A aventura de Owen -Parte 1

–Yeah! Dia de aventura! –Gritou Owen com todos os pulmões fazendo que alguns pássaros se assustassem e voassem em bando pelo o céu, o som de seus piados temporariamente dominou o ambiente abafando as risadas dos filhotes.

–Aventura! Aventura! –Repetiu Eirian jogando as mãos para o alto.

–Isso não vai dar certo...-Advertiu Daly cruzando os braços e lançando um olhar reprovador para Owen que apenas sorriu amplamente.

–Beorn quer participar de aventura...-Falou baixinho o mais novo do grupo, o lobinho segurava a aba de sua grande camisa nervosamente.

–E Beorn vai participar! –Disse Owen tentando carregar o seu irmãozinho no colo, realmente ele tentou, mas um lobo de 8 anos parece não ter tanta força assim e logo caiu para trás na grama verde. Beorn riu timidamente, mas ele sempre agia desta maneira, era bem mais tímido que Daly.

–Yeah! Aventura!-Continuava a gritar Eirian. O único coelho da família rolou os olhos. Por que era o único racional de seus irmãos?

–Não seja tão chato, Daly! Se divirta! Relaxa! –Owen se levantou, sacudindo pedações de grama de suas calças. Eirian o imitou, mesmo nem estando sujo e Beorn, este começou a chupar o seu dedão e a segurar na barra da camisa de Owen.

–Eu me divertiria se... –Nisso o coelhinho mostrou três dedos, agora era a vez do lobo hiperativo rolar os olhos, sabia que seu irmão iria começar a fazer a "contagem" – Primeiro: não estivéssemos no lado da floresta que nosso pai tinha proibido de irmos. –Um dos três dedos foi abaixado –Segundo: Estamos nesta dita "aventura" sem ao menos contar aos nossos pais! –O ultimo dedo foi abaixado agora – Terceiro: E para que? Caçar insetos? Isso não vale o risco!

–Como não vale o risco? Isso que se trata de uma aventura, Daly! Enfrentar o desconhecido! Isso não te faz ficar curioso! Querer saber mais? Descobrir mais? –Falou Owen com um estranho brilho nos olhos, um brilho que Daly conhecia muito bem... Papa Cedric tinha o mesmo brilho quando estava concentrando em uma invenção ou fazia alguma descoberta. Aquele filhote e seu papa eram mais parecidos do que imaginam.

–Eu gostaria...Digo...Sou um cientista! –Quero ser, pelo menos acrescentou em sua mente. Podia não ter o mesmo brilho "gênio" nos olhos, mas também ansiava por conhecimento – Os cientistas buscam a verdade!

–Ótimo! Se nos metermos em encrenca, todos nós ficaremos de castigo, juntos! –Disse Owen piscando divertido.

–Castigo! –Gritou Eirian, como se aquilo fosse algum grito de guerra.

–Oh! Pelas estrelas... Aonde eu fui me meter? –Resmungou o coelho, já se arrependendo da escolha.

–E não estaremos sozinhos! –Cantarolou o lobo, Daly encarou o irmão, desconfiado. Logo um das moitas próximas começaram a se mexer.

–Beorn com medo...-Choramingou o lobinho, se escondendo atrás de Owen. Eirian também correu para se esconder atrás do irmão.

–Surpresa! –Disse Aubert saltando da moita, Daly conteve o grito, lógico que tinha previsto a chegada do melhor amigo de seu irmão... Obvio...

–Viemos para a aventura! –Disse Alvin, o coelho com a estrela na cabeça, Daly sempre pensou que coelhos deveriam ser mais passivos, mas aquele filhote quebrava todos os estereótipos.

–Oi...-Acenou Arturo, o lobo era quase da mesma altura de Aubert, apesar de ser dois anos mais novo, Daly corou ao vê-lo ali...Talvez aquela aventura idiota não seja tão ruim assim.

–Cadê Erwin e a Emma? –Perguntou Owen olhando para os lados.

–Alguém tinha que ficar para distrair nossos papas. –Informou o lobinho ruivo.

–Sei... Aposto que você não quer que seu coelhinho e sua irmã se machuquem com a nossa aventura. –Provocou Owen.

–Suas aventuras só causam confusões...-Resmungou Aubert, com as bochechas parcialmente coradas.

–Ah é? Então por que veio?

–Eu adoro confusões... –O lobo ruivo deu um meio sorriso e ofereceu a mão para o seu melhor amigo, que a aceitou trocando um forte aperto de mão.

–Esses dois se merecem mesmo.- Disse Daly em um tom reprovador.

–Mas, meio que é divertido... –Acrescentou Arturo agora ao lado do coelhinho que, nervosamente começou a enrolar uma mecha de seu cabelo.

–E por que veio, Arturo? Também gosta de se meter em confusões? –Perguntou em um tom baixinho. Ótimo, tinha regredido em sua timidez? Estava tal qual o Beorn!

–Na verdade, eu vim por que Alvim quis... E bem...Eu sabia que você também estaria aqui. –Confessou sorridente.

–Oh...-Daly deixou que um sorriso amplo de forçasse em seus lábios.

–Então, quem está pronto para a aventura? –Inquiriu Owen.

Todos os filhotes responderam levantando seus braços aos céus, afoitos para enfrentar o desconhecido.

~**~**~

–Veja! –Apontou Alvin para o tronco das grandes árvores, sobre elas se encontravam uma grande quantidade de borboletas de tamanhos e cores variadas. Era quase mágico. Daly realmente ficou maravilhado, não tinha muito interesse em insetos, mas aquilo era bonito.

–Legal, ne? –Disse Owen que tirava um pote de vidro da mochila e rapidamente capturava uma borboleta. Os filhotes mais novos correram para perto dele, querendo ver, afoitos a presa capturada –Aqui tem os melhores insetos!

–Sem dúvida...-Concordou Daly, mas logo algo naquela fala o incomodou –Você fala como já tivesse vindo aqui antes...

–Er...-O lobinho tossiu, disfarçando e olhou relance para Aubert e depois para Arturo –Eu nunca vim aqui antes...Ora, eu sei que é perigoso.

–Lógico. –Concordou Aubert rapidamente, Arturo parecia, no momento, achar o chão muito interessante, pois seus olhos fugiam do olhar sagaz do coelho mais velho.

–Sem falar, que proibido! –Enfatizou Daly.

–Oh! Sim, lógico! – Owen sorriu e enfiou o vidro com o seu inseto na mochila – Proibido... Uma palavra assustadora e poderosa!

Owen! –Reclamou, agora tinha certeza que seu irmão tinha se "aventurado" por aquele lado da floresta e não estivera só.

–Mas, você está aqui conosco, Daly! Não fique tentando dar sermão! Você não é nosso papa! –Resmungou o lobo, claramente chateado ajeitando a mochila em suas costas e reiniciando a caminhada, seguindo para meio de uns troncos caídos.

–Irmão Owen brabo? –Perguntou Beorn puxando as vestes de Daly.

–É... –O coelho sentiu-se meio culpado agora, mas também sabia que estava certo! Não deveriam estar ali... Estavam muito longe da vila dos lobos e ainda mais da sua casa. Não havia muitos lobos naquela região, se algo acontecesse quem iria ajuda-los?

–Nós só viemos aqui uma vez. –Revelou Arturo –Só uma vez.

–Arturo! –Rosnou Aubert –Era segredo!

–Mas... Só acho que devíamos explicar por que fazemos isso! Você já viu a coleção de insetos do Owen?

Daly negou com a cabeça, sabia que seu irmão sempre pegava um inseto aqui e ali, não sabia ao certo o que fazia com eles... Aquilo fez seu coração apertar mais, não sabia de nada sobre o hobbie do seu irmão, eles nasceram praticamente juntos, algumas vezes seus papas até diziam que poderiam ser considerados gêmeos... Por que não sabia que seu irmão gêmeo estava se aventurando ali? Como não sabia daquela coleção de insetos?

–É formidável! –Continuou a falar Arturo –Tem os insetos mais extraordinários e...As vezes levamos plantas também! Owen está meio que classificando...Acho... Organizando...Não sei muito bem...Mas realmente é bonito.

–Verdade...-Concordou Aubert ainda irritado –Mas era o nosso segredo.

–E por que é um segredo? –Inqueriu Daly –E onde fica essa coleção?

–Ninguém leva o Owen a sério... –Respondeu ríspido Aubert –Ele até tentou contar sobre a sua coleção na escola, mas os professores sempre disseram para ele ficar quieto e não atrapalhar a aula... Ele também tentou contar para o papa dele, o tio Cedric, mas ele também não ligou. Mas nós ligamos! Somos os amigos dele!

–Isso...-Concordou Arturo, com as orelhas abaixadas – Nós ajudamos na coleção e temos, tipo, uma base secreta...

Era secreta, já que você revelou tudo!

Daly realmente estava assustado, temia que os dois lobos começassem a brigar ali mesmo, deveria pensar em alguma saída e rápido...

–Beorn quer ajudar na coleção...-Falou o lobinho agora escondido atrás de Daly.

–Eu também! – Alvin levantou a mão, afoito para ser escolhido.

–Owen nunca me falou nada sobre uma base secreta... –Eirian parecia triste, orelhas abaixadas e rabo entre as pernas.

–Ele iria contar... –Assegurou Arturo –Acho que foi por isso que ele quis fazer uma aventura com todos nós participando.

–Ohh...Deve ser isso mesmo...-Concordou Daly –E...Eu também gostaria de ajudar o meu irmão! –Sim, desejava ajuda-lo! Agora sabia que não era o único cientista da família, Owen também era, só que de um jeito diferente... Mas mesmo assim era um cientista!

Aubert parecia menos irritado e até deu um meio sorriso, talvez concordando em dividir o segredo com mais filhotes, contudo a comemoração foi interrompida com o barulho alto de troncos se quebrando. Todos olharam para frente onde um grande tronco caído, cujo caule se inseria dentro da terra formando uma espécie de tunel, agora tinha a entrada obstruída por árvores e pedras que tinham caído de um barranco próximo.

–OWEN! –Daly gritou, desesperado, antes que pudesse correr Aubert e Arturo já estavam na sua frente, prontos para resgatar o amigo.

–Owen! –Chamou o lobo ruivo tentando retirar uma das pedras da entrada, até que consegiu rolar uma para o lado com a ajuda de Arturo, mas havia muitas outras, era inútil.

–Eu estou bem! –Falou uma voz advindo de dentro do túnel –Só meio sujo, mas bem...

–Owen! Você está vendo alguma saída?

–Er... Bem... Não para esse lado, pelo menos.

Para esse lado? Como assim?

–Eu farejo uma corrente de ar, vindo do lado oposto...-Explicou o lobinho –Acho se eu seguir o túnel...

–Não! –Interveio Daly –É perigoso! Fique aí enquanto nós iremos chamar os nossos pais!

–Chuva...-Sussurrou Beorn apontando para o céu, os filhotes mais velhos logo voltaram seus olhos para cima e notaram uma nuvem escura que se aproximava, o som de trovões e relâmpagos se iniciara. Os filhotes menores se encolheram assustados, logo começariam a chorar...

–Droga...-Rosnou Aubert, odiando a situação.

–Vão! Não é seguro ficar na floresta durante uma tempestade! –Mandou Owen.

–Isso vale para você também! –Ralhou Daly.

–Não iremos abandonar você! –Acrescentou Arturo.

–Eu estou seguro dentro do tronco, vocês é que não estão... Vão buscar ajuda!

–N-não...-Daly sentiu lágrimas escorrendo de sua face –Não quero te deixar sozinho...

–Eu estou bem... Vai tudo ficar bem! –Assegurou o lobinho – E eu não estou só, tenho dezenas de insetos na mochila!

–Owen...Isso é serio!

–Vão logo... Os menores vão ficar com medo e podem se machucar! Quanto mais rápido vocês encontrarem nossos pais, mais rápido serei resgatado!

–Ele está certo. –Concordou Arturo.

–Nós iremos voltar...-Prometeu Aubert –Não se mete em mais confusão!

–Vou tentar.

Daly podia imaginar o rosto sorridente do seu irmão, mesmo em uma situação como aquela ele permanecia positivo...

–Eu prometo voltar! –Assegurou Daly, mas sua voz foi abafada por um som de um trovão e o inicio da tempestade.

Eles tinham que sair dali... Tinham que buscar ajuda.

~**~**~

Owen pode ouvir seus amigos se afastado, a tempestade parecia ser forte, ouvia o vento e os trovões... Esperava que todos estivessem bem.

–Isso tudo é culpa sua... –Resmungou olhando para um besouro dourado que segurava na mão, o inseto nada disse, obviamente, em sua defesa –Não devia ter entrado aqui sozinho... –Contudo, ali estava, preso e sozinho.

Olhou para o interior do túnel, uma brisa fria o atingiu subitamente, aquilo significava que teria um fim, não é? Podia sair e encontrar o caminho de volta para casa, iria demorar para os adultos tirarem todo aquele entulho da entrada, talvez fosse a coisa mais inteligente de se fazer.

–Bem... Acho que a minha aventura ainda não acabou. –Disse resoluto, colocou o besouro dourado em seu ombro, estranhamente o inseto não voou –Vou te chamar de...Hum... Popiru! Por que? Não sei...Gosto do som do nome! Popiruuuu! Quer me acompanhar na aventura? Pode fugir se quiser...

O besouro permaneceu no ombro do filhote e isso fez Owen sorrir.

–Parece que somos parceiros, então! Vamos!

O lobo começou a caminhar para o interior do túnel... Rumo ao desconhecido... Sabia que deveria sentir medo, mas na verdade, seu coração palpitava de excitação. O que iria descobrir ao fim do túnel? O desconhecido e o perigo não o assustavam, na verdade o atraiam.

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