☦︎༘💭 ❝ [ bônus - ride ] ❞

⚠️ TW: SUICÍDIO & DROGAS ⚠️

Não revisado.

Era até satisfatório ver o Han andando cambaleando enquanto subia naquele prédio, seus pés vacilaram diversas vezes e seus olhos estavam perdidos, mesmo assim ele não soltava aquela droga de cigarro que estava entre seus dedos da mão direita.

Eu sabia bem que sua hora estava chegando, eu fui chamada aqui e por isso observava o rapaz neste momento. Mais cedo, vi eles tomar várias e várias pílulas de remédios, a maior parte sendo do tipo benzodiazepínicos, são medicamentos hipnóticos e ansiolíticos com efeitos notáveis.

Se a maconha fosse uma pessoa, com certeza seria que nem o Han neste momento.

Acompanho ele até o ver sentar na beirada do prédio e voltar a colocar aquele cigarro na boca. Eu não me surpreende caso ele caísse dali de tão mole que estava mas, para minha surpresa, ele se manteve firme, sentado ao meu lado e balançando as pernas lentamente conforme o vento soprava ali.

Fazia dois dias que eu não via Jisung já que a última vez que o vi foi no assassinato de Minho. A polícia estava ficando doida, queria achá-lo de toda forma, morto ou vivo. Han saiu de sua casa naquela madrugada e veio para um apartamento que havia alugado dias antes somente para se esconder da polícia, mas ele sabe tanto quanto eu que a polícia estava mais perto do que nunca.

Desde aquele dia, o garoto emagreceu muito, seu rosto não tinha mais aquelas bochechas gordinhas e graciosas, também não tinha mais cor, ele estava pálido e magro, provavelmente estava ingerindo somente drogas e não se alimentando corretamente... Uma pena.

— Você está aqui... Pelo menos não vou morrer sem ninguém saber.

Sua voz me fez sair dos meus pensamentos e olhar em volta instintivamente, começando a procurar algum sinal de vida além do Han e de mim — irônico já que sou a personificação da morte. Costumo ter os sentidos super aguçados, ouço todos os barulhos ao meu redor mas dessa vez eu poderia jurar que não ouvi ninguém se aproximar.

Provavelmente porque não tinha ninguém.

— Eu estou falando com você mesma, moça bonita.

Volto a olhar o rapaz e vejo que ele me encarava. Talvez ele estivesse delirando por causa dos efeitos colaterais e nem sequer estivesse me vendo, mas seja como for, ele me encarava.

— Está falando comigo?

O rapaz dá mais uma tragada no cigarro e me olha.

— Só tem eu e você aqui, querida, é óbvio que estou falando com você.

Nos encaramos por longos segundos que mais pareceram horas, eu conseguia ver em seus olhos a tristeza e desilusão que sentia. No fim das contas, Han nunca foi o vilão de verdade, Minho foi, ele era um traidor, manipulador, gostava de tratar Jisung como um boneco descartável. Jisung se vingou mas todos o veem como o vilão já que ele matou o presidente do grêmio, o namorado dedicado, o estudante de psicologia.

— Você sabe quem sou eu? — Minha voz sai calma enquanto observo a fumaça se dispersar no ar, sumindo totalmente naquele céu escuro da meia noite.

— Não faço ideia... Nunca te vi, mas você é bonita.

Deixo uma risada baixa escapar, não era possível que alguém prestes a perder a própria vida usasse seus últimos minutos para elogiar a morte. Eu nunca me considerei um ser bonito, tenho cabelos longos e pretos, ondulados, olhos fundos e pretos como dois buracos negros, sem brilho, minha pele extremamente pálida, gelada, sem vida, morta.

— Obrigada.

Foi a única coisa que consegui dizer antes de ver ele se levantar, deixar seu cigarro no chão e me estender a mão, me fazendo ficar confusa.

— Aceita dançar?

Eu não sabia por que mas segurei em sua mão, que por sinal estava quente, ele ainda estava vivo. Uma de suas mãos foi até minha cintura enquanto a minha foi para seu ombro, ambos começando a dançar em sincronia e em silêncio. Não é como se precisássemos de uma música, o som dos carros passando lá embaixo e de nossas respirações era uma ótima música.

A dança da morte é representada em diversas formas artísticas, incluindo pinturas, gravuras, poemas e peças teatrais. Sempre achei interessante e peculiar como os seres humanos me retratam sem nem sequer terem me visto. Às vezes sou representada por um esqueleto, outras vezes por uma figura sinistra, nunca por quem sou, nunca pela criatura responsável por fazer as almas descansarem mas sim por tirar algo delas, como uma vilã cruel. A verdade é que, no final, a morte é inevitável para todos, independente do seu status social ou riqueza.

O corpo magro do Han parecia que em qualquer momento poderia ser levado pelo vento, ele parecia livre, leve... Não parecia que estava se sentindo culpado pela morte de um traidor e de uma inocente, não parecia estar preocupado com a polícia chegando para o prender, é como se nada o pudesse atingir.

Em algum momento não estamos mais dançando no meio do telhado mas sim na ponta, os pés vira e mexe quase saindo do telhado, por mais alguns centímetros cairíamos do prédio.

— Como?

— Hm?

— Como você consegue estar tão calmo em meio a tudo que está acontecendo? Sua vida está um caos, você está entre a vida e a morte. — Por mais calmo que seja meu tom de voz, a frase saiu rápido, como se eu estivesse desesperada por respostas.

— Eu estou caindo, então vou aproveitar a queda, querida.

Sua voz saiu tão fluída que me deixou hipnotizada por alguns segundos, logo vejo seu pé escorregar pela beirada do prédio e seu corpo cair leve como uma pena, caindo na avenida movimentada, me fazendo ouvir as buzinas e gritos histéricos. Se essa pessoa era considerada tão má pelas pessoas, por que elas estavam espantadas com a morte dele? Eu nunca entenderia os seres humanos.

Me deixo ser levada para perto do corpo do Han, tirando seu resquício de vida, vendo sua face como se dormisse, calmo e sereno. Ninguém parecia me ver ali, eu havia voltado a ficar invisível... Mas todos eles falavam de mim, de como eu era maldosa em tirar a vida desse jovem, não é como se eu sentisse prazer nisso.

Horas mais tarde me sentei sozinha e acendi um cigarro, fumando enquanto lembro de todas as memórias que já tive na terra desde a primeira alma recolhida. Abel, pequeno e gentil Abel, assassinado tão novo por seu irmão invejoso.

Há muito tempo, em um mundo repleto de vida e morte, eu, a Morte, passeava silenciosamente pelas sombras da existência. Minha presença era tanto temida quanto inevitável, pois, em última análise, todos os seres vivos iriam se encontrar comigo, cedo ou tarde. As histórias que vou compartilhar são testemunhos das vidas que encontrei ao longo das eras.

Numa noite sombria e estrelada, caminhei pelas ruas estreitas de uma pequena vila. Meu vestido escuro balançava ao vento, e meus olhos vazios observavam silenciosamente a vida efêmera que ocorria ao meu redor. Naquela noite, encontrei uma jovem chamada Elara. Ela estava deitada em sua cama, com a respiração fraca e um olhar de despedida nos olhos. Ela era apenas uma criança, mas sua doença a havia levado para além do ponto de retorno.

— Quem é você? — ela sussurrou com uma voz fraca, quando me aproximei. Minha resposta foi um toque gélido e suave em sua testa, e ela fechou os olhos, finalmente encontrando paz.

Outra vez, me vi na vastidão do deserto, onde um guerreiro corajoso lutava contra o calor escaldante e os perigos ocultos da areia. Ele havia sido um herói, enfrentando inúmeras batalhas em nome de seu povo, mas agora seu tempo havia chegado. Sentado sob as estrelas cintilantes, ele olhou para o céu e murmurou: "Leve-me, ó Morte, e que minha coragem seja lembrada." Assim, ele partiu em direção ao grande desconhecido.

Em uma floresta densa e misteriosa, conheci um ancião sábio. Ele me aguardava com um sorriso cansado, como se tivesse esperado por mim por toda a eternidade. Com tranquilidade, ele estendeu a mão e disse

— Morte, minha velha amiga, venha, leve-me para as memórias eternas."

A cada encontro, uma história diferente, um fim singular. Eu sou a Morte, a entidade que testemunha o ciclo da vida e da morte, o começo e o fim. Embora possa parecer que minha presença seja sombria e implacável, minha tarefa é eterna, e minha compaixão, inabalável. Sou aquele que fecha os olhos de todos, desde a criança frágil até o guerreiro destemido e o ancião sábio.

A vida e a morte são entrelaçadas, como as páginas de um livro que nunca termina. Eu sou a narradora silenciosa, a que presencia o último suspiro e o início da eternidade. E assim, continuo a caminhar pelas sombras da existência, contando histórias que só eu posso contar, aguardando o próximo encontro, onde a vida encontra seu descanso e o ciclo continua.

𖧷 ˑ ִ ۫ 💭ִ ᵕ̈ ָ ֙⋆

Olá little rabbits, agora realmente chegamos ao fim dessa one-shot, eu espero que ela não tenha dado gatilho a ninguém.

Caso você esteja passando por alguma situação ruim e tenha cogitado a possibilade do suicídio, não faça isso, okay? Isso que foi lido aqui é uma obra totalmente fictícia e não tem intenção de influenciar ninguém a nada. Se você precisar de ajuda e/ou de alguém para conversar, ligue para o 188, é gratuito e funciona 24hrs, é um centro de apoio que pode salvar sua vida.

Sua vida é importante, não a jogue fora, seja qual for a situação.

Enfim, obrigado por lerem até aqui, amo muito vocês.

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