14. Vent'anni

- Olha aqui MacAllister, não adiante tentar me enrolar, por que eu estou aqui nesse Paddock muito antes do que você imagina, quando o corrida se vencia no braço. Então não venha tentar dizer que eu estou enganado, que é nada disso...Aqui eu sinto as coisas no ar. Acha que cheguei como aqui nessa merda de posto? - O homem falava de forma dura e acusatória.

Olhava para Frank com aquela expressão de petulante de garota rebelde, mas por dentro sentia um certo medo correr pelas minhas veias.

Quando cheguei para o ultimo dia de treino livre e qualificatória no paddock improvisado no circuito de Mônaco, me avisaram que o chefe da equipe queria falar comigo. E quando Frank chamava na sua sala, não conversava no box, era um péssimo sinal. Creio eu. Já que a situação era totalmente nova pra mim, por isso estava com certo receio.

- Vamos lá, Frank! Empurra logo o banquinho! - Respondo impaciente.

- Que merda é essa de você estar se pegando com o Fraser? - Ele pergunta de forma direta e reta, bem impaciente.

Ah merda!

- Frank, eu... - Tento argumentar.

- Eu o que?...Resolveu fazer a Eva na merda do Paraíso e tirar o Golden Boy do prumo. Por que é isso que eles vão julgar. Aqui é diferente da Bíblia, para você saber, quem é expulsa aqui nesse Circo é só a Eva, por que o Adão é posto como um pobre coitado que foi seduzido pela pecadora. Ainda vai aparecer algum imbecil pra dizer: Isso que dá trazer mulheres para correrem aqui. Droga, MacAllister! Não sei se te contaram, mas homens não engravidam, logo eles não são afastados por causa DE UMA PORRA DE GRAVIDEZ! - Ele explode e eu olho para o homem mais velho assustada, vendo até onde ele chegou. - Se é que chegaria nisso, por que você seria expulsa antes. Merda! Sabe quantos futuros estão na sua costas? Quantas garotas dependem da porra do seu sucesso? E você vai lá e joga tudo fora por causa de um Inglês de Bosta. Sério, isso!

A postura petulante e rebelde foi para o saco, olhava para ele surpresa, mas infelizmente tudo que ele dizia tinha razão, eu fui irresponsável em não pensar no peso das minhas decisões.

- Caramba! Você quando vive sua versão própria de Dormindo com o Inimigo está arriscando a carreira e a pele de muita gente. Você tem um potencial gigante, por isso incomoda tanto o Francês metido a besta...Ah! Ainda tem esse! Se essa descobre, ele fode você num nível, que você não concorre nem Campeonato de Kart.

- Desculpa, Frank. - Foi tudo que consegui dizer humildemente.

Ele tinha razão, ele estava me dando um sermão, mas no fundo ele tinha razão e estava me protegendo. Frank conhecia aquele mundo como ninguém, sabia o quanto ele poderia ser cruel com as mulheres, se no mundo lá fora do paddock uma mulher leva a culpa por algo que acontece, imagina ali no microcosmos da Formula 1, onde as regras eram ditadas por homens.

Senti os olhos encherem d'água, por que no fundo eu sabia que decisão eu deveria tomar. Frank também percebeu na sua experiência que decisão eu havia tomado. Então respondeu-me de forma paternal:

- É o mais correto a se fazer. Agora se recomponha por que temos um treino e uma qualificatória. Hoje o dia será longo. E você vai sair do hotel, vai ficar na minha casa, sob a minha observação e de Martha. Ela vai gostar de ter você lá, desde quando os meninos foram pra faculdade, ela tem sentido a casa bem vazia. 

Agradeci com um muxoxo. Sai da sala de Frank, fui me recompor, por que precisava estar bem, pois aquele Grande Prêmio recebia muitas estrelas e famosos, como era meu primeiro, vários nomes importantes passaram para o box para cumprimentar, conhecer e ter contato com a mulher que fazia a história, e eu só queria correr para no silêncio do carro esquecer meus problemas.

***

Enquanto o carro seguia o traçado da pista, minha mente estava vazia, não havia nada além do tempo que deveria conquistar, do ruído do carro, as vezes Karl falando no meu ouvido e o objetivo de ser cada vez melhor. Assim foi nos treinos livres e assim seria na classificatória.

Entre um e outro não sai do box, para não correr o risco de esbarrar com Fraser e ter a conversa que preferia não ter. Tyler ainda tentou me trazer um recado, mas ignorei, causando uma certa estranheza no rapaz.

Na verdade a equipe toda me olhava com receio, como se sentisse o clima pesado que estava imersa, alguns julgavam que era pela responsabilidade de correr no emblemático circuito de rua, mas apenas eu e Frank sabíamos o motivo do meu comportamento soturno.

Eu estava como uma verdadeira dependente química em recuperação, fugindo do vício, de entrar em contato com a droga e usando a corrida, a velocidade como meu ponto de fuga, e estava resolvendo bem.

Mas por outro lado, devido ao mar de frustrações, eu acabei me tornando uma verdadeira força da natureza, uma pessoa impossível, que ia atropelando todos por onde passava, para os mais críticos parecia que estava possuída por uma energia inexplicável.

E foi assim, que consegui meu P2, mesmo com Francês imbecil tentando me jogar para fora da pista em uma das curvas desafiadoras do circuito. Se fosse um dia comum, eu teria ido até o Box daquele idiota tirar satisfações, mas de forma impressionante, preferi ficar no meu canto.

***

No dia seguinte, ainda conseguindo evitar de forma magistral e ignorando todas as ligações e mensagens enviadas pelo William, consegui chegar na reunião de Briefing. Sentei-me com o grupinho que já havia se formado e tinha me incluído, neles estavam eu, Takeshi, Daniel e André, todos sentados em um canto mais ao fundo da sala.

Ao entrar na sala, William olhou em nossa direção, mesmo diante da recepção fria, resolveu sentar ao lado de André, seu companheiro de equipe, os olhos castanhos evitavam me encarar. Os outros rapazes do grupo olharam para ele, olharam para mim, intrigados, já que o ar poderia ser cortado por uma faca, de tão tenso que estava.

Logo a reunião começou e os pontos começaram a ser colocados, até que ergui a minha mão e assim que foi me dada a palavra falei determinada:

- Eu gostaria de saber se o Gaillard não vai ter alguma punição por causa da condução perigosa? Já que ele quase me encaixou no Guardrail na curva do Grand Hotel.

O Engenheiro do francês coçou a fronte com a expressão de "ai vem problemas", Karl que fazia anotações levantou a cabeça em um tiro olhando para o comissário.

- O caso será levado para avaliação. - O Diretor de Prova responde de forma lacônica.

Ergo em um rompante, e falo com firmeza:

- Como ele não será punido, não perderá tempo, logo poderá perder posições, se ele em pleno treino, o que não é um ambiente corrida, faz um jogo sujo. Se no ambiente de corrida já é inaceitável, imagina em um ambiente de treino. Ele não agiu para ganhar posições, agiu de má fé.

- Se não aguenta o tranco, larga tudo e sai. - Resmunga o Jacques.

- Écoute, fils de pute, tu crois que tu vas t'imposer comme ça ? Être un connard cambriolé ? Ridicule! A-t-il tellement de fierté en jeu qu'il a peur de perdre face à une femme ? Vraiment? Je n'imaginais pas qu'une si petite bite pouvait générer un tel complexe d'infériorité. * - Falo em um francês duro e travado, enquanto falava o rosto de Gaillard foi se fechando e a sobrancelha de alguns pilotos que conseguiam entender foram se erguendo em choque.

Aqueles que não entendiam, trocaram olhares, pois poderiam não entender, mas sabiam pelo tom de voz e a expressão de choque dos que entendiam, que algo havia sido pesado.

Enquanto eu falava, pude ouvir André sussurrando baixinho:

- Não acredito que ela aprendeu francês para isso.

- Acredite, ela aprendeu. - Fala William como se fosse a coisa mais óbvia.

- Você está brincando? - O choque era presente na voz do brasileiro e Fraser apenas respondeu com um encolher de ombros como se dissesse "o que podemos fazer?".

Eu não conseguia ver o Karl, mas sentia o olhar dele fuzilante sobre mim, enquanto o Diretor de provas me repreendia.

- Mademoiselle MacAllister, gardez votre sang-froid ou vous serez puni pour votre comportement irrespectueux au sein de ce comité. Le dossier sera examiné et des mesures seront prises, alors retenez-vous!

- Acredito que ser repreendida em Francês deve ser muito mais elegante. - Daniel deixa escapar baixinho o comentário com seu jeito zombeteiro, se não estivesse tão puta da vida, teria revirado os olhos.

- Já terminou a reunião Senhor? - Pergunto determinada.

- Sim, Senhorita.

Caminho de forma resoluta até a porta, sendo a primeira a sair, deixando a porta bater atrás de mim com um forte baque.

***

TRADUÇÃO DOS TRECHOS EM FRANCÊS:

*Olha aqui seu filho de uma puta, acha que vai se impor dessa forma? Sendo um arrombado babaca de uma figa? Rídiculo! Será que tem tanto orgulho envolvido que morre de medo de perder para uma mulher? Sério mesmo? Não imaginava que um pau tão pequeno pudesse gerar tamanho complexo de inferioridade.

** Senhorita MacAllister, mantenha a compostura se não será punida pelo seu comportamento desrespeitoso junto a esta comissão. O caso será analisado e as medidas serão tomadas, então contenha-se!

***

NOTA DA AUTORA:

Criei um clip com a música para esse capitulo, espero que gostem e essa música ainda tem um pouco da influência da letra dela no próximo capítulo:

https://youtu.be/a27RbyITbyk

Demorei a escrever esse capitulo por que sabia que daqui pra frente ia ser complicado, ia ser só ladeira abaixo, tretas, confusões, revoltas e etc. Mas a história tem que ter esse momento.

Fiquei feliz com a pole e o terceiro lugar do nosso querido Smooth Operator esse final de semana. Será que agora vai? Vamos lá que vai dar certo, acho que agora consigo avançar ou não, por que agora o negócio vai ser puxado com muitas emoções densas. 

A Playlist toda montada, a história toda na minha mente por alto, com a linha guia esticada, só tenho que seguir, esse talvez seja o problema, como lidar com os sentimentos do processo.

Já sabem que só vou revisar lá no final, por que se revisar agora, eu corto metade da história.

Cada capítulo é inspirado em uma música, por que acho que daria um ótimo ritmo a narrativa, não perca a playlist que tem lá no Spotify: https://goo.gl/o8UCa1

Beijinhos!

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