capítulo catorze: me tira desse inferno
Do lado de fora do carro, as lojinhas do centro deram lugar a casas de subúrbio apertadas umas contra as outras. Madison olhou para as calçadas de concreto rachadas, de onde chumaços de grama seca e ervas daninhas escapavam, e pensou que o bairro indicado pelo pai de Peter não poderia ficar longe. Parecia um final de tarde normal naquela vizinhança, monótono e pouco movimentado. Bem sem graça, para combinar com a vida que Bane deveria ter vivido. Ele morara ali, andara por aquelas ruas e respirara aquele mesmo ar que entrava pela janela e agitava os cabelos dourados de Madison.
Isso, claro, antes de mudar seu endereço permanentemente para seis metros abaixo do chão.
— Você até que é bom nisso, Peter — quebrou o silêncio.
Se o comentário era para se passar por um elogio, Madison não deixou transparecer. Por trás das lentes enormes de seus óculos escuros, um sorriso começava a lhe curvar os lábios. Não chegava a ser maldoso, mas a julgar pelo brilho mal escondido em seus olhos, nada de bom poderia sair de sua boca a seguir.
— Como é? — Peter piscou, desviando a atenção do tráfego para espiar Madison por uns segundos. Uma de suas mãos guiava o volante enquanto seu cotovelo livre repousava sobre a janela aberta. Seus braços delineados por músculos estavam tensionados, acompanhando o menear suave da direção.
Pegável, Madison observou.
— Enrolar o seu pai. — Quando Peter não entendeu, ela arregalou os olhos em zombaria: — O xerife.
Uma ruga cresceu entre suas sobrancelhas grossas
— Eu não "enrolo" meu pai — ele protestou. Seu olhar se perdeu no parabrisas e suas mãos se agarraram ao volante — Nós precisávamos desse endereço para investigar, eu fiz o que tinha que ser feito. Nós podemos estar salvando a sua vida e a de seus amigos agora com essa investigação — suas íris claras voaram para Madison — Nós estamos seguindo o rastro do assassino. Meu pai entenderia... — por um momento atrapalhou-se com as palavras e com menos convicção ainda completou: — Foi por uma boa causa.
Madison riu curto.
Então, o filho do xerife sabia mentir.
Cash havia mencionado dias antes de morrer que a ajuda de Peter poderia ser útil. Não precisava ser um gênio para concordar com ele. O filho do xerife tinha os meios e, agora que Madison estava ao seu lado, ela tinha também.
— Melhor tomar cuidado, Peter — a loira continuou a destilar seu veneno — Se continuar nesse caminho, você vai se tornar um membro honorário do clube dos cinco.
A provocação viera com um fundo de verdade. Se eles continuassem a serem vistos juntos, isso aconteceria. Madison observou Peter e se perguntou se o filho do xerife poderia se passar por uma companhia a seu nível.
Provavelmente, não.
— E acabar morto como um de vocês? — ele riu seco — Não, obrigado.
Madison piscou. Foi apenas um comentário, mas pareceu um tapa na cara.
Mortos. Eles estavam sendo mortos. Caçados um por um por um assassino com um senso de humor deturpado. Ficava difícil de esquecer com alguém a lembrando disso toda hora.
— Quer dizer... — Peter limpou a garganta, percebendo que a incomodava — Isso não funcionou muito bem para o Bane, não é?
— Só cala a boca — ela grunhiu — O número do Bane fica bem ali. Já chegamos.
Perto da mansão dos Moore, a residência dos Decker tinha as dimensões de uma casa de boneca. As paredes estavam cobertas por uma tinta gasta que algum dia fora branca e as janelas embaçadas por camadas de sujeira exibiam cortinas cerradas. Era horripilante, pelo menos aos olhos de Madison.
Peter manobrou o carro sobre o meio fio e estacionou em frente a garagem. Madison não hesitou antes de abrir a maçaneta e deixar a porta bater atrás de si em um baque. O filho do xerife a seguiu até a varanda da frente, admirando a fachada casa.
— Parece aconchegante — ele sorriu de canto, expelindo sua respiração condensada em uma nuvem branca. Estava frio e o horizonte começava a escurecer. Logo seria noite.
Madison lhe lançou um olhar.
— Tem certeza que seu pai deu o endereço certo? Parece que ninguém mora aqui faz anos.
Peter não deu sinais de se ofender com a desconfiança. Deu de ombros casualmente, como se já estivesse acostumado com a acidez da loira. Moore o mediu com canto do olho, impaciente. Ele tinha total atenção na casa de madeira entregue aos cupins, como se algo o convidasse a se aproximar da atmosfera sombria que espreitava a propriedade dos Decker.
— Vamos descobrir — ele caminhou até a entrada, uma pequena varanda desmanchada e maltratada pelo tempo.
Madison ficou para trás sem perceber. Ela franzia o nariz para o jardim, juntando coragem para atravessar a cerca de arame que rodeava o perímetro. Aproximou-se da portinhola enferrujada com muito receio e seus saltos afundaram no chão lamacento. Sem dúvidas, para os Decker, a grama do vizinho seria sempre mais verde. Havia punhados de plantas queimadas pelo sol espalhados aqui e ali, mas o solo era em grande parte chão batido, infértil e podre.
A Moore subiu o degrau da varanda e parou logo atrás de Peter:
— Nós vamos invadir?
O filho do xerife lhe lançou um olhar atravessado e voltou a pressionar a campainha, dessa vez com mais insistência. O som ecoou no interior da casa, sem resposta.
— O que foi agora, O'Connell? — ela bufou — De repente você ficou bom demais para colocar as mãos na massa e investigar?
— Não vou forçar a maçaneta — em seguida Peter suspirou, espiando por uma janela estreita da varanda: — Ninguém em casa.
— Precisa de um grampo?
Ela certamente tinha um enfiado entre suas madeixas douradas, era o que mantinha seu cabelo perfeitamente disciplinado em um penteado depois de um dia cheio. A mão de Madison estava no meio do caminho para alcançar seu couro cabeludo quando recebeu uma repreensão silenciosa do filho do xerife. Um vinco se formava em sua testa e as ameaçadoras íris verdes a desafiavam a continuar com as brincadeiras.
— Tudo bem, já entendi. Sem grampos.
O silêncio incômodo pendeu na varanda da frente dos Becker enquanto Peter pensava. Madison se encolheu de frio, sentindo uma sensação esquisita subir por sua pele. Aquela mesma de estar sendo observada. Seus olhos percorreram a rua, checando os arredores. Eles não deveriam passar tanto tempo ali, parados na porta como tolos para a rua inteira ver. Aquilo estava começando a ficar suspeito, até para alguém com um bom senso tão prejudicado quanto o de Madison. Se os vizinhos chamassem a polícia, sua visita a casa de Bane teria um fim desagradável que certamente envolveria a detetive White.
Enquanto isso, ao seu lado, Peter fitava o nada com intensidade. Até que ele ficava bonitinho assim, Madison pensou. Cenho franzido, lábios comprimidos em desagrado e sinapses a mil. Por fim, seu rosto se iluminou com uma nova ideia. O filho do xerife começou a se mover pela varanda examinando cada canto com os olhos, muito parecido com um cachorro farejando desesperado em busca de sua caça.
Quando percebeu o olhar confuso de Madison, explicou:
— A chave reserva.
Madison quase sorriu, mas não se deixou levar pelo otimismo. Ele definitivamente assistia séries de investigação demais.
— O truque da chave reserva seria brilhante em um filme de terror saído do fundo do baú que, a propósito, é onde sua ideia pertence. As pessoas não fazem mais isso, Peter.
— Você ficaria surpresa, Madison — rebateu concentrado, vasculhando embaixo dos vasos de planta — Isso é um tremendo clichê. Todo mundo está tão seguro de que ninguém mais esconde chaves na varanda que ninguém espera que alguém as procure. É uma ideia tão burra que chega a ser brilhante — virou um anão de jardim de cabeça para baixo, checando seu interior oco — E esse bairro é bem seguro, as pessoas ficam descuidadas.
A loira demorou alguns segundos para absorver a teoria. Então, arfou:
— Isso é um absurdo. Bane não seria tão burro.
Peter revirou os olhos e continuou a busca. Suas mãos percorreram o batente da porta de tela, subindo pela moldura de madeira. Madison espiou enquanto a camisa dele se esticava, capturando apenas vislumbre de seus músculos.
Quando foi pega, o chão da varanda começou a lhe parecer fascinante.
— Vamos lá — ele murmurou para si — Qual o lugar favorito do cidadão americano médio para esconder uma chave? Vaso de planta. Regador. Interruptor falso. Gnomo de jardim. Em cima da porta, janela...
Continuou a listar e Madison riu.
— Hora de desistir — cantarolou — Admita que estou certa.
— Se eu fosse criativo... — ruminava baixinho — Não, não. Está na minha cara, eu sei disso. A alternativa óbvia é...
Mais silêncio.
E então seus olhares se encontraram.
Havia sobrado apenas um lugar.
A Moore se abaixou e sua mão alcançou o tapete encardido da entrada, levantando-o.
— Não pode ser — balbuciou.
Uma risada sonora estourou atrás dela. Contrariada, ela catou a chave do chão e a entregou a Peter, que sorria.
O filho do xerife abriu a porta de tela e avançou até a maçaneta, mas hesitou no último segundo:
— Não quer fazer as honras?
Madison o fuzilava com os olhos. Ela encaixou a chave na fechadura e girou, mas nada aconteceu.
— O que houve? — perguntou, impaciente.
Seus dedos se fecharam ao redor da maçaneta e empurraram a porta, apenas para confirmar o que já sabia:
— Estava aberta.
Um ranger horripilante preencheu o ar e eles trocaram um olhar demorado. Dessa vez, não acharam graça na estranha coincidência. Estava tudo fácil demais. Conveniente o suficiente para levantar desconfiança.
Peter foi na frente. A porta havia emperrado em um monte de correspondências. Ele passou os olhos rapidamente pelo primeiro envelope e o entregou a Madison. Era uma conta endereçada a Susan Decker, datada de semanas atrás.
Quando a Moore olhou para cima novamente, Peter já estava longe. Ela amaldiçoou a curiosidade do filho do xerife e encostou a porta atrás de si, deixando as cartas sobre o aparador da entrada. Atravessou o hall pisando com os calcanhares, procurando fazer o mínimo de barulho possível em cima de seus saltos.
Enxergar no interior da casa era uma tarefa quase impossível. Algumas tábuas de madeira pregadas sobre as janelas impediam a entrada dos últimos raios de sol que ainda brilhavam no céu. Ela tateou uma parede e bateu forte demais no interruptor cozinha, chamando a atenção de Peter. Seu gesto só serviu para fazer barulho mesmo, porque a luz não ligou.
O filho do xerife voltou a sua própria investigação. Seu olhar se demorou sobre os pequenos vasos de planta na janela. Todas mortas. Folhas pretas, enrugadas, caídas no chão.
É apenas luto, Madison disse a si mesma. A mãe de Bane só podia estar passando por um luto poderoso após a morte do único filho. Algumas plantas secas e uma pilha correspondências velhas não eram sinais de que encontrariam o corpo em estado de decomposição avançado em um canto da casa. Não mesmo.
Peter se aproximou da geladeira, examinando seu interior. Havia uma caixa de leite vencida e comida apodrecendo nas prateleiras, porém o que chamou a atenção da Moore foram os papéis presos a porta com ímãs. Boletins, contas e uma foto antiga. Uma criança loira vestindo o uniforme da liga juvenil de beisebol sorria sem mostrar os dentes ao lado de um homem sem rosto. O papel fora cortado bem na altura do pescoço do desconhecido. Madison reconheceu o menino como uma versão mais nova de Bane, o que significava que senhor poderia ser o pai dele. O casamento dos Decker deveria ter acabado mal.
Um som áspero vindo da sala fez o corpo de Madison enrijecer. Eles trocaram um olhar de alerta e esperaram. Mais um longo roçar, dessa vez quase um arrastar suave pelo chão, arrepiou os pelos de seu braço. Havia alguém com eles, dentro da casa. Um pânico silencioso e inquietante dominou seus sentidos. Nenhuma possível explicação que passou por sua mente a agradou. Talvez fosse uma armadilha. Ou talvez a mãe do Bane estivesse na casa, pronta para enxotá-los.
Peter tomou a frente, como já era de se esperar. Ele atravessou a porta da cozinha e seguiu para sala com passos tão lentos quanto cautelosos.
O cômodo não era muito grande. Tinha dois sofás velhos alinhados contra as paredes, uma poltrona de couro e um gaveteiro decorado com cacarecos, portas retratos e toalhas de crochê. A televisão de tubo sobre a estante de madeira era o centro das atenções.
— Eu não vejo nada — o filho do xerife murmurou.
— Talvez o barulho tenha vindo do quintal do vizinho — sua voz soava quase esperançosa.
Um farfalhar de cortinas a interrompeu e Madison se preparou para gritar. Antes que pudesse liberar o grito, duas patas peludas surgiram de trás do sofá, seguidas de um rosto felino feroz, com dentes afiados amostra. Um gato malhado brincava de afiar suas garras contra a cortina, escondido entre as poltronas e a janela.
— Acho que devemos um pedido de desculpas ao nosso anfitrião — Peter se inclinou para o bicho, lhe acariciando entre as orelhas. Um ronronar suave preencheu o cômodo e a Moore voltou a respirar. Menos mal.
— O que estão fazendo aqui?
Dessa vez Madison gritou o mais alto que pode, pulando em seus saltos. O som estridente assustou o gato, que disparou para fora do cômodo. Peter se pôs de pé no mesmo segundo, analisando a figura parada no batente da porta. Era uma mulher alta, bem velha e tinha cabelos curtos pintados de castanho.
O filho do xerife limpou a garganta e Madison decidiu que aquela era uma ótima hora para ele usar todo seu charme de bom moço.
— Desculpa, senhora Decker. A porta estava aberta e nós estamos aqui porque o Bane...
Ele lançou um olhar para Madison. Estava escrito em seu rosto "me ajude".
— Nós queríamos entregar as coisas do Bane — a Moore arriscou — Limpamos o armário dele na escola.
Os dois teriam que se agarrar a mentira inicial com unhas e dentes para sair dessa.
No entanto, nem precisaram.
— Você chegaram tarde — sem dizer mais nada, a mulher lhe deu as costas e seguiu para o interior da casa.
Eles trocaram um olhar e Peter deu de ombros, indo atrás da senhora enigmática. Os chinelos felpudos da mulher de meia idade se arrastaram contra as tábuas de madeira do corredor até deslizarem sobre o piso de azulejos da cozinha. Ela se abaixou em frente ao armário da pia e seu roupão se acumulou ao seu redor, dobrado em ondas. Um miado atravessou os cômodos da casa e o gato malhado estava de volta, atraído pelo pipocar da ração atingindo o pote.
— Eu sou vizinha de porta dos Decker, Betty Willcox — a voz da mulher era rouca de cigarro — Venho aqui duas vezes por dia para alimentar o gato.
O único som dentro da cozinha era o triturar suave da comida na boca do felino.
— O que aconteceu com a senhora Decker? — Madison continuou inquieta, observando as roupas estranhas da mulher — E o senhor Decker?
O excesso de perguntas pareceu disparar alarmes invisíveis na cabeça da senhora Willcox. Ela estreitou seus olhos afiado, medindo os adolescentes dos pés a cabeça.
— Vocês não são mais um daqueles repórteres malditos, são?
Madison se virou para o filho do xerife e sussurrou:
— Eu pareço uma assalariada?
Por que diabos aquela mulher perguntaria aquilo a uma Moore? Menos de uma hora em um bairro do subúrbio e já estavam confundindo-a com uma trabalhadora braçal!
— Fora já daqui! Deixem essa família em paz! Eles já não sofreram demais?
— Não somos repórteres, senhora Willcox — Peter tentou apaziguá-la — Nem temos idade para isso. Nós estudávamos com o Bane.
— E onde estão as coisas que vocês vieram trazer?
A pergunta os pegou de surpresa. Eles se entreolharam e algo parecido com culpa atravessou o rosto de Peter.
— Fora daqui! — a falta de resposta os entregou — Os dois!
Madison seguiu para porta com o filho do xerife a seu encalço.
— Onde nós podemos encontrar a senhora Decker? — a Moore insistiu.
— Deixem-a em paz!
A vizinha dos Decker fechou a porta de tela e aparentemente os xingaria até irem embora.
Quer saber? Que se dane. Madison resolveria isso como deveria ter feito desde o início.
Sua mão voou para o interior de seu casaco de marca e, do bolso, ela retirou sua carteira. Antes que Peter pudesse impedi-la, a menina ergueu duas cédulas estampadas com o rosto de Benjamin Franklin no ar.
Fez-se silêncio na varanda da frente dos Decker.
O filho do xerife olhava de Madison para senhora Willcox, sem acreditar no que estava para acontecer.
— Você responde às nossas perguntas e ganha um par de sapatos novos — os olhos de Madison examinaram o roupão puído da mulher — Quem sabe um casaco também, se eu estiver com boa vontade.
O brilho ganancioso permeou a expressão fechada da senhora Willcox, mas ela tratou de esconder.
— Acha que pode me comprar?
A Moore não respondeu. Apenas acrescentou outra nota a quantia. A boca da senhora Willcox se entreabriu um pouco mais quando outro pai fundador dos Estados Unidos se juntou ao bolo.
Era como observar um gato seguindo um ponto de luz.
— É de verdade? — inquiriu a idosa.
Para o desagrado de Peter, a loira abriu um sorrisinho de canto e estendeu a nota para a senhora Willcox, que abriu a porta de tela com a rapidez de um raio.
— Ela foi internada no hospital psiquiátrico de Shepherd Hill — seus dedos longos e ossudos alisavam as cédulas — Fica na estrada, fora da cidade. É tudo que sei.
Pronto. Agora tinham um novo endereço.
Madison estava prestes a dar as costas e ir embora quando a mulher voltou a falar:
— Bane era um bom garoto — murmurou —, mas essa família sempre foi esquisita.
O filho do xerife mordeu a isca no mesmo segundo.
— O que quer dizer?
Bastou eles se virarem para senhora Willcox selar os lábios e parar de falar. Uma curta olhada para a carteira de Madison e os adolescentes entenderam do que se tratava.
A Moore lhe ofereceu uma nota de cinquenta.
— Tenho pena deles — ela desdobrou a cédula, deslizando sua mão sobre vincos do papel moeda — Sempre tentei ser gentil, mas uma mulher da minha idade tem suas necessidades — o dinheiro desapareceu no bolso do roupão puído e Madison desejou que ela parasse de enrolar — Moro nessa rua há muito tempo. Acompanhei as idas e vindas de Susan Decker do hospital psiquiátrico, cada uma delas. Não foi fácil para o garoto. Agora que ele morreu, que Deus o tenha, desconfio que Susan tenha ido para ficar — a mulher passou a língua sobre os lábios, como se preparasse para contar um segredo, sua voz áspera e baixa: — Foi ela mesma quem pregou aquelas tábuas sobre as janelas, sabe? Muita luz, ela disse. Eram repórteres acampados no quintal noite e dia, tirando fotos e fazendo perguntas. Foi demais, até para ela. Pessoas como Susan não enlouquecem de uma vez só. É sempre aos poucos.
Era muita informação para absorver. Madison não fazia ideia desse lado sombrio da vida do Bane. Até ontem, o garoto era mais um dos atletas bobões de seu colégio. Um jogador de futebol meio ingênuo que tivera o azar de estar no lugar errado, na hora errada.
— E o pai dele? — o filho do xerife insistiu.
Um sorriso desdentado enfeitou o rosto da vizinha. Pela primeira vez em toda conversa, Madison reparou que ela não tinha os dentes da frente. Sua arcada dentária era torta e amarelada.
— Eu venderia essa informação para a loirinha, se a tivesse.
— Vamos, Peter — a Moore o chamou, afundando a mão em seu braço — Me leve para casa.
Havia algo esquisito naquela mulher. Talvez fossem seus olhos opacos e gananciosos ou os cabelos secos, quebrados até a raiz, ou as mãos que se mexiam rápido demais para alguém tão velho. Cada aspecto asqueroso da aparência da vizinha dos Decker era mais uma peça de um quebra cabeça assustador. O interior da casa atrás dela, banhado em escuridão, começava a parecer cada vez mais perigoso. Fazia crescer uma sensação inquietante dentro de Madison, como se alguém os observasse. Se Peter sentiu algo parecido, ele não verbalizou. Apenas acompanhou a loira até a calçada.
Madison contornou o veículo e abriu a porta. A vizinha continuava a encará-lo atrás da porta de tela, sem se mover.
— Me tira desse inferno — pediu, reprimindo um arrepio de nojo.
O filho do xerife posicionou suas mãos sobre o volante e suspirou, encarando a mulher pelo parabrisas.
— É pra já.
O carro começou a se mover e Madison sentiu alívio preencher seu peito. Estava segura, fechada ali dentro. A atmosfera sufocante da casa dos Decker aos poucos deixava seu corpo, como se uma mão invisível retirasse os dedos que agarravam sua garganta, um por um.
Peter estava manobrando para sair da vaga quando um automóvel familiar desapareceu na curva esquina. Madison pensou que poderia estar paranóica, mas a cabeleira ruiva voando pela janela do carona não deixou espaço para dúvidas.
Aquele era o carro de Aaron.
O que diabos eles estavam fazendo ali?
N/As:
E voltamos com mais um capítulo de Bad Karma! Estão todos acomodados e com a pipoca? Porque essa não é a novidade.
Quem acompanha o Instagram da história já deve ter vido, mas, se você é um dos leitores que não chegaram a conhecer o quadro de investigações mais cármico do Wattpad, estamos aqui para anunciar o trailer de Bad Karma!!!! TARÃAAAAM
Dê play e se divirta.
https://youtu.be/tPO_ZJgbDdU
Até a próxima.
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