13. Mídia

Obviamente, o meu rosto foi parar em diversos jornais em questão de minutos. E um dossiê fora formado sobre o caso amoroso de Ramón Carrera. Fiquei em casa durante um dia inteiro me alimentando das últimas compras. E Luigi não me ligou desde que saiu daqui com a pior notícia que poderia me dar.

A esposa de Ramón fugiu dos paparazzis na rua e dizia não ter noção dos acontecimentos, o que estranhei, sendo sincero, pois todas suas fugas e horas longe de casa era pra se estranhar.

O que mais me deixou agonizado foi a entrevista de Lorenzo ao jornal matinal, justamente por incriminar uma gangue de babys e dizer que ele não tinha nada a ver com pedofilia e muito menos com a morte de Ramón. O que me deixava bastante intrigado. A facilidade que Lorenzo saiu da prisão e a demonstração de fugir da culpa de ter matado o próprio amigo. Assisti todos os canais e não tinha outra notícia que abalasse mais a Itália.

Ramón Carrera morre na companhia de jovem misterioso.

Por Deus não acharam meu endereço, mas creio que isso não demore tanto.

A outra pessoa que veio me visitar foi Luma, ela parecia tão aflita quanto eu, assistimos as reportagens comendo pizza e bebendo vinho.

-Quem você acha que fez isso? - ela perguntou sem tirar os olhos da televisão.

-Pior que eu não sei.

Luma me encarou como quem avalia se alguém esconde segredos, mas nada disse, como sempre. Deitei em sua perna e ela acariciou meus cabelos, aquela tarde estava acabando em mais um dia em que meu estômago estava se revirando de curiosidade.

Quando acordei no chão, Luma já tinha ido embora, e meu celular vibrava ao chegar as mensagens. Era Juan, que por incrível que pareça, tinha sumido da minha mente durante um tempo. Ele me perguntou onde eu estava e o que tinha acontecido na mansão. Não sabia o que responder, sendo assim desliguei o celular e coloquei música alta na caixa de som.

Foi assim durante dois dias consecutivos, até sair o exame do corpo de Ramón comprovando envenenamento.

Eu estava no mesmo bistrô com Giovanni e Juan, nós três estávamos disfarçados com óculos e boné, o que nos levou alguns olhares. Quando chegamos, Giovanni pediu seu habitual zabaglione e nós o imitamos. Ele coloca o jornal na mesa virado para mim.

"Polícia investiga possível esquema envolvendo prostituição de menores".

-Sabe o que querem dizer com isso? - indaga, retoricamente, Giovanni. - Que eles irão chegar na Medusa. E Madalena vai comer nós três vivos.

-Ela já sabe? - pergunta Juan, parecia com medo, era o mais novo de nós.

-Com certeza - responde, impaciente. - E nesse exato momento ela já deve estar mexendo alguns pauzinhos pra apagar nós três.

-Ela não faria isso...

-Faria - eu e Giovanni respondemos Juan ao mesmo tempo.

Um grande silêncio incômodo paira quando o garçom coloca os três zabagliones, ele me olha curioso, mas depois se retira, o que me deixa aflito imaginando se ele me reconheceu e iria espalhar para todos das mesas.

-O que faremos? - pergunto.

-Não faço a menor ideia. Creio que podemos tentar descobrir quem está por trás disso tudo e convencer Madalena que não fizemos nada - explica Giovanni.

-Madalena nunca iria escutar um de nós. Mas uma pessoa vai... - digo e termino de comer o doce.

Atravessei a cidade para chegar na Medusa, estava fechado, mas liguei para Pietro quando estava nos fundos. Ele dormia na boate e com certeza estaria ali. Me atendeu e disse que já estava a caminho.

-O que faz aqui? - ríspido, Pietro abre a porta dando espaço para eu entrar e sair do beco.

Nos sentamos em uma das mesas diversas da boate, que agora vazia, fazia com que nossas vozes ecoasse. Ainda tinha o mesmo cheiro de morango artificial e cigarro, os espelhos pareciam nos encarar ao invés do contrário. Pietro acendeu um  baseado e me passou outro.

-Acredito que você e Madalena possam estar achando que eu tenho algo com isso - começo, ele cruza as pernas e traga mais um pouco. - Mas estamos tão aflitos quanto vocês.

-Estamos?

-Acho que a suspeita se alonga para Juan e Giovanni. Já que eles saíram do Medusa.

-Entendo... - Pietro retira uma arma e aponta para meu rosto. - O que me impede de estourar sua cabeça aqui agora?

Engulo em seco.

-Você fodeu com o Medusa, um trabalho de anos Ângelo... Só pra reafirmar esse seu complexo de príncipe.

-Eu não fiz por mal.

-Cala a boca! O que eu vou fazer depois que sair daqui? Me diz! Virar lanchinho na prisão - ele bate na mesa e segura meu cabelo, me aproximando do seu rosto. - Mas se eu for, você e seus amiguinhos vão comigo. Um a um. Já que não podem ser presos irão morrer.

-Você não percebe?! - tiro a mão dele com raiva. - Juan não terá ninguém, Giovanni já é maior de idade e eu... Eu amava o Ramón. Não tem motivo pra termos o assassinado. E muito menos pra ajudar a fechar o Medusa.

-Essas suas justificativas não servem pra nada quando a polícia for me prender - ele continua.

Não tinha como eu provar nada. Mal sabia se Pietro tinha feito aquilo com Ramón, eu poderia estar inocentando o assassino. Ele tira o baseado da minha mão e começa a fumar os dois, parecia alucinado, como quem tivesse acabado de cheirar cinco carreiras. Arrumava o cabelo em cada dez segundos e mordia a boca na mesna contagem. Seus olhos fundos se tornaram ainda mais, tinha perdido o brilho do azul, e sua mecha branca na cabeça começara a ficar cinza.

-Olha só, Ângelo. Desde que você chegou aqui eu não consigo engolir essa sua carinha de inocente. Sendo assim, me economiza e diz de uma vez se você matou aquele velho. Vai ser no mínimo um sinal de coragem.

-Eu não fiz nada.

-Mas precisa fazer alguma coisa agora. Eles não irão parar até ter sua cabeça há prêmio.

-Eles? - pergunto.

Pietro se levanta e me puxa pelo braço, me levando de volta a porta. -Sim, eles.

Quando abre, dezenas de flashes invadem o meu rosto, sou jogado para fora do Medusa com milhares de repórteres que acampavam ali perto. Os microfones chegam até mim na esperança que eu responda todas as perguntas que me faziam. Eu mal conseguia andar sem que me empurrassem e colocassem as câmeras no meu campo de visão. Comecei a ficar desesperado e sentia uma vontade de gritar e correr, mas isso me deixaria ainda mais patético.
Então continuei pedindo licença e abrindo os braços para afasta-los.

"Como se sente ao destruir uma família?"
"Você matou Ramón pra ficar com o dinheiro?"
"Você gostava dele?"
"Com qual idade entrou na prostituição?"

Continuava pedindo licença e cheguei a escutar um dos repórteres dizendo que estava ao vivo, o que me deixou ainda mais irritado. O país inteiro estava me vendo naquele momento. Eu parei no meio deles, o círculo a minha frente continuava tirando milhares de foto. E apenas os observei. Calmo e quieto. Me imaginando nas televisões de mães de família, nas telas do porteiro ou até mesmo passando no bar. E aquilo me dava uma sensação de poder, de confessar tudo o que eu podia agora.

-Se eu morrer, saibam que a culpa foi da Medusa ou dos homens da Açúcar - digo por fim.

Estava feito a jogada. Agora não podiam encostar em mim. Volto a andar e entro num táxi próximo. Saindo de perto da multidão.

-Você é o... Baby boy... Digo, Ângelo? - pergunta o motorista me olhando no retrovisor.

Pego um chiclete no recipiente junto ao banco do carona e mastigo. -Sim

Ele fica boquiaberto e lhe devolvo um sorriso.

Agora em diante eu tinha a fama que não gostaria, mas arcaria com as consequências. Se eles tinham lançado o dado, o jogo enfim precisava de estratégias frias e precisas, pra que o assassino se revele sem que nenhuma outra pessoa possa morrer. Pois então que comece a caça agora mesmo.

Se eles estão nos olhando, eu estou olhando de volta.

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