CAPÍTULO 16 - SONHOS E MACARONS
Quando Taehyung convidou-os a visitar Babi, Suga avisou que não os acompanharia, em vez disso, iria ao hospital. O rapper tinha certeza de que este gesto seria muito mais apreciado do que qualquer bobagem comprada por ele.
Jin não teve a mesma facilidade de se desvencilhar da visita em grupo. Se todos levariam presentes, não podia aparecer de mãos vazias e, se fosse dar algo, não queria levar qualquer coisa. Afinal, ele era o mais agradecido de todos.
Agora, ali no vestiário, encarava o macaron colorido sendo exibido à sua frente.
— Obrigada. — ela agradeceu. — Este é pra você.
Babi tirou outro doce do bolso e comeram em incômodo silêncio. Até ali, vinha acreditando que Jin não se lembrava de grande parte da noite em que se conheceram. Mas agora, comiam lado a lado, a prova de como não era bem assim.
Jin acordou no escorregador do parquinho com os lábios azuis, mesmo coberto pelo cachecol de Babi. Sentiu o pescoço rígido pela posição desconfortável. Ao abrir os olhos, ainda um pouco grogue, viu um vulto passar. Sentiu a cabeça latejar. Babi passou correndo novamente e tudo girou ao redor dele. Só da terceira vez, ela percebeu os olhos abertos do companheiro.
— Ah, você acordou! Que bom! Vamos?
— Humm... Pra onde? — ele respondeu com a voz embargada.
— Pro hotel. — Babi tentou, recebendo um olhar de reprovação. — Bem, pensei que não... Que tal um lugar mais abrigado? — completou passando a mão na cabeça do rapaz. — Você tá gelado.
— Você tá quentinha... — ele disse aconchegando-se na mão dela.
Ela sorriu, em dúvida se contava ser aquilo resultado das corridas em círculos para se manter acordada. Os lábios de Jin tremeram e Babi juntou as mãos sobre seu rosto. O toque suave lhe trouxe tanto conforto que ele fechou os olhos, aproveitando o carinho.
— Passarinho, você é real mesmo?
— Vamos cuidar dessa bebedeira? — ela respondeu revirando os olhos.
No que tentou se afastar, Jin segurou suas mãos. As lágrimas encontraram com facilidade o caminho até os dedos macios lhe aquecendo as bochechas e Babi sentiu as próprias lágrimas se formarem. Encostou a testa à dele e ficaram assim até o choro silencioso passar.
— Você já deixou algum sonho pra trás? — ele sussurrou.
Sonhos, hein? Há quanto tempo ela não pensava sobre os seus. Mudar para o Reino Unido tinha sido um deles e trabalhar no showbusiness também. No entanto, esses foram os que se realizaram. Além disso, tinham se formado a partir das cinzas de outro muito mais almejado.
— Deixei sim — suspirou — Todo mundo tem algum sonho que fica pra depois, mas esse depois nunca chega, né?
Não quis se prolongar. Como dizer a ele naquele estado que o maior desejo dela tinha sido ser uma cantora famosa como ele?
— Que tal uma refeição quente? Você quer conhecer o meu lar?
Ele concordou enxugando as lágrimas com a camisa, enquanto ela chamava um táxi. Entraram no carro de mãos dadas, Babi apertando-o de leve. Jin sentia que não podia parar. Se o fizesse, voltaria a pensar nos problemas e queria esquecê-los.
Saíram do carro em frente a um pequeno edifício. Ele se dirigiu à entrada para os apartamentos, mas ela o puxou para o pub no térreo com porta de ferro e candelabros escarlate.
— Pra onde você tá me levando? — ele perguntou apreensivo.
— Pro meu lar, já disse.
— Você mora aqui? — disse surpreso.
Uma piscadinha à porta do pub foi a resposta. Recebida com um abraço apertado da senhora sentada à porta e um beijo estalado que deixou marca, Babi estava simplesmente à vontade. Betty — a maior cliente cativa do local — estava ali todas as noites com seus chales de seda, o inconfundível perfume floral francês e o batom vermelho que agora marcava a bochecha de sua querida Bárbara.
Seguiu direto para o balcão, empurrando Jin para um dos bancos. Ao perceber se tratar de um assento giratório, o rapaz não se conteve. Girou inúmeras vezes. Seus olhos se encontrando com os de Babi em cada novo giro. Nova encarada, nova palavra de aviso:
Zum.
— Você.
Zum.
— Vai.
Zum.
— Passar.
Zum.
— Mal.
Ele parou com uma careta, dando-lhe razão.
Para além de Betty, o pub estava praticamente vazio. Um homem dormia encostado à parede e abraçado a uma garrafa de conhaque pela metade. Um casal brindava e uma mulher fumava um cigarro elétrico em frente ao pequeno palco, rindo de alguma coisa vista no celular. Babi olhou de um lado para o outro, suspirou e passou para dentro do balcão.
— Bem, já que não sei por onde anda a bartender deste recinto, o que o senhor deseja? Nada alcóolico, como é óbvio. — disse apontando para Jin.
— Ele, eu não sei, mas eu desejo ver você removendo as suas patinhas do meu balcão! — disse a morena com os olhos amendoados que trazia uma caixa da cozinha.
— Cris!! Finalmente! — Babi exclamou.
Cristiane e Babi dividiram o apartamento logo que se mudaram para Londres e, apesar de agora cada uma ter o seu cantinho, as brasileiras continuavam grandes amigas.
— O que você pensa que está fazendo aí desse lado, pequena? Trate já de se pôr no seu lugar do lado de lá. — Cris disse dando um tapinha no bumbum de Babi. — Cadê meu beijo?
— Você tá muito mandona, pelamor. — reclamou se aproximando para cumprimentar a amiga.
Babi pediu "algo para equilibrar as coisas" entre ela e seu convidado. Não queria nada do menu normal do lugar, foi ali especificamente pela prateleira secreta de Cris. A mineira deu um risinho quando Jin tentou dizer o nome do prato à sua frente.
— Você é um cara sortudo, viu? Não é todo mundo que tem a chance de curar a bebedeira com caldinho de feijão por aqui. Ainda mais feito por uma mineira! — disse com um beijinho no ombro.
— Cheira muito bem. Obrigado, Cris. — agradeceu e completou para Babi — Você conhece todos os donos de restaurante por aqui?
— Não, mas você acha que eu ia te levar em algum lugar sem conhecer bem?
— Bem vindo à Babilândia. — ele comentou rindo da própria piada.
— E você está prestes a conhecer a Babilônia. — Cris disse servindo dois copos de cachaça.
As duas brindaram e viraram a bebida em um gole. Babi se sacudiu, enquanto Cris arfou.
— Acho que eu vou querer mais uma daqui a pouco. — ela disse esfregando as mãos e se virou para Jin — Fica melhorzinho logo, pois agora é você quem vai tomar conta de mim, tá?
O cantor surpreendeu-se. Esperava que ela fosse manter a guarda alta, ficasse irritada ou mesmo com pena dele depois de vê-lo no seu pior. Mas pelo contrário, ela agora parecia ter entrado no espírito de "se deixar levar" que ele vinha emanando desde cedo.
Babi, por sua vez, decidiu lhe dar mais crédito. Depois de tudo o que passaram juntos, sentia como se já o conhecesse há muito tempo e queria ajudá-lo a se sentir melhor.
— É impressão minha ou temos uma celebridade por aqui? — ouviram uma voz grave ao microfone.
— Você disse que ninguém ia me reconhecer — Jin sussurrou nervoso, apertando o braço dela.
Ela sorriu ao ver Neli no palco, virou mais uma dose e sussurrou de volta para ele.
— Não é com você.
Babi assumiu o violão ao lado da mulher alta e loira. Neli cumprimentou-a com um selinho, deixando Jin desconcertado, e divertindo Cris.
— Você não dá selinho nos amigos, não? — ela perguntou.
— Não... — ele respondeu sem graça.
— Betty!! Vem cá, meu amor! — Cris chamou pela senhora à porta. — Temos um newby* pra você!
Jin não lhe deu atenção, estava focado nos ágeis dedos que há pouco secaram-lhe as lágrimas com suavidade e agora dedilhavam as cordas do violão com precisão. Neli tocou a gaita, provocando um largo sorriso em Babi. Era a sua deixa para começar. A voz encantadora chegou aos ouvidos dele, lhe dando mais certeza de que a garota pertencia aos palcos.
Nada além dos instrumentos e da voz suave podiam ser ouvidos, ele até prendeu a respiração, absorto. Seu coração ficou leve ao notar a felicidade dela ao cantar. Os dois trocaram um olhar cúmplice quando a canção terminou e ele aplaudiu animado.
Ao começar uma segunda música, agora em francês, um grupo adentrou o pub com estardalhaço. Um tremor se apoderou de Babi, fazendo-a errar os acordes. Nenhum som pôde ser ouvido no microfone, para além da sua respiração pesada. Desviou o olhar para o chão, evitando a plateia. Neli assumiu a canção e ela desceu do palco envergonhada.
Quantas vezes aquilo já teria acontecido? Nem saberia dizer. Chamava aquele palco de lar por ser o único onde se sentia confiante para tocar, porém nunca para grandes grupos de desconhecidos. Incluir Jin ao pequeno círculo de amigos já tinha sido um grande passo. Nunca antes se expôs daquela maneira a alguém que acabara de conhecer.
Procurou pelo olhar dele, ainda acanhada. Qual não foi o seu espanto ao vê-lo receber um beijo demorado e estalado de Betty. Cris gargalhava da situação enquanto levava os cardápios para o grupo recém-chegado. Babi se juntou à risada quando ele conseguiu se desvencilhar da velhinha com os lábios vermelhos.
— Em vez de me salvar, você fica rindo? — ele exclamou.
Nem teve chance de responder porque ela própria levou um selinho demorado da senhora na sequência. Desta vez, era Jin quem gargalhava perguntando para Betty se ela tinha sentido o piercing de Babi. Entre risos e provocações, os dois pintados de batom continuaram a descer o nível da garrafa de cachaça. Por fim, era Babi quem girava no banco com a ajuda de Jin, que lhe dizia:
Zum.
— Você.
Zum.
— Vai.
Zum.
— Vomitar.
Tudo ao ritmo do beatbox que ela produzia.
— Jin, que tal um Gin pra encerrar? Pffff. — Babi gargalhou apoiada à porta de ferro, enquanto ele "regava" uma árvore do outro lado da rua.
— Eu vou encerrar vocês dois em um manicômio, isso sim. Você não tem trabalho amanhã cedo, bonitona? — Cris declarou enquanto trancava a porta do pub. — Bora, eu levo vocês pra casa. Onde você mora, Jin Tonico?
Quase sem perceber, Babi chegou à porta de casa. Chutou as botas à um canto e se jogou no sofá, adormecendo. Acordou com um estrondo na cozinha. Levantou sobressaltada e deu de cara com Jin coberto de iogurte e seus macarons favoritos espalhados pelo chão. Os mesmos que tinha acabado de ganhar e pretendia comer no dia seguinte, após encerrar o trabalho.
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Glossário:
Newby - Novato em inglês.
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Oi gente!!
Chegamos na metade do livro! Nem tô acreditando na recepção tão calorosa que a história está recebendo de vocês. Muito obrigada a todos os queridos leitores que têm caminhado comigo e a Babi nesta jornada.
A música que deixa Jin tão impressionado com o talento de Babi se chama "I Love You" , do trio de mulheres maravilhosas israelenses, HaBanot Nechama. Sugiro que leiam a cena ouvindo a música.
Quero deixar o meu agradecimento especial às minhas queridas betas flor , Sanophia90 e Mari_0451. Também quero agradecer aos leitores maravilhosos que estão acompanhando a história a cada novo capítulo lançado. Vocês são a grande motivação para continuar! Obrigada, Thaislima097, ImagineBTSOfc, klarolie!
Se está gostando, não se esqueça de deixar a sua estrelinha! Eu vou adorar saber sua opinião, palpites e etc.
Beijo grande e até o próximo capítulo.
Ana Laura Cruz
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