capítulo dezessete: eu nunca recuso comida de graça
Definitivamente, uma péssima ideia.
Peter já se arrependia, mas não estava tão arrependido quanto Oliver. Era um tanto cômico observar o garoto subindo e descendo nos calcanhares enquanto esperavam para ser atendidos, ambos em roupas sociais demais na escadaria da mansão Moore.
Peter feriu o próprio orgulho quando colocou a camisa social branca e os sapatos bem polidos, mas não conseguiu aparecer de jaqueta de couro, como havia ameaçado fazer. Quando recebeu o convite, sentiu algo beirando o desespero nas intenções de Madison. Era provável que sua presença ali não passasse de mais um joguinho, mas ele tinha esperanças de que ela não seria tão cruel. E, se fosse, ele também estaria preparado.
Não distante de suas intenções altruístas, havia a curiosidade. No meio de tudo o que haviam passado, depois da morte de Cash, principalmente, havia cogitado a hipótese daquela bagunça estar relacionada a algo maior. Em específico, ao dinheiro. Bane não era rico, mas Cash sim e, claro, Madison. Não podia ser coincidência que as ameaças aparecessem para ela depois de seu melhor amigo milionário falecer, nem que Peter, o equivalente a Bane naquela equação, as recebesse também.
— Acho que não vão atender a gente — Oliver sussurrou. — Vamos embora antes que chamem a polícia.
Com um revirar de olhos, Peter pediu para ele ter paciência.
— Faz só uns dez segundos. Relaxa.
— Como eu 'tô? — Oliver mudou de tópico tão rápido que Peter ficou momentaneamente confuso. — Eu 'tô de boa?
Oliver deu um passo para trás, iniciando uma volta de 360 para que Peter o avaliasse. No mesmo instante, a grande porta da mansão se abriu, revelando uma mulher vestida de preto. Ela deixou os olhos caírem em Oliver enquanto ele se atrapalhava no meio do giro, tentando agir casual e falhando miseravelmente. Então, com um sorriso forçado, ela se dirigiu a Peter:
— Por favor, entrem.
Em silêncio, os garotos seguiram sua instrução. Peter sentiu o olhar da mulher sobre si o tempo todo, e quase revidou. Teria sustentado o julgamento e a curiosidade se não tivesse a atenção sugada pelo hall de entrada, que parecia incrivelmente maior e mais luxuoso naquela noite. Ao contrário da última vez, luzes que antes estavam apagadas foram acesas, vasos adicionados.
— Por favor, me sigam.
A mulher passou à frente deles, andando em saltos altos demais. Estava vestida tão elegantemente que Peter cogitaria a hipótese de ela ser uma Moore, mas feliz ou infelizmente conhecia os rostos de todos daquela família. Era só uma funcionária muito bem arrumada, o que deixava ainda mais evidente o quanto aquele jantar deveria ser importante. Oliver, também parecendo notar, limpou a garganta enquanto andava, e ambos se perguntavam pela milésima vez o que realmente estavam fazendo ali.
Assim que saíram do hall de entrada, a decoração e iluminação mudou drasticamente. A mulher os levou para uma sala com paredes repletas de quadros, dois sofás e um tapete tão longo que deixou Peter incomodado. Novamente, parecia diferente em relação à sua última visita, mas provavelmente a casa havia sido adaptada para a ocasião.
Algumas pessoas estavam na sala, parte em pé e parte sentadas nos sofás. Entre elas, Peter reconheceu Madison ao lado de uma mulher ruiva que provavelmente era sua mãe. Os pais de Madison também estavam ali, conversando com um homem muito alto perto de uma mesa de bebidas cheia de coisas caras. A funcionária os levou até a metade do cômodo, então se retirou, o que fez Oliver despertar do transe que o fascínio pela mansão havia causado.
— Cara, isso é tão legal — ele comentou, puxando uma taça de Champagne de um garçom que passava.
— Cadê a madison? — Peter murmurou, incomodado.
Oliver deu de ombros, levando a taça até a boca. Antes de conseguir tomar, porém, uma mão feminina segurou seus dedos. Havia um anel realmente brilhante no dedo indicador, parecendo mais caro que a moto de Peter.
— Você é menor de idade, garoto — a mãe de Madison sorria, mas era o mesmo sorriso da filha: meio ameaçador, falsamente simpático. — Traga uma saca de sidra — direcionou o pedido a um garçom antes de voltar a olhar para Oliver. — Deve ser o Peter.
Meio assustado, Oliver fez que não com a cabeça. No mesmo instante, o olhar da mulher correu até Peter. Ele achou estar ficando louco, mas ela pareceu satisfeita.
— Claro — riu brevemente, dando um passo na direção dele e deixando Oliver de lado. — O filho do xerife, eu devia ter reconhecido.
— Peter O'Connell — com educação exagerada, ele se inclinou para beijar a mão dela. — É um prazer.
Algo perto de diversão passou pelas expressões da mulher, mas foi tão rápido que apenas Oliver viu.
— Edith Moore, mas você já sabia. Afinal, é meu jantar — ela brincou. Ou tentou, porque o tom de Madison sempre familiar na voz dela ainda deixava Peter suspeito. — Fiquem à vontade, garotos. Madison logo se juntará a nós.
Ela se retirou com calma, voltando para a conversa de seu marido com o homem alto. Alguns dos convidados espiaram Peter e Oliver durante os próximos segundos, mas nenhum fez menção de se aproximar. Ambos ficaram aliviados com isso, já que o único contato da noite já havia sido tenso o suficiente.
Procurando se manter invisíveis, eles foram para o canto mais distante da sala, perto da saída, e ficarem juntos. O olhar de Edith caía sobre os dois de vez em quando, muito mais curioso do que desconfiado de que pudessem roubar ou quebrar algo, como Peter achou que seria.
— Vocês tiveram coragem de aparecer — a voz de Holly os alcançou em algum momento. — Subestimei a falta de senso da dupla de perdedores.
Graciosa em um vestido de noite, ela passaria por uma garota meiga a quem não a conhecesse.
— Fomos convidados — Peter deu de ombros. — Nunca recuso comida de graça.
— Imaginei que seria esse o motivo. O emprego de xerife não deve pagar muito bem, suponho. Fiquei sabendo que minhas empregadas ganham mais que ele.
Peter se permitiu rir.
— Lidar com gente de má índole não é muito diferente do que os seus empregados fazem, ao menos meu pai conservou a alma dele escolhendo a polícia.
Os olhos de Holly escureceram, e Oliver engoliu um gole da sidra com muita dificuldade. Não foi muito inteligente da parte de Peter comparar a família dela com assassinos e ladrões estando ali, no meio do covil das cobras, mas ele nunca foi bem em segurar a própria língua. Ao menos isso ambos tinham em comum.
— Sinceramente — Holly praticamente rosnava, os lábios quase não se movendo enquanto seus olhos o fuzilavam. — Não sei o que a Madison viu em você, mas espero que ela te coma vivo.
A ameaça pareceu tão sincera que Peter cogitou estar certo sobre a sua última suposição, de repente imaginando que Holly seria capaz de assassiná-lo. Ainda assim, não se moveu, pois não houve tempo para uma resposta. Passos foram ouvidos um pouco antes de madison aparecer, cruzando a porta de entrada e os encontrando ali, no esconderijo que os convidados indesejados haviam encontrado.
Peter sempre achou que Madison fosse bonita, não era algo que ele deixava de admitir. Ela tinha muitos defeitos, sim, mas nenhum deles parecia ter espaço em sua aparência. Naquela noite, porém, ao olhá-la, ele pensou que só podia ser algum tipo de truque.
Era impossível que alguém pudesse se parecer com o que Madison parecia. Fosse o vestido escuro, os altos, os cabelos bem arrumados, ele não sabia. Mas a garota estava deslumbrante, mais do que o normal, o que irritantemente roubou a atenção de Peter por mais tempo que o desejado.
Até mesmo Holly percebeu, já que Peter deixou de respondê-la apenas para observar Madison melhor. Os olhos verdes, sempre tão indiferentes e quietos, se moveram com avidez, como se quisesse captar cada detalhe.
— Você realmente não sabe o que vi nele? — Madison provocou, andando até onde Peter estava e apoiando o braço em seu ombro. Ele se sentiu uma estátua em exposição, mas ainda se recuperava do choque inicial e não pôde se desvencilhar. — É exatamente pelo que vi que vou comê-lo vivo — sorriu, olhando para Holly com uma mistura de desafio e diversão.
Peter tentou não pensar muito sobre o que ela disse. Não enquanto ela estava naquele vestido e definitivamente não enquanto Madison o tocava.
— Ele falou mal da minha família — Holly resmungou.
— Até você fala mal da sua família, Holly. Não é grande coisa.
Finalmente se afastando de Peter, Madison esticou o braço para pegar uma taça de champanhe de um dos garçons. Oliver pareceu alarmado, olhando de Edith para a garota como se estivesse esperando que ela fosse censurada também.
— Ah, você veio — Madison comentou com certo desprezo, finalmente notando o garoto. — Pelo menos se vestiu adequadamente.
— O Peter me emprestou o terno.
Ela analisou.
— Parece do seu tamanho, ele é maior que você.
— Alguém me emprestou — Peter deu de ombros.
Holly apresentou uma expressão de nojo, enquanto Madison, para a surpresa de todos, riu.
— Cadê seu namorado, Holly? Ele não veio encher a nossa paciência hoje?
A garota pareceu confusa com a conversa de repente ganhando aquele rumo. A expressão antes tão carregada de aversão se transformou em algo quase magoado, fazendo com que Peter chegasse bem perto de sentir empatia por ela ter um namorado tão ruim.
— Ele tinha um compromisso.
— Que compromisso?
Madison sabia. Era claro que ela sabia. Peter a olhou enquanto esperava que a crueldade fosse abandonada, que ela mudasse de assunto para não fazer Holly perceber que havia sido enganada. Era meio da semana, não havia treinos ou festas.
— Eu não sei, algo pessoal.
Madison sorriu. Ela sorriu quando Holly olhou para o chão e deu de ombros, depois bebeu um gole do seu champanhe.
— Sorte sua que temos dois garotos disponíveis hoje — sussurrou, virando a taça logo em seguida. — Deixo você ficar com o baixinho.
Ela se virou para Peter, puxando-o para entrelaçarem os braços. Sem reação, o garoto a acompanhou enquanto Madison atravessava o cômodo, distanciando-se rápido demais de Holly e Oliver.
Agora sozinhos, caminhando entre os poucos convidados, ela analisava a decoração como se não fosse a dona da casa. A mão delicada envolvida o braço direito de Peter, depositando uma pressão que dizia que ele não poderia fugir, mas ele não fugiria mesmo se tivesse a oportunidade.
— Está gostando da festa? — ela perguntou.
— Na verdade, não.
— Rude, como sempre — suspirou dramaticamente. — Mas tenho algo para te deixar mais interessado.
Eles pararam de andar, e Madison se colocou na frente dele. Com uma sobrancelha levantada, ele observou enquanto ela retirava o celular de dentro do decote do vestido, não se importando em ser discreto, já que ela também não estava sendo.
Madison desbloqueou o telefone antes de entregar a ele. Havia uma mensagem, de um número anônimo, obviamente.
— Eu não contei pra ninguém que viria — ressaltou.
— Eu sei. A mensagem foi enviada exatamente depois que te convidei, não daria tempo.
Peter levantou os olhos para ela.
— Isso não é possível.
— Na verdade, é — Madison encarou algo atrás de Peter, fazendo com que ele espiasse por cima do ombro. Oliver e Holly conversavam alguns metros adiante. — Ele estava junto quando tivemos essa conversa.
Uma risada foi a única reação que Peter pôde oferecer diante daquela acusação ridícula.
— Você tá dizendo que nosso assassino cruel e inteligente é aquele cara? — apontou. Oliver tentava entender a dinâmica de um dos vasos da sala, quase derrubando-o e arrancando um olhar irritado de Holly.
— Você nunca assistiu filmes de terror? Pode ser uma encenação.
— Você não está em um filme, Madison.
Irritada, ela arrancou o celular da mão de Peter e o guardou de volta no vestido.
— Espero que ele te mate enquanto você dorme, e aí vai ter desejado me levar a sério.
Ele percebeu que ela parecia realmente incomodada. Era pior do que Peter imaginava, então. Madison estava realmente com medo, desesperada para achar a pessoa que a estava ameaçando. Ele entendia, mas não podia simplesmente jogar a culpa no primeiro pobre coitado que aparecesse.
— Vamos ficar de olho nele — Peter garantiu, conseguindo o olhar quase agradecido de Madison. Mas poderia ser coisa de sua cabeça. — Se ele for o assassino, Holly vai fazer o trabalho de se livrar dele por nós. Duvido que ele aguente a noite inteira ao lado dela sem enlouquecer.
A última espiada que ele deu em Oliver foi para flagrar o garoto tentando roubar uma taça de champanhe sem que a mãe de Madison visse. Não se parecia com um assassino, muito pelo contrário.
Mas Peter, principalmente nos últimos dias, havia aprendido que muitas coisas não apreciam ser o que realmente eram.
N/A: Esse jantar promete! O que vocês acham que pode acontecer agora que o Peter está entre inimigos? haha façam as apostas
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