.
- Bella, você pode colocar mais do que a sua vida em risco. Prefiro ir dirigindo, prometo não te deixar dormir. - Percebi pela sua voz que eu não seria capaz de convence-lo.
- Como você pretende me deixar acordada?
Ele fez um breve silêncio e deu os ombros, mediu minha febre, pressão arterial e reflexos. Era um tanto quanto desconfortável tê-lo tão próximo de mim, pedindo para que eu respirasse, me tocando o mínimo possível. Ao chegar no carro Edward cumpriu sua promessa, ele me deixou escolher as músicas, mas eu realmente não estava muito inspirada, seria apenas mais do mesmo. Então, ele deveria conversar comigo.
- Certo... O que você faz em Los Angeles? - Edward não parecia muito interessado na minha vida, era uma pergunta apenas para preencher o silêncio dos últimos minutos.
- Eu sou roteirista e diretora de filmes independentes. - Era uma descrição vaga do quanto eu realmente tinha que trabalhar para produzir um filme, mas ainda contemplava as maiores funções, as que eu era meramente paga para fazer.
- Tipo, filmes de terror?
Uma pessoa que não o conhece não seria capaz de sentir o cinismo em sua voz, mascarado o suficiente para que ele não soasse rude. Meus olhos reviraram, ele era fã de clássicos, eu respeito isso, mas Edward não sabia mais sobre cinema do que eu. Ele é o tipo de cara que vê sempre os mesmos filmes e sabe as falas decor.
- Não posso te passar muitos detalhes, mas meus filmes geralmente tem uma pegada mais indie, quase que experimental, gosto de arriscar. Uso elementos do terror, mas isso não é só que define meu estilo. O filme sempre vai parar em um festival, mas o retorno é baixo, ninguém assiste. - E com ninguém, eu me referia a ele, e todo o grande público que só sai de casa se for um filme de super-herói.
- Qual o propósito de fazer algo que ninguém vai ver?
- Eu não faço filmes para que eles façam parte de uma grande indústria, eu faço pela arte. - Eu estava sendo pretensiosa e ele sabia disso, foi o que lhe fez rir com a língua entre os dentes.
- Hipster! - Ele declarou e eu apenas abri um sorriso junto ao dele e fiquei corada. Edward Cullen tinha esse poder estranho sobre mim.
- É sério, eu ganhei alguns prêmios pelo meu último curta. - Senti que precisava me validar, era um sentimento estranho, por quê eu preciso provar a ele que eu sou boa no que eu faço?
Suas mãos se ergueram em rendição, ele sorria e mantinha os olhos na estrada, eu me sentia melhor agora.
- Eu acredito em você Bella, você fez cinema? - ele disse a última palavra pausadamente, imitando algum sotaque europeu.
- Sim, em New York.
- NYU? - Sua surpresa me deixou receosa, ainda mais com seu palpite certeiro.
- Sim, por três anos, e então me mudei para Los Angeles e terminei na Universidade da Califórnia.
- O que tinha de errado em New York? - Ele parecia mais interessado agora.
- Acho que ser um artista independente lá é diferente de ser um artista independente aqui. Isso fica mais evidente quando se fala da indústria cinematográfica, se você quer ser relevante é preciso trabalhar em Los Angeles.
Seus olhos me encontraram enquanto eu explicava, e a conversa parecia ter um tom mais sério agora. Sua pergunta tinha espaço para muitas outras respostas, algumas nem mesmo eu tinha. Era óbvio que haviam outras razões por trás da minha mudança, mas ele não deveria saber sobre meu histórico de corações partidos em New York. A minha vida e a minha carreira se alinharam, o que não deixou de ser verdade.
- E, por quê cinema? - Era uma pergunta boa, eu sempre quis ser escritora, mas ao mesmo tempo tinha como objetivo outros cursos, quando estava com ele eu queria biologia.
- Eu vi muita gente boa na medicina, achei melhor fazer algo mais fácil. - Usei o mesmo argumento que o dele, para deixá-lo sem graça e funcionou.
- É uma pergunta séria Bella. - Ele ainda queria uma resposta, e o problema dessa pergunta é que a resposta tem mais relação com ele do que deveria. Como dizer que eu escrevi todo um roteiro sobre nosso antigo relacionamento e de repente vi que eu era boa nisso?
- Eu sei que é uma pergunta séria, eu só não sei explicar, assim que eu saí de Forks senti uma necessidade de escrever de alguma forma as coisas que se passavam pela minha cabeça e um livro não parecia o bastante, eu precisava da cena completa.
Sua feição ficou ilegível por um momento, houve um silêncio considerável até que ele finalmente disse algo, mas não era relacionado a mim ou ao meu trabalho. Ele começou uma conversa fiada sobre o clima, e então falou sobre como foi organizar a viagem, mas seu descaso comigo me aborreceu o suficiente para que eu não quisesse contribuir com sua conversa superficial.
Troquei de música, me ajeitei no banco e me afoguei em melancolia ao som de Radiohead, eu estava mais chateada comigo do que com ele.
Estar com Edward sempre foi difícil, ele tem a habilidade de criar uma bolha entre nós e a realidade; mas quando a bolha se rompe é sempre doloroso. Me sinto confortável e segura em um momento apenas para sentir o quanto aquilo não passa de uma ilusão. Não posso me permitir estar nesse lugar de novo, eu não tenho mais dezessete anos.
E assim, ao som de Karma Police, eu adormeci.
Assim que meu corpo sentiu a velocidade do carro diminuindo, e então parando, eu despertei. Já estava escuro, provavelmente já era noite. Edward parecia exausto, com olheiras fundas e uma cara fechada, mas eu não me encontrava no melhor humor para ser legal com ele, seria apenas o necessário. Fiquei imóvel, o que fez com que ele demorasse a perceber que eu já estava acordada.
- Dormiu bem? - Ele perguntou, assim que virou para minha direção e encontrou meus olhos abertos, fixos nele.
- O máximo que o banco de carro me permitiu. Você parece cansado. - Minha voz saiu falhada, mas ele pareceu entender bem, já que sua feição continuou carrancuda.
- E estou, eu reservei um quarto, mas esqueci de mudar a reserva para duas pessoas. Eu vou ver se há um extra, você vem ou espera aqui?
Não via importância nenhuma sobre a minha presença ou não, ele sabia meu nome completo e com certeza não me deixaria pagar. Eu apenas disse que ficaria no carro e ele concordou sem pensar muito sobre isso. Assim que eu fiquei sozinha soltei um suspiro aliviado, eu nem havia percebido o quão tensa eu estava esse tempo todo.
Achei que seria uma boa ideia xeretar o carro dele, então abri o porta luvas, havia alguns CDs clássicos, umas canetas, uma lanterna e um carregador portátil. Nada demais, ele podia ter uma arma ali, pensei comigo, seria interessante. Depois de responder todas as mensagens exageradas de Alice eu resolvi esticar meus músculos fora do carro, eu não suportava mais nenhum minuto ali. Meu alongamento durou pouco, já que Edward estava voltando junto da sua cara de poucos amigos.
- Eles não tem quartos extras disponíveis. - Isso explicava sua irritação.
- Por favor, me fale que você tinha reservado uma suíte, eu não sei se tenho coluna para dividir uma cama de solteiro. - Não era uma piada, era um pedido de socorro.
- Sim, é um quarto de casal. É o melhor que eu posso oferecer.
- Desde que eu possa esticar minhas pernas e tomar um banho longo, não me importo.
O estacionamento do hotel parecia lotado mesmo, com poucas vagas ainda desocupadas. Não foi difícil encontrar o quarto, era espaçoso e havia um sofá no quarto que era pequeno, uma mesa com duas cadeiras, uma TV, o banheiro tinha uma banheira grande e parecia limpo. Edward foi tomar banho primeiro, enquanto eu passeava por todos os canais da TV julgando a programação. Assim que ele saiu do banheiro eu entrei, mas não fiz questão nenhuma de ser rápida, eu já estava estressada e com dor de cabeça, um banho longo era o mínimo de lazer que eu teria hoje, é também meu único momento sozinha.
Quando finalmente saí do banho, Edward já tinha comprado comida, e estava sentado e arrumando as embalagens do nosso jantar. Era um pouco de yakisoba, uma porção de rolinhos primavera e biscoitos da sorte, eu sorri verdadeiramente, estava faminta.
Graças a TV, não precisamos fingir que queríamos conversar, apenas comemos olhando para TV fingindo interesse. Edward usava meias cinzas, uma calça de moletom preta e uma camisa de mangas longas verde escura. Ele se ofereceu para dormir no sofá, mas eu achei um absurdo, então disse que não ligava em dividir a cama, não era o fim do mundo.
Ele deitou primeiro, eu fingi ter algo para fazer no celular, mas eu estava com pouco sono. Quando vi que era tarde achei melhor deitar, ele já estava dormindo, eu desliguei a televisão e apenas me deitei no outro lado da cama. Seu perfume tinha inundado o quarto mas estava ainda mais forte agora que eu estava a poucos centímetros dele. Me virei na direção contrária e concentrei-me em relaxar os músculos do meu corpo aos poucos, até que adormeci.
Meu sono foi pesado, sem sonhos e contínuo. Eu não esperava sentir tanto frio no hotel, mas aparentemente Forks dividia a cama comigo. Entretanto, quando estava acordando já me sentia aquecida e confortável, e tudo fez sentido quando abri meus olhos e vi que acabei abraçando Edward enquanto dormia. Minha cabeça estava no seu peito, e eu nem precisei abrir meus olhos para saber que essa cena era ridícula.
Quando dizem que nada está tão ruim que não possa piorar, é verdade: assim que eu abri os olhos, piorou. Edward me encarava.
- Merda. - Foi tudo o que eu disse, fechei os olhos novamente e me afastei dele, não tão rápido e nem tão devagar, queria que parecesse um movimento natural, como se eu ainda estivesse dormindo. E assim fiquei, parada e com os olhos fechados.
- Você é esquisita Bella. - Ele fez questão de deixar claro que sabia que eu estava acordada, o que me fez corar. Foi aí que eu decidi apenas me fazer de sonsa, abri os olhos e vi que ele ainda estava me encarando.
- Você quem estava me observando dormir.
- Não quis te acordar, você parecia confortável. - Ele fala a última palavra pausadamente, me provocando com sucesso.
- Você estava confortável?
- Eu estou com fome.
É claro que ele mudaria de assunto, isso jamais poderia virar um flerte.
--
- Quanta fome... - Ele ria da quantidade de comida que havia na minha bandeja.
Como se algumas torradas, uma porção de ovos mexidos, um copo com salada de frutas e um pudim de chocolate fosse realmente muita coisa.
- Se concentre no seu prato Edward.
- Dormiu bem? Se sente descansada? - Ele parecia agitado, diferente de ontem, seu olhar era atento a cada movimento que eu fizesse, como se ele estivesse à espreita apenas esperando por algum movimento em falso.
- Sim, mas esses remédios me dão sono.
- Você não precisa culpar os remédios.
Seu sorriso levemente ocultado me entregou tudo, ele havia pensado um pouco demais sobre o que aconteceu essa manhã. Eu quase fiquei preocupada com isso, mas ele parecia de bom humor. Desde que descemos para o café ele tem sido agradável, com um sorriso entre os dentes.
- Em minha defesa, eu não estou acostumada a dormir sem abraçar um travesseiro, você deu azar de ser a coisa mais próxima naquele momento.
Ele sorriu sem abrir a boca, desviou seu olhar para sua xícara de café, sua expressão foi levemente ficando mais rígida, ele parecia mais pensativo agora.
- Posso te fazer uma pergunta?
Minha respiração ficou irregular por alguns segundos, eu não fazia ideia do que se passava na mente dele. Foi um simples deslize, totalmente fora do meu controle.
- Pode, mas isso não significa que eu irei responder.
- Por que você brigou com Jacob?
Eu engasguei com a pergunta, se eu pudesse fazer uma aposta de quem seria a pessoa que me perguntaria sobre isso, eu jamais teria dito que seria ele.
- O que? De onde você tirou essa ideia ridícula? Eu não iniciei uma briga com ele. Jacob é o obcecado, ele surtou e resolveu provocar uma cena, foi o que aconteceu. - Meias verdades, era tudo que ele receberia de mim.
O clima na mesa mudou imediatamente, e agora a comida já não parecia tão apetitosa, eu queria sair daquele lugar o mais rápido possível.
- Quanto você tinha bebido? - Pelo seu tom alguém já tinha contado uma outra versão dos acontecimentos.
- Esse não é o ponto. Eu já te disse, ele é o obcecado, ele veio até mim, ele é quem me manda mil mensagens e fica me perseguindo. Eu apenas pedi para que ele parasse e ele se recusou causando toda aquela cena.
Ele olhava diretamente nos meus olhos agora, nossa conversa tinha um tom baixo, ainda estávamos em público.
- Acredito que ele tenha um motivo.
Edward tinha o rosto fechado agora, tentava mascarar qualquer resquício de sentimento; eu já havia me enfurecido com suas palavras, suas perguntas sem sentido e toda aquela situação. Não importava o quando eu fugia disso, meus erros do passado continuavam me assombrando. Havia um sabor amargo na minha garganta, como se eu tivesse tomado um suco de angústia.
- Você não estava lá Edward. - Foi tudo que eu pude dizer, eu não queria prolongar aquilo, mas aparentemente ele queria.
- Ele é casado, não vejo motivos para ele inventar isso.
Meu estômago embrulhou automaticamente.
- O que você quer dizer com isso? O que ele anda dizendo?
- Você realmente ficou com ele? - Nesse ponto eu já não era mais capaz de enxergar nem mesmo o prato de comida que estava na minha frente. Cada parte do meu corpo foi preenchida de ódio. Era isso o que ele havia dito para as outras pessoas?
- Eu não fiquei com ninguém. De onde essa merda veio? O que exatamente está incomodando você Edward? Diga de uma vez, eu não tenho mais dezessete anos para ter que ficar lendo nas entrelinhas de tudo o que você fala.
- Você sempre age como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse culpa de nada do que acontece com você. Até agora você agiu como se não tivesse acontecido nada entre nós, como se toda aquela merda não tivesse acontecido. - Com a voz cheia de raiva, ressentimento, ele já havia falado comigo daquela maneira antes.
Coloquei as minhas mãos na minha cabeça, fechei os olhos brevemente, na esperança de quando abrisse a realidade tivesse mudado. Não haviam muitas pessoas ao nosso redor,
- O que você quer que eu diga? - Olhei nos olhos de Edward, engoli toda aquela vontade de chorar, gritar e fazer uma cena. Eu deveria manter minha voz firme, mas apenas ele podia me ouvir. - Que eu estava errada? Que eu fui egoísta? Que eu estava apaixonada? Está no passado Edward, eu não posso mudar nada.
- Eu não acho que você mudaria, mesmo que pudesse. - Seu sorriso agora era falso, cheio de cinismo.
- Eu amei duas pessoas ao mesmo tempo, eu machuquei as duas e ainda envergonhei meu pai, acha que eu tenho orgulho dessa merda? - Se ele queria ouvir da minha boca o quanto eu estava errada, estava feito, por mais difícil que tenha sido dizer aquelas palavras.
- Você não sabe o que é amor Isabella.
Tudo que eu achava que sabia sobre ele caiu ali, eu não o conhecia mais. Com um nó na garganta e segurando cada impulso meu, eu respirei fundo.
- Eu não acredito nisso... Você só aceitou me levar até Los Angeles para poder me fazer essas perguntas ridículas? Você por acaso ficou com ciúmes dele quando ouviu as notícias? Queria que tivesse sido com você?
- Isabella... - Eu não deixaria que ele dissesse mais nada.
- Você se acha tão superior, com seu carro do ano, a merda de um diploma e toda a sua moralidade intocável. Mas você não é tão diferente de mim, você vai descobrir isso.
Me levantei, um tanto quanto tonta e ainda sem enxergar muita coisa, sai andando sem saber muito bem para onde.
- Isabella... - Escutei ele me chamando, mas eu já estava longe.
--
Três horas depois, eu já havia voltado às redondezas do hotel, me sentei em um banco e senti minha cabeça pulsando. Um líquido quente escorria pelo meu pescoço, quando passei a mão vi que era sangue. Comecei a me desesperar, até que percebi que alguém vinha na minha direção, andava às pressas, só poderia ser ele.
- Achei que você tinha ido embora.
- Eu estava no quarto, esperando por você. Já que todas as suas coisas estão lá, incluindo seus remédios e sua carteira. - Ele olhou para minha mão, que estava suja de sangue por toda a palma. - Sua cabeça está sangrando? Deixe-me ver.
Imediatamente o Doutor entrou em ação, quando percebi já estávamos no quarto, ele estava limpando o sangue e refazendo o curativo. Um dos meus pontos havia estourado, mas segundo ele eu ficaria bem. Eu já não estava tão desconfortável.
- Por que você está fazendo isso? - Eu o questionei, assim que ele terminou. Edward estava em pé na minha frente, respirou fundo e então coçou a sobrancelha por um segundo.
- Eu não deveria... - respirou fundo, e então começou outra vez. - Eu fiquei confuso, quando eu acordei com você me abraçando tudo voltou de uma vez. O passado está no passado, não importa, já me tirei dessa situação.
- Não há situação nenhuma.
- Como quiser, vamos logo, quero chegar ainda hoje em Los Angeles.
Bella on Instagram:
Finalizado em: 15/06/2023
Publicado em: 18/06/2023
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top