CAPÍTULO 24 - SALA DA LAREIRA

Durante o intervalo para o almoço, Yuna sentou à mesa trazendo os pratos das três amigas enquanto Babi era sufocada pelo abraço apertado de Olívia.

— Eu não sei o que você tem na cabeça. — Babi comentou.

— Tesão no mochi, minha filha. — Olívia respondeu, jogando as tranças para trás.

— Não é disso que eu tô falando, sua maluca. — disse sussurrando — Por que você disse aquilo sobre o Doyun?

— Ué? Você não tinha dito no outro dia que achava ele gostoso?

— Eu também ouvi. — Yuna concordou.

— Ai, eu tava só disfarçando pra tirar vocês do meu pé. — respondeu cabisbaixa. — Principalmente a Sora.

— Então quem é seu crush? Fala pra gente, vai. — Olívia insistiu.

Nova recusa, fazendo-a levar outro abraço esmagador da amiga, desta vez mais parecido a um mata-leão. Para Yuna, ao vê-la tão consternada ao descobrir como Jin tinha sido o seu anjo da guarda noturno, estava claro para onde apontavam os sentimentos dela.

Os sinais estavam todos ali para quem os quisesse ver. Havia passado o dia aérea, esquecendo até de distribuir o cronograma, guiou modelos para os sets errados e trocou a ordem dos menus. Sempre perdida em pensamentos, confusa e irritada por ter acabado de se acertar com Yuna e, na sequência, se desentender logo com Jin.

— Posso me juntar? — Seong-Su se aproximou do grupo. — Vocês aprontaram ontem, hein? Ainda bem que a história não vazou...

— Nem vai vazar, né, Seong-Suzinho? — Olívia fez uma expressão fofa, servindo um copo de suco para o técnico.

— Isso vai depender da nossa amiga aqui. — ele se virou sorridente para Babi.

— Por que eu? — perguntou confusa.

— Você já comprou o que o Yoongi pediu?

Babi se engasgou com a bebida. A promessa feita ao rapper tinha sido esquecida por completo. Como ela teria de ir à cidade de qualquer forma, Seong-Su aproveitou para também requisitar algo pelo seu precioso silêncio. Com os olhos bem apertados, aguardou pelo resto da frase como se uma bomba estivesse prestes a explodir. A enxurrada de pedidos parecia nunca ter fim.

Do outro lado do salão, Jungkook sentia dificuldade em manter a atenção na conversa sobre marcas de acessórios entre Namjoon, J-Hope e duas modelos. Mastigava com o olhar vazio, observando o movimento das pessoas indo e vindo do buffet. Levantou de supetão ao ver Babi se aproximar das sobremesas.

— Barbiiie! O que você vai pegar?

— Eu não devia comer mais nada, sabe? Mas o cheesecake fica me chamando. — disse suspirando.

— Que tal a gente dar uma corrida daqui a pouco pra você aceitar o chamado sem culpa? — ele propôs.

— Não dá, Kookie, tenho missões extra. — comentou com um bico, observando Yoongi e Seong-Su trocando amenidades.

Babi o olhou de lado, pensativa. Por um lado, queria muito acompanhá-lo e esgotar o corpo com o exercício, liberando o estresse. Por outro, queria se livrar o quanto antes das promessas que andava fazendo à torto e à direito.

— E se eu ajudar você com essas missões pra ser mais rápido. — Jungkook perguntou. — Aí você vem comigo?

Enquanto fazia cálculos — tentando decifrar se daria conta de tudo — Jin entrou no salão acompanhado por Ivy. Os dois ainda vestidos com os figurinos em tons terrosos combinados, conversando animadamente.

Vê-los assim a fez pensar que, talvez, fosse só uma questão de tempo para ficarem juntos de verdade. A ruiva não disfarçava o interesse e ele não parecia se incomodar com a ideia. Ainda mais quando ela se apressou em retirar um cílio do rosto dele com a maior naturalidade do mundo. Reunindo todas as suas forçar para evitar o nó na garganta, Babi decidiu se manter ocupada para evitar pensar neles.

— Está bem. Assim que você acabar de gravar, saímos. Mas eu não posso deixar de ir à cidade ainda hoje. — disse determinada.

— Fechado! — Jungkook lhe estendeu a mão e piscou para Yoongi que os observava do meio do salão.

*******

— Eu desisto! — gritou para o diminuto Jungkook que subia a colina se afastando mais e mais do ponto onde ela se encontrava. — Vai sozinho!

Em um instante, ele voltou todo sorridente, saltitando ao seu redor sem perder o ritmo da corrida, enquanto ela se escorava em uma árvore.

— Vamos, Barbie, falta pouco, é só chegar no mirante e voltamos. Bora!

— Eu vou pedir pro Pierre me buscar aqui, com uma maca! Não aguento mais! — respondeu massageando o baço.

— Nem vem! Foi você quem quis aumentar a velocidade pra ganhar tempo e o Pierre já deve estar chegando pra encontrar a gente na estrada. — ele replicou puxando-a em direção ao cume.

— Tô super arrependida dessa ideia de girico. — ela cedeu e voltou a subir pela trilha.

Ao atingir o alto da colina, se permitiu um momento de contemplação. Dali podiam ver parte do complexo onde estavam hospedados, assim como o lago onde havia nadado na noite anterior. Mais ao fundo estava a cidade e a estrada, por onde podiam ver o carro de Pierre se aproximar. Babi gritou para o infinito, comemorando ter chegado ali, sentindo-se no topo do mundo. Jungkook riu e se juntou à celebração. Saltaram e uivaram, felizes pela conquista.

— Hora de voltar! — declarou segurando-o pelos ombros e se preparando para a descida.

— Dá pra descansar um pouco? — ele perguntou parecendo um pouco ansioso, olhando para o celular.

Ela já seguia pelo trilho sem dar atenção à pergunta. Não tinha mais tempo. Precisava encontrar o bendito tteokbokki* por ali, depositando todas as suas esperanças na moda coreana que se alastrava pelo ocidente, espalhando frangos fritos e kimchi* pelas principais cidades europeias.

*******

As três vasilhas de tteokbokki com que desceu do carro precisaram ser buscadas na segunda cidade vizinha, porque na primeira nem sequer sabiam da existência de duas Coreias distintas, quem dirá ter um restaurante típico do país. Em teoria, eram cinco porções, porém a demora na volta os fez ponderar como três seriam mais do que suficientes para matar as vontades de Suga.

Além da comida, trazia uma Barbie Fashionista debaixo do braço. A boneca para a filha era o preço pelo silêncio de Seong-Su. Um preço bastante caro, tendo em conta como a sua chegada com a caixa do brinquedo divertiu os rapazes por minutos que pareceram não ter fim.

— Você já é uma miniatura, mas a sua versão mini tá demais! — Hobi exclamou passando a boneca para Jimin, o qual já encontrara o chão de tanto que gargalhava.

— Tá bom, tá bom. Me deixem levar isto para o Seong-Su... Cadê o Yoongi?

Não sabia de quem fora a ideia, mas se arrependeu de cruzar a porta assim que chegou à sala da lareira. Ali, se viu no centro de um encontro dos Bangtan Boys — mais parecido a uma reunião da máfia — com Suga assumindo muito naturalmente o papel de chefe do bando.

Posicionada em um banco alto no meio da sala, Babi foi rodeada pelos membros, Doyun e Seong-Su, assim como algumas das modelos que, na opinião dela, poderiam muito bem já estar em suas casas. Sentado em uma larga poltrona ao lado da lareira, Suga recebeu a comida com um olhar cobiçoso, servindo-se quase de imediato.

— Estamos conversados, né? — Babi declarou se levantando para sair.

— Você não está esquecendo de nada, não? — Suga interrompeu a refeição para encará-la. Porém não foi o único, J-Hope e Jimin a observavam com igual seriedade.

A promessa borbulhante feita ao redor das garrafas de champanhe vazias no quarto de Jin pesou-lhe na alma. Um violão e um microfone estavam preparados próximo de onde sentava. Além de todos os instrumentos encomendados por ela própria a pedido de Suga.

Sentiu-se oprimida pelos olhares cheios de expectativa. Quis viajar no tempo e estapear a si mesma quando prometeu, tão cheia de confiança alcóolica, ser capaz de impressioná-los.

— Não dá pra gente fazer isso um outro dia? — perguntou, querendo incluir um "quando vocês esquecerem do assunto" na frase.

Sem chance. Os três lembraram-lhe do acordo ser de um show dela durante a estadia na vinícola e aquela era a última noite deles ali. Suspirou resignada. Em uma tentativa de se acalmar, encarou um a um os presentes que a circundavam.

J-Hope e Jimin estavam um em cada lado de Suga, formando a trindade dos enxeridos instigadores daquilo tudo. Doyun e Seong-Su fumavam à janela, conversando com uma modelo loira. Sentados em um sofá se servindo do tteokbokki, Namjoon e Taehyung pareciam se preparar para gravar o aguardado show. Duas modelos morenas cochichavam a um canto, quando Jungkook deu passagem para Olívia, Sora e Yuna entrarem. Elas traziam almofadas e se acomodaram no chão.

— Até vocês? — comentou ofendida.

— Eu não perderia isso por nada! — Olívia declarou apoiando-se na cadeira de Jimin. Sora e Yuna apenas deram de ombros com os polegares levantados, dizendo em uníssono "fighting!", como se ela entendesse o que aquilo queria dizer.

A análise do ambiente não adiantou muito para encontrar a força necessária para enfrentar a humilhação que se seguiria, quando não conseguisse emitir som algum para aquela tão ávida e talentosa plateia.

Era uma cumpridora com a palavra, cheia de orgulho de o fazê-lo sempre. No entanto, seu senso de responsabilidade estava indo de encontro com sua maior fraqueza e não tinha certeza de qual dos dois venceria a batalha.

Posicionou o violão e o microfone a sua frente, sentindo um leve tremor se instalar nos dedos. Algo lhe faltava, mas a espiral de nervosismo lhe envolvia de tal forma a não lhe permitir identificar do que se tratava.

Respirou fundo tentando lembrar a última vez em que tinha se sentido bem ao cantar em um palco. Foca em mim. De súbito, as palavras de Jin lhe vieram à cabeça. Jin! Onde diabos ele estava justo em uma hora daquelas?


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Glossário:

Tteokbokki -  comida popular coreana feita de tteokmyeon (massa de arroz) ou comumente tteokbokki-tteok. Também conhecido como bolo de arroz cozido.

Kimchi - Kimchi são alimentos condimentados típicos da culinária da Coreia, com base em hortaliças. O kimchi, principalmente, é muitas vezes considerado como a "base da alimentação" dos coreanos, podendo ser consumido nas três refeições diárias. (Fonte: Wikipedia)

Fighting - Apesar de ser uma palavra em inglês (tradução: lutando), é uma expressão coreana de encorajamento. Algo como "Força, você consegue!".

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Oi gente!!

Babi caiu na emboscada do Yoongi feito patinho e nem sinal do Jin. Por onde será que ele anda?  Vamos lá ver se a confiança alcóolica retorna ao corpo da nossa protagonista. Se arrependimento matasse...

Se está gostando, não se esqueça de deixar a sua estrelinha! Eu vou adorar saber sua opinião, palpites e etc.

Beijo grande e até o próximo capítulo.

Ana Laura Cruz

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