christmas

[Trying to see the stars through the new pollution]

Nada, não havia nada além de um grande borrão. Quando eu acordei com meu celular tocando absurdamente alto, como se estivesse na minha cabeça, eu tive certeza de que fiz uma merda das grandes. Eu nem ao menos vi quem era quando atendi, eu só queria que aquele barulho infernal parasse de fazer minha cabeça dilatar.

- Bella? Alô? Bella? - a voz de Alice era distante, parecia mais um sonho do que real. - Eu chequei a diferença de horário antes de ligar, será que eu errei? Bella?

- Não precisa gritar Alice, o celular está encostado na minha orelha. - Minha voz rouca denunciava toda minha recente bebedeira, já estava pronta para a bronca.

- Eu devia ter imaginado que você encheu a cara, ontem foi a homenagem para o seu pai. Eu achei que você ia pegar leve ao lado dele, mas eu estava errada. - Junto com suas palavras as memórias horríveis de ontem me atingiram. Eu cobri minha cabeça e fiquei em posição fetal na cama, ao menos eu tive a capacidade de tomar um banho antes de me deitar.

- Alice, foi uma catástrofe. - Eu disse gemendo, quase me contorcendo de tanta vergonha. Não podia ser real, eu só queria que tudo fosse uma grande viagem da minha cabeça, um pesadelo, não me conformo com a minha capacidade de arruinar tudo. Mas era tudo real, longe de ser um sonho, minha ressaca deixa isso claro até demais.

- Oh, não... O que aconteceu? Você disse que tinha tudo sobre controle, que estava bem o suficiente para voltar para Forks e ver seu pai... Bella... - Eu engoli meu choro, não me ajudaria em nada agora.

- É uma longa história, mas em resumo: estraguei tudo. - A vergonha em minhas palavras eram mais do que notáveis, queria que Alice estivesse aqui para me abraçar.

- Isabella Marie Swan, o que houve? - Ouvir meu nome daquela forma me deu uma leve pontada na cabeça, o pior de tudo é que ela não se daria por satisfeita sem ao menos metade da história.

- Você se lembra quando eu te mostrei aquelas mensagens de um cara daqui de Forks que não me deixava em paz? Me mandando mil mensagens? - Resolvi fechar meus olhos, na esperança de me sentir menos exposta enquanto eu contaria a Alice o pior momento da minha vida desde do ensino médio.

- Sim, eu disse que você deveria ter feito um boletim de ocorrência. O que ele fez? Não me diz que ele te atacou no meio do evento...

- Você é vidente? - O poder de dedução de Alice me assustava, não tinha nenhuma graça pedir para que ela adivinhasse algo, era como se ela tivesse algum super poder ou algo assim.

- Eu não acredito, Bella, como você está?

- Eu estou bem fisicamente, ele não tocou em mim, ele não é louco a esse ponto, meu pai continua sendo o xerife. Ele apenas fez uma cena na frente da cidade toda, fazendo todos pensarem que a obcecada da história era eu. Foi tão humilhante, só de lembrar a vergonha que eu fiz meu pai passar logo numa noite tão importante para ele... - Bati minha cabeça contra a cama, mas eu era fraca demais para que sequer produzisse algum barulho.

- Bella, você acabou de dizer que foi ele quem armou a cena, você não tem culpa nenhuma disso, você é a vítima da situação.

Eu queria tanto acreditar nas palavras dela, era fácil escolher um lado sem saber da história como um todo, mas eu não atreveria em confessar todos os meus pecados para ela. Eu não sou a maior vítima dessa situação, mas com toda certeza, nesse momento, eu não era o único vilão.

- Vitima? Alice ninguém nem ao menos se interessa pela minha versão da história, todo mundo acha que eu sou louca ou algo assim por causa de algo que aconteceu há dez anos. Ele vive aqui, as pessoas da cidade amam ele, por qual razão alguém se importaria com a verdade?

A fama de garoto perfeito não era algo recente, assim que o conheci e meu pai viu o quão próximos ficamos, eu era obrigada a escutar quão exemplar Jacob era. Toda a história de sua família, e como eles lutam para manter a reserva de pé, a falta de sua mãe e a luta do pai. Era a mesma história, eu estava cansada do "senhor perfeição".

- Seu pai não acreditou em você?

- Ainda não falei com ele, a mulher dele me tirou da festa antes mesmo que ele recebesse o prêmio, eu estava tão nervosa que voltei a pé para casa. - O silêncio de Alice me matava, sem poder vê-la eu não conseguia presumir seus pensamentos. - Ele deve estar me odiando agora, eu prometi me comportar, eu não deveria ter bebido tanto.

- Que diferença isso teria feito?

- Eu não sei, talvez eu tenha sido cruel demais com Jacob, mas agora é tarde demais. Vou ser o assunto de toda cidade nas festas de fim de ano, não tem como voltar atrás.

- Pelo menos uma vez na sua vida escute-me, não beba mais nada ai, fale com seu pai, eu tenho certeza que ele vai acreditar em você. E se tudo estiver muito constrangedor, volte para Los Angeles no próximo voo.

- Eu não posso, eu prometi ao meu pai que passaria o natal aqui. Se ele não me mandar embora de uma vez por todas pela humilhação de ontem, eu vou ficar para tentar me redimir. Mas chega de falar sobre as minhas férias frustradas, como vai com Jasper e a sua mãe?

- Bom, se ele estivesse aqui... Ele não veio, não sei como eu ainda fiquei surpresa, é claro que a prima dele iria inventar algo ridículo para prende-lo no Texas.

- Por que você está soando ciumenta?

- Eu não estou com ciúmes, eu estou chateada. Amo ficar com a minha mãe em New York, e o natal aqui é lindo, eu queria meu namorado comigo. Eu já abri mão do dia de ações de graça, ele não podia abrir mão do natal?

Alice leva as tradições familiares a sério, eu imagino o quão brava ela deve estar, já que ela e Jasper são amigos há anos. Ela tinha medo de que esse relacionamento mais profundo pudesse estragar tudo, mas eu conheço Jasper o suficiente para saber que ele não a deixaria sozinha no natal se não tivesse outra escolha.

- Alice, você sabe como os pais dele são, aproveite sua mãe e New York. Está nevando aí? - Eu esperava ouvir que sim, já que até meus ossos estão congelando em Forks.

- Não o suficiente para fazer anjos, mas o suficiente para patinar no central park.

- Aqui não para de chover e nevar, parece o inferno, como eu queria estar em Los Angeles agora.

- Ah nem fale, Jane sozinha cuidando da produção, já prevejo o desastre.

- Ela deve estar bem ocupada, não me ligou e nem me mandou nenhuma mensagem... Na verdade ela ainda não me respondeu sobre o dia do teste de elenco.

- Oh meu Deus, você não lê seus e-mails?

Eu estou de férias, porque eu faria isso?

- Alice eu só leio meus e-mails quando eu estou procrastinando meus roteiros, isso quando eu não apago todos eles sem querer.

- Jane perdeu o telefone, ou foi roubada, algo assim. Ela mandou um número novo no e-mail, eu falei com ela ontem, as datas estão certas e temos uma reunião com o estúdio logo na primeira semana do ano novo.

- Alice, eu ainda estou de férias, por favor não citar reuniões e e-mails, obrigada. Jane me disse que ia viajar com aquele cara misterioso, ele tem algum envolvimento com esse roubo?

Apenas uma boa fofoca seria capaz de me fazer sorrir, mesmo que por um minuto.

- Ela não foi, ela me disse que ele iria na frente e então assim que ele saiu, ela foi roubada. O cara deve achar que levou o maior bolo da história, ela não conseguiu falar com ele ainda.

Me senti triste por Jane, o cara com certeza não quer ver ela nem pintada de ouro uma hora dessas. Ele iria apresentá-la para a família e então, ela some.

- Bom saber que eu não sou a única fodida durante as férias, agora eu vou tentar resgatar a pouca dignidade que ainda tenho e ir falar com meu pai. Feliz natal Alice.

- Feliz natal Bella.

[...]

Quando sai do meu quarto, fiquei parada encarando a escada por alguns minutos, a casa estava silenciosa e fria, assim como esteve no tempo que morei aqui. Meus passos foram silenciosos até a cozinha, e meu pai estava lá, sentado com o jornal na mão e uma caneca de café. Ele não vestia uniforme, parecia mais um pijama, ou seja, ele não trabalharia hoje. Isso me trouxe um certo alívio, mas podia visualizar todos falando sobre mim na delegacia enquanto ele não estava lá, minha orelha ardia.

- Pegue algo para comer. - Foi tudo o que ele me disse, ainda sem tirar os olhos do jornal.

- Onde a Sue está? - Perguntei enquanto encarava o armário cheio de coisas que ela deveria ter comprado, eu simplesmente não gosto de nenhuma delas. Apenas peguei a caixa de cereal e o leite da geladeira, não é como se eu estivesse com muita fome.

- Na reserva. - Apenas de ouvir, meu estômago embrulhou. Eu a imaginei consolando Jacob, e ele dizendo suas meias verdades sobre mim, me contando como a vilã dessa história adolescente que aparentemente era interminável.

- Ótimo. - Eu não sei porque eu deixei que esse pensamento escapasse pela minha boca, estúpida até quando vai se desculpar.

- Não faça isso. - Sua voz soou como um trovão, ele estava irritado.

- O que? - Me sentei com uma tigela de cereal na minha frente, me esforçando para ter uma conversa no mínimo produtiva. O grande problema é que meu pai e eu somos monossilábicos quando estamos em situações desconfortáveis.

- Você sabe o que. - Agora ele dobrava o jornal, eu pude ver uma foto dele com o prêmio na mão, o prefeito ao seu lado, um momento que não presenciei por ser uma grande fodida.

- Desculpe. - Minhas desculpas saiam meio engasgadas, era difícil admitir um erro, mas era ainda mais se desculpar por ele. Eu sentia muita vergonha, isso era claro, porém a minha tristeza por ter feito ele passar por isso era um sentimento ainda maior, o gosto amargo da culpa.

- Sobre o que? - Ok, Charlie tinha essa licença poética de pegar pesado comigo hoje, eu não poderia me dar o luxo de ficar irritada em ter que listar meus erros desta vez. - Eu quero que você diga, você não é mais uma criança.

Não existe nada mais difícil de engolir que o orgulho, como se ainda houvesse algum restante em mim. A culpa e a vergonha não foram o suficiente para eliminá-lo do meu sistema. Eu respirei fundo e tentei não chorar, eu me sentia uma adolescente nessa posição, tudo à minha volta só parecia contribuir a isso.

- Eu não queria que nada daquilo tivesse acontecido ontem pai, eu sinto muito, eu estou me sentindo horrível em pensar na vergonha que você teve que passar. - Ele me olhava diretamente em meus olhos, e por mais sufocante que seu olhar fosse eu lutei para poder olhá-lo de volta, meu pai aprecia esse tipo de honestidade. - Eu prometo que isso nunca mais vai se repetir.

- É tudo o que você tem a dizer? - Minha garganta já estava seca, eu senti minha pressão cair por um segundo, o que mais eu poderia dizer além de desculpas?

- O que você quer que eu diga? - Foi um movimento desesperado, realmente não havia mais o que dizer sobre nossa tragédia.

- Quero que se desculpe com Sue.

Sua sentença pairou sobre o ar, mudando totalmente o ambiente e o deixando mais hostil.

- Por que eu faria isso? - Minha expressão denunciaria toda minha indignação com as suas palavras, elas não faziam sentido algum. Não via nenhum argumento real que a sustentasse, por isso tive que exigir um.

- Ela estava tentando te ajudar e você gritou com ela. - Eu queria gritar com ele agora também, mas isso não nos levaria a lugar nenhum, muito menos ao meu perdão.

- Ela não queria me escutar, eu deveria ter deixado ela me tratar daquele jeito? - Charlie respirou fundo nesse momento, ele não aumentaria a sua voz comigo, mas ainda acreditava no seu ponto de vista.

- Eu não queria dizer isso, mas ela não tinha motivo algum para tratar você bem, você estava bêbada e não falava nada com nada.

A verdade me acertou como uma flechada, e eu estava me sentindo ferida, não fazia sentido lutar quando a batalha era perdida.

- Você não acredita em mim. - Eu sussurrei, derrotada e com os olhos cheios de lágrimas. Não sei como eu pude acreditar que ele acreditaria em mim, afinal quais motivos ele teria para isso?

- Não foi o que eu disse. - Ele parecia sincero, mas suas palavras não eram reconfortantes o suficiente para me fazer pensar o contrário.

- Não fui eu quem começou pai, ele veio falar comigo primeiro. - Eu queria que ele soubesse, não para fazê-lo mudar de ideia, me dar razão, ou me fazer de vítima. Apenas para que alguém saiba que Jacob não é o tipo de santo que se deva rezar.

- Eu sei, eu vi tudo, você sozinha do lado de fora do salão, ele chegando até você e todos os gestos que faziam enquanto discutiam. - Eu senti minha pele gelada enquanto ele falava, ele sabia e não fez nada. - Você poderia ter evitado isso tudo, eu sei que não foi você, eu acredito em você. Acredito em você sobrea, entende?

"Sobriedade"

Isso explica tudo.

- Eu não sou mais assim pai, e já tem um longo tempo. - Eu disse sem muita firmeza na voz, aquela conversa me deixava triste. Se todo o drama de Forks me deixa enjoada, todos os momentos após ele me deixavam envergonhada.

- Não foi o que eu vi ontem. Escute Bells, eu não gosto dessa situação tanto quanto você, apenas se desculpe com Sue e esqueça isso, tudo bem? Estou feliz que vai passar o natal comigo e realmente quero esquecer o resto, vamos fingir que você chegou hoje. O que você acha?

Eu engoli meu choro, concordei com um sorriso tão tímido que apenas ele poderia perceber. Ele se levantou e então eu me vi levantando também, caindo nos braços, não foi preciso dizer mais nada, estava tudo bem por enquanto.

Tudo aconteceu exatamente como meu pai me prometeu, depois que me desculpei com Sue, foi como se nada daquele pesadelo tivesse acontecido. Nós assistimos aos jogos, e dessa vez eu simplesmente troquei a cerveja por refrigerante. Fiz um assado que Charlie gostava de comer quando morávamos juntos, ajudei ele com a neve do quintal e mostrei para eles as poucas coisas que estavam prontas sobre meu filme. E quando eu menos esperava, já era noite de natal.

- O que sua mãe te deu de natal? - Sue me perguntou enquanto eu estava sentada ao lado da árvore, bem próxima da lareira já que fazia muito frio hoje.

- Velas, um vinil e um livro que eu queria muito. - Respondi sem pensar muito, os presentes de minha mãe eram sempre exagerados e caros, ou então algo excêntrico e incomum, enquanto os de Charlie eram simples e úteis.

- Por que uma vela? - Charlie parecia intrigado, não era algo tão incomum assim, apesar de não ser meu presente favorito.

- Ah, ela faz aroma terapia agora, então, você conhece ela... - Ele enrugou a testa e prensou os lábios, como se não se surpreendesse nada com a resposta, mas ainda assim parecia satisfeito com ela. E então eu consegui visualizar ele ligando para minha mãe, extremamente constrangido, apenas para perguntar o que eu gostaria de ganhar de natal. Isso me fez sorrir.

- Espero que goste, eu não sei dar presentes. - Charlie confessou, como se eu não soubesse.

- Não finja que você não ligou para ela e pediu sugestões. - Eu disse sorrindo, ele apenas ignorou e me deu a caixa com papel presente roxo. A caixa era pesada, mas não era muito grande, enquanto eu estava rasgando o papel, senti Charlie mais ansioso do que eu, apenas esperando para ver minha reação.

- Ok, eu não sei o que são AirPods, então resolvi comprar uma Polaroid. - Assim que eu vi o que era ele começou a falar, eu nem ao menos tive acesso ao elemento surpresa.

- Você salvou minha vida, a minha antiga câmera está arruinada, obrigada. - Minha expressão dizia perfeitamente o quanto eu estava feliz, o quanto eu havia adorado o presente, e mais do que isso, aquele momento.

Me levantei e o abracei, foi bem rápido, já que a Sue propôs um brinde.

- Charlie acertou um presente, isso merece uma celebração.

- Traga aquele champagne... - Ele disse, falando em códigos, como se eu não tivesse visto o que estava na geladeira mais cedo.

- Você não gosta de champagne. - Eu disse ainda com um sorriso no rosto, sem querer disfarçar.

- Mas você gosta. - Eu revirei os olhos, e comecei a desembalar meu presente, minha primeira foto seria nossa, ou dele.

A câmera era perfeita, ainda melhor que a minha antiga, que Deus a tenha. Jane derrubou ela da minha mão quando estávamos numa viagem de barco, espero que os peixes tenham como repor o filme.

Sue trouxe o champagne, que era meu favorito, e três taças. Meu pai pegou a garrafa e começou a mexê-la ali mesmo de frente para mim.

- Você vai abrir aqui? Cuidado. - Eu parei de fazer o que eu estava fazendo apenas para observar aquela cena, ele não parecia muito familiarizado com a garrafa.

- Está tudo bem, o xerife está na cidade. - Ele disse rindo, e então houve um barulho, e algo veio na minha direção, mas eu não consegui desviar a tempo, e o pior de tudo, ao tentar desviar eu me desequilibrei e comecei a cair de costas.

Uma dor insuportável na cabeça me fez fechar os olhos, eu não queria ver. Minha cabeça havia batido na quina da lareira, eu senti algumas decorações caídas sobre meu corpo, mas ainda podia ficar pior, senti um cheiro de sangue. Era meu sangue, e logo eu fiquei enjoada, então eu ouvi Charlie e Sue gritando meu nome, até que eu não escutei mais nada.

Eu não sei quanto tempo se passou até que eu acordasse, mas assim que eu abri meus olhos eu já sabia onde eu estava: na sala de emergência do Hospital de Forks. Todas as camas ao redor estavam vazias, com exceção de uma senhora que estava dormindo, porém estava ligada ao soro. Meu pai estava sentado numa poltrona ao meu lado, parecia muito preocupado e cansado, até que percebeu que estava com os olhos abertos. Sua feição mudou imediatamente, totalmente aliviado, ele se levantou e pegou na minha mão, foi assim que notei que eu também estava ligada a um soro.

- Bells, como se sente? Quer que eu chame o médico? Está sentindo dor? - Ele parecia uma máquina de perguntas, eu me arrependi de ter acordado.

- Calma, eu ainda estou confusa, mas não estou com dor. - Ele não parecia satisfeito com a resposta, mas também não sabia o que dizer.

- Sue foi buscar algo para comer, está com fome? - Ele estava atento, e então uma enfermeira apareceu. - Ela acabou de acordar. - Charlie disse a ela.

- Ótimo, eu vou chamar o Doutor Cullen, ele disse que queria vê-la assim que acordasse. Não dê nada para ela comer, ok? - Meu pai concordou então a enfermeira saiu.

Ninguém disse mais nada, meu pai estava claramente se sentindo culpado e eu estava irritada, porque eu já havia sentindo os pontos na minha cabeça. Acontece que meu cabelo estava tão bonito, espero que eles não tenham tirado muito para poder dar esse ponto. Alice vai surtar quando ficar sabendo disso.

- Isabella Swan, quanto tempo, sim? - A voz inconfundível do Dr. Cullen quebrava a atmosfera daquela ala gelada do hospital. Eu senti um arrepio na espinha, da última vez que eu fui sua paciente as coisas não terminaram nada bem. - Como se sente?

- Bem, apenas irritada e com fome. - Era uma madrugada de natal, ele provavelmente estava sem seu grande jantar também, provavelmente por minha causa. Não, eu não provoquei isso dessa vez, meu pai é o responsável.

- Salve seu apetite para mais tarde, preciso realizar alguns exames antes. Prometo não demorar muito. - Com seu sorriso incrivelmente impecável, totalmente educado e paciente, Dr. Cullen me convenceu a engolir meu mau humor e apenas fazer o que era preciso.

Foram duas longas horas de diversos exames, ele não deixava com que os enfermeiros fizessem nada de errado comigo, afinal eu era a filha do xerife. Depois de ser virada do avesso, colocada em todas as posições possíveis para o raio-x, eu fui liberada para comer. Era uma versão bem triste da ceia que eu havia ajudado Sue a preparar naquele dia, o purê estava frio, a carne seca e a salada parecia do dia anterior.

Minha cabeça começou a doer eventualmente, aparentemente era algo sério o suficiente para que eu passasse a noite em observação. A parte boa é que as enfermeiras me deram um remédio para a insônia e eu poderia dormir com a TV ligada assim como eu faço em LA. A parte ruim era o colchão duro e um travesseiro nada confortável, nada que me fosse de fato me perturbar depois de ter tomado um calmante.

No dia seguinte eu havia acordado cedo, tomado um café da manhã "especial" de natal, oferecido pelo hospital e não aguentei passar mais nenhum segundo ali. Meu pai nem ao menos tinha voltado para a casa ainda, aquela espera toda era cruel para todos nós. Mas como um raio de sol, a presença do doutor mais apreciado de Forks me fez sorrir, ele vinha com suas fichas na mão e eu rezei para que uma delas fosse destinada a minha alta.

- Como passou a noite Swan? - Ele estava impecável, como se tivesse tido uma noite de sono tão tranquila quanto a minha.

- Bem, até me esqueci de que estava num hospital. - Mentira, porém ele não tem relação nenhuma com meu ódio por hospitais.

- A enfermeira anotou uma queixa de dor de cabeça, como se sente agora? - Eu me arrependi no mesmo momento de ter feito a reclamação, se eu não tivesse a feito estaria em casa arrumando as minhas malas.

- É um pequeno incômodo, vai aumentando progressivamente. Mas não voltou totalmente ainda. - Meia verdade, a dor vinha do nada e era insuportável, uma enxaqueca de respeito.

Meu pai estava em pé e atento a cada respiração do Dr. Cullen, como se fosse seu superior.

- Nos próximos dias, se voltar a doer muito ou começar a sangrar eu peço que volte imediatamente. - Eu não consegui conter minha expressão irônica, eu pretendo estar bem longe daqui nos próximos dias.

- Um pouco inviável, tenho um voo para Los Angeles amanhã. - A verdade pulou da minha boca, eu nem ao menos pensei nas consequências em dizê-la. Era tarde demais para pensar nisso agora.

- Desculpe Isabella, mas receio que não possa viajar de avião pelo menos pelos próximos 15 dias. A pressão do avião pode fazer você tenha uma hemorragia interna, lamento, mas suas férias terão de ser adiadas. - Naquele ponto eu me perguntei: o que mais poderia dar errado nessa grande viagem ao inferno?

Claramente, o Dr. Carlisle Cullen acreditava que eu estava apenas de férias e iria apenas curtir o ano novo em Los Angeles, ninguém realmente levava meu trabalho a sério.

- Eu vivo em Los Angeles, eu tenho trabalho lá antes do fim do ano. Não posso ficar em Forks. - Eu espero que eles tenham notado o quão irritada eu estava de ter que deixar isso claro. E talvez realmente tenha funcionado, já que ambos pareciam desconfortáveis com as minhas afirmações.

- Bells, você pode ficar os próximos 15 dias, não vejo problemas com isso. - Claro que meu pai se ofereceria, cheio de culpa por ter causado essa situação. A minha cabeça começou a doer de novo, e eu preferia ficar sem dizer nada do que passar mais 24 horas aqui.

- Pai, eu tenho que voltar a trabalhar, eu não posso simplesmente ficar aqui.

Ele sabia que eu iria dizer isso, e nem ao menos se abalou. Por outro lado, Carlisle parecia conflituoso, como se quisesse sugerir algo, mas não tivesse certeza em como eu reagiria.

- Qual a possibilidade de você conseguir uma companhia para viajar de carro?

Não era uma ideia tão ruim, passar quase dois dias dirigindo até Los Angeles, apesar de cansativo seria terapêutico. Ficar longe dessa cidade aos poucos e ainda aproveitar a vista seria exatamente o que eu preciso para esquecer esses eventos traumáticos. Mas não havia ninguém disponível para "cuidar" de mim durante a viagem, e isso seria um problema na visão dele. Eu preciso estar longe daqui e o meio mais rápido ainda é o avião.

- Zero, vim sozinha e meu carro está em Los Angeles. - Mentira, eu não tenho carro - Dr. Cullen, eu não posso ficar aqui, preciso pegar o avião.

Eu estava prestes a pedir para assinar um papel de autonomia de responsabilidade em caso de complicações, quando ele matou todas minhas esperanças de voltar para casa em menos de 24 horas.

- Não posso te dar alta sabendo do risco de você entrar em um avião. - Queria bufar e espernear como uma criança mimada que acabou de ouvir "não" dos pais pela primeira vez na vida. Mas eu era adulta agora, não podia reagir a isso como se eu ainda tivesse três anos. - Eu preciso fazer uma ligação, volto em instante.

- São só quinze dias Bells.- É claro que meu pai insistiu nessa ideia, eram mais quinze dias para ele, mas para mim seria o inferno. Eu já estava internada depois dos sete primeiros, teria sorte se no fim eu ganhasse um funeral. Nada de bom acontece comigo aqui, assim que eu piso nesse lugar meu karma resolve cobrar tudo aquilo de errado que fiz na vida.

- Pai, eu tenho medo de não conseguir sair viva de Forks em quinze dias. Estou aqui há uma semana e olha todo problema que eu já causei, parece uma grande bola de neve, e eu preciso fugir dela.

- Não foi culpa sua. - Minha cabeça pareceu doer mais, como se isso fosse possível.

- Eu sei, foi um acidente. Porém eu acho melhor que você vá até Los Angeles me visitar da próxima vez.

Nada me convenceria que não é essa cidade que é amaldiçoada, Forks sempre foi a fonte dos meus problemas.

- Certo, eu posso fazer isso. - Ele estava tão irritado quanto eu agora, o que nos levou a um silêncio até que o Dr. Cullen voltar com um sorriso disfarçado no rosto.

- Boas notícias, Xerife Swan, eu consegui uma carona para Isabella até Los Angeles.

- Uma carona? - Eu estava confusa, ele me pagaria um Uber até LA?

- Meu filho está se mudando para lá, ele concordou em levar Isabella com ele devido a sua condição. Não se preocupe, ele é um médico formado e vai saber o que fazer caso algo aconteça.

"devido a sua condição", mas que porra é essa?

Edward Cullen, que agora era um médico, passaria quase dois dias em um carro sozinho comigo devido a MINHA CONDIÇÃO?

Era o ato final desse filme de horror que eu estava vivenciado em Forks. Primeiro Jacob, e então esse hospital horrendo, agora Edward.

- Eu não quero ser um incômodo, definitivamente não, eu posso alugar um carro em Port Angeles. Não é necessário. - Minha dor de cabeça parecia o menor dos meus problemas agora. De todas as pessoas em Forks, a que mais me odiava (e com razão), passaria quase dois dias no mesmo carro que eu.

- E quem iria com você? É uma viagem grande, não pode fazer sozinha, não é nenhum incômodo. E já está combinado, às 8 da manhã, certo?

Edward concordou com isso, ele marcou até um horário. Estaria ele planejando me matar e jogar meu corpo no mar no meio da viagem?

Não havia outra saída, se eu quisesse me ver longe desse pesadelo interminável, eu teria que dizer sim. Eu nem ao menos conseguia me imaginar no mesmo ambiente que Edward, não vejo ele faz 10 anos. Talvez ele tivesse esquecido todo seu ódio por mim, não podia ser tão pior quanto passar mais quinze dias em Forks.

- Não tem como eu recusar, certo?

- Receio que não. Vou preparar sua alta.

Uma vertigem me acertou assim que Dr. Cullen me deu as costas. Em menos de 24 horas eu veria Edward de novo.




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Finalizado em: 01/10/2021
Publicado em: 02/10/2021

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