02⠀𝄄⠀CAPÍTULO DOIS

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✦.˚ 𝓑𝐀𝐃⠀𝐅𝐎𝐑⠀𝓑𝐔𝐒𝐈𝐍𝐄𝐒𝐒 ❜ ⌗
©sweetinacai

C A P Í T U L O
︵𝄄⠀dois⠀𝄄︵

DEPOIS DE DUAS SEMANAS, Aryan conseguiu perceber duas coisas:

Primeiro, ele gostava de trabalhar para Reed, na realidade, ele amava. Nunca havia sentido tanta liberdade criativa enquanto trabalhava e, enquanto ele sentia que devia se preocupar, Aryan não deixava a oportunidade passar quando Reed o largava durante algumas horas dentro do laboratório de biologia.

Segundo, Johnny Storm é insuportável. Entretanto, ele não tinha embasamento sobre esse fato. Nada além de pura observação, essas que se limitavam a umas olhadelas aqui e acolá, pois Jonathan parecia ter um olho na nuca e sempre sabia quando Aryan estivesse encarando ele.

Dito isso, sim, ele estava evitando-o. Mas isso qualquer tipo de tentativa de deixar o seu desgosto claro. Johnny aparecia para "visitar" Reed durante seu expediente e parecia querer jogar isso na cara de Aryan toda vez que o via sob o pretexto de estar contando as novidades para Reed.

─ Hoje eu vou sair com a Mariah.

─ Mariah? Achei que você estava saindo com um tal de Daniel...

─ Ah, isso foi semana passada.

Ninguém poderia realmente culpá-lo, além do mais, pelas expressões aflitas de Reed e pela convicção de Sue em afastar Johnny do recinto, quando Aryan estivesse por perto, pareciam dizer exatamente isso. Não precisaria de uma conversa cara-a-cara ou algum tipo de aviso prévio para ele saber... Ambos não eram compatíveis, e Aryan não estava ficando louco quando dizia que Johnny é insuportável.

Aryan não sabe como não desenvolveu algum tipo de estresse crônico só de estar do lado de Johnny, mas ele sentia que estava próximo de ter um.

─ Ei, tá tudo bem, estagiário?

Acordou de seu transe no pulo, a voz de Ben arrebentando pelas paredes e empurrando qualquer pensamento que estivesse enchendo a cabeça de Aryan.

O apelido "estagiário" era apenas uma implicância amigável, que vindo de Ben fazia o moreno mostrar um sorriso para atender o chamado. Quando Johnny usa, Hawkins tem vontade de enfiar a cabeça no triturador que Reed guarda na sala de destroços.

─ Ei, grandão, tô bem. Você?

Voltou a limpar as ferramentas que utilizou no motor do carro. Ainda estavam trabalhando na primeira versão do automóvel do Quarteto Fantástico, e por mais que fosse trabalhoso e odiasse ficar sujo de graxa, Aryan estava adorando cada segundo.

─ Johnny Boy veio te irritar de novo? ─ Aryan apenas riu, mas não foi uma resposta para Ben. ─ Se quiser, eu posso ficar aqui e dar uma surra nele.

─ E ver vocês dois estragando as coisas do Dr. Reed? ─ Quando Ben desviou o olhar que Aryan o lançou, o mais novo apenas sorriu. ─ Não se preocupe, Johnny não fez nada.

─ Por que dessa cara, então?

─ Tô preocupado com a Rüya, ela anda estudando até tarde para uma prova. A professora é muito rígida, sabe?

Não era exatamente uma mentira. Por dois dias seguidos, ele acordou com Kirby chorando na porta do quarto de Rüya, escutando o barulho do teclado e o rabiscar em folhas. Aryan não podia ser hipócrita e obrigá-la a dormir, pois fazia a mesma coisa até mesmo quando não havia provas.

Tudo que ele oferecia ao bater na porta era uma xícara de chá, um suspiro ao vê-la tão cansada e ficava, ajudando em algum assunto que ele realmente soubesse, até o corpo dela dizer: chega. Quando os olhos dela começaram a lutar para se manterem abertos, ele a puxava sutilmente para dar um beijo na testa e a guiava para a cama.

Antes de sair do quarto, arrumava a mochila do jeito que ela tinha preferência: "Livros grandes nas costas, livros pequenos na frente e então, estojos. Não pode ser ao contrário, baba!". Só então, depois, fechava a porta do quarto dela.

─ Pelo tanto que você fala da sua filha, ela vai se dar bem ─ Aryan mordiscou o sorriso, tentando não transparecer como "sua filha" surtiu um efeito nele ─ Deve ter puxado você.

─ Acho que na realidade ela puxou a mãe. ─ Ben pareceu curioso assim que Aryan mencionou, mas ele não elaborou muito além de um elogio genuíno. ─ Evrim é uma das mulheres mais inteligentes que conheci.

O que parecia ser mais uma pergunta querendo sair da boca de Ben, foi interrompido por um som de notificação que ecoou por todo o hangar. Ambos pegaram o celular, Aryan pouco se importou com a graxa na ponta dos dedos.

Sua tia-avó reclamou de dores na lombar antes de ir trabalhar na pequena lojinha de conveniência, e a maior preocupação que ele tinha era de algo ter acontecido.

Vendo que não havia nenhuma mensagem, além de links do twitter que Casey enviou alguns dias atrás, ele não possuía mais nada além da notificação de clima.

─ Essa vai ser minha deixa, Alícia 'tá me esperando na cafeteria. ─ Ben falou o nome daquela pessoa com tanto carinho que Aryan nem ousou tomar um segundo a mais. ─ Fala pra sua garota que ela vai arrasar na prova!

─ Pode deixar, valeu Ben!

Em uma troca de pares engraçada, assim que Ben entrou no elevador, Reed saiu do mesmo enquanto batia levemente no ombro do homem de pedra.

Ele agora tinha roupas diferentes, fora do normal, pois normalmente usavam jaleco ao entrar no laboratório ou hangar - até mesmo dentro do centro de comunicações o cientista usava o jaleco. Reed agora estava usando uma camiseta de gola branca por debaixo de um suéter marrom, vestindo uma calça jeans de tecido escuro e sapatos sociais.

Aryan primeiro encarou ele pelo canto dos olhos, apenas esperando o seu chefe pegar o jaleco jogado no encosto da cadeira, uma que estava largada para que Aryan pudesse preguiçosamente rastejar pelo hangar. Uma vez, Sue o flagrou empurrando a cadeira para que pudesse chegar à bancada de ferramentas do outro lado e ela o viu cair de costas com tudo.

Ela prometeu não contar a ninguém sobre o acontecido, se ele prometesse não contar em como ela riu a ponto de quase fazer xixi em suas calças.

─ Sue começou a brigar comigo para ter intervalos longos. ─ Duas semanas foram o suficiente para Aryan começar a perceber como Reed tentava enrolá-lo. Aryan sentia vontade de rir pelo esforço do mais velho. ─ Ela acha que, em algum momento, vou sofrer um burnout, ou algo assim do tipo. Mas eu amo meu trabalho.

Hawkins finalmente terminou de limpar as ferramentas, largando-as dentro da maleta que tinha próximo dos seus pés. Pegou o pano que tinha colocado no bolso do jaleco e começou a limpar as mãos, ou tentando pelo menos.

Se virou para Reed, observando como o homem estava parado e esperando a resposta de Aryan. Não queria ter notado, mas Aryan tinha a tendência em deixar os outros esperando uma resposta.

─ Acho que deve ter alguns casos onde pessoas que amavam seu trabalho sofreram um burnout...

Reed suspirou, mostrando um sorriso contido. ─ Você quer tomar um café, ou não?

─ Claro.

Quando eles desceram ao térreo, Aryan agradeceu internamente por Reed não ser o tipo de pessoa que gosta de fama, diferente de Johnny, que toda vez que sai parece fazer uma cena. Enquanto Reed se mostrava levemente incomodado com a atenção, Aryan conseguia ver Johnny abrindo aqueles malditos braços para abraçar uma fã ou duas, com um sorriso enorme adornando o seu rosto.

Balançou a cabeça, o rosto queimando levemente no topo da maçã ao se lembrar de como Johnny muitas vezes lançava aquele mesmo sorriso provocativo quando ninguém estava olhando.

Eles chegaram a um café conhecido pelo Dr. Richards, muitos funcionários passando e cumprimentando o cientista mais velho. Aryan iniciava o cumprimento com alguns, estufando o peito com um leve orgulho crescendo por estar andando ao lado de Reed Richards. Bem que sua tia disse "Não conheça seus ídolos... Tenho certeza de que seu ego irá ultrapassar o teto se você apertar ao menos as mãos deles".

Se aproximaram de uma pequena mesa para dois, afastada do resto do lugar. Aryan então notou que entrou no lugar sem ao menos reparar no mesmo. Começou a olhar ao seu redor, notando uma coisa ou outra.

Era um espaço aconchegante, com um longo balcão azul marinho, paredes claras, decorações bagunçadas que traziam charme para todo o lugar, pratos antigos pendurados na parte de trás do longo balcão, fotos em sépia, preto e branco, coloridas... Todas montadas em uma grande parede que dava de frente para a entrada.

Uma lanchonete, Aryan finalmente percebeu, de várias gerações, pelo que aparenta ser.

─ Gostou do lugar? ─ A pergunta de Reed tirou Aryan de seu transe. Isso fez o mais novo esfregar a testa em frustração... Estava muito distraído.

─ É um lugar bonito, aconchegante. ─ Um atendente se aproximou da mesa e ambos fizeram seus respectivos pedidos. ─ Onde fica?

Como se tivesse achado graça da sua pergunta, Reed apenas sorriu pequeno e respondeu um simples: ─ Olhe pela janela, Aryan.

Aryan sentiu-se estúpido ao notar que a lanchonete em que estavam era apenas alguns metros de distância do Edfício Baxter. Ele apenas grunhiu ao som da risada de seu chefe.

─ Está muito distraído, recentemente. Isso tem algo a ver com Johnny?

Poderia dizer, sem hesitação alguma, um simples não. Poderia dizer que estava tudo sob controle e que não haveria nada com o que se preocupar... O problema é que Aryan não sabe mentir, pelo menos, não estando sob pressão. E naquele momento, ele sentia pressão em todo o seu corpo.

Seja da ponta de sua língua até o final de seus dedos do pé, ele sentia-se petrificado sob o olhar de Reed.

Não queria tirar todo crédito em relação à inteligência de Reed, mas o homem parecia uma completa porta quando se tratava de relações humanas. Aryan sabia que seria Susan que estava por trás disso tudo, e ele tinha uma razão para se sentir amedrontado em relação a ela.

Aryan respirou fundo e tentou não transpirar por debaixo da sua camisa social suja de graxa. Você consegue, 'bora lá, é só mentir.

─ Isso não vai atrapalhar meu desempenho no trabalho, eu lhe garanto.

E eu poderia me chutar na cara. Aryan começou a se xingar de diversas formas enquanto se revira internamente. Ele não sabia mentir. Poderia não ter confirmado se era sobre Johnny ou não o foco de seu problema, mas ele também não negou. Burro.

Poderia não dizer com todas as palavras do mundo, mas Johnny é sim dono de seus pensamentos. Aryan se odiava a cada segundo que passava ao se lamentar no bar de Stella, procurando secretamente faces parecidas para suprir uma necessidade que somente voltava cada vez mais forte para devorar ele.

Quando segurava o rosto alheio debaixo de si, imaginava o pinicar de uma barba ralada, junto com as pequenas marcas na pele da bochecha. Tentava não erguer os olhos para as têmporas, procurando a marca de nascença. Se não fosse pelos olhos azuis que sempre procurava, Aryan estaria se sentindo mesquinho e mimado por escolher cuidadosamente com quem ele iria se deitar. Patético, se ele pudesse ser honesto consigo mesmo.

Então, sim, ele tinha um problema com Johnny, porém, é um problema apenas e somente Aryan poderá resolver.

─ Ei, não estou brigando ou algo do tipo. ─ Reed tentou suavizar a conversa, erguendo os braços como se estivesse sendo rendido. Abaixou os braços apenas quando Aryan bufou algo que deveria ser uma risada. ─ Sei como Johnny consegue ser, ele não acha que é o suficiente até estar te irritando por debaixo da sua pele.

Aryan apenas remexeu no banco, mudando o peso do seu corpo no estofado como se fosse a coisa mais divertida do mundo. Ignorando o olhar de seu chefe, enquanto olhava ansiosamente para o balcão, esperando o mesmo atendente com seus pedidos.

Não queria ter esse tipo de conversa com Reed, na realidade, não queria ter de jeito nenhum. Apenas esperava poder esquecer desse assunto enquanto via Johnny ignorá-lo ou provocá-lo diariamente e ninguém se dirigir a isso.

─ 'Tá tudo bem, Dr., já lidei com coisa pior na escola ─ A fala engasgada em um tom irônico arrancou uma pequena risada de Reed, e Aryan bateu em suas próprias costas com o feito.

─ Não queria concordar, mas Johnny infelizmente consegue ser pior que uma criança... Obrigado. ─ Uma xícara de café puro foi colocada na frente de Reed e outra próximo aos dedos de Aryan. ─ Em uma das nossas viagens para o espaço, ele estava tão entediado que começou a serrar os pés das cadeiras na nave, só para ver quem seria o sortudo que cairia de costas no chão.

Com uma mão esticada até chegar ao pote de açúcar do balcão, Reed chamou a atenção, com alguns suspiros de susto e risadas de crianças. Aryan apenas remexeu a colher dentro da xícara, espalhando a canela que pediu para despejarem em cima do café.

─ Ele só parou quando ele se esqueceu de qual cadeira ele tinha serrado e sentou, ficou com um bico o resto da viagem e não quis falar com Ben, ele foi o que mais riu dele.

Hawkins não segurou a risada no meio da sentença de Reed e quase se engasgou com o gole de café quente que tentou engolir, recebendo alguns tapas vindo das mãos alongadas de Reed. Ao se recuperar, Aryan apenas suspirou com um sorriso zombeteiro.

─ Incrível como eu consigo ver ele fazendo isso, perfeitamente.

─ O mal de conviver com o Johnny é que você imagina ele fazendo coisas estúpidas com certa clareza.

Um silêncio confortável se fez entre os dois, com o arrastar de cadeiras e até mesmo conversas acompanhadas de risadas altas. Aryan se distrai com o café quente, envolvendo os dedos na xícara e esperando o mesmo esfriar.

Ele queria poder mexer no celular, mas sua tia o educou para ser melhor que isso e reprimiu a vontade em um crispar dolorido de lábios. Sentindo o calor do café diminuir, ele tomou um gole generoso com o olhar de Reed preso em si.

Quase engasgou pela segunda vez.

─ Eu não sei o que 'tá acontecendo, realmente, mas não vou te pressionar. ─ Graças a Deus, pensou o mais novo, quase suspirando de alívio. ─ Você é um ótimo cientista, Aryan, não quero perdê-lo por causa de uma briga com meu cunhado.

O ar ficou estagnado no peito e o restaurante parece ter ficado frio. Ao coçar a garganta para tentar tirar o êmbolo, sentiu a boca seca e quase teve a vontade impulsiva de engolir o resto do café quente. Iria queimar, mas pelo menos iria fazê-lo sentir algo além do gosto de sangue que saia da sua bochecha mordiscada.

Reed levantou-se como se nada tivesse acontecido, caminhando em direção ao balcão para pagar a conta, e deixou para trás um Aryan trêmulo com o que poderia acontecer a qualquer momento.

Depois do expediente, Aryan apenas queria soltar qualquer energia ruim que estivesse sentindo no momento. Porém, ele não queria transar necessariamente. Ele acreditava que precisava era da sensação de corpo dolorido depois de uma boa noite enchendo a cara.

Casey sempre dizia que ele era um maluco por pensar que estar de ressaca era algo bom, mas naquela noite ele estaria pouco se fudendo para a opinião do melhor amigo dele.

Preparou uma roupa casual, apenas uma camisa azul marinho, uma calça jeans preta, em seus pés estava um converse e sua chave estava como acessório na mão esquerda. Terminando de passar o desodorante e o perfume, caminhou até a sala, procurando sua tia, e a encontrou cochilando no sofá com Kirby no colo.

Naquela noite, Rüya os abandonou para passar o dia e então dormir na casa de uma colega de classe. É claro que Aryan nunca poderia realmente proibi-la ou achar de fato ruim, ele mais do que ninguém sabia o quanto ela estava precisando de uma distração. O convite para um "dia das garotas" com as amigas de Ru - que Aryan tinha quase certeza de que se chamavam Ashley e Florence - aconteceu no momento certo.

Então, mesmo quando ela mostrou seus olhos arregalados para dizer sutilmente que não queria ir e que era para ele arranjar uma desculpa, Aryan não hesitou em preparar um prato rápido como agradecimento pela mãe de Ashley aceitar a Rüya.

E como sua tia vivia dizendo, é difícil ser pai. Principalmente quando sua filha parecia querer te estapear enquanto dizia "até amanhã!" com um sorriso no rosto. Aryan não sabia se ria ou se ficava preocupado quando a garota recebeu um beijo na testa e logo entrou no carro, sem devolver.

Balançou a cabeça, era apenas preocupação e naquele momento não estava fazendo bem para ele, pois, por um lado, enquanto estava se martirizando por ter deixado Rüya dormir fora de casa, o outro estava tentando se acalmar em dizer a si mesmo que fez a escolha certa em tentar tirar um pouco do estresse que ela estava passando nestes últimos dias. Ou pelo menos ele estava tentando.

─ Tia... Acorda. ─ Começou a balançar o ombro de sua tia-avó, vendo a mesma se manter imóvel como uma estátua.

Kirby acordou com a movimentação, mas se manteve ainda no colo da mulher, lambendo preguiçosamente a mão de Aryan quando a mesma se aproximava ocasionalmente. E notando como sua tia parecia disposta a dormir por mais algumas horas, Aryan apenas decidiu cobrir as pernas dela e dar um beijo na testa de Margareth, fazendo um último afago na cabeça do corgi.

Por estar sem carro, Aryan decidiu andar até o bar onde ele iria se encontrar com Casey e acabou se encolhendo dentro da própria blusa por ter esquecido seu fone de ouvido. Sendo xingado uma ou duas vezes ao atravessar a rua, ele apenas deu risada na cara de alguns motoristas que mostraram seus dedos do meio e buzinadas longas. Não ficaria surpreso se quem estivesse observando achasse que ele era apenas mais um maluco passeando pelas ruas.

Caminhou por mais alguns minutos, passando em frente a uma loja de eletrônicos e ficou alguns segundos parado em frente a uma TV ligada na vitrine, vendo o noticiário. De um lado, a repórter falava algo extremamente rápido, porém Aryan não ouviria de qualquer jeito pela TV estar no mudo, mas ele conseguia entender a situação apenas vendo o pequeno quadro que se expandiu cobrindo a tela toda.

Um ataque vindo diretamente do píer, eles não sabiam quem estaria causando o alvoroço, porém o Quarteto Fantástico estava pousando nas proximidades para deter o que ou quem fosse. Os passos de Aryan se aceleram, as mãos fechadas em um punho tão forte que tremia e suas pernas implorando por uma cadeira para se sentar. A última coisa que viu ao olhar para trás foi Tocha Humana acenando para o cameraman.

Idiota, arrumou a blusa e tentou relaxar os ombros.

Quando avistou o "Shot-by-Shot" do outro lado da rua, logo atravessou e quase foi atingido por uma caminhonete que estava tentando dar ré. Abriu a porta do bar e logo foi recepcionado pela luz amarelada, as vozes altas e uma música que ele não conseguia distinguir o gênero. Parado entre o monte de mesas e se desviando de possíveis trombadas, Aryan logo avistou Stella no balcão e a mesma ergueu o dedo para uma mesa no canto do bar. Ele ergueu a mão agradecendo e andou na direção que ela apontou.

Segurando uma cerveja com uma mão e o celular na outra, Casey estava usando apenas uma camiseta de banda de tinta falhada e, pelo que Aryan pôde ver, uma calça cargo preta acompanhada de uma bota de trilha. Ele apenas riu ao notar alguns pedaços de terra e de como Stella ficaria puta, fazendo Casey limpar qualquer sujeira que ele tivesse feito antes de sair.

Deu apenas uma batida na mesa e logo viu Casey se assustar, transformando a carranca que se formou em um sorriso gigante e genuíno. Pelo jeito que seu melhor amigo deu risada - sem ele ter dito nada -, Aryan estava se questionando se ele já estava muito bêbado ou apenas teve um dia muito bom. Engraçado como os extremos de Casey eram tão distintos.

Jogou-se contra o estofado, quase caindo em cima do seu amigo, mas o mesmo conseguiu se esquivar a tempo, mas não demorou para Casey se aconchegar contra o ombro de Aryan.

─ Cara, como 'tava sentindo falta disso.

Aryan queria dar risada, não fazia tanto tempo desde a última vez que eles se viram, porém logo se lembrou. Foi um encontro casual no meio da rua, que teve que ser cortado pela agenda cheia de ambos. Então, sim, Casey tinha total direito de sentir falta, pois Aryan também estava com saudades do seu melhor amigo.

─ Como que 'tá o trabalho? ─ Aryan perguntou, roubando a cerveja alheia e dando algumas goladas.

─ Aquelas crianças são os demônios ─ O engasgou veio logo no quarto gole, deixando a cerveja entrar no buraco errado da garganta e Aryan estava entre tossir ou rir ─, eu realmente não entendo como Frank conseguiu cuidar daqueles pirralhos do sexto ano por tanto tempo. Você acredita que eles usaram a corda e amarraram o coitado do Kyle no mastro da bandeira?

─ Crianças são cruéis, cara. ─ Aryan devolveu a cerveja ainda tossindo, mas agora havia um sorriso na boca. Tentou ajeitar seus óculos e acabou sujando sua lente. ─ Quando a Rüya me mostrou alguns tweets feitos pelo pessoal da sala dela, eu fiquei genuinamente inclinado em tirar ela de lá.

─ Papai urso.

─ Não enche o saco.

Empurrou Casey para longe de seu ombro e foi pegar uma bebida para si, não demorando muito para Stella perceber isso e ir em sua direção. O sorriso da mulher foi contagiante e Aryan não hesitou em responder.

─ De sempre? ─ As mãos dela gesticulavam agilmente, mas graças aos anos frequentando o bar, Aryan já entendia o que ela queria falar.

─ Sim... ─ Começou a erguer a mão para responder, mas parou no meio do caminho. ─ Não, eu vou querer uma bebida de morango hoje.

Stella afastou o rosto para trás, como se tivesse acabado de levar um susto, com os olhos brilhando de surpresa. Um sorriso ladino começou a crescer, mas ela logo mascarou e mordiscou a boca, apenas assentindo e andando em direção à prateleira de taças para começar a preparar o drink.

Enquanto esperava, tentou olhar ao redor, procurando alguém interessante, mas quando viu a primeira pessoa loira no recinto, logo desviou o olhar e fechou os olhos com raiva. Quando os abriu, deu de cara com a TV no modo mudo e pendurada na parede, passando o mesmo noticiário que ele viu mais cedo, e ele não conseguiu deixar de ler as legendas.

"... é possível notar que o Quarteto Fantástico está tendo algumas dificuldades para conter o criminoso. Coisa está usando toda sua força para mantê-lo no lugar, juntamente com a Mulher Invisível, que dá apoio com o seu campo de força. Por causa dos poderes igualados entre Coisa e o criminoso, Senhor Fantástico está tentando manter a estrutura do píer estável, e com as partes danificadas, Tocha Humana está-"

Aryan abaixou a cabeça e achou a madeira do balcão mais interessante que qualquer zumbido que estivesse na sua mente. Com uma taça sendo colocada à sua frente, Aryan apenas sorriu pequeno para Stella e seguiu caminho para a mesa.

─ 'Tá preocupado?

Observando o olhar de Casey, ele apenas ergueu os ombros e deu um gole na bebida doce. Tentou relaxar no banco ao responder, mas falhou miseravelmente.

─ É meu chefe, Ace.

─ Ah, isso também. ─ Casey inclinou a garrafa de cerveja. ─ Mas eu 'tava falando de um certo loiro que você disse que até o pau é bonito-

─ Meu Deus... ─ Aryan olhou ao redor, as bochechas queimando a ponto de se sentir sufocado. Quando viu que ninguém prestou atenção, logo se virou para Casey e deu-lhe um tapa atrás da cabeça. ─ Eu, por acaso, fico falando da sua vida sexual por aí, seu idiota?

─ Hey! ─ Casey logo se virou para encarar seu amigo com raiva, mas fechou a boca ao notar o olhar distante de Aryan. ─ Droga... Olha, foi mal. Brincadeira de mal gosto.

Ele não respondeu nada, apenas suspirou e logo desconversou para saber como Sylvia estava. Foi tempo suficiente para Aryan acabar com sua bebida e ainda roubar alguns goles a mais da cerveja quente de Casey. Notando que a embriaguez estava tentando chegar no momento certo, ele pediu licença e se levantou para pegar mais uma bebida.

─ Oi, ─ Sinalizou para Stella e continuou a gesticular, sendo visto de longe. ─ Mais uma taça e uma cerveja-

─ Uma Smirnoff ─ Sentiu o peso nas costas e olhou confuso para Casey, e quanto tentou olhar para a sua bartender favorita e agradecê-la, a mesma se afastou rindo.

─ O que houve? ─ Perguntou, observando o mesmo puxar um banquinho do lado dele e se sentar com um suspiro.

─ Parece que tem um casal em seu primeiro encontro. ─ O suspiro foi mais alto e Aryan não pôde deixar de ficar mais confuso ainda. O que isso tinha a ver com a mesa deles? ─, não tinha nenhuma mesa livre, então deixei eles com a nossa.

Aryan repreendeu a vontade de olhar para a mesa que era deles e quem sabe encarar de forma tão intensa que eles iriam cair fora, pois, por mais que seu amigo mostrasse o grande coração mole que ele tem, Aryan mais do que tudo queria ter um lugar confortável para apagar de tanto beber. Esfregou os olhos e, assim que sua bebida chegou, sorriu contido para Stella e logo se virou para pegar algum banquinho. O problema? Não havia nenhum livre.

Puta merda, Casey, seu filho da p-

─ Ótimo, fiquei sem onde sentar. ─ Mastigou o lábio inferior e fechou os olhos, não deixando seu querido amigo ver ele revirando os olhos. ─ Obrigado, Casey.

─ Senta no meu colo ─ Casey ergueu a mão e puxou sua cerveja do balcão. ─ Não vai ser a primeira vez mesmo.

─ Eu não tô bêbado o suficiente para dizer sim.

Apenas tomou um grande gole, erguendo os olhos para a TV e descobrindo que a notícia sobre o Quarteto Fantástico foi deixada de lado para mostrar a inauguração de um hospital voluntário. Mesmo com sua fala anterior, Aryan relaxou o corpo contra Casey e sentiu o amigo chacoalhar em um riso abafado. Só por essa razão, ele ergueu a mão esquerda e forçou seu dedo do meio contra a bochecha de Ace, fazendo o mesmo dar uma risada genuína alta.

Não soube quando começou a perder as contas, mas ele acreditava estar na sua quarta taça quando escutou alguém entrar pela porta e o bar ficar estranhamente em silêncio. Ele não era do tipo que procurava fofocar, mas assim que Casey se remexeu um pouco e do nada ficou tenso, soltando um "Puta merda" baixinho e tentando transparecer normalidade, Aryan não hesitou em virar o rosto e sentir o aperto de Casey em seu braço firmar.

A bebida doce em sua boca do nada tornou-se amarga e qualquer tipo de efeito que ele estivesse pelo álcool sumiu em segundos. O coração deve ter parado e voltado com força como um trote de cavalo; ele poderia jurar que uma dor de cabeça começou a se formar como um soco.

Uma camiseta de botões simples, uma calça jeans de lavagem escura e cabelos despenteados, moldando seu rosto sorridente com cachos. Assim se resplandecia sua doença crônica: maldito seja Jonathan Storm por ser tão bonito a ponto de fazer um bar inteiro ficar em silêncio. E é claro que ele estava comendo toda a atenção que estava voltada para ele.

─ Já que eu chamei tanto atenção assim ─ Seu tom derramava de uma falsa consolação. Aryan não sabia se queria revirar os olhos ou socá-lo ─, que tal uma rodada inteira por minha conta?

Tentou mudar sua atenção para a borda do balcão, o mesmo pedaço de madeira idiota que Hawkins praticamente tinha se jogado para ter um apoio decente anos atrás quando encontrou o loiro pela primeira vez. Ele estava fazendo a mesma coisa, sentindo a mão tremer e segurando a camisa de Casey inconscientemente.

─ Ok, ok. ─ A mão quente do seu melhor amigo foi o que trouxe ele de volta para a realidade. ─ Acho que já estamos bem por hoje.

─ Não... ─ Eu não quero estragar a sua noite, a nossa noite. Eu não quero deixar Johnny Storm estragar a minha noite. ─ A gente pode arrancar essa rodada de graça dele, não é?

Casey olhou para ele suavemente, um sorriso pequeno na boca e um leve inclinar de cabeça para o lado, como se estivesse dizendo com todas as palavras que ele sabia exatamente o que Aryan estava tentando fazer. E quando ele se ergueu do banquinho e, consequentemente, fez Aryan ficar em pé, ele queria fazer uma pirraça estúpida e obrigar Casey a seguir o jogo.

─ Vamos, a gente pega um fardo de cerveja com a Stella, coloca na conta do loirinho e, então, bebemos na minha casa. Pode ser?

Bufou alto, mas se deixou levar quando Casey o puxou pelo pulso e ficou parado próximo à entrada, esperando ser feito o pedido e torcendo apenas que tudo fosse de acordo com o plano que ele criou na cabeça, consistindo em Aryan sair dali sem ser visto por Johnny e ir dormir no sofá de Casey, sentindo pena de si mesmo.

Mas tudo foi por água abaixo quando, em um relance rápido, quase minúsculo, ele acabou olhando para Johnny Storm. O homem estava no centro do bar, sentado na borda de uma mesa de bilhar enquanto estava rodeado de pessoas que pareciam bombardeá-lo com perguntas e mais perguntas, uma das lâmpadas de teto logo acima de sua cabeça como se fosse a auréola de anjo. Ele ergueu a cabeça para tomar sua cerveja, fazendo assim Aryan observar seu rosto com maior precisão.

Em todo o momento em que Johnny tomou sua bebida, seus olhos estavam fixos em apenas um ponto e esse ponto era Aryan.

Com a língua dormente, Aryan saiu do bar com o coração bombeando forte contra o peito. Sentindo algo esquisito no fundo da garganta, ele escolheu cuspir no asfalto e logo sentiu o gosto. Maldita bebida com gosto de morango.

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