9. Every me, every you
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- Você está de parabéns, parece que estar criando juízo! Fico feliz! Lembre-se que você não está lá por causa de algum pai rico - eu movia a mão como se dissesse: "vai lá, fala mais, manda ver". Estava dando esse prazer para o meu empresário, Simon Mitchel, que não me via a muito tempo e podia matar a saudade falando o que bem entendia. - mas graças aos patrocinadores que corri atrás para te colocar lá. Enquanto você corria na pista, eu corria como um louco para segurar você lá.
- Simon, sua raposa velha, pare de reclamar. Já basta a Stephania reclamando no meu ouvido. Se bem que vocês dois não tem uma virgula para falar de mim. Eu tenho andado comportada e o melhor, fazendo bons resultados, pontuando, deixando a equipe feliz. - Respondo com um belo sorriso para o meu empresário. - Sou a garota do meio do pelotão! Comemore! Consegui até um terceiro lugar, olha só que lindo!
Ele me encara com as mãos na cintura, em pé no meio da sala da minha família. Sim, depois da corrida do Azerbaijão, fugi para a casa da minha família, aproveitar a companhia deles que não via desde a folga do Ano Novo. Depois os MacAllister partiriam para o GP de Miami. Minha primeira corrida da Formula 1 em casa e a segunda naquela pista, estava correndo nos Estados Unidos.
- O pior é que algo me diz que você está aprontando, só que o problema é que não estou sabendo o que é. - Ele olha para mim como se estivesse tentando descobrir um grande segredo.
- Eu não estou aprontando nada, não procure pelo em ovo, eu estive em três corridas em países muito conservadores, se eu aprontasse algo ali, eu seria apedrejada na rua...Tá bom! Tá bom! - Ergo as mãos em rendição diante do olhar fuzilante dele. - Não precisa me olhar com esse olhar de julgamento, mas eu tenho consciência do meu papel aqui. Na verdade todo mundo me joga na cara isso, me joga na cara que sou a primeira mulher, tenho que ser exemplo e blá blá blá.
- Ainda bem que os patrocinadores amaram esse argumento e você se tornou a menina dos olhos do Townsend! - Ele chega a conclusão.
- Viu só? Passei 4 dias aqui bem quietinha e estou pronta para amanhã partir para Miami. - Abro um sorriso feliz.
- Não se atrase! Eu quero ter o seu traseiro sentado naquela poltrona do jato na hora certa. Aproveite a boa vontade e alegria do grande chefe. - Ele me aponta puxando minha orelha.
- Sim, chefe! - Bato continência para o meu empresário.
***
Desço do jato seguida do meu pai, minha mãe, meu irmão mais velho e Simon. Caminho até o Senhor Townsend que nos aguardava ao lado de um grande SUV.
- Seja bem vinda, senhorita MacAllister! - Ele me saúda com seu sotaque britânico como um verdadeiro lord inglês. - Não podia deixar de vir recebe-la pessoalmente com a sua família. Afinal, não há nada melhor que o lar.
- Obrigada Senhor Townsend pela recepção carinhosa e pela atenção de enviar o jato para nos trazer até aqui. - Agradeço educadamente, fazendo a boa moça para o chefe, enquanto apertava as suas mãos.
- Não precisa agradecer, é o mínimo que poderia fazer. - O homem esbanja boa educação.
- Pois bem, deixa eu apresentar, meu pai Peter, minha mãe Allison e meu irmão Jason. - Estendo a mão mostrando cada um, que logo se apressam a trocar apertos de mão de forma sorridente educada.
- Vamos! Estão nos aguardando para um belo almoço. - O Inglês fala com sua empolgação contida pela elegância.
Entramos nos carros, minha família foi comigo em uma SUV e Simon acompanhou o dono da equipe, Townsend, no Ashton Martin.
Assim que estávamos dentro do carro, minha mãe fala para mim toda empolgada:
- Alex, que Senhor mais educado, um verdadeiro Lord Inglês. Veio nos receber pessoalmente.
- Claro, a Alex colocou a equipe dele no topo das notícias. - Meu irmão revira os olhos.
- Jason, sua mãe está certa, ele não teria obrigação de nos receber de forma tão calorosa e dando tanta atenção. Me diz quantos pilotos o dono da equipe vem receber na pista do aeroporto? - Meu pai repreende de forma séria.
- Toma na cara, seu idiota! - Jogo para o meu irmão.
***
A música batia nos meus fones de forma intensa em casa passada que eu dava, a pista contava apenas com os refletores para iluminar a noite, auxiliando na equipe de manutenção que dava os últimos retoques na estrutura gigantesca montada em torno do Hard Rock Stadium, as vezes parava e olhava tudo em volta, me abaixei e passei a mão com delicadeza pelo asfalto, apreciando o traçado da curva. Um sorrisinho brotou no meu rosto e logo estava de pé, retomando a corrida.
As vezes balançava a cabeça enquanto corria, curtindo as batidas de Welcome To The Jungle, era perfeito. As batidas intensas, enquanto sentia a pista afundar levemente para subir novamente. Era uma forma de estar em contato próximo e intenso com a pista, com palcos tão desconhecidos para mim. Eu poderia estar na farra, mas aquela era a forma de me manter longe de confusão, focando no treinamento. Ah! Desde a Australia o treinamento tem sido meu melhor amigo para descarregar e endorfina para me manter na linha.
Sinto uma presença ao meu lado, quando olho, dou de cara um certo Inglês correndo ao meu lado, ele deixa escapar um pequeno sorriso de Monalisa. Aperto o passo para me distanciar dele, mas ele aperta também, mantendo-se do meu lado, de forma irritante, parecia nem se esforçar o filho da mãe.
Cada vez mais eu puxava o ritmo, que era acompanhado por ele sem problema alguma. Até que uma hora não aguento mais e levo as mão nas pernas respirando ofegante. Saco os fones sem fio com raiva da minha orelha e encaro o rapaz.
- Merda, Fraser! Qual é?
- Qual é? - Ele mantem aquela calma que só podia vir da parte do seu sangue inglês, o filho da mãe nem estava ofegante, enquanto estava colocando meu pulmão praticamente pra fora. - Você se revelou muito boa no jogo de esconde-esconde.
Ele cruza os braços, me olhando, enquanto meu peito ardia buscando ar.
- Sério que vai querer falar sobre isso agora? Mesmo? - Falo de forma indignada.
Ergo o rosto e encontro aquele maldito rosto com uma das sobrancelhas erguidas.
- Merda! Por que sinto que cai em uma armadilha? - Chego a conclusão, sentando-me em plena pista fria, tentando recuperar o ar a todo custo.
Ele se agacha ficando de frente pra mim.
- Juro que tentei te encurralar de várias formas, mas foi difícil. Depois me chamam de Smooth Operator, mas você é mais sutil do que eu quando se trata de escapar de alguém. Parece que escorrega entre os dedos.
Olho para ele com uma expressão de poucos amigos.
- Fraser, pensei que para bom entendedor, meia rejeição já basta. Não é?
- MacAllister, apenas quero entender. - Ele fica em pé e fala. - Eu não posso estar maluco, não mesmo, eu sei sentir as pessoas. - Ele ergue as mãos para ar como se estivesse se rendendo.
Eu fico em pé, olhando em seus olhos, parece que ele não conseguia entender o que está em jogo aqui.
- Então deixa eu ser bem claro com você. Eu não posso ter merda nenhuma com você, nada, de forma alguma. Somos concorrentes William, concorrentes! Isso não é bem claro para você?...Eu sou a mulher! Eu sou a primeira a correr na droga desta pista - aponto para o asfalto sob nossos pés - Se tiver algo com você, vão me julgar, vão dizer que estou fazendo isso para ter algum benefício, vão alegar conflito de interesses, vão dizer que por isso mulheres nunca foram aceitas na droga do vestiário dos meninos para justamente não ter esse tipo de "tentação" - faço aspas com os dedos - para que nunca percam o foco. Você...Ah!...Você vai ser tido como o cara, o fodão, o que fodeu a vadia do carro 66! Logo esquecem e te dão tapinha nos ombros! As coisas não são justas. Nenhum pouco!
- Droga Alex! Você não é a rebelde? A que enfrenta os padrões e quebra as regras? Aonde está a sua coragem? - Ele se aproxima, me olhando nos meus olhos.
- Ela está aqui...Agora...Quando eu digo: Cada um na sua. Cada qual com seu cada qual...Precisa coragem pra caralho pra fazer o que estou fazendo.
Passo por ele e começo a caminhar pela pista, aos poucos retomo a corrida. Pois sim, estava como Cristo correndo para longe da tentação. Não posso fazer merda. Esqueceram?
***
NOTA DA AUTORA:
Mais um capítulo escrito, aproveitando esse momento em que escrever está me ajudando a lidar com muitas coisas. E também estou assistindo a 5ª temporada da série da Netflix: Drive to Survive, para me ajudar ainda mais na escrita e sábado passado assisti o GP da Austrália.
Espero que estejam gostando e é escrito com muito carinho.
Cada capítulo é inspirado em uma música, por que acho que daria um ótimo ritmo a narrativa, não perca a playlist que tem lá no Spotify: https://goo.gl/o8UCa1
Beijinhos!
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