CAPÍTULO 14 - SOB ATAQUE
Quando Babi trocou a estação de rádio pela quinta vez, sem quase dar tempo de se entender o que tocava, sem se calar um instante em francês em uma conversa animada e irritante com Pierre, Yoongi praguejou.
— Barbie, se decide! Ou você fala ou ouve música!
— Descuuulpa, Suga. Vou falar mais baixo. — respondeu afastando as mãos do painel do carro.
Uma risadinha escapou de Jin, fazendo-o receber um olhar fulminante pelo espelho retrovisor. Depois disto a brincadeira com as estações de rádio acabou, mas a conversa estava longe de tomar o mesmo rumo.
Para Jin, ela parecia especialmente tagarela. O que seria tão interessante na conversa de Pierre? Ela também não parava de se olhar no espelho. Só podia querer estar bonita para o motorista. Seria esse o motivo daquele batom? Quanta falta de profissionalismo, pensou. Agindo assim na sua frente, ainda por cima!
— Tá meio abafado ou é impressão minha? — Yoongi comentou.
Sem tirar os olhos de Babi, em um movimento automático, Jin abriu a janela. Estava tão distraído pelos lábios vermelhos que não percebeu o vulto parado do lado de fora do carro.
Uma jovem loira, vestindo uma camiseta com Bangtan Boys escrito em letras garrafais, pôs a mão na janela impedindo o vidro de ser levantado. Tinha os olhos verdes úmidos e vidrados. Arfava olhando de Jin para Suga, sem parecer se decidir em quem se fixar. Era visivelmente europeia, mas repetia sem parar como os amava em coreano.
Quando ela estendeu a mão para tocar o rosto de Jin, provocou um susto tão grande que ele foi parar no meio do carro, se batendo nos assentos da frente. Apesar da surpresa, ele conseguiu retomar a compostura e voltou ao seu lugar com a intenção de lidar com a fã e fechar o vidro.
Ao se aproximar, ela agarrou-o pelos cabelos. O hyung ficou sem reação, ainda mais ao ver um estilete se aproximar do rosto.
— Casa comigo! — ela sussurrou.
Jin sentiu a mão firme de Yoongi em seu ombro, mas não podia se virar para o amigo, pelo menos ele estava seguro.
Ela não estava sozinha.
Em um carro cinza ao lado, outras duas garotas, ambas asiáticas, uma delas ao volante, observavam a cena. O sinal abriu e os carros atrás começaram a buzinar. A sasaeng* aproximou o rosto de Jin, cheirando seu cabelo.
— Quero só um pouquinho, só um pouquinho. — disse forçando ainda mais a lâmina para perto da pele alva.
Suga gritou, sentindo-se encurralado, consciente como qualquer movimento seu poderia piorar a situação. Pierre observava tudo pelo retrovisor prendendo a respiração e apertando o volante com força.
Jin respirou fundo tentando controlar o pânico, vasculhando a mente por ideias capazes de livrá-lo da mão que o agarrava com firmeza. De repente, um flash fez o aperto afrouxar.
Babi surgiu por trás do carro apontando o celular para todos os lados sem se importar com o que captava. Tirou inúmeras fotos. Dos carros, do asfalto, dos seus sapatos, das garotas no carro ao lado, do céu, mas principalmente da fã agressora a apontar uma lâmina para Jin. Aproximou-se o suficiente, mas não se atreveria a mexer um músculo vendo-o naquela situação.
Até os seus olhares se cruzarem.
Sem hesitar, Jin puxou a cabeça para trás com violência, permitindo a Babi avançar. Com velocidade, ela desferiu um golpe imobilizando a mão que até então o agarrava. Em seguida, a produtora acertou uma cotovelada no rosto da sasaeng, a levando ao chão.
— Va!!! — Babi gritou e Pierre arrancou com o carro.
O francês aguardava atento por aquele sinal. Os dois perceberam que estavam sendo seguidos desde quando passaram pelo hospital Bichat-Claude Bernard. No entanto, vinham tentando despistar o carro cinza sem alarmar os artistas.
Aproveitando que os coreanos não falavam francês, fingiram uma conversa descontraída enquanto buscavam alternativas de desvio. O que nenhum deles esperava era a janela ser aberta justo quando estavam parados ao lado das perseguidoras.
Yoongi puxou Jin para trás e saltou para fechar a janela. Vendo o carro se afastar do perigo, os dois se puseram de joelhos assistindo Babi ficar cada vez menor. Então viram as outras duas sasaengs saírem do carro e as perderam de vista.
— Você tá dando a volta, né? — Jin perguntou, mesmo sabendo que já poderiam ter feito a curva pelo menos duas vezes.
Pierre não respondeu. Jin tentou abrir o carro, mas ele travou as portas traseiras. O motorista deixou claro que seguiria as ordens recebidas de levá-los para o hotel em segurança. Os punhos de Jin alcançaram o colarinho do francês.
— Você tá maluco? Ela ficou lá sozinha! — gritou desesperado.
— Você quer causar um acidente? — Yoongi interviu sacudindo-o pelos ombros.
— Quem você acha que deu a ordem? — Pierre respondeu.
Babi não tinha tempo a perder. Por mais apavorada que estivesse, agiu por impulso ao ouvir o vidro descer e deu por si frente a frente com a fã armada com a lâmina. A cotovelada derrubou-a, mas precisava agir antes das outras duas aproximarem-se mais. Aliviada, observou o carro com os idols se afastar depressa e, agora, precisava encontrar uma rota de fuga.
As sasaengs não pareciam oferecer grande perigo no mano a mano, mas ainda eram três contra uma e ela não fazia ideia se teriam outras armas ou reforços em outros carros. Chutou o estilete para longe e o viu ser destroçado por baixo da roda de um táxi. Menos um problema.
— Ei! Vocês estão marcadas! — ela gritou mostrando o celular antes de guardá-lo na pochete presa ao peito.
As duas asiáticas saíram do carro. Dois motoqueiros passaram as xingando e a fã loira lhes respondeu aos gritos. Então, ela era dali, Babi concluiu.
Era hora de fugir.
Não tinha jeito de atravessar a rua e, para chegar na calçada, precisava passar pelas três. Chutou a menorzinha das asiáticas no estômago, a jogando contra a porta aberta do carro. Assim que ela esbarrou e tropeçou no veículo, Babi empurrou a porta ao seu encontro. Ouviu um baque e gritos quando o ferro acertou a canela da garota.
A francesa caída no chão segurou uma das suas pernas, a derrubando de lado. Urrou de dor quando deu de ombro no asfalto. A fã montou por cima de Babi preparando um soco, mas ao invés de atacar, acabou levando dois socos rápidos na garganta e perdeu o fôlego, rastejando em direção ao carro.
Bárbara se levantou encarando cautelosa a terceira do grupo. A motorista era alta, com os cabelos tingidos de roxo. Usava roupas pretas, uma gargantilha pontiaguda e uma maquiagem carregada. Porém sua atenção foi toda para o pedaço de cano que ela segurava com as duas mãos.
Apesar da aparência mais ameaçadora, ironicamente, era também quem estava mais se borrando de medo. Logo que seus olhos se cruzaram com os de Babi, jogou o cano para longe e levantou os braços para o alto.
— Boa escolha! — Babi sorriu e correu para a calçada.
Ainda viu as outras duas tentarem lhe perseguir, mas foi em vão. Elas nem se comparam ao Jungkook, pensou. Hoje, talvez, tivesse vencido a corrida contra ele. Toda aquela adrenalina fez-lhe correr muito mais do que alguma vez na vida.
Tentou atravessar o Parc Monceau, mas o portão estava fechado. Seguiu para a estação de metrô mais próxima. Escondeu-se encolhida em um canto entre as bilheterias eletrônicas e a parede.
Seu coração batia com força. Agora dava-se conta das suas ações, o perigo vivido. Enquanto retomava o fôlego, com a cabeça apoiada à parede, lembrou-se das fotos. Teria algo de útil? Tirou o celular da pochete que piscou indicando o fim da bateria.
Sangue pingou sobre a tela.
Babi começou a tremer, sentiu o braço direito arder e a manga da camisa empapar. Era seu. Porém, só havia um momento para aquilo ter acontecido. Não tinha certeza se era a única ferida.
Só precisava fazer uma chamada, só isso. Voltou a ligar o celular, buscou o número de Jin e a luz do telefone apagou. Fechou o punho sobre o aparelho, levantando-se.
Precisava chegar ao hotel o quanto antes.
*******
O quarto de Jin estava tumultuado. Todos os membros reunidos ali, enquanto Jaewoo entrava, fazia perguntas e saía ao telefone. Com uma estreita ante-sala e armários espelhados, o local parecia ainda mais cheio. Guarda-costas foram posicionados no corredor, uma enfermeira foi chamada e uma das cabeleireiras aguardava à porta com seus utensílios.
Jimin ligava para Babi sem parar, mas a chamada não completava. Namjoon procurava por pistas nas notícias e redes sociais com a ajuda de Jungkook. Taehyung trouxe água para Jin sentado na cama encarando o chão com as mãos à testa. Yoongi explicava mais uma vez o ocorrido, desta vez para Hobi, que acabara de chegar.
Na terceira vez que Jaewoo entrou sem novidades, Jin explodiu sua frustração em um travesseiro apoiado à parede. Queria gritar. Como ela tinha feito aquilo? A cada minuto, sentia-se mais culpado.
A tensão crescia e ninguém sabia dizer se ela conhecia o endereço do hotel. Pierre voltou para procurá-la logo após deixar os artistas em segurança, mas ainda não havia dito nada.
Yoongi encostou-se à porta, pensativo. Estava preocupado com Babi, mas também com Jin. As emoções do mais velho estavam à flor da pele e, se continuasse assim, era capaz de se machucar. De repente, ouviram vozes vindas do corredor.
— Pra que andar de carro blindado, se na hora H você abre a merda da janela? — Babi esbravejou à porta.
Depois de se esgueirar por esconderijos e correr até ali, ela tinha uma aparência suja, um pouco trôpega e pálida. A bandana — antes no cabelo — agora enfaixava o braço que protegia o telefone junto ao peito.
Yoongi não poderia estar mais contente em vê-la. Recebeu o abraço da produtora também feliz em vê-lo sem nenhum arranhão. De dentro do quarto, os rapazes vinham ao seu encontro.
Jin continuou onde estava, estático, como se não acreditasse no que via. Ela então caminhou até ele. Estava tão aliviado de vê-la ali que seus olhos se encheram de lágrimas. Ela tocou seu rosto, onde antes a lâmina estivera.
— Tá tudo no lugar, né? Pensei que era seu... O sangue... — ela suspirou. — Seu cabelo tá ridículo...
Entregou-lhe o celular e o movimento fez o lenço se soltar. Ele não deu qualquer importância para o aparelho ao reparar a mancha de sangue na camisa branca.
Enquanto ele gritava por um médico, Babi desmaiou.
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Glossário:
Sasaeng - fã obcecado/a por um ou mais idols.
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Oi gente!!
Ai, que por essa nenhum deles esperava, mas a nossa super-heroína não podia deixar barato ameaçarem justo o rostinho do nosso querido marmanjo-mor, né? Elas mexeram com a staff errada, hehe.
O Jin quase pira de deixar a Babi para trás. Será que agora ele toma vergonha na cara e se resolve com ela?
Se está gostando, não se esqueça de deixar a sua estrelinha! Eu vou adorar saber sua opinião, palpites e etc.
Beijo grande e até o próximo capítulo.
Ana Laura Cruz
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