CAPÍTULO 20 - FAZ DE CONTA
Diversos sets de filmagem foram montados, mas a gravação começaria pela estufa, com os sete reunidos. A seguir, cada um assumiria um cenário diferente com as suas respectivas parceiras de cena, uma modelo para cada e J-Hope saltitava de expectativa.
Todos prontos para entrar em ação e as poses sedutoras feitas por RM para Babi incomodaram Sora. Ela as respondeu com caretas enojadas, mas era a figurinista quem estava cada vez mais azeda diante da intimidade formada por ela e os artistas.
Não era de hoje que tentava se aproximar e nunca imaginaria ter uma conversa tão descontraída com o líder do grupo como a que testemunhava. No entanto, quando as modelos chegaram, viu com satisfação a produtora ficar de lado.
A enorme vinícola e as responsabilidades de Babi fora do set facilitaram o distanciamento. A princípio, o papel de guia aos aposentos e demais áreas de trabalho no espaço lhe agradaram muito. Porém, foi só o grupo de modelos descer da van para a atmosfera mudar.
A elegância dos mais simples movimentos, as sonoras risadas. Era como se acompanhasse um grupo de ninfas modernas bastante cientes dos efeitos que causavam. Não demorou para uma ruiva de cabelos longos e cacheados chamar sua atenção. Enquanto as conduzia ao set, revolvia a memória em busca de uma pista de onde a conhecia.
— Bárbara? É você? — ela perguntou. — Sou eu, Ivy. Você produziu a exposição do Nathan Scott, não foi?
Tudo se encaixava. Ela havia sido modelo de um ensaio fotográfico produzido por Babi anos antes, em Londres. Aquelas sardas bem denunciavam as origens escocesas. Cumprimentou-a, ressaltando a surpresa com a coincidência de estarem as duas ali.
Deixou o encantador grupo na estufa e retornou aos seus afazeres longe das filmagens. No entanto, ao regressar, encontrou um ambiente desconhecido. Ao fim da dança em uníssono, interrompida pelo "corta!" do diretor, os rapazes foram rodeados pelo grupo de belíssimas mulheres com roupas de luxo, soltando gritinhos e aplausos espevitados.
A primeira a avançar, vestindo franjas com pequenas contas de pérolas, foi Ivy. Seu objetivo? Acariciar a orelha de Jin, deixando-o imediatamente vermelho. Babi saiu do prédio furiosa, aquele idiota corava por tudo e por nada. Uma caminhada sem destino certo, algumas folhas a pagar por sua raiva e deu por si diante a um lago escondido entre altas árvores.
O reflexo da água, o som quieto da mata, os raios de sol iluminando a vegetação outonal lhe envolveram como um abraço de mãe. Sentou no píer com os pés na água, deixando-se finalmente voltar à razão. Mais tarde, ao retornar à estufa, já não encontrou a equipe, apenas Yuna e Sora tratando da desmontagem.
— Querem ajuda? — ofereceu-se buscando capas para os equipamentos.
— Você acabou o que tinha pra fazer? — Sora perguntou.
— Todo mundo que tinha pra chegar, já chegou. — deu de ombros.
Olívia entrou chutando um grande balão do cenário, que quicou na parede ao lado de Babi.
— Goooool!! — gritou correndo para abraçar Yuna.
— Que susto! — Yuna exclamou.
— Adorei a cara de vocês! — gargalhou. — Ei! Vocês estão sabendo que vai ter um jantar todo fino hoje à noite?
— Claro, eu tratei dos detalhes. — Babi declarou orgulhosa. — O chef é super famoso, especialmente pelas sobremesas. Não vejo a hora de provar a comida dele!
— Mas tá sabendo que não vai ter lugar pra todo mundo? — Olívia disse com um ar frustrado.
Não ficou sozinha na sua frustração, pois logo em seguida Jaewoo ligou para Babi avisando sobre a mudança de planos. Prioridade para artistas e modelos, implicando na retirada dos staffs do programa. Imediatamente, organizou o jantar da equipe no próprio hotel e o transporte das convidadas especiais para o restaurante.
A expressão tímida de Jin ao ser tocado por Ivy lhe veio à mente, lembrando ainda que os dois sentariam juntos por ela ser sua parceira de cena. Foi a sua vez de chutar o balão, talvez um pouco mais forte do que deveria, fazendo-o se esconder por entre as plantas. Yuna gargalhou.
— Chateada? — Sora perguntou.
— Li críticas incríveis sobre as sobremesas... — disse com um bico.
— Deixa disso. Que tal a gente fazer uma festa do pijama? Regada a champanhe, claro. — Olívia propôs sacudindo os ombros.
Babi suspirou lembrando do conjunto listrado com ovelhinhas que Jin costumava usar.
— Ando cansada de pijamas. — disse caminhando entre as araras de figurinos — Que tal uma festa de gala? — vestiu um blazer florido usado por Jimin e deu uma piscadela para as amigas.
Todas olharam para Sora, esperando sua reação. Mas a figurinista também parecia chateada e assentiu com um gesto exagerado.
— Só temos que ter tudo arrumado quando eles voltarem. — declarou esfregando as mãos.
Olívia saltou correndo por entre os cabides, louca para experimentar o corselet dourado usado por uma das modelos.
Puseram música e buscaram comida e bebida. As garotas pareciam querer experimentar todos os figurinos disponíveis. Olívia pôs as calças de Namjoon para acompanhar o corselet, depois que as de J-Hope não acomodaram as suas curvas, e o blazer cintilante de Jungkook por cima.
Sora vestiu-se dos pés à cabeça com as roupas combinando franjas e paetês de Jin, que lhe ficaram bastante compridas. Foi preciso uma caixa cheia de alfinetes para encurtar as bainhas.
Babi estava determinada a misturar o figurino de Jimin e Tae, mas as plumas e flores não entravam em harmonia. Acabou por usar uma camisa branca com costuras irregulares de Suga, o blazer florido de Jimin e uma saia com fenda de uma das modelos, que precisou enrolar na cintura para ajustar ao seu tamanho.
Yuna se limitou aos acessórios, experimentando uma infinidade de chapéus trazidos especialmente para Jin.
— Ah não, Yunaaa!! Assim não vale. — Olívia protestou enquanto chutava os tênis com estrelas douradas para um canto e calçava as botas. — Você também tem que participar. Bora!
Olívia começou a escolher um modelo para a iluminadora, que abraçou os próprios braços constrangida.
— Não sei, Oli. Acho que essas roupas não cabem em mim. — ela comentou.
— Nada a ver, você viu o estado da Sora? A gente dá um jeitinho.
— Mas não é nada o meu estilo. — insistiu.
Ignorando os apelos, a coreógrafa continuou a busca entre os cabides. Babi se aproximou de Yuna observando-a. Ela tinha os cabelos curtos e costumava alternar entre calças pretas e camufladas, sempre usando moletons e tênis. Nunca a viu maquiada ou com brincos. Babi segurou as mãos de Yuna.
— A gente tá só brincando de faz de conta. Tenho certeza que você vai se divertir se quiser pôr alguma dessas roupas, mas ninguém vai te obrigar. Se você não quiser experimentar, não tem problema. — disse com um sorriso.
— Você sabe que isso pode dar problema, né?
— A gente guarda tudo e ninguém vai ficar sabendo. — Babi disse confiante.
Yuna desviou o olhar para as próprias mãos. Demorou alguns segundos, mas acabou por confessar querer provar a roupa usada pelo par de Suga.
— Eu sabia! — Olívia declarou batendo palmas e percorrendo os vestidos. — Ache-ei!!
Um vestido tubinho azul petróleo com ombreiras foi puxado da arara. Ele era curto na frente e longo atrás com transparência nas costas. Olívia apresentou-o com um movimento pomposo e uma reverência. O zíper não fechou por completo, mas ninguém se importou.
Os aplausos entusiasmados de Babi e Olívia preencheram a estufa, enquanto Yuna desfilava tímida e Sora entornava a garrafa de champanhe, reclamando sem parar o quanto era injusto elas terem de perder o jantar.
— Alors on danse*! — Olívia declarou, aumentando o som.
No cenário pitoresco, dançaram e beberam, registrando seus visuais irreverentes. Sora dormia e Yuna bocejava quando Babi lembrou do lago. Convencê-las a tirar fotos com a luz do luar foi mais fácil do que esperava. Deixaram Sora dormindo e, entre saltos e garrafas, adentraram o caminho até o píer, não sem alguns tropeços e pelo menos um joelho ralado.
O lago era igualmente encantador à noite. O reflexo da lua na água lhe dando um aspecto de paisagem de conto de fadas. Olívia juntou-se ao som dos grilos, cantarolando baixinho, enquanto decidia se molhava os pés.
— O clima esquentou, né? — comentou. — Dá até pra dar um mergulho.
De Yuna para Olívia, Babi lançou um sorriso matreiro nos lábios, revelando um par de calcinha e sutiã de bolinhas por baixo do figurino emprestado e se jogou de uma vez na água, transformando-os em biquíni.
— Uhuuuu!!! — gritou antes de afundar batendo os pés com força para se afastar da margem.
Esperou por companhia, mas acabou com o lago todo para ela. Olívia se divertia atirando pedras em sua direção e, por mais que tivesse vontade, Yuna não reuniu coragem para entrar sem seu maiô.
No centro do lago, flutuava observando a perfeição da lua e a sensação fria a lhe envolver. O vermelho a lhe acompanhar durante o dia se esvaneceu, nada de ruivas ou peles coradas lhe incomodavam agora. Meio ébria e concentrada na lua branca e distante, foi transportada uma vez mais à visão do colo e do pescoço alvos a mover-se com a respiração ofegante de Jin. Sacudiu a lembrança nadando de volta ao píer.
— Garota, no que você tava pensando tão compenetrada? — Olívia perguntou quando se aproximou.
— Que eu devia ter trazido uma toalha. — respondeu se erguendo na margem.
— Sei. — torceu a boca.
Babi jogou algumas gotas na direção das amigas, provocando uma fuga desengonçada.
— Vocês não vão entrar, não? A água tá ótima e nem tá tão frio assim aqui fora. Bora Yuna! A gente ainda deve ter uma meia hora até o pessoal voltar.
Um generoso gole de champanhe a mais foi o incentivo que faltava para Yuna abrir o zíper do vestido com um ar desafiador e confiante. Batendo palmas, Babi se apressou em ajudá-la. No entanto, Olívia tinha outra ideia.
Como em uma coreografia trôpega, juntou as roupas espalhadas pelo chão e correu por entre as árvores. Elas estavam bem cientes que não podiam causar danos às peças, mas isto não impediria as provocações.
O som de vozes as fez parar a bagunça em alerta.
— Na verdade, já ando com saudades da nossa comida... — Yoongi resmungou.
Sem grandes opções de fuga, as três foram flagradas por Seong-Su, Suga e Jin, que caminhavam com tranquilidade em direção ao píer.
A cena que eles encontraram era, no mínimo, curiosa. Olívia trepada em uma árvore segurando um molho de roupas, Babi encharcada vestida apenas com roupas íntimas saltando em direção à ela e Yuna semi despida, tentando se esconder por trás de um arbusto.
Seong-Su ficou embasbacado e sem reação, balbuciando um pedido de desculpas. Jin corou como nunca reparando a pouca roupa transparente de Babi. Tirou o casaco e avançou para oferecê-lo quando Suga exclamou apontando para Yuna.
— Uou, eu conheço esse vestido!
Vergonha, desonra... Yuna não saberia dizer qual das duas pesava mais naquele momento. Em desespero, saiu correndo pelo caminho de volta. Ao passar pelos idols, esbarrou em Jin, que tentava pará-la.
Levou alguns segundos para todos perceberem que ele não estava voltando à superfície, depois de se desequilibrar e cair no lago.
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Glossário:
Alors on danse - "Então, a gente dança" em francês. Título da música de Stromae indicada no início do capítulo.
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Oi gente!!
Dessa vez foram as meninas que aprontaram e eu me diverti muito construindo toda essa galhofa! Nada como uma boa ciumeira pra incentivar o espírito transgressor, hehe. E, no fim, acabou sobrando pro coitado do Jin que não tinha nada a ver com a história! Quer dizer, que ele saiba... Vamos ver como que a Babi vai resolver essa confusão toda.
Além disso, como estamos chegando mais perto do fim do que do início da história, vou dividir algumas curiosidades com vocês 😁
Começamos pelo nome da protagonista.
Babi foi escolhido para combinar com o título do livro. Porque o título foi das primeiras coisas a ser decidido, logo após definir o tema de staff e que Jin seria o segundo protagonista, com mais destaque dentre os meninos.
Se está gostando, não se esqueça de deixar a sua estrelinha! Eu vou adorar saber sua opinião, palpites e etc.
Beijo grande e até o próximo capítulo.
Ana Laura Cruz
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