23 | 스물세 번째 장
Oi leitor :)
Me desculpem pela demora, me deu um pico de falta de criatividade... errei fui muleque kkk
Caprichei nesse pra compensar, é o maior capítulo que já escrevi, então preparem o coração.
Ahh, e boa leitura!
#azuldameianoite
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- PARK JIMIN -
Quatro dias se passaram desde aquele dia terrível, e era como se eu ainda pudesse ouvir o barulho seco dos disparos ecoando na minha cabeça.
Acordei suando frio e com as costas doloridas, depois de mais uma noite dormindo na poltrona ao lado da cama do Jungkook, no hospital. O silêncio da sala só era interrompido pelo som rítmico dos aparelhos monitorando os sinais vitais dele, e agora, pela minha respiração pesada.
Ontem, ele finalmente passou pela cirurgia para retirar a bala que o atingiu, e, embora os médicos tenham dito que a operação foi um sucesso, a sensação de alívio ainda não tinha chegado pra mim. Eu não conseguia relaxar.
Me levantei devagar, sentindo cada músculo doer, e olhei para ele. Jungkook estava pálido, ainda sedado, com bandagens enroladas ao redor da barriga e costela. Mesmo ali, vulnerável, ele parecia tão forte, como se em qualquer momento fosse abrir os olhos e me dizer que tudo isso foi só um pesadelo. Mas não era, infelizmente foi real.
Passei a mão pelo meu rosto, tentando afastar o cansaço. Queria poder voltar no tempo, estar no lugar dele, impedir o que aconteceu. Ele sempre foi tão cuidadoso, sempre me protegendo, e agora... está aqui por minha culpa.
Ela não faria nada contra ele se eu não existisse nisso.
Me aproximei da cama, peguei a mão dele com delicadeza e segurei firme. O calor da sua pele, mesmo que fraco, ainda estava lá, o que me trazia esperança.
— Você tem que acordar logo, Kookie... — sussurrei, tentando controlar a emoção que queria transbordar. — Eu preciso de você aqui.
Fiquei ali por mais um tempo, observando o peito dele subir e descer devagar, num ritmo constante. Lembrei de todos os momentos que passamos juntos, das risadas, das brigas e das vezes que ele, sem dizer nada, me puxava para perto, como se soubesse que eu precisava disso mais do que qualquer palavra.
O som da porta se abrindo me tirou dos meus pensamentos. A enfermeira entrou com um sorriso gentil, trazendo a bandeja com os medicamentos e verificando os sinais vitais dele. Eu me afastei um pouco, dando espaço, mas sem soltar a mão dele.
— Ele está reagindo bem — disse a enfermeira, tentando me tranquilizar. — Mas a recuperação ainda vai ser lenta. Ele precisa de descanso, e você também.
Eu apenas concordei, sabendo que ela tinha razão, mas sem conseguir imaginar deixar aquele quarto enquanto ele ainda estava ali, inconsciente.
Quando a enfermeira saiu, voltei a me sentar, ainda segurando a mão dele. Eu não sabia o que o futuro reservava, mas de uma coisa eu tinha certeza: não ia sair do lado dele até que ele estivesse bem de novo.
Alguns minutos depois, ouvi batidas leves na porta, seguidas pelo som dela se abrindo devagar. Quando olhei, vi Yoongi entrando. Ele carregava um semblante diferente do que costumava ter, mais introvertido. Parecia que ele não tinha dormido muito bem nos últimos dias, assim como eu.
— Como ele está? — Perguntou em voz baixa, se aproximando da cama do Jungkook.
— Está bem... — respondi, tentando não deixar transparecer o aperto no peito. — A cirurgia foi um sucesso, mas ele ainda não acordou.
Yoongi assentiu, se aproximando mais para observar Jungkook de perto. Ficamos em silêncio por um momento, apenas ouvindo o bip dos aparelhos e a respiração controlada dele.
— Você deveria descansar um pouco, Jimin — disse Yoongi depois de um tempo, quebrando o silêncio. — Eu posso ficar aqui por um tempo, se quiser.
Balancei a cabeça, sem soltar a mão dele.
— Eu não consigo... não agora.
Yoongi suspirou e passou a mão pelos seus cabelos, parecendo entender. Ele puxou uma cadeira e sentou ao meu lado.
— Eu entendo... — Ele continuou olhando para o Jungkook, com a expressão endurecida, exalando preocupação. — Nós vamos atrás da Sohee. Sei que o JK odiaria saber que estou te contando isso, mas chegamos a um ponto em que não há outra forma de agir. Ela ultrapassou todos os limites, e a vida dela foi selada no momento em que tentou matar vocês.
Por mais que eu soubesse que o mais sensato seria simplesmente esquecer tudo e desaparecer juntos, uma parte de mim clamava por vingança. A ideia de deixar Sohee impune me corroía por dentro.
— Eu quero ajudar vocês!
Yoongi me olhou surpreso, os olhos ligeiramente arregalados, como se não acreditasse no que eu estava dizendo.
— O quê? Não, de jeito nenhum. Eu não posso te deixar fazer isso.
— Se você não me deixar ajudar, eu vou atrás dela sozinho — respondi com firmeza, sentindo a determinação crescer dentro de mim. — Sei que ela sempre esteve atrás de mim, então vai ser fácil atrair ela. O Jeon me ensinou a usar armas, e o pouco que aprendi é suficiente.
Yoongi me encarou, o choque lentamente sendo substituído por uma expressão de preocupação e desaprovação.
— Jimin, você não sabe o que está dizendo. Isso não é um jogo, é perigoso demais — ele respondeu, a voz grave, tentando me fazer desistir.
— Eu sei exatamente o que estou fazendo — retruquei, cruzando os braços. — E estou cansado de ficar parado enquanto ela continua solta. Ela quase matou ele, e por minha culpa. Ela tentou acabar com a nossa vida... Você acha que posso simplesmente ignorar isso?
Yoongi respirou fundo, esfregando a nuca, claramente frustrado com a situação.
— Eu entendo o que você está sentindo, mas nós podemos resolver. Se algo acontecer com você, o JK nunca se perdoaria, e o pior, nunca me perdoaria.
— E se eu não fizer nada, nunca vou me perdoar. — Minha voz saiu firme, embora eu sentisse meu coração acelerado.
Yoongi ficou em silêncio por alguns segundos, avaliando minhas palavras e a seriedade no meu olhar. Por fim, ele suspirou.
— Tá certo, mas se você vai fazer isso, vai ser com a nossa ajuda. Não vou deixar você se arriscar sozinho.
— Ok, faremos juntos, e vou ser cuidadoso.
Ele me olhou com uma seriedade que não vi antes. Estava relutante, mas parecia entender que eu não ia ceder. Ele suspirou, apoiando os cotovelos nos joelhos e olhando para o chão por um momento antes de continuar.
— Vamos planejar isso com cuidado. Não quero ninguém agindo por impulso, especialmente você.
Concordei, embora meu coração estivesse a mil. Yoongi precisou ir embora alguns minutos depois, mas prometeu me avisar assim que começassem a planejar algo.
Eu sentei na cadeira novamente e fiquei ao seu lado vendo o tempo passar atraves da janela. A neve caia do lado de fora, e faltavam dois dias para o natal. O pior natal da minha vida.
🫐
Duas horas se passaram, e então o Jungkook finalmente acordou. Ontem, ele também havia despertado, mas precisou ser sedado logo em seguida, já que tinha acabado de sair da cirurgia.
Assim que ele me viu, começou a sorrir sutilmente, e meu coração se aqueceu instantaneamente.
Corri na direção dele e o abracei, envolvendo com todo o carinho que eu tinha guardado. O toque do seu corpo ainda fragilizado, mas tão familiar, fez borboletas no meu estômago voarem loucamente.
— Jimin... — ele murmurou, sua voz ainda rouca, mas a felicidade no olhar era inconfundível.
— Eu tô aqui. — Afastei um pouco para olhar em seus olhos, tentando transmitir toda a força que eu tinha. — Eu estava tão preocupado com você.
Ele tentou se sentar, mas logo franziu a testa, sentindo a dor. O instinto foi imediato, e segurei seu ombro, ajudando ele a se acomodar novamente.
— Calma, não force nada. Você ainda tá se recuperando — eu disse, segurando seu ombro com firmeza.
— Eu preciso sair daqui, preciso te proteger — ele respondeu, a urgência em sua voz se misturando com a fragilidade do seu estado.
Senti meu coração apertar ao ouvir suas palavras. Era tão típico do Jungkook querer assumir o controle de tudo, mesmo quando estava vulnerável.
— Você não pode me proteger se não estiver bem. — A firmeza na minha voz disfarçava a preocupação que sentia. — Você precisa se curar primeiro.
Ele suspirou, claramente frustrado, e eu podia ver a luta interna em seus olhos.
— Eu não posso ficar aqui. Se aquela mulherzinha está à solta, ela pode voltar a atacar a qualquer momento. Não posso deixar que você fique exposto a esse perigo.
— Eu entendo sua preocupação, mas eu tô bem, e seus seguranças estão me protegendo, então fique tranquilo.
Ele fechou os olhos por um momento, como se tentasse a todo custo encontrar conforto nas minhas palavras, confiando nelas.
— Garoto, você não entende... — ele começou, mas eu o interrompi.
— Eu entendo mais do que você pensa. O que adianta você se arriscar se não pode lutar?
Ele respirou fundo, lutando contra a frustração, e eu continuei.
— Yoongi e todos os seus homens já estão montando um plano. Esqueça disso, ok? Pelo menos, por agora. Quero que pense só em nós.
Ele hesitou, com seus olhos examinando o meu rosto. Sua mão, com acessos de soro, se moveu com certa dificuldade até meu rosto, onde começou a fazer um carinho cuidadoso.
— Eu te amo tanto, garoto... Estou tão feliz em ver que você está bem.
Senti um calor no peito ao ouvir suas palavras, uma mistura de amor e preocupação que só ele conseguia expressar.
— Tô bem porque você me salvou. Tem noção da loucura que fez por mim? — respondi.
— Eu faria outras mil vezes.
Eu entrelacei nossos dedos e beijei sua mão tatuada e bonita, apoiando meu rosto nela logo em seguida.
— Não se coloque mais em perigo para me proteger, por favor. O que você fez foi mais do que suficiente. Agora, você precisa se cuidar.
Ele sorriu, um sorriso fraco, mas cheio de amor, com seu polegar acariciando meu rosto ainda mais.
— Eu vou tentar — respondeu ele, sua voz quase um sussurro. — Mas é tão difícil ficar parado quando tudo o que importa na minha vida é você.
Eu me aproximei um pouco mais e dei um beijo delicado nos seus lábios, que agora estavam sem seus piercings, mas continuavam tão gostosos quanto.
— Eu senti tanto medo de te perder... — sussurrei.
Ele fechou os olhos, como se estivesse processando cada palavra. Depois de um momento, abriu os olhos e olhou diretamente para mim, com sua expressão mais calma.
— Eu te amo em um nível que não saberia mais viver uma vida sem você, por isso te protegi. Assim que eu sair daqui, vou fazer tudo que for preciso para garantir que você esteja seguro — afirmou com determinação na voz.
Nesse momento, o médico que estava cuidando do Jungkook retornou ao quarto, e eu precisei sair a pedido dele, para realização de alguns exames. Fiquei na sala de espera, andando de um lado para o outro, com a mente tomada por preocupações.
Quando o médico finalmente apareceu de novo, eu me apressei nos corredores para ir até ele.
— Como ele está, doutor? — perguntei tentando manter a calma, mas sentindo meu coração acelerar.
O médico ajeitou os óculos antes de responder, com uma expressão tranquila.
— A recuperação está indo conforme o esperado. Se continuar assim, Jeon poderá receber alta nos próximos dias. No entanto, ele precisará de repouso absoluto e deve evitar qualquer tipo de esforço físico. O corpo ainda está se recuperando, e qualquer pressão agora pode prejudicar o processo de cura.
Senti um alívio imediato. Saber que ele poderia sair em breve era reconfortante.
— Vou garantir que ele siga todas as orientações, doutor. Sei o quanto ele odeia ficar parado, mas vou cuidar para que ele se esforce para conseguir — assegurei, tentando convencer tanto o médico quanto a mim mesmo.
O médico concordou e esboçou um pequeno sorriso.
— Ótimo. A recuperação vai exigir paciência, tanto dele quanto de sua. E para você ajudar nisso, quero que vá para casa descansar.
— Está tudo bem comigo doutor, não estou cansado.
— Como quer cuidar dele sem cuidar de si mesmo? Eu vou prescrever outro remédio que o Jeon ficará sonolento e acabará dormindo o restante do dia, então aproveite a oportunidade e descanse. Pelo bem de vocês dois.
O médico estava certo.
— Ok, eu farei isso...
Depois de mais algumas instruções, o médico se despediu e voltou para outros atendimentos. Respirei fundo, sentindo o peso da preocupação ainda no peito, mas aliviado por saber que ele estava fora de perigo.
Como não pude retornar ao quarto dele, tive que aceitar que realmente era hora de ir embora e deixar ele descansar. Peguei minhas coisas e, com relutância, fui para meu carro. O caminho de volta parecia mais longo do que o normal, como se cada minuto longe dele aumentasse minha ansiedade de voltar.
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Ao chegar na mansão, a casa me pareceu maior e mais vazia do que nunca. A ausência do Jeon fazia tudo parecer sem vida, como se uma parte essencial do ambiente estivesse faltando.
Passei direto pela sala, ignorando o silêncio sufocante, e fui para o quarto dele. Me joguei na cama, olhando para o teto, mas minha mente estava longe, ainda no hospital, ao lado do meu noivo. Eu sabia que ele era forte, que iria se recuperar, mas o medo de perder ele ainda pesava no fundo da minha mente.
Por mais que eu tentasse me convencer de que estava tudo bem, o pensamento da Sohee ainda rondava meus pensamentos. Ela estava lá fora, e a ameaça que ela representava não tinha desaparecido. Eu precisava resolver isso de uma vez por todas, mas ao mesmo tempo, sabia que não poderia contar isso ao Jungkook. Ele ficaria fora de si, e isso só atrapalharia sua recuperação.
Ainda deitado na cama, escutei o som distante de um carro chegando. Levantei rapidamente e fui até a janela, espiando pela cortina; Era o Hoseok. Ele estacionou e saiu do carro, indo em direção aos seguranças na entrada da mansão. Não pensei duas vezes. Saí do quarto o mais rápido que pude e corri para alcançar ele.
— Hoseok! — chamei, apressado.
Ele parou e se virou, os olhos preocupados me analisando enquanto vinha em minha direção.
— Bom dia, Jimin — ele cumprimentou, a voz baixa mas acolhedora. — Como o JK está?
Eu respirei fundo, tentando manter a calma, embora a ansiedade ainda estivesse evidente em minhas palavras.
— Ele está melhor. A cirurgia correu bem e ele deve receber alta em alguns dias.
— Que bom saber que ele está se recuperando — disse Hoseok, cruzando os braços e lançando um olhar sério para mim. — Mas... eu imagino que você não quer só falar isso comigo, não é?
Concordei com a cabeça, sentindo meu coração acelerar. Apertei os lábios e entrelacei as mãos, tentando disfarçar a ansiedade que borbulhava dentro de mim. Eu sabia que não deveria estar pensando em vingança, não com Jungkook ainda se recuperando e Yoongi planejando algo, mas eu não conseguia deixar de me sentir impotente.
— Pode me treinar mais uma vez no uso das armas? — soltei, de uma vez, antes que minha coragem me abandonasse.
Hoseok franziu a testa, surpreso com o meu pedido. Seus olhos me avaliaram, como se tentasse entender de onde vinha essa súbita urgência.
— Você tem certeza disso? — Ele suspirou, balançando a cabeça. — Não é algo que você precise fazer, nós já estamos cuidando disso.
Eu desviei o olhar por um momento, pensativo. Sabia que eles estavam fazendo o possível, mas não conseguia lidar com a sensação de ser apenas um alvo esperando pela próxima bala.
— Eu preciso estar preparado — insisti, olhando nos olhos dele novamente. — Se algo acontecer, eu não posso ficar parado, esperando que vocês resolvam tudo. Eu quero me proteger e proteger ele também, do jeito que ele faria por mim.
Ele me encarou por mais alguns segundos, e então soltou um suspiro longo e pesado.
— Tudo bem — ele finalmente disse, com uma expressão séria. — Vamos fazer isso agora.
Meu coração disparou no peito, uma mistura de alívio e ansiedade tomou conta de mim enquanto Hoseok se virava para falar com os seguranças. Ele deu instruções rápidas para que alguns deles nos acompanhassem.
— Entre no carro, você vai comigo — disse ele, acenando para que eu o seguisse.
Entramos em silêncio e partimos. O caminho até o campo de tiro foi calmo, mas ele parecia pensar se realmente havia tomado a decisão certa ao me trazer pra fazer isso. O frio do dia era cortante, e as ruas estavam cobertas de gelo, formando uma crosta escorregadia nos cantos.
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Ao chegarmos ao campo de tiro, os seguranças se espalharam ao redor, formando um perímetro de proteção. Hoseok foi até o porta-malas do carro e abriu uma maleta, revelando uma variedade de pistolas e munições organizadas meticulosamente.
— Vamos começar. Quero ver o que você aprendeu da última vez — disse ele, apontando para uma das maletas onde havia uma pistola desmontada.
Eu peguei as peças, respirando fundo enquanto tentava me lembrar de tudo que o Jungkook havia me ensinado antes. Meus dedos estavam um pouco trêmulos devido ao frio e à tensão, mas segurei firme. Coloquei as peças no lugar uma por uma, montando a pistola com cuidado. Hoseok observava em silêncio, seus olhos atentos a cada movimento meu.
— Certo — ele disse assim que terminei. — Você montou perfeitamente bem. Agora vamos ver como você se sai na prática.
Ele apontou para um alvo posicionado à frente. O campo de tiro era amplo e isolado. O chão, que antes era de terra, agora estava com neve acumulada, que refletia o brilho do sol fraco da tarde. Os seguranças mantinham a distância, mas era impossível não sentir o peso de seus olhares.
— Não esqueça de respirar de forma padronizada, se concentre e mantenha a mão firme — instruiu Hoseok.
— Ok.
Levantei a arma, tentando controlar a ansiedade que corria nas minhas veias. Eu podia ouvir meu coração batendo no fundo da minha mente enquanto mirava no alvo à frente. Disparei o primeiro tiro, que passou pelo lado do alvo. Hoseok não disse nada, apenas observava. Respirei fundo de novo, ajustei a postura, carreguei e disparei mais uma vez. Dessa vez, acertei no braço do alvo.
— Um pouco melhor — disse ele. — Mas precisa ser mais preciso, igual da última vez em que viemos aqui. Continue.
Eu continuei atirando, ajustando cada disparo enquanto Hoseok me corrigia e dava mais dicas de postura e controle.
Ao fim do nosso treino, eu estava ofegante por causa do frio, mas uma sensação de satisfação tomava conta de mim. Hoseok olhou para os alvos, avaliando meu desempenho. Alguns acertos, algumas falhas, mas o importante era que eu havia melhorado.
— Você fez um bom progresso, Jimin — disse ele, com um leve sorriso de aprovação.
— Obrigado. Quero melhorar o mais rápido possível — respondi, determinado.
— O Yoongi me avisou sobre seu interesse em fazer parte da captura da Sohee. Não acho que você deva fazer algo assim — ele falou enquanto guardava a pistola que eu havia usado. Seu tom de voz era sério, e pude perceber a preocupação estampada em seu rosto.
— Eu entendo sua preocupação, mas eu não posso ficar parado depois do que ela fez — argumentei, sentindo a frustração crescer dentro de mim.
Hoseok suspirou antes de sua resposta.
— Lidar com pessoas como ela é extremamente perigoso, e você já sabe do que ela é capaz. Te envenenar e atacar o carro foi só uma amostra da insanidade daquela mulher.
— Eu sei, mas isso só me motiva ainda mais. Eu já namorei ela e a conheço como ninguém. Com a minha ajuda, vai ser melhor. Eu já expliquei tudo para o Yoongi, e ele está de acordo. Só me apoie nisso também, por favor.
Ele balançou a cabeça, como se tentasse dissipar a tensão, mas finalmente parecia concordar.
— Se você realmente quer participar, então assim será. Vou alinhar com o Yoongi como faremos. Não faça nada antes de qualquer ordem nossa.
— Ok. Obrigado por confiar em mim.
Agora eu tinha o apoio dos dois de maior confiança do Jungkook, e era exatamente o que eu precisava.
— Vem, vamos voltar.
No caminho de volta, o silêncio do carro era confortável, mas havia uma tensão palpável no ar. Hoseok parecia pensativo, seu olhar fixo na estrada, enquanto eu estava perdido em meus próprios pensamentos. A ideia de vingança contra Sohee queimava em minha mente como uma chama inextinguível. Eu só conseguia pensar em como faria tudo funcionar, em como transformaria minha dor em ação.
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Assim que chegamos, fui envolvido por um aroma delicioso que me recebeu assim que abri a porta. O cheiro de comida caseira tomou conta do ambiente, trazendo uma sensação de conforto imediata. A Sra. Lee apareceu no corredor, seu sorriso caloroso iluminando o rosto.
— Meu menino, preparei um jantar especial pra você — disse ela, sua voz suave e cheia de carinho.
O gesto me pegou de surpresa, e eu sorri de volta, sentindo um calor reconfortante que há tempos não sentia.
— Obrigado, Sra. Lee, eu não comi nada o dia todo.
Ela fez um cafuné rápido no meu cabelo e sorriu ainda mais.
— Então venha, já preparei a mesa — disse, caminhando em direção à sala de jantar.
A mesa estava arrumada com vários pratos que ela sabia que eu gostava, tudo em porções individuais, organizados com cuidado.
— Obrigado por preparar tudo isso. Nem sei por onde começar — brinquei, surpreso com a generosidade.
— Coma com calma, e coma bem. Se você não se alimentar, não vai ter forças pra cuidar do Sr. Jeon — ela respondeu, com um olhar atencioso, mas sério.
— Ok, farei isso — respondi, tentando afastar os pensamentos que me pressionavam.
Ela sorriu com ternura e, em seguida, completou.
— Vou te deixar à vontade. Preciso ir para os outros cômodos continuar minha rotina.
A Sra. Lee se afastou, e eu finalmente me sentei à mesa, encarando os pratos à minha frente.
Enquanto mastigava lentamente, senti o peso dos últimos dias recaindo sobre mim. A comida estava deliciosa, mas a cada garfada, meu pensamento vagava para Jungkook. Onde ele estaria agora? Será que estaria bem se não tivesse me conhecido?
Suspirei e apoiei os cotovelos na mesa, esfregando as têmporas em uma tentativa de afastar a angústia. Terminei o jantar em silêncio, e quando levantei, me senti ainda mais cansado.
Já era noite, e embora ainda fosse cedo, o cansaço pesava sobre mim como uma pedra. Tudo o que eu queria era apagar e esquecer os últimos acontecimentos, mas o sono não vinha. Fiquei rolando de um lado para o outro na cama, incapaz de encontrar qualquer conforto. O travesseiro parecia desconfortável, o lençol quente demais, e meus pensamentos, caóticos.
A raiva e a dor pelo que a Sohee fez se misturavam, criando um redemoinho que me impedia de descansar. Fechei os olhos, na esperança de desligar por alguns segundos, mas minha mente não desligava...
Suspirei pesadamente e me sentei na cama, apoiando o rosto nas mãos. O quarto estava mergulhado em uma penumbra tranquila, mas, dentro de mim, o caos tomava conta de tudo.
Olhei para o relógio ao lado da cama. As horas avançavam devagar, e o silêncio da casa só acentuava a solidão que eu sentia sem ele. O peso de tudo aquilo estava me esmagando.
Eu sabia que ele guardava alguns calmantes por perto. Abri as gavetas da mesinha de cabeceira e, como esperado, lá estavam eles. Um pequeno frasco de comprimidos que prometia silenciar tudo, pelo menos por algumas horas.
Segurei o frasco por um momento, pensativo. Abri o frasco e tomei apenas um, embora o desejo de tomar dois fosse tentador.
Depois de poucos minutos, senti meus músculos relaxarem, como se cada célula do meu corpo estivesse se desligando lentamente. Minhas terminações nervosas, que antes gritavam de exaustão e preocupação, agora estavam em um estado de calma profunda. A tempestade mental, que parecia impossível de cessar, começou a se dissipar, e o peso que eu carregava foi aos poucos sumindo.
Minha mente, antes sobrecarregada de pensamentos, finalmente se silenciou. E com esse silêncio, veio o sono que tanto desejei. Me entreguei à escuridão, finalmente conseguindo o alívio que buscava.
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No dia seguinte.
Acordei com o som insistente do celular vibrando na mesinha ao lado da cama. Atendi ainda sonolento, com os efeitos do calmante, e do outro lado da linha, a voz do médico soou calma e profissional.
— Bom dia, Sr. Park. Estou ligando para informar que o Sr. Jeon receberá alta logo nas primeiras horas do dia. Estamos finalizando os últimos exames, mas ele já está bem o suficiente para ir para casa.
A notícia me pegou de surpresa, e imediatamente pulei da cama, sentindo um turbilhão de emoções me atingir. Meu coração acelerou, uma mistura de alívio e ansiedade tomando conta de mim.
— Que boa notícia, doutor! Obrigado por avisar — respondi, tentando disfarçar o nervosismo na minha voz. — Estou indo agora para o hospital.
Desliguei o telefone, já me movendo rápido para vestir qualquer roupa que estivesse na minha frente. Enquanto colocava a camisa, minha mente girava. O meu amor finalmente voltaria, e eu estava feliz demais em finalmente ter ele de volta.
Corri para a garagem, peguei meu carro e saí rapidamente, a caminho do hospital. As ruas ainda estavam meio desertas naquela hora da manhã, e eu aproveitei para acelerar um pouco mais do que o normal, querendo chegar o mais rápido possível.
Assim que cheguei no grande hospital, corri pelos corredores gelados até o quarto do Jungkook, sentindo meu coração batendo cada vez mais rápido a cada passo. Quando finalmente entrei, o vi sentado na cama, já acordado, com o médico ao seu lado preparando os últimos detalhes para sua alta. A visão dele, ainda pálido mas com uma expressão mais serena, fez uma onda de alívio e emoção me atingir.
Eu não consegui conter o sorriso que surgiu no meu rosto, atravessando o quarto em poucos passos para ficar ao seu lado. Assim que o médico se virou para mim, ele deu as últimas recomendações sobre os cuidados que Jungkook deveria seguir.
— Não se esqueça que você deve evitar esforços físicos, senhor Jeon. — disse o médico, com um olhar firme, enquanto eu ouvia atentamente.
— Ok, doutor. — ele respondeu.
Preparei sua bolsa com o que restava das coisas no quarto e, finalmente, saímos juntos do hospital. Jungkook insistiu muito para sair andando por conta própria, mesmo com minha preocupação. Eu cedi, mas fiquei o tempo todo ao seu lado, pronto para apoiar ele se precisasse... mesmo que ele fosse mais forte que eu.
Assim que entramos no carro, o peso de todos os últimos dias caiu sobre mim. Eu não conseguia mais segurar. Olhei para Jungkook e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, puxei ele em um abraço apertado. As lágrimas que eu vinha segurando por tanto tempo finalmente começaram a cair, silenciosas e pesadas.
— Eu achei que te perderia — sussurrei, minha voz embargada pelo choro, enquanto ele retribuía o abraço, passando a mão de leve pelas minhas costas.
— Eu tô aqui, meu garoto. Não vou a lugar nenhum — ele respondeu baixinho, me apertando um pouco mais forte, sua voz soando como uma promessa, carregada de ternura.
Por um instante, o mundo parecia ter parado ao nosso redor. Todos os medos, a dor e as incertezas desapareceram, e tudo o que restava era a segurança daquele abraço. Apertei meus olhos, tentando conter mais lágrimas, mas foi inútil. Era um alívio tão grande que eu nem sabia como expressar.
— Eu amo você, não me canso de dizer isso — ele repetiu próximo ao meu ouvido, baixinho. Suas mãos traçavam círculos suaves nas minhas costas, e, mesmo exausto, ele tentava me confortar.
Assim que me recompus, liguei o carro e comecei a dirigir, tentando manter o foco na estrada, mesmo com meu coração ainda acelerado.
— Você veio me buscar sozinho? — ele perguntou, depois de um tempo, sua voz soando um pouco mais firme, embora eu soubesse que ainda estava frágil.
— Vim — respondi, tentando não prolongar o assunto.
Ele respirou fundo, nitidamente incomodado com minha resposta.
— Tô te ouvindo reclamar, sabia? — falei, dando uma olhada rápida para ele.
— Você sabe dos perigos, Jimin. Não quero que fique andando sozinho — ele rebateu, sua voz carregada de frustração. — Por que é tão teimoso?
Dei um sorriso leve, ainda focado na direção. Ele me olhou em silêncio por alguns segundos, e eu podia sentir o conflito no ar. Ele entendia o que eu estava sentindo, mas a preocupação dele com a minha segurança sempre falava mais alto.
— Só... tenta ser mais cuidadoso — ele disse, finalmente, soltando um suspiro pesado. — Eu não posso te perder, pirralho.
— Eu prometo que serei — murmurei, sem desviar os olhos da estrada.
Assim que chegamos em casa, praticamente obriguei o Jungkook a deitar na cama, apesar das suas insistências em tentar agir como se estivesse completamente recuperado. Separei suas medicações e levei até ele, sentando ao seu lado para garantir que tomasse tudo direitinho.
— Não estou acostumado a ser cuidado, normalmente, sou eu quem cuida de você — ele disse com um sorriso cansado, enquanto pegava os comprimidos.
— Agora eu sou o chefão dessa casa, então me obedeça, senhor Jeon — retruquei.
Ele riu, uma risada suave e controlada para não piorar as dores que ainda sentia. O som dessa risada, mesmo fraco, trouxe um pouco de alívio ao meu peito.
— Então vou seguir suas ordens direitinho, já que estou ansioso pra melhorar logo e comer você a noite inteira — ele disse com um sorriso malicioso, que fez meu rosto queimar de imediato.
Eu até engasguei com a audácia do comentário, e logo comecei a gargalhar, sem acreditar na safadeza.
— Você não tem jeito, né? Nem se recuperando para de pensar nisso — falei, ainda rindo, enquanto ele me olhava com aquela expressão de quem sabia exatamente o efeito que tinha em mim.
— Culpa sua ser um gostoso. Estou em abstinência do seu sexo...
Mesmo naquele estado, ele conseguia me desarmar completamente, tirando uma risada de mim que, durante dias, não existiu. O peso que eu vinha carregando parecia mais leve com ele ali, mesmo que ainda machucado.
A gente conversou mais um pouco, rindo e trocando provocações como de costume. Mas aos poucos, vi seus olhos começarem a se fechar. O efeito do remédio estava vencendo. Ele tentou resistir, mas não aguentou por muito tempo e acabou dormindo, respirando tranquilamente ao meu lado.
Eu permaneci ali, observando seu rosto, absorvendo cada detalhe, desde a pequena cicatriz na bochecha até a pintinha delicada do queixo, ao lado do lábio inferior. Era como se eu quisesse gravar cada traço dele na minha memória, eternizando aqueles momentos.
Me ajeitei ao seu lado e, depois de muitos abraços, deixei o sono me levar. Algo que nos últimos dias me exigiu calmante para acontecer, agora ocorria naturalmente, apenas por ter ele comigo.
🫐
Acordei com meu celular vibrando no meu bolso. Saí do quarto para atender e vi que era uma ligação do Yoongi. Atendi o mais rápido que pude.
— Tem alguma pista da Sohee? — perguntei, sem rodeios.
— Ei, relaxa. Não liguei pra falar disso — ele respondeu com um tom tranquilo. — Posso dar um pulo aí? Preciso te levar alguns contratos da Sixx.
— Pode, claro — respondi, tentando controlar minha ansiedade.
Assim que desligamos, fui para a cozinha. Abri a geladeira e meus olhos foram direto para uma garrafa gelada de soju. Por um segundo, pensei em beber, sentindo a boca seca, mas sabia que não era o momento. Peguei apenas um copo d'água e me encostei no balcão, esperando.
Pelas janelas dava pra notar o céu quase escuro. O relógio marcava quase 18h, ou seja, eu dormi quase a tarde toda com ele. Mas como recompensa, eu sentia meu corpo leve depois de muito tempo.
Depois de poucos minutos, Yoongi finalmente chegou. Abri a porta e ele entrou na casa sem muita cerimônia, como sempre fazia. Ele olhou ao redor, notando o ambiente silencioso, e depois me encarou com aquele olhar sereno, mas carregado de compreensão.
— Como ele está? — perguntou, andando até a mesa e colocando uma pasta sobre ela.
— Tá bem, agora só precisa repousar e se recuperar... Só não te mando ir ver ele porque tá dormindo. As medicações que ele tem tomado têm esse efeito colateral — respondi.
Yoongi concordou, puxando uma cadeira e se sentando.
— Tudo bem, eu volto para ver ele quando acordar. Aqui, assine para mim, por favor — ele empurrou alguns papéis na minha direção e continuou. — A propósito, conseguimos rastrear o celular de um dos capangas da Sohee.
Ele tocou exatamente no assunto que eu queria ouvir. Enquanto falava, fui assinando várias folhas, tentando me concentrar nas duas coisas ao mesmo tempo.
— O que descobriram? — perguntei, ansioso.
— Há um tempo atrás pegamos dois homens dela, e eles mencionaram que ela estava se escondendo em um armazém portuário, em Incheon. Pelas ligações, conseguimos o endereço exato. Já estou reunindo forças pra agir. Sei que você queria saber disso, por isso estou contando.
— Isso é ótimo! Eu vou junto! — exclamei, me levantando da cadeira.
Yoongi me olhou com uma sobrancelha arqueada.
— Com o JK acordado? Vai ser meio difícil.
— Você me ajuda a inventar alguma coisa — sugeri, já imaginando uma desculpa.
— Você quer que eu minta pra Jeon Jungkook? Eu não fiquei maluco a esse ponto ainda — ele riu, mas sabia que eu estava falando sério.
Eu cruzei os braços, emburrado, tentando pensar em uma solução.
— Quando planejam agir?
— Até amanhã, no máximo — respondeu, mantendo o tom calmo.
— Ok, vou dar um jeito. Confie em mim.
Yoongi riu da minha insistência enquanto juntava os vários papéis, guardando na pasta novamente.
— Ahh, e o que são esses documentos? É algo do meu setor na Sixx?
— Mais ou menos — ele respondeu, sem dar muitos detalhes.
Eu o olhei, confuso.
— Você tá roubando meus bens? Já adianto que não tenho nada. Ah, só um carro.
— Ótimo, meu sonho é ter uma McLaren — ele brincou, nos fazendo rir juntos.
Mas então, minha expressão mudou, ficando mais séria.
— É sério, conta aí, o que são esses documentos? Agora tô preocupado.
Yoongi suspirou e respondeu.
— São os documentos para dar início à transferência de propriedade da Sixx.
Aquelas palavras me pegaram completamente de surpresa. Eu arregalei os olhos e arrumei a postura na cadeira.
— Espera... o que isso quer dizer? — perguntei, confuso, tentando processar o que ele tinha acabado de dizer.
— Você será o novo proprietário da Sixx — Yoongi respondeu com calma, mas aquilo me atingiu como um choque.
— Não, isso... isso não faz sentido... Foi ele quem pediu essa loucura?
Yoongi me olhou com seriedade.
— Ele quer garantir que a empresa fique em boas mãos, caso algo aconteça.
Se ele estivesse acordado, eu já estaria indo até ele para tirar satisfação.
— Ele enlouqueceu... — murmurei, incrédulo.
— Sinceramente, gosto de ver meu amigo louco de amor. A razão dele de viver sempre foi dinheiro e poder, e agora, é você. Te dar a Sixx é o mínimo, comparado a tudo que ele quer te oferecer.
Ouvir aquilo me deixou feliz de uma forma inexplicável, e um sorriso involuntário surgiu no meu rosto, mesmo com toda a loucura que significava.
— Tem como voltar atrás com esses documentos?
— Não. Bem, vou indo. Se lembre de não fazer nada imprudente com relação a Sohee. E, se tiver uma ideia de como fazer isso sem se colocar em perigo, me avise.
— Tá... obrigado.
Yoongi saiu, e eu me joguei no sofá, pensando sobre o que ele contou. Eu e o Jungkook nos conhecemos da pior forma possível, e agora íamos nos casar, e ainda por cima, ele me fez dono da maior empresa que tinha.
— Esse mundo é maluco demais pra minha sanidade...
As coisas estavam mudando rápido, e eu mal conseguia processar tudo. Um dia eu era só um barman, trabalhando pra pagar uma dívida imensa com a faculdade, e no outro, estava prestes a me casar, estudando no instituto dos meus sonhos e ainda ganhando uma multinacional. Olhei para o teto, tentando organizar meus pensamentos.
A luz do lustre, repleto de cristais, brilhava por toda a sala, se destacando no teto alto. As velas no centro da mesa queimavam lentamente, exalando um aroma sutil de laranja, enquanto suas chamas balançavam suavemente com a leve brisa que entrava pelas frestas das janelas.
Perdido nos meus pensamentos, lembrei que faltavam três dias para o natal, e estava aliviado de ter o Jungkook comigo. Como não poderemos sair, fui até a Sra. Lee, que estava na cozinha, e sentei no balcão enquanto a gente conversava sobre o assunto.
— A senhora tem algum familiar?
— Tenho apenas uma irmã, um cunhado e três sobrinhos, mas eles moram no interior.
— Vai passar o natal com eles?
— Acho que não, meu menino. É longe, e a estrada é cansativa.
Eu comecei a pensar nas alternativas.
— A senhora pode ir de helicóptero. Eu vou falar com o Jeon.
Ela soltou uma risada contagiante e, por alguns segundos, manteve um sorriso nostálgico, os olhos perdidos em lembranças.
— O Sr. Jeon nunca foi de comemorar, então eu sempre ficava por aqui e preparava um jantar simples, do jeito que ele pedia. Acho que, este ano, as coisas vão ser diferentes. Ele finalmente terá alguém para comemorar com ele — disse, me lançando um olhar cheio de significado.
Eu sorri, me pegando pensando no que ela disse. Era verdade, esse seria o primeiro Natal em que ele não estaria sozinho. Isso, de alguma forma, me fez sentir um calor no peito.
— Vou fazer o possível pra que ele aproveite como nunca antes — prometi, determinado.
— Tenho certeza que ele vai. E você também, meu menino — ela respondeu, com aquele tom carinhoso que só a Sra. Lee conseguia ter.
Enquanto conversamos sobre o que preparar para o jantar de Natal, a Sra. Lee também preparava uma sopa de algas para o Jungkook. Ele tinha passado a tarde toda dormindo, e ela sabia que ele precisava comer algo leve para se recuperar. Nada melhor do que uma sopa de algas para revigorar alguém debilitado.
— A senhora é um anjo por cuidar tão bem dele — comentei, observando enquanto ela mexia a panela com calma, o cheiro reconfortante da sopa preenchendo a cozinha.
— Ele é como um filho pra mim. E não deixo ninguém ficar sem uma boa refeição por aqui — ela respondeu com um sorriso, continuando a mexer a sopa com destreza.
Pouco tempo depois, subi com a sopa em uma bandeja, acompanhada de um copo de chá gelado. Caminhei com cuidado, tentando não derramar nada. Assim que abri a porta, Jungkook acordou, como se estivesse apenas cochilando. Seus olhos se abriram lentamente, e ele me olhou meio sonolento, mas com um sorriso leve.
— Trouxe algo pra te ajudar a melhorar — disse, me aproximando da cama e colocando a bandeja ao lado dele.
Ele se ajeitou, apoiando nos travesseiros enquanto esfregava os olhos, ainda meio grogue.
— O cheiro tá ótimo — comentou com a voz rouca, olhando para a sopa de algas.
Sorri e entreguei a tigela, observando enquanto ele pegava a colher com cuidado, ainda com aquele jeito meio preguiçoso.
— Como você está se sentindo? — perguntei, sentando na beirada da cama.
— Melhor agora que estou te vendo — ele respondeu com um sorriso fraco, antes de levar a colher à boca.
Meu coração aqueceu com aquelas palavras simples, mas carregadas de carinho. Fiquei ali, observando enquanto ele comia devagar, o rosto ainda pálido, mas visivelmente mais calmo. Até que eu lembrei das assinaturas.
— Por que me deu a Sixx? — fui direto, sem rodeios.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— O Yoon conseguiu pegar suas assinaturas?
— Sim, porque ele me distraiu e eu acabei assinando sem saber. Temos que anular isso. A Sixx é sua, você fez ela ser o que é, não faz sentido me dar uma empresa desse tamanho.
Ele riu baixo, colocando a colher de lado e se ajeitando na cama.
— Eu sabia que você ia reagir assim — comentou, cruzando os braços. — Nós estamos noivos, e assim que eu melhorar, vamos casar. A Sixx seria sua de qualquer jeito, só adiantei as coisas um pouco.
Eu fiquei em silêncio por um momento, tentando processar aquilo. Casar com ele já parecia surreal, mas ser dono de uma empresa gigante era demais pra minha cabeça.
— Mas, eu não sei cuidar nem de mim mesmo, quem dirá de uma multinacional... — falei, meio hesitante.
Ele me olhou com aquele sorriso calmo, mas determinado.
— Você não precisa administrar tudo sozinho. Vou estar do seu lado, sempre. Ok?
Suspirei, me sentando na beira da cama e mantendo um silêncio pensativo. Aquilo era muito mais do que eu esperava quando tudo começou entre a gente.
— Se quiser me retribuir, pode cumprir sua parte no último acordo que fizemos e me dar uma dança particular. Estou com saudade de te ver dançar...
— Sua empresa custa uma dança? — brinquei.
— Não é qualquer dança, é a sua dança. Claro que vale.
— Idiota...
Enquanto eu ria, ele me puxou mais para perto e começou a beijar meu pescoço, como sempre fazia. Mas, ao tentar se mover mais, ele fez uma careta de dor.
— Toma cuidado — alertei, tentando não deixar minha preocupação transparecer tanto.
— Eu não resisto a você — ele respondeu, com aquele tom brincalhão que usava pra disfarçar.
Depois de muita insistência, ele finalmente terminou de comer a sopa. Fui até a cozinha, separei os remédios que ele precisava tomar e voltei para o quarto com eles nas mãos.
— Nem vem, não vou tomar. Não quero dormir agora — ele reclamou.
— Ah, mas vai sim. É uma ordem — disse, tentando manter um tom firme, embora eu já estivesse com vontade de rir.
— Eu sou o mais velho aqui, garoto — ele retrucou, erguendo a sobrancelha.
— Mas eu sou o mais saudável. Vai, toma logo — retruquei, estendendo os remédios.
Ele bufou, mas, mesmo reclamando, pegou os comprimidos e tomou com um gole de água, lançando um olhar desafiador como se dissesse que ainda não tinha se rendido totalmente. Eu apenas sorri, satisfeito..
— Muito bom, agora levanta a língua.
— Eu já tomei — ele respondeu, todo esquentadinho.
— Um, dois... — comecei a contar, brincando.
Ele deu risada e abriu a boca, mostrando a língua, provando que tinha engolido mesmo.
— Ótimo — eu disse, satisfeito.
— Agora vem, deita um pouco aqui comigo — ele falou, se afastando um pouco na cama e batendo de leve com a mão no colchão, me chamando.
Era claro que eu não ia resistir, então me deitei ao lado dele. Ele me puxou para perto, me envolvendo num abraço aconchegante, me encaixando como uma conchinha. E não demorou muito: com o Jungkook fazendo carinho no meu cabelo, o silêncio confortável e a respiração dele se acalmando, uns dez minutos depois o remédio começou a fazer efeito. Logo, ele já estava dormindo profundamente.
Eu não estava com sono, mas fiquei ali por mais um bom tempo, aproveitando o momento, matando a saudade desse abraço que só ele sabia dar. A respiração dele estava calma, e o calor do corpo dele me envolvia de um jeito que trazia uma paz que eu só sentia quando estava assim, com ele. Era o tipo de abraço que me fazia esquecer de tudo lá fora.
🫐
Levantei, me sentindo um pouco enérgico apesar de já ser noite. Decidi ensaiar um pouco no meu quarto. Se ele queria que eu dançasse pra ele, eu faria questão de apresentar a melhor coreografia que seus olhos já viram. Coloquei uma sapatilha e comecei a praticar. Cada movimento tinha que ser perfeito, fluido e expressivo.
Eu sentia meu corpo respondendo com precisão a cada comando, como se a energia reprimida do dia todo estivesse me impulsionando. A música na minha mente guiava meus passos, enquanto eu visualizava cada detalhe do que queria mostrar pra ele.
Por conta do frio, as janelas estavam todas fechadas, mas, enquanto eu dançava, dava pra ver o céu estrelado do lado de fora. Infelizmente, não tinham as auroras boreais incríveis que a gente viu na Noruega, mas o céu ainda era encantador à sua própria maneira. As estrelas pareciam piscar, acompanhando o ritmo dos meus movimentos.
Senti um certo calor preencher o quarto, não só pelo esforço da dança, mas pela lembrança de momentos bons que compartilhamos sob aquele mesmo céu.
Enquanto eu dançava, meu celular, que estava na cama, começou a tocar; era um número desconhecido. Parei imediatamente e, curioso, aceitei a chamada sem dizer nada, mas, assim que a voz do outro lado ecoou, um arrepio percorreu todo o meu corpo.
— Jimin? Querido... sei que está me ouvindo.
A voz suave e ameaçadora de Sohee me congelou no lugar. Mantive o silêncio, mas minha respiração, agora ofegante, denunciava o impacto de ouvir a porra daquela voz.
— Não vai me responder, querido? Ok, tem uma pessoa que quer conversar com você. — A voz dela sumiu, e logo outra voz familiar e fraca encheu meus ouvidos.
— Filho? Filho, nos salve...
Meu coração deu um salto. Era minha mãe.
— Mãe? Onde você está? — perguntei desesperado, minha voz tremendo de angústia. A tensão crescia até que a Sohee retornou à linha.
— Se quiser ver os dois de novo, quero que seja bonzinho, ok?
— Por que está fazendo tudo isso? Eles não têm nada a ver com essa história.
— Eu preciso de uma garantia de que você vai fazer o que eu quero.
— O que você quer comigo, sua desgraçada?
— Olha a falta de respeito comigo, Park! Quer que eu faça esses velhos pagarem pelo seu comportamento infantil?
— Abre a merda da boca logo! — gritei.
— É simples. Quero que se encontre comigo agora, em um endereço que vou te passar. Traga uma mala com o básico, pois quero você comigo. Nós vamos casar e ser felizes com a fortuna do Won. Podemos ter até um filho.
As palavras dela incendiavam minha raiva, fazendo ferver dentro de mim.
— Só pode ser uma brincadeira... você é uma doente, Sohee!
— Ji, meu plano sempre foi esse. Precisei te deixar pra conseguir uma vida melhor pra nós, mas não esperava que, nesse meio tempo, você fosse simplesmente se relacionar com outro homem. E o pior, um assassino que matou o Won. Eu sempre te amei, e você vai ser meu... até meus sogros aqui concordam. Ou quer que eles morram por sua culpa?
Meu coração disparou, e uma onda de desespero me atingiu. Não conseguia entender como alguém poderia ser tão cruel.
— Você não seria louca...
— Quer pegar pra ver? Você não entende, Jimin. Este é o nosso destino. Agora, você tem duas escolhas: vem comigo e garante a segurança deles ou... bem, posso te mandar a cabeça deles dentro de caixas de presentes.
— Como eu pude namorar você por tanto tempo sem perceber que era a porra de uma insana psicopata?
— Amor... O que mais seria? Você me ama. Bem, vou enviar o endereço no seu celular. Tenho capangas por todo lado, portanto, verei se vier acompanhado. Não avise ninguém, nem os seguranças do Jeon, muito menos a polícia. Lembre-se de que a vida deles está nas suas mãos.
Ela desligou, e o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Fiquei paralisado, com o celular tremendo em minha mão, enquanto a fúria e o medo se misturavam dentro de mim, me causando falta de ar. Então, tomei uma decisão que talvez me custasse mais do que eu estava disposto a pagar.
Entrei no quarto em silêncio, onde Jungkook ainda dormia tranquilamente. Ele parecia tão vulnerável ali, e a visão dele só aumentava minha determinação. Sabia que ele guardava armas por toda a casa, e a que eu mais via ele usar estava no quarto. A adrenalina pulsava em minhas veias enquanto revirava o guarda-roupa até achar a pistola.
Minhas mãos tremiam, mas não era apenas por medo; era pela urgência da situação. Eu precisava agir... eu estava cansado de ser apenas protegido.
O que quer que Sohee estivesse planejando, eu não permitiria que ela saísse impune.
Antes de sair do quarto, olhei mais uma vez para Jungkook. Prometi a mim mesmo que não deixaria que nada mais acontecesse a ele. Me aproximei e me inclinei para dar um beijo suave em sua testa, desejando que aquele momento de paz se estendesse por mais tempo.
Com a arma firme nas mãos, escondi nas costas, respirei fundo e fui para a garagem, me esgueirando entre obstáculos para não ser visto pelos seguranças. Peguei um dos carros da casa, sentindo o coração acelerar a cada movimento.
Quando estava prestes a sair pelo portão, um dos seguranças me barrou.
— Sr. Park, precisa de alguma ajuda? — ele perguntou, com um olhar atento.
— Ah, n-não, vou buscar um remédio na farmácia — menti, tentando parecer despreocupado.
— O senhor deve ir acompanhado, já está tarde.
A tensão no ar era intensa. Sabia que não poderia deixar que ele notasse o desespero em meu rosto. Respirei fundo, forçando um sorriso.
— Eu vou e volto logo — assegurei, mantendo um tom calmo na voz, apesar do turbilhão dentro de mim.
O segurança hesitou, seu olhar avaliando minha expressão. Eu me lembrei de Jungkook, da ameaça que pairava sobre nossas vidas, e a urgência me empurrou a agir.
— Olha, não quero incomodar, mas é apenas uma simples receita. Não posso deixar o Jungkook esperando — continuei, tentando apelar para a preocupação dele.
— Está bem... — o segurança finalmente cedeu, mas seu olhar ainda estava cheio de desconfiança. — Apenas tenha cuidado e volte rápido, senhor Park.
Agradeci com um aceno e liguei o motor rapidamente. Assim que pisei no acelerador, segui em direção à estrada. A necessidade de proteger as pessoas que eu amava superava o medo, e eu estava determinado a enfrentar Sohee e colocar um fim em tudo, não importava o que acontecesse.
Conforme dirigia, as ruas pareciam mais vazias, e a cidade passava como um borrão ao meu redor. O endereço que ela me enviou era em um pequeno hostel, fora de Seoul, e cada vez que pensava nas palavras dela, meu estômago revirava. A ideia de ter que encarar Sohee novamente, de lidar com sua insanidade, me deixava inquieto.
🫐
Assim que cheguei no endereço, dois capangas dela se aproximaram. Eles me revistaram de qualquer jeito e, para minha sorte, mal notaram a arma escondida nas minhas costas.
— O que você está fazendo aqui? — um deles perguntou, com uma expressão cheia de desdém.
— Vim ver a Sohee — respondi, tentando manter a voz firme e tranquila.
Um deles trocou um olhar significativo com o outro, como se estivessem avaliando se eu era uma ameaça ou apenas mais um tolo sob o controle dela. Após um momento tenso, um deles se afastou, acenando para que eu entrasse.
— Pode entrar. Ela está te esperando.
Meu coração acelerou enquanto cruzava o limiar do pequeno prédio. A atmosfera era pesada e carregada de tensão, e cada passo que eu dava parecia ecoar em um silêncio ensurdecedor. Eu estava cercado por pessoas que, com certeza, não hesitariam em me machucar se achassem necessário.
A luz fraca do corredor mal iluminava o caminho escuro. As paredes eram sujas e desgastadas, refletindo a decadência que cercava Sohee e suas ações. Segui os seguranças até uma sala no fundo, onde a porta estava entreaberta.
Um deles bateu na porta antes de abrir.
— O universitário está aqui — disse ele, e a tensão no ar aumentou.
A visão de Sohee fez meu estômago se contorcer. Ela estava reclinada em uma cadeira, uma expressão de satisfação no rosto, como se tudo aquilo fosse apenas um jogo para ela.
— Jimin, querido! — exclamou, levantando-se com um sorriso sínico. — Fico tão feliz que você veio.
— Onde estão meus pais? — perguntei, a raiva e a preocupação transparecendo na minha voz.
Ela fez uma pausa, como se estivesse saboreando minha angústia. — Ah, eles? Eles estão bem — disse Sohee, como se isso fosse suficiente para acalmar meu coração. — Mas isso depende de você, meu amor. Vem, sente aqui comigo.
Ela sentou na cama, sinalizando com as mãos para que eu me sentasse ao seu lado, mas permaneci em pé, decidido a não ceder.
— Você me disse que liberaria eles assim que eu viesse! — exigi, a voz tremendo com a mistura de raiva e ansiedade.
— Como você é apressado... — respondeu, com uma calma irritante. Ela virou para os capangas e fez um gesto com as mãos, mandando saírem. Eles obedeceram, e ficou apenas nós dois.
O silêncio que se seguiu era pesado, e a tensão entre nós era quase insuportável. Então, ela ficou em pé novamente e abriu o roupão que estava usando, ficando completamente nua diante de mim. Um frio percorreu minha espinha.
— Por que está desviando? Você não gosta mais de me ver assim? — ela provocou vindo até mim, com confiança transbordando em suas palavras.
— Se afaste de mim! Você realmente enlouqueceu e deveria estar na porra de um hospício! — gritei, minha voz ecoando pelo hostel, a indignação pulsando em cada palavra.
Ela apenas sorriu, como se minha raiva fosse um simples entretenimento. Pegou o roupão novamente e o vestiu, dando um nó no laço com uma calma irritante.
— Já que quer jogar assim... entrem! — ela falou alto.
Assim que deu o comando, a porta se abriu, e os dois homens vieram para cima de mim. Estava perto da saída e tentei pegar a arma, mas mal tive tempo de agir. Entrei em luta corporal com os dois, e, mesmo conseguindo acertar alguns golpes, estava em desvantagem. Eles conseguiram me segurar no chão, imobilizando meus braços.
— Senhora! — um dos capangas gritou, levantando a arma que havia encontrado em meu cinto.
Sohee se abaixou ao meu lado, com o olhar irônico e satisfeito.
— O que você ia fazer com essa arma, querido? Me matar? — Ela começou a rir, uma risada fria e desumana que parecia ecoar em meus ouvidos.
— Me solta, sua vagabunda! Eu estou aqui e fiz o que quis, solte meus pais! — gritei, lutando contra os braços dos homens que me prendiam.
Ela riu ainda mais, com a expressão de divertimento estampada descaradamente em seu rosto.
— Pais? Nunca existiu isso, Jimin... — Sua voz era como veneno, e por um momento eu pausei, a confusão me atingindo.
— Do que você tá falando? — perguntei cerrando os olhos.
— Foi tudo uma armação... — ela disse, com um sorriso malicioso que fazia meu estômago embrulhar. — Você é tão bobinho e inocente que mal se deu ao trabalho de verificar se o que te falei era verdade. E o melhor é que eu sabia que você ficaria tão desesperado por eles a esse ponto. Eu amo essa sua inocência.
As palavras dela eram como facadas. Como eu não cogitei a possibilidade de ser mentira? Meu desespero me cegou e me colocou nessa situação. Agora, com a certeza de que ninguém sabia meu paradeiro, comecei a sentir que era realmente meu fim.
Ela continuava me olhando com uma satisfação doentia, como se minha angústia fosse um espetáculo que ela esperava ansiosamente, como se alimentasse seu ego.
— Você sempre fez tudo que eu queria, e agora não é diferente... — Ela fez uma pausa, apreciando com gosto o impacto de suas palavras. — Sabe qual a melhor parte? Ninguém vai vir te salvar, Jimin, nem aquele mafioso. Você está sozinho, e é meu.
— Eu te desprezo, Sohee — afirmei, com cada palavra sendo liberada com clareza — Tenho nojo de você e de tudo que venha de você. E mesmo assim, você quer continuar com essa merda de obsessão? Você não tem valor algum.
O sorriso dela se desfez, e eu vi uma expressão de ódio se formar com facilidade em seu rosto, o que me deu um pouco de esperança sobre como agir.
— Desprezo? Isso é tão engraçado... — Ela riu, mas havia um tom de veneno em sua voz. — Você acha que pode me ferir com palavras? Você nunca teve poder sobre mim, Jimin. E agora, menos do que nunca.
Aos poucos, uma estratégia começou a se formar em minha mente. Se eu conseguisse soltar ao menos uma das minhas mãos, talvez conseguisse pegar a arma do Jungkook que esqueceram caída no chão.
— Você se acha, mas no fundo, é apenas uma covarde. Você precisa de mim pra se sentir forte; se acostumou a apoiar nas minhas costas e ser sustentada. É por isso que está aqui, porque sabe que sem mim, sua vida não vale nada. Você é uma verdadeira covarde.
Ela hesitou por um momento, e eu percebi que havia conseguido abalar sua confiança.
— Não ouse me chamar de covarde! — Ela gritou, com o rosto vermelho de raiva.
— Você se esconde atrás de capangas e ameaças. Isso é covardia — retruquei, fixando meu olhar nela. — Se realmente fosse forte, entenderia que eu te repudio e que amo outro homem. Meu noivo e futuro marido!
A menção ao Jungkook afetou ela mais do que eu esperava. A fúria em seus olhos se transformou em uma mistura de incredulidade e desprezo.
— Eu vou fazer você pagar por isso, Park — ela sussurrou.
— Então venha, me faça pagar, sua imunda! — desafiei. — Mas se lembre, eu não sou a única peça desse tabuleiro. E quando o jogo acabar, eu vou te fazer pagar por tudo o que fez.
Ela avançou enfurecida em minha direção, e, nesse momento, seus seguranças me soltaram para impedir ela. Fui rápido em pegar a arma e disparei na direção dela, sem ao menos mirar. O tiro ecoou na sala, e, infelizmente, no calor do momento, acertei apenas sua perna.
— Ahgh! — Sohee gritou, caindo ao chão com seu rosto contorcido de dor. — Peguem esse filho da puta agora! Apaguem ele e coloquem no porta-malas.
O quarto era pequeno e, após o disparo, os capangas avançaram, mas algo dentro de mim se recusava a aceitar que tudo havia chegado a esse ponto. Com um movimento rápido, consegui dar um passo para trás e fugir pela porta, que estava entreaberta. Não encontrei escadas, então comecei a apertar desesperadamente o botão do elevador, mas, infelizmente, um dos seguranças me alcançou.
Ele era enorme, mas mesmo assim iniciei uma luta com ele no corredor do hostel. Em um impulso rápido, peguei um vaso de flores que estava no corredor e o joguei na cabeça dele. O impacto foi certeiro, e ele caiu, atordoado e sangrando. Era agora ou nunca. Eu finalmente vi a porta da escada e corri em direção a ela, mas o outro segurança apareceu de surpresa e me acertou um único soco no rosto, me fazendo cair.
— Segurem ele! — a voz da Sohee, distante, foi a última coisa que ouvi antes de perder a consciência.
🫐
Eu não sabia por quanto tempo fiquei desacordado...
Quando finalmente acordei, a dor pulsava na minha cabeça e a luz fraca do quarto me cegou momentaneamente. Eu estava amarrado a uma cadeira, em um ambiente que parecia uma sala de interrogatório improvisada; não era mais o quarto do hostel.
Uma fita adesiva cobria minha boca, impedindo qualquer tentativa de gritar. A luz do dia já entrava pela janela, provando que eu estava desacordado a muito tempo, e minha esperança era que alguém tivesse notado minha ausência e estivesse à minha procura.
De repente, a porta do quarto se abriu, revelando a Sohee e um capanga diferente dos que haviam me capturado. Ele tinha uma expressão impassível, e o olhar de Sohee era um misto de satisfação e desafio.
— Você acordou, querido — disse ela, com um sorriso fingido, e a perna enfaixada.
Ela se aproximou de mim, se inclinando para dar um beijo, mas eu mexi o corpo o máximo que pude para evitar seu toque, sentindo a adrenalina pulsar em minhas veias.
— Parece que você ainda não aprendeu a lição, não é mesmo? — ela comentou, cruzando os braços, a voz repleta de desprezo. — Isso é tão decepcionante, Park... Achei que sua experiência anterior fosse o suficiente para você entender que me desobedecer só traz consequências.
O capanga ao seu lado observava em silêncio, aguardando as ordens dela.
Ela segurou a fita que cobria meu rosto e puxou com força, fazendo a dor queimar em minha pele. Assim que a fita se soltou, ela se inclinou para me dar um beijo novamente, mas antes que seus lábios tocassem os meus, eu consegui cuspir nela.
— Você realmente acha que pode me obrigar a te querer? — desafiei, tentando me levantar da cadeira, mas as cordas que me amarravam eram firmes. — Me matar vai ser menos pior que te beijar, então faça isso de uma vez.
A expressão dela mudou instantaneamente, passando de satisfação para uma mistura de raiva e desprezo, a mesma que fez no hostel. Ela limpou o rosto, e riu, tentando contornar a situação.
— Você está se precipitando, Jimin — ela disse, com a voz baixa e venenosa. — Já disse que nós dois somos unidos pelo destino, e é questão de tempo para você acordar e enxergar o que sente por mim, o que sempre sentiu.
Ela me observava com um olhar sombrio, transbordando obsessão. Era como um predador admirando sua presa, pronto para atacar. Por alguns segundos, um silêncio carregado tomou conta do ambiente.
— Eu vou acabar com você, sua piranha nojenta! — gritei, sentindo a raiva fervendo dentro de mim.
Assim que a xinguei, ela fez um sinal com a mão, e o brutamontes avançou, desferindo um soco no meu estômago. A dor foi instantânea, e eu me curvei, tentando recuperar o fôlego. O sorriso satisfeito de Sohee indicava que ela estava gostando do espetáculo.
— Esse é apenas o começo, querido — ela sussurrou, enquanto eu lutava para me manter consciente. — A dor que você sente agora será nada comparado ao que está por vir. Mas não se preocupe, quero você vivo.
Ele continuou a me golpear impiedosamente. Amarrado à cadeira, eu me sentia completamente impotente, incapaz de reagir. Foi nesse momento que a dura realidade se instalou, e a dor, que antes parecia insuportável, começou a se tornar mais distante.
Eu preferia morrer a me submeter novamente a essa mulher que se tornou o maior pesadelo da minha vida.
Lembrei de momentos que passaram como um filme em minha mente: os dias insuportáveis que passei ao lado dela, a maneira como ela me manipulava, e, finalmente, o dia fatídico em que roubou o dinheiro do Jeon.
Lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto, misturando com o sangue que escorria de meus lábios. Minha visão, já turva e escurecendo, se tornava cada vez mais limitada à medida que os golpes continuavam.
E então, quando não conseguiria suportar mais, tudo se apagou em uma escuridão que parecia interminável, me envolvendo em um silêncio quase ensurdecedor.
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Oi, pessoal!
Espero que tenham curtido esse capítulo repleto de emoções.
Confesso que o capítulo anterior não teve a recepção que eu imaginei, e isso me deixou um pouco abalada, pensando que vocês não estavam gostando da história. Isso mexeu um pouco com minha criatividade, confesso kkk
Sei que é meio chatinho falar, mas as estrelinhas e comentários ajudam a história a subir nas tags e a ganhar mais visibilidade. Sem elas, a fic acaba esquecida no limbo do flop :(
Ahh, e nos vemos no próximo capítulo, que será um dos últimos!
Até lá! 💙
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