CAPÍTULO 8 - ANTES DE TUDO

Era tarde e o expediente já havia terminado. Poucas pessoas continuavam trabalhando nos bastidores do Europe Music Awards.

Babi estava sentada em uma poltrona dentro de uma enorme gaiola dourada cercada por uma selva de celofane, caixas e mais caixas de velas falsas, uma escadaria de monitores e outros cenários diferentes amontoados ao lado do palco principal.

Procurava por passagens para o Brasil no laptop, mas sentia-se desencorajada pelos preços astronômicos. Sua mãe lhe esfolaria via wifi se não aparecesse para o natal, mas não tinha saldo suficiente para a passagem na conta. Essa vida de esperar até o último minuto por promoção de passagens sempre dava problema. Não queria, mas ia ter que pedir dinheiro emprestado.

Com os fones no último volume para afastar o sono e o estresse, aproveitou que estava sozinha para cantar. Com os olhos fechados, massageou o céu da boca com o piercing. Inspirou fundo sentindo o ar vibrar na barriga antes de quebrar o silêncio com um sorriso satisfeito nos lábios.

Quantos cadernos eu perdi... Tentando te encontrar... Quantas vezes eu escrevi... Tentando cantar pra você... O meu coração adormece quando eu ouço você... Os meus dedos se perdem no calor... O meu peito arde quando você vai... Quando você vem, quando você vai.

Cantar sempre lhe aliviava os pensamentos. Estava tão concentrada que só percebeu a presença de Jin quando este se agachou ao seu lado.

— Pelo amor da Deusa! — disse em português derrubando e recuperando o computador na mesma pisada.

Ele usava boné, uma jaqueta branca e vermelha e jeans rasgados nos joelhos. Jin sorriu e disse algo, mas com os fones, o susto e o sono, ela demorou para reagir, o que o fez rir ainda mais. Ele apontou para os fones e esperou pacientemente que ela o ouvisse.

— Você tem uma voz bonita, passarinho. Por isso que tá presa na gaiola?

Confusa e envergonhada, agradeceu o elogio e ignorou a piadinha. Jin havia aparecido do nada algumas horas antes, pedindo para ensaiar um pouco no palco. Babi esperava que ele passasse a coreografia umas três vezes e fosse embora, mas já estava ali há horas repetindo os mesmos movimentos.

— Você já acabou? — ela perguntou enquanto arrumava as coisas na mochila.

— Mais ou menos... Eu continuo errando o ritmo na mesma parte. — disse desanimado. — Você já vai?

— Já passou da hora... — comentou, fechando o zíper do casaco amarelo. — Você precisa de mais alguma coisa?

Jin olhou ao redor com um ar preocupado, como se quisesse enxergar por entre as cadeiras da plateia vazia e escura.

— Hummm... Eu perdi um caderno por aqui mais cedo. — ele explicou. — A capa é preta, mas tem um adesivo... Mais ou menos desse tamanho. — demonstrou com as mãos. — Você poderia me ajudar a procurar?

O suspiro involuntário dado por Babi denunciou a sua pouca vontade em assumir a tarefa.

— As minhas novas letras estão lá. — ele completou mordendo os lábios.

Ela estava cansada, mas como dizer não para uma das principais estrelas da premiação ali a sua frente? Ainda mais jogando sujo com esta história das novas composições.

— Você entende português?

— Não. Por quê? — respondeu surpreso.

— A música que eu cantei falava de cadernos perdidos.

Ele gargalhou com a coincidência. Procuraram pelos cantos do palco, nos corredores, no banheiro, todos os locais por onde ele passou e mais uns outros só para ter a certeza. Nada do caderno.

Babi estranhou que, apesar de dizer ser importante, ele não parecia muito preocupado. Pelo contrário, estava mais interessado em mexer nos adereços e instrumentos de outros artistas que ia encontrando pelo caminho.

— Quem vai se apresentar no seu escritório? — ele perguntou experimentando plumas cor de rosa e cantarolando Watermelon Sugar*.

— Onde? — Babi disse se ajoelhando para ver por baixo de um baú.

— Naquela gaiola. — Jin vestiu um sobretudo e um chapéu de caubói que encontrou pendurados em uma arara no corredor.

— Ah, a MØ. — ela respondeu com um suspiro, se aproximando para apanhar os objetos e levá-los para os devidos lugares.

— Uh, ela vai arrasar na gaiola. — ele comentou com a mão no queixo com ar de aprovação.

— Oh, yeah! — Babi sorriu confiante.

Jin entrou em uma das salas de equipamentos, onde só haviam cabos e maquinários. Um local no qual ela tinha certeza que ele não havia passado nem perto. Mas ele avançou pelos corredores de estantes repletas de extensões e adaptadores, cheio de entusiasmo, como um explorador em busca de um tesouro perdido.

Babi assistiu a cena sentindo a sua energia se esvair. Para ela, não havia nada assim tão fascinante por ali. Depois de um dia cheio, estava exausta e, principalmente, tinha fome. Muita fome.

— Você precisa mesmo desse caderno pra hoje? — ela perguntou olhando no relógio.

— Hum.. De preferência sim. — Jin disse remexendo em uma caixa com controles remotos — Mas tá tarde, né? Você já comeu?

O estômago de Babi respondeu por ela. Roncou alto e claro, para não deixar dúvidas das suas necessidades. Os dois se encararam com os olhos arregalados. Ele surpreendido, ela envergonhada.

— Acho que podemos continuar a busca amanhã. — ele riu. — O que você quer comer?

Jin começou a se dirigir à saída, seguido por Babi que não entendeu se ele a estava convidando para comer ou só perguntando o que ela queria. De qualquer forma, ela tinha planos.

Ouviram alguém se aproximar. Tommy dava passos decididos no corredor com as suas botas de couro vintage, trazendo a mochila de Babi. O moreno de cabeça raspada e barba por fazer estancou à frente da garota, que se sentiu minúscula entre os dois homens de quase um metro e oitenta.

— Amore, você não atende mais o celular, não? Tava te procurando horrores. Bora, que o Tio King tá esperando. — Tommy passou o braço pelos ombros de Bárbara e sussurrou no seu ouvido — Quem é esse?

— Tommy, esse é o Jin, dos BTS e Jin, este é o Tommy, outro produtor aqui do EMA. — apresentou os dois, se desvencilhando do abraço.

O amigo não disfarçou o choque de ver um dos Bangtan Boys ali em pessoa àquela hora acompanhado da produtora. Depois de alguns Uaus, WTFs e "vocês tão se pegando?" sussurrados sem discrição alguma em seu ouvido, Babi finalmente conseguiu voltar sua atenção para o idol.

Pretendia se despedir, mas algo a incomodou. Jin sorriu simpático, no entanto parecia triste e, apesar de muito sutil, o seu olhar estava irrequieto.

— Você gosta de kebab?

Desde os tempos da faculdade que Babi e Tommy frequentavam o Kebab King. Pelo menos uma vez por semana sentavam-se ali para comer e ouvir as histórias do dono da lanchonete, que usava descaradamente a imagem da franquia global para promover o seu negócio.

— Tio King, hoje trouxemos uma visita internacional. — Tommy se debruçou sobre o balcão estendendo os braços para o cozinheiro e apontando para Jin com a cabeça.

— Internacionais somos todos. — o turco barrigudo retrucou.

— Ok, mas nem todos somos celebridades internacionais. — Tommy sussurrou e levou um tapa de Babi.

— Cala a boca, garoto! — ela o repreendeu e continuou — Boa noite, Tio King, esse aqui é o Jin. Você pode caprichar, por favor? A gente tá morrendo de fome.

O telefone dela tocou. Viu Tio King e Jin trocarem um aperto de mão e saiu da lanchonete para atender a chamada. Chin-Sun pediu muitas desculpas por ligar tão tarde, falava rápido e tinha a voz aflita. Explicou que estava tratando de um imprevisto complicado e queria saber se, por acaso, Jin teria passado pela casa de espetáculos.

Babi olhou pela vitrine, Jin conversava animado com Tommy e Tio King, que lhes oferecia ingredientes para degustar e, a cada nova prova, o idol pedia um pouco mais. Ele parecia se sentir melhor, pensou.

— Ele está aqui comigo. — revelou.

Várias emoções passaram pelo outro lado da linha, em especial alívio. Chin-Sun transmitiu a informação em coreano para alguém e, como em um passe de mágica, voltou a falar em um ritmo mais normal. Não, ela não queria falar com ele, apenas saber se estava bem. Babi começou a ficar preocupada, algo soava mal naquela conversa.

— Você tem certeza que não quer falar com ele? — perguntou mais uma vez.

— Tenho sim. Na verdade, não conta que você falou comigo, tá? E eu sei que é pedir demais, mas se você puder, não deixa ele sozinho. — Chin-Sun pediu.

Babi concordou. Era óbvio que algo tinha acontecido e não queria deixar os ânimos se exaltarem de novo. Depois de comer, levaria o idol para o hotel e seguiria para a sua casa descansada.

Mal ela sabia que aquele era só o início da noite.


-----------

Glossário:

Watermelon Sugar - Grande hit de Harry Styles - https://youtu.be/E07s5ZYygMg

MØ - Cantora pop dinamarquesa, mais conhecida no Brasil por sua parceria com Major Lazer | Lean On - https://youtu.be/YqeW9_5kURI

-----------

Oi gente!!

O que vocês acharam desta volta ao passado para saber como a Babi e o Jin já se conheciam, hein? Mas olha, ainda tem muito angu nesse caroço e esse encontro está só começando. Por isso mesmo, hoje vamos de lançamento duplo e você já pode conferir o que vem a seguir no capítulo 9!

Pra quem estiver curioso, a música que a Babi canta se chama CANDURA e é da banda Tuyo. Sugiro fortemente que leiam o capítulo ouvindo a música que está lá comecinho é só dar play.

Se está gostando, não se esqueça de deixar a sua estrelinha e comentar! Eu vou adorar saber sua opinião, palpites e etc.

Beijo grande e até o próximo capítulo.

Ana Laura Cruz

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top