II

Diversas raças, mágicas ou não, se estabeleceram sobre Azunis, cada qual indo viver junto dos seus. Foi somente numa cidade comercial chamada Nacron, um pouco ao sul do vale gelado, que as raças interagiam livremente, sem se preocupar de fazer negócios com outros seres que normalmente não encontrariam em suas vilas.

Virou até um costume estabelecido de que quando determinado ser completasse uma idade considerada pré-adulta, ele fosse enviado para Nacron para conhecer o que mais o mundo tinha de diferente e que não existia no seu habitat comum.

Esta cidade possuía todos os tipos de comidas, vestuários, armas, poções e, claro, um mercado negro que se formou sob o nariz da guarda de Nacron, comandada pelos orcs. Dizem até que eles faziam de conta que esse comércio ilegal não existia, pois lucravam com isso, mas dar ouvidos a esses boatos só faria que o ódio se alastrasse entre os povos e que uma guerra pudesse surgir e então todos fingiam que essa prática ilegal não acontecia.

Esse foi o maior dos erros que os seres conhecidos cometeram.

Nos ambientes comuns, onde tudo que se comercializava era controlado e seguia as regras para sua manipulação e estocagem, inclusive sendo fiscalizados pelos magos de Rendint, nada de anormal ocorria, mas foram nos porões escuros de uma parte da cidade que todo um mal incontrolável surgiu, cuja sua origem até hoje é desconhecida. Esse mal foi rapidamente batizado de vírus vermelho.

Dentre os seres conhecidos, os mulaqs eram considerados ainda mais fortes que os orcs. Tinham dois longos chifres pontiagudos que saíam em suas cabeças, longas barbas, ombros largos, pés com cascos, e eram os responsáveis pela carga e descarga de tudo que chegava a Nacron, inclusive dos produtos ilegais.

Foi um mulaq conhecido como Thorn o primeiro a se contaminar com o vírus maldito, cujo nome veio da coloração que causava em suas vítimas. Segundo contou ao mago que se consultou, ele havia terminado de descarregar diversas mercadorias num porão escuro, quando sentiu um odor diferente vindo de umas caixas estocadas num canto. Achou que o que estivesse ali podia estar estragado e foi verificar.

O cheiro vinha de um pote quebrado, com um tipo de carne cozida dentro. Thorn era bruto e não fazia cerimônias quanto à sua alimentação, contando vantagens nas tavernas, onde passava para beber a noite, que jamais tivera uma pequena indigestão. Tocou o produto, pegou um naco, o cheiro não estava agradável, mas, mesmo assim, experimentou. Só contou ao mago em segredo, pedindo para que este não falasse para mais ninguém, mas o gosto da carne beirava a podridão e teve que sair correndo dali para vomitar.

Depois que isso aconteceu, voltou e pegou todo o produto estragado e queimou numa fornalha existente para esse fim. Ao voltar a noite, após passar na taverna, reclamou com sua companheira que não estava se sentindo muito bem e foi dormir. Pela manhã estava ardendo em febre e com a face avermelhada, e foi quando o mago curandeiro de Nacron foi chamado.

Depois de ouvir Thorn e tratá-lo com uma poção curativa, que servia para combater qualquer gripinha que aparecia entre os seres, quebrou as regras e solicitou que outros magos fossem fiscalizar o porão citado pelo mulaq. Estes não encontraram mais nenhum vestígio da carne citada e como Thorn havia queimado a possível fonte de onde vinha sua moléstia, decidiram dar o caso por encerrado.

O forte mulaq foi piorando e passou a ter falta de ar. Alguns dias após ficar doente, morreu e foi enterrado pela família. Pouco tempo depois outros seres que tiveram contato com Thorn começaram a adoecer, inclusive o mago que o tratou e a esposa.

Não levou uma semana para que a cidade toda estivesse perdida na doença e os portões de Nacron foram fechados, para que se evitasse que o vírus vermelho escapasse de lá. Contudo, alguns mercadores já haviam entrado e saído da cidade, indo vender seus produtos pelo mundo afora e o mal se espalhou por Azunis numa velocidade surpreendente. Nem mesmo os melhores curandeiros elfos conseguiram deter a praga, que passou por uma mutação e começou a exterminar os contaminados de um dia para o outro. Em pouco tempo o pequeno planeta, quase na sua totalidade, pereceu, pois até as plantas pareciam ser afetadas pelos vírus.

E assim a cinza da morte cobriu o mundo.

728 palavras.

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