06 | 여섯 번째 장

É sempre bom te ver por aqui.
Apertem os cintos e vamos
para mais um capítulo.
Boa leitura!

#azuldameianoite

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- JEON JUNGKOOK -

Passei a noite em claro, sentado no sofá. Não que eu quisesse fazer isso, mas para alguém como eu, que mal consegue dormir, não foi um grande esforço.

Olhei na sua direção, que seguia dormindo profundamente.

Ele bebeu demais ontem e passou mal a madrugada toda. Nunca imaginei cuidar, e muito menos me importar com alguém naquele estado, mas foi o que fiz. Como o trouxe para essa viagem praticamente à força, sabia que era minha responsabilidade cuidar dele.

O relógio já marcava 10h da manhã. Ele parou de vomitar e finalmente dormiu há poucas horas, então achei melhor não acordar ele.
Eu precisava ir para a embaixada, então deixei algumas medicações e água por perto, e desci para o estacionamento.

No carro, liguei para o Hoseok pelo computador de bordo enquanto dirigia.

— Hoseok, alguma notícia?

— Tudo tranquilo. Temos alguns dos nossos de olho no Hyunjin, então saberemos de qualquer movimento dele.

— Ótimo. Não esqueçam de ficar de olho no policial também. Ele é tão perigoso quanto os Hwang e está vigiando nossos movimentos.

— Ok, faremos isso.

— Obrigado. Vou desligar, até depois.

Desligamos a chamada e, depois de mais alguns minutos dirigindo debaixo desse sol, cheguei na embaixada.

Na reunião, tudo correu tranquilamente. Meu sócio americano já havia agilizado toda a papelada e parte burocrática, então só precisei mostrar que existo. Assinei alguns documentos e, ao fim da reunião, me levaram para ver o local onde será instalada a filial de extração da Sixx. Precisamos nos hospedar nessa cidade pequena porque é exatamente aqui que ficará a filial.

O local era plano e árido, em um ponto quase deserto, ideal para extrair muitas pedras. Além disso, vamos lucrar muito com o petróleo.

Conversei um pouco mais com o cônsul da embaixada, que não parava de falar sobre sua vida desinteressante, debaixo daquele sol forte. Eu já não suportava mais ficar ali e tentava encontrar uma brecha para ir embora. Por mais que eu estivesse lidando com dinheiro, algo que gosto muito, eu me sentia ansioso para voltar ao hotel.

Quando finalmente terminei, dirigi rápido de volta ao hotel. Entrei no quarto e o vi ainda deitado na cama, mas já acordado, olhando para o teto. Assim que me viu, ele se sentou na cama.

— O que aconteceu comigo?

— Você bebeu demais e apagou. Eu te avisei para não fazer isso.

Seus olhos, que já são pequenos, estavam inchados. Ele estava com o cabelo todo bagunçado e as roupas tortas no corpo, em completa ressaca.

— Eu falei que não era para cuidar de mim, era só me abandonar no mirante e ir embora.

— Eu não cuidei de você, só te trouxe para o hotel.

Preferi não contar que ele passou mal a noite toda. Meu ego não me permitiria deixar ele saber que realmente cuidei dele a madrugada inteira. É melhor assim.

— Não deveria nem ter feito isso — disse, cruzando os braços.

— Ok, se houver uma próxima vez, eu te largo no meio do nada para os coiotes te devorarem. Vá trocar de roupa, vamos sair para comer alguma coisa.

— Eu não q...

— Shhh, nem pense em dizer que não quer. Levanta dessa cama e vamos logo, você precisa comer.

Ele reclamou, mas levantou e foi até o banheiro.

As roupas que usei ontem estavam sobre uma cadeira, exalando um aroma de baunilha, já que carreguei ele do mirante até o hotel.

Eu não faria isso por ninguém, mas fiz por ele.

A porta do banheiro se abriu novamente e ele saiu, já vestido, arrumando o cabelo. O sol forte da Austrália batia nas janelas, e deixavam o quarto com uma luz meio aconchegante, que refletiam nele em tons alaranjados e quentes.

— Tô pronto, senhor Jeon. Se atreva a falar que são roupas de adolescente, que eu não vou.

— Mas você é um adolescente, não são só as roupas.

— Tenho 21 e, pela lei, sou adulto.

— Eu não me importo com a lei. Leis não existem para mim.

Ele riu, com as mãos na cintura, arqueando uma das sobrancelhas.

— E qual sua idade, então? Chuto que tem entre 50 e 400 anos.

— 28.

— Uhh, cheguei perto...

— Cala a boca! Vamos logo antes que eu desista e faça você passar fome trancado nesse quarto.

Ele riu, zombando de mim, e era nítido que adorava quando me atingia e conseguia tirar minha paciência.

Dirigi até um pequeno café que achei no app do mapa. Ele precisava comer, já eu, mal conseguia sentir fome, não depois de comer aquelas porcarias ontem.

Ele ficou em silêncio o caminho todo, mexendo no celular e tirando fotos da cidade, como se houvesse muitas coisas pra tirar foto aqui nesse fim de mundo.

Entramos no café e, enquanto ele foi até a vitrine escolher o que queria comer, eu pedi apenas um café expresso e me sentei em uma das mesas.

Ele veio até a mesa e, após trazerem seu pedido, começou a comer, animado.

— Você só vai beber isso? — apontou para a minha xícara.

— Sim.

— Ok né... — ele deu com os ombros e continuou comendo.

Por mais que eu tentasse disfarçar, fiquei olhando na sua direção enquanto ele realizava um ato completamente simples, que era comer.

Ontem, enquanto ele estava bêbado, falou meu nome várias vezes. Não meu sobrenome, mas meu nome mesmo, e isso se repetiu a madrugada toda. Algumas vezes era me xingando, outras, dizendo que eu era bonito demais para ser um bandido sem alma.

Como eu gostei disso...

Gostei de cada coisa que ele falou, mesmo que quase todas viessem acompanhadas com ofensas. Ouvir ele dizer meu nome com aquela expressão e aqueles olhos marejados, porra...

Realmente tinha algo errado comigo.

Ele também resmungou sobre várias outras coisas, e até falou sobre a ex que roubou o dinheiro dele. Também falou o quanto a sua colega de turma faculdade ajudava ele e era atenciosa.

Essa garota...

— Quando você vai resolver suas coisas aqui? — ele perguntou, interrompendo meus pensamentos.

— Eu já fui, enquanto você estava apagado.

— Ah... — ele coçou o braço, sem jeito. — Me desculpe por isso. Pensei que, se você fosse me matar, eu queria ao menos estar embriagado.

— Você ainda está com essas ideias?

— Sim... — ele respondeu sem graça, enquanto eu ria.

— E como você chegou a essa conclusão?

— Você é um vilão. É isso que os vilões fazem com os bonzinhos.

— Não tenho motivos pra fazer isso com você.

Ele não respondeu e voltou a olhar para o que estava comendo, pensativo. Eu não interrompi e continuamos em silêncio. Enquanto ele olhava para o que estava comendo, eu olhava para ele.

Nós terminamos e voltamos para o hotel. Ele estava com calor e saiu do quarto apressado, feito um fugitivo, assim como fez ontem. Ele esqueceu que temos uma janela com vista para a piscina, e assim que mergulhou, fiquei observando ele nadar.

Meu celular tocou e eu me afastei da janela para pegar o aparelho. Era o Yoongi.

— JK! Você está tão distraído com seu novo colega de viagem que nem me liga mais.

— Desculpe, Yoon.

Sentei novamente perto da janela, olhando para a piscina.

— Se já terminou tudo aí, pode voltar, de preferência agora. Estou enlouquecendo sem você aqui.

— Esquece, quero descansar um pouco.

— Você está no meio do nada.

— E isso me impede de descansar?

— Nunca imaginei você dizer algo assim. Só sabe ir atrás de dinheiro e nunca descansa. Não achei que isso seria possível... O barman está realmente te mudando.

— Não tem nada a ver com ele. Você ainda tá nessa?

— Uhum.

— Então vou desligar, tchau.

— Esper...

Eu realmente desliguei e continuei olhando pela janela.

Ele tinha algumas tatuagens pelo corpo, e eu só percebi isso porque o vi de sunga ontem e hoje. Seu corpo era tão definido quanto parecia ser quando usava roupas mais justas. Na verdade, esculpido seria a palavra correta.

Ele saiu da piscina e eu me afastei da janela. Ao virar para trás, tropecei em uma mala dele, que estava aberta, fazendo com que algumas de suas coisas caíssem no chão junto com ela.

Eu já estava xingando ele por deixar a mala jogada e ser desorganizado, e enquanto recolhia suas coisas, vi um cartão de visitas no chão. Antes mesmo de pegar, aproximei o rosto e consegui ler o nome enquanto ainda estava caído. Peguei o cartão e confirmei que era do Hyunjin.

— Que porra é essa?

Meu humor mudou na hora. Eu tinha certeza de que foi o Hyunjin quem procurou o Jimin, o que significa que ele realmente está tentando me atingir de alguma forma, mas, como ele descobriu sobre o garoto?

Eu precisava ligar para o Hoseok, mas antes, queria ouvir isso da boca do próprio Jimin.

Coloquei o cartão na mesa, sentei e fiquei fumando, remoendo minha raiva, até ele voltar para o quarto. Ele entrou secando o cabelo com a toalha, mas congelou ao notar minha expressão, que era a pior possível.

— O que aconteceu?

Apontei para o cartão em cima da mesa, e imediatamente ele começou a tentar se explicar. Levantei e fui até ele em passos lentos, pressionando ele contra a porta que tinha acabado de fechar.

— Em que momento você teve contato com esse cara?

— O-ontem. Ele estava parado na frente da faculdade e me entregou isso.

Eu sentia meu corpo ferver de ódio, só por saber que ele escondeu isso de mim, ainda mais sendo de alguém como o Hyunjin.

— O que ele te falou?

Ele não respondeu, mas não estava tentando fugir, e apenas se apoiava na porta, apreensivo.

— Fala logo, Jimin! — aumentei a voz.

— Ele disse que sabia que você estava me perseguindo, e falou para ligar caso precisasse de ajuda pra me livrar de você.

Eu queria pegar o Hyunjin e quebrar cada osso do corpo dele.

— Você fez essa ligação?

— Não.

— Se estiver mentindo, eu vou descobrir.

— Eu já disse que não liguei, que merda!

Eu me afastei dele e coloquei a mão na cabeça, já sentindo ela explodir. Por mais que estivesse com muita raiva, não tinha coragem de encostar um dedo sequer nele, o que só aumentava minha frustração.

Esse moleque fez eu me tornar a porra de um covarde.

Ele tinha se afastado da porta. Com ódio, eu apenas dei as costas e saí do quarto.

Ainda no elevador, comecei a ligar para o Hoseok. Depois de duas tentativas, ele atendeu. Fiquei na área da piscina do hotel, onde sabia que não teria ninguém por perto.

— Desculpe, JK, estava longe do celular. Aconteceu alguma coisa?

— O Hyunjin foi atrás do Jimin.

— O que? Quando foi isso?

— Ontem. Descubra quem estava de olho no Hyunjin nessa hora, que não viu essa porcaria acontecer.

— Ok, vou verificar. Você acha que o barman pode ser algum informante dele?

— Não, isso não. O Hyunjin está tentando usar o garoto para me atingir, mas isso não vai funcionar. Vou fazer ele ligar e marcar alguma coisa, e então, vou pegar esse desgraçado no pulo.

— Ok.

Assim que desliguei, senti a presença de alguém. Olhei para trás e vi que ele estava atrás de mim.

— Eu não sou uma isca para você ficar me usando para suas coisas sujas.

— Isso é culpa sua, então você precisa resolver.

— Minha nada. Não tenho culpa desse cara ter me procurado.

— Mas pegou o cartão. Mesmo que não tenha ligado, você cogitou aceitar a ajuda dele, Park, por isso trouxe esse maldito cartão na sua mala.

Ele entrelaçava suas mãos impaciente, e respondeu.

— Eu não vou negar que até pensei, mas eu não ia fazer isso, não considerando quem você é.

— O que isso quer dizer?

— Se por dinheiro você tem me perseguido assim, se eu aceitasse a ajuda daquele homem, você acabaria comigo. Só de olhar para ele eu percebi que ele era um bandido como... — ele parou.

— Um bandido como eu?

— E-eu não ia falar isso.

— Não?

— Não.

Andei de um lado para o outro enquanto tentava me acalmar.

— Onde está seu celular?

— Eu não vou te entregar meu celular.

— Eu não quero essa droga. Ligue para ele agora e marque alguma coisa.

— Já disse que não sou uma isca.

— E eu estou mandando você ligar agora!

Mesmo irritado, ele sabia o quanto eu estava furioso, e não era louco de me desafiar. Ele pegou o celular do bolso e ligou para o número do cartão, colocando no viva-voz.

— Alô?

— Quem é? — perguntou o Hyunjin.

— Jimin. Park Jimin.

— Ahh, o universitário... que bom receber sua ligação, isso é sinal que pensou no que te falei.

— Sim... — ele riu sem graça.

— Hoje minha agenda está lotada, mas vamos combinar um jantar nos próximos dias, o que acha? Esse assunto precisa ser tratado pessoalmente.

— Pode ser.

— Ok, vou te enviar o endereço do restaurante, garanto que você não vai se arrepender. Até, Park.

Ele desligou e me encarou.

— Tá satisfeito?

— Sim, muito.

Ele deu as costas e saiu andando até o elevador, pisando firmemente no chão. Eu poderia simplesmente ignorar e seria o melhor a fazer, mas fui atrás dele. Parei ao seu lado enquanto ele esperava o elevador.

— Eu já fiz o que queria, agora pare de me seguir.

— Não estou te seguindo.

A porta do elevador abriu e ele entrou, e eu entrei junto.

— Graças à você, agora vou correr risco.

— Do que você está falando?

— E se esse cara fizer algo contra mim? Ou pior, contra minha família? Assim como você descobriu quem são meus pais, ele também pode facilmente ter essa informação.

— E você realmente acha que vou deixar isso acontecer?

— Acho. Você não é meu amigo, muito menos gosta de mim.

— Park, eu vou destruir qualquer pessoa que pensar em fazer alguma coisa contra você, isso ainda não está claro?

Ele me olhou como se tivesse esquecido toda a raiva, e seus olhos, que antes pareciam defensivos, relaxaram em segundos. Mesmo desarmado da raiva, ele ficou em silêncio, pensativo.

Assim que o elevador parou no nosso andar, ele saiu apressado na frente e foi até o quarto.
Lá, ele colocou os fones de ouvido e começou a agir como se eu não existisse. Eu até queria ficar para ver até quando esse comportamento duraria, além de me divertir um pouco, mas precisava encontrar meu sócio.

— Preciso sair, então se for sair do hotel, me avise onde está indo.

Ele ignorou completamente enquanto cantava de olhos fechados.

Eu saí mesmo assim e fui até o hotel onde meu sócio estava hospedado, já que ele também não mora aqui. Lá, ficamos bebendo e conversando sobre alguns detalhes da filial. Na verdade, só ele ficou bebendo, já que eu enrolava com um copo de uísque na mão, sem vontade de beber.

— Jeon, o que está achando da Austrália?

— Quente, em um nível quase insuportável.

Ele riu.

— Realmente, para quem não está acostumado, a temperatura pode ser um grande incômodo. Como estou sempre por aqui, já me adaptei. Você volta quando para a Coreia?

— Amanhã cedo.

— Maravilha. Ficarei aqui para coordenar os primeiros passos da construção.

— Ok, vou pedir para que algum representante da Sixx fique aqui na cidade enquanto a construção está sendo feita. — falei.

— Sem problemas. Peça para que ele procure por mim quando chegar, vou dar todo o suporte necessário.

Conversamos mais um pouco até finalizar a reunião. Eu deveria simplesmente ir embora para o hotel e já estava fazendo isso, mas parei no mesmo fast food de ontem, e comprei um combo de hambúrguer para aquele moleque. Eu já imaginava que ele estaria trancado até agora no quarto, de mau humor e com fome.

Não que eu esteja tentando consertar as coisas, afinal não me importo com isso, mas comprei mesmo assim.

Assim que cheguei no hotel e fui até o quarto, vi que ele estava debaixo das cobertas, com o ar condicionado marcando 9°C.

— Tá querendo se matar congelado aqui dentro?

— Não te interessa. — ele respondeu sem sair das cobertas.

Coloquei os pacotes na mesa.

— Trouxe almoço pra você, acho bom comer.

— Não tô com fome.

— Não? E o que comeu o dia todo? Ar gelado?

— Não quero que você se importe comigo.

— Como você é difícil, porra...

Ele se enrolou ainda mais nas cobertas, formando quase um casulo impenetrável.

— Vou te dar dez segundos pra sair debaixo dessa coberta e vir comer. Um, dois, sete, nove, dez!

Ele saiu com raiva e falou alto enquanto jogava a coberta no chão.

— Nem contar certo você sabe. Eu odeio você!

— Eu sei que odeia. Agora coma logo.

Ele puxou a cadeira com força e sentou. Abriu o pacote e apontou para o hambúrguer.

— Você colocou veneno nisso.

— Isso é uma pergunta ou afirmação?

Ele suspirou alto, incomodado. Quando ia responder, o barulho da sua barriga roncando de fome ecoou pelo quarto.

— Seu estômago está protestando de fome, e você dizendo que não quer comer — dei risada.

— Fica quieto, engraçadinho!

Mesmo bravo, ele terminou de abrir os pacotes e começou a comer. Eu me sentei no sofá e fiquei olhando para ele.

— Por que tá me olhando? — perguntou, exalando ignorância.

Eu queria dizer o quanto gostava de ver ele irritado... Na verdade, eu gostava de ver em qualquer humor, mas não ia dar esse gostinho para o ego dele.

— Não estou olhando.

Comecei a mexer no celular e ele continuou comendo, e eu olhei de novo para ele. Suas mãos eram pequenas, e como o copo de refrigerante era grande, ele segurava com as duas mãos.

Até isso eu estava gostando de observar.

— Você não vai comer também? — perguntou.

— Estou sem fome.

— Hmm, então para de secar meu hambúrguer, antes que eu derrube ele.

— Não é o hambúrguer que estou secando.

Ele deu um gole no refrigerante e engasgou quando ouviu. Até tentou disfarçar olhando para o que estava comendo, mas suas bochechas coraram, denunciando que ficou tímido.

— E então, o que está olhando? — disse entre tosses.

— Não é da sua conta.

— Então pare de secar o que quer que seja.

— Me faça parar, barman.

Ele não fez nada, nem mesmo me olhou novamente.

🫐

Ao longo do dia, ele se ocupou com diversas atividades: voltou para a piscina, foi à academia do hotel e fez até um tour guiado pela região, tudo para evitar ficar comigo no quarto.

Quando ele retornou do tour, o céu já estava escurecendo. Eu estava na varanda, fumando, e ele nao me viu. Foi até o banheiro e ligou o chuveiro, e assim que terminou, pegou uma coberta, jogou em cima do corpo e deitou no sofá.

— O que acha que está fazendo?

Ele me olhou com desdém.

— Vou dormir, ou nem isso eu posso mais, Thanos, destruidor do planeta Terra?

Cada dia era uma ofensa diferente vinda desse garoto.

— Vai dormir no sofá?

— Sim.

— Deita na cama logo.

— Não quero dormir com você.

Arqueei a sobrancelha pra ele, indignado com seu alto ego.

— Muito menos eu com você, adolescente prepotente.

Apontei e insisti algumas vezes até ele concordar em ir para a cama.

Sem sono, voltei para a varanda, fechei a porta e acendi outro cigarro. Fiz um grande negócio fechando essa filial, e deveria comemorar os lucros que virão, mas só consigo pensar na existência desse moleque. Não deveria ter trazido ele nessa viagem, muito menos obrigado ele à ir para minha casa. Sinto que só compliquei as coisas.

— Jeon? — ele abriu a porta e colocou o rosto na fresta, com um tom totalmente diferente de alguns minutos atrás.

— Diga. — respondi ainda de costas, apoiado na varanda.

— Hmm, bem... eu...

Virei na direção dele.

— Fala logo, garoto.

— Nós podemos ir naquele mirante? Como vamos embora amanhã cedo, eu queria ver de novo o céu daquele jeito...

Eu poderia dizer que não para incomodar ele, e até cogitei isso, pois nunca fui de fazer a vontade dos outros, mas, aceitei.

— Vá trocar de roupa.

— Uhul! Ok, tô indo. — ele sorriu e entrou animado de volta no quarto.

Coloquei a mão nos olhos e apoiei a cabeça na varanda.

— Filho da puta... que porra de sorriso lindo. — sussurrei com ódio de mim.

Voltei ao quarto e vi que ele estava sem camisa, revirando um monte de roupas que espalhou em cima pela cama.

— Você sempre é tão bagunceiro assim? — perguntei.

— Sou.

— Então melhore.

— Não quero — ele deu um sorriso sínico e continuou a olhar para as roupas.

Como ele estava assim, não vi problema em me trocar também. Ele estava de costas, ainda ocupado com a montanha de roupas, então desabotoei minha camisa e a joguei no sofá. Enquanto eu tirava o cinto que estava usando, ele sentou na cama, finalmente encontrando a camisa que procurava.

Quando me olhou, seu rosto ficou completamente vermelho, muito mais do que antes.

— E-eu... eu vou te esperar lá fora. — pulou da cama e apressou o passo até a porta.

— Vai sair descalço?

Ele olhou para seus pés e viu que realmente estava.

— Verdade... — ele deu uma risada sem jeito, pegou o tênis no chão, duas almofadas, e correu para a porta novamente, saindo do quarto desesperado, na velocidade de um foguete.

Fiquei rindo, sabendo exatamente o motivo pelo qual ele fez isso.

Coloquei uma camisa simples e uma calça jeans, e até conseguia ouvir a voz do Yoongi no meu subconsciente me criticando por usar essas roupas "normais".
Desci e vi ele sentado no hall do hotel, ou melhor, praticamente deitado, mexendo no celular. Eu era o bandido, mas era ele quem parecia um adolescente marginal.

— Arruma a postura, garoto. — falei quando parei do seu lado.

Ele levantou e me encarou com o peito inflado.

— Não lembro de ter contratado curso de etiqueta.

— A última pessoa que me enfrentou assim, não está nem viva pra te confirmar essa história, então, menos.

Ele deu as costas e foi até o estacionamento, mal ligando para o que eu disse. Minhas ameaças nem faziam mais efeito nele...

Ele foi andando apressado na frente, enquanto eu caminhava normalmente atrás.

Entramos no carro e partimos em direção ao mirante. Toda a raiva em que ele estava parecia ter sumido, pois digitava e ria no celular o caminho todo. Eu só conseguia pensar se era com aquela garota da faculdade que ele estava conversando.
Em circunstâncias normais, eu simplesmente pegaria o celular dele à força e ameaçaria os dois, mas esse moleque havia me tirado completamente do meu normal.

Eu precisava beber.

Parei em uma conveniência de um posto de combustível que ainda estava aberto e peguei algumas garrafas de cerveja. Eu queria beber soju, mas nesse fim de mundo em que estamos, seria surpreendente se vendessem algo assim.

Voltei para o carro e continuei o caminho.

— Cerveja? — ele mexeu nas sacolas e fez bico, resmungando.

— Sim, você não está na Coreia. E outra, isso é só para mim, você não vai beber hoje.

— Ahh não? Veremos.

Assim que chegamos no mirante, ele saiu correndo do carro para tirar mais fotos do céu, que estava ainda mais bonito que ontem.

Estacionei de novo com o porta-malas virado para a vista, sentei e abri uma garrafa. Ele foi até o banco de trás, pegou as duas almofadas que trouxe e sentou ao meu lado, me entregando uma delas.

— Isso é incrível, não sabia que o céu podia ser tão lindo... nem no interior era assim.

Depois de tanta insistência dele, entreguei uma garrafa. Ele abriu, deu um gole e voltou a olhar para o céu, encantado, observando cada estrela.

— Você está namorando aquela garota da sua faculdade?

Ele me olhou assustado com a pergunta, e era óbvio que assustaria, afinal, eu simplesmente perguntei isso sem motivo algum.

— Não. De onde tirou isso?

— Da sua cara. Você parece gostar dela.

Ele começou a rir, enquanto eu continuava sério.

— Eu gosto, mas como amiga. Ela é rica, muito rica, e não tem nada a ganhar namorando alguém como eu.

— Dinheiro não tem nada a ver com namorar ou não alguém.

— Não acredito nisso, classes sociais diferentes não combinam. E outra, não vou namorar tão cedo... ou melhor, não vou namorar nunca mais, isso só serviu para atrapalhar minha vida.

— Não generalize, Park. Nem todo mundo é como a pilantra, vagabunda e asquerosa que você namorou.

Ele me olhou com os olhos arregalados, e começou a rir logo depois.

— Sim, ela era uma verdadeira vagabunda, mesmo... Vagabunda, ladra, interesseira, sanguessuga e outras mil ofensas! Se eu ver ela se queimando e eu tiver água, eu bebo a droga da água!

Nem eu aguentei e comecei a rir junto com ele.

— Uau, me sinto aliviado por dizer isso finalmente, obrigado. — ele riu mais um pouco.

Era a primeira risada verdadeira que ele dava para mim, e eu poderia facilmente rankear isso como sendo uma das coisas mais bonitas que já vi.

— Posso te perguntar uma coisa? — ele perguntou enquanto se virava novamente na minha direção

— Acabou de perguntar.

— Ok...

— Pergunta logo.

Ele parecia tentar ganhar coragem ou buscar palavras antes de perguntar.

— Por que você não gosta daquele homem loiro que me deu o cartão?

Apoiei as mãos pra trás e inclinei um pouco do meu corpo.

— Acho que já te disse que você questiona muito as coisas.

— Desculpe... — ele começou a balançar as pernas, sem jeito, olhando para o chão.

— Eu fui criado pela família dele, e desde pequeno ele me odeia por isso. Quando saí da casa deles pra seguir meu caminho sozinho, ele se virou contra mim. Em resumo, é isso.

— Então, ele é seu concorrente?

— Algo assim...

Ele olhou para o céu, e eu pude ver seus olhos brilhando, refletindo as cores do céu.

— Vocês não podem só virarem amigos?

— Não é tão fácil assim.

— Hmm, comigo foi fácil... pelo menos com meus amigos, foi.

— Porque você é alguém bom, Jimin. Eu não sou, nunca fui, muito menos o Hyunjin.

Ele ficou me olhando, pensativo.

— Bem... talvez você não seja tão mau assim.

Eu olhei para baixo e acabei sorrindo com o que ele disse.

— Até mais cedo você estava me xingando de vilão e dizendo que me odeia.

— Foi mal, é que você é meio tirano mesmo... — ele riu.

— Só com quem é desobediente.

Ele continuou rindo antes de responder.

— Se quiser, atrelado à dívida que tenho com você, posso te dar umas aulas de como deixar de ser um vilão e fazer amigos. Cada aula é tipo, 20% da dívida paga. — brincou.

— Ok, aceito.

— Idiota... — ele riu — até parece que alguém como você precisa de alguém como eu pra ensinar algo.

— Eu preciso.

Ele me olhou novamente e ficamos em silêncio até ele desviar seu olhar.
O plano era vir aqui para ver o céu, mas era nítido o quanto eu falhei nisso, afinal, só conseguia olhar na direção dele.

Ele deu outro gole que foi suficiente para esvaziar a garrafa que segurava.

— Tá calor aqui... Me dá mais uma garrafa. — ele estendeu as mãos pedindo, mas não entreguei.

— Você não vai beber mais, não depois de ontem.

— Vai nessa... Você não manda em mim — ele se aproximou e tentou pegar a garrafa da minha mão, mas eu afastei o braço para o lado.

— Não.

Ele se apoiou na minha perna e continuou tentando pegar, e eu afastando para o lado ainda mais.

— Me dá logo, que merda!

Seu rosto estava próximo do meu, muito próximo, e eu não conseguia parar de olhar. Afastei a garrafa, mas ele a alcançou e tentou puxar da minha mão.

Porra... não existiam defeitos nele. Eu olhava para cada detalhe do seu rosto e tentava inconscientemente procurar um mísero defeito, mas tudo parecia uma combinação milimetricamente perfeita. Boca, nariz, olhos, queixo, cabelo, simplesmente tudo.

Ele também me olhou, e nossos olhos se encontraram, de novo. Senti meu corpo congelar assim, e ele também parou me olhando, onde era visível sua respiração pesada. Ficamos nos olhando conforme sua mão desistia de puxar a garrafa e deslizava pelo meu braço.

Por que diabos ele parecia brilhar?

— V-vou... vou tirar uma foto da vista... — ele falou gaguejando e se afastou do carro, indo até um pequeno deck do mirante à frente.

Eu deitei no porta-malas, com a mão na cabeça, como se pudesse arrancar meus pensamentos com ela.

— O que eu tô fazendo... — sussurrei, sentindo meu coração acelerado.

Era óbvio que havia algo comigo desde o primeiro dia em que coloquei os olhos nesse garoto naquela boate.

Enquanto tentava calar minha mente, escutei sua voz.

— Merda, merda, merda! — Ele andava de um lado para o outro, olhando para baixo.

— O que você fez? — me aproximei.

Ele apontou para o precipício, onde pude ver seu celular iluminado lá embaixo, no meio da escuridão.

— Você não sabe ter cuidado com as coisas?

— Não, não sei! Para de me julgar, isso não vai ajudar em nada. Preciso achar um jeito de pegar ele de volta.

Comecei a rir com o que ele disse.

— E o que pretende fazer? Rapel? Se liga, garoto, olha a altura em que estamos.

Ele cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar.

— Precisa chorar por causa de um celular?

— Sim, preciso. Você não entende porque é um maldito milionário.

— Ok, agora para com esse choro. Amanhã compramos outro.

— Pra me cobrar ainda mais dinheiro? Esquece, não quero nada seu, muito menos esmola.

— Eu falei em cobrar?

Ele ergueu a cabeça e tentava enxugar as lágrimas que não paravam de cair.

— Isso é culpa sua!

— Foi eu quem derrubou? Que eu saiba, não. Na próxima, seja menos desastrado.

Ele foi até o carro e sentou no porta-malas de novo, onde continuou chorando. A presença dele estava me ensinando a ter a paciência que nunca tive na vida.

Tirei algumas garrafas vazias que deixei ali e sentei do lado dele.

— Um cara da sua idade chorando por um bem material não é legal.

— E não tenho mais o direito de ser triste só porque sou adulto?

— Tem, só que chorar por um problema é perda de tempo, além de não trazer a solução.

Ele deitou no porta-malas e virou de costas para mim, apoiando a cabeça na almofada. Ele não respondeu, mas percebi que pelo menos, parou de chorar.

Deitei ao lado e fiquei olhando para o céu. Isso com certeza seria uma coisa que eu nunca me importaria ou pensaria em olhar, mas ele causou até isso em mim.

Quanto mais eu queria não sentir, mais essa droga de perfume de baunilha vinha na minha direção e me prendia cada vez mais.

E talvez, isso não fosse só sobre o perfume.

Depois de uns dez minutos olhando para o céu, notei que ele estava quieto demais, e quando olhei para seu rosto, vi que estava simplesmente dormindo.

Não tinha como a gente dormir aqui.

— Jimin, acorda, vamos embora para o hotel.

Mesmo com muita resistência, ele levantou, e de dentro do porta-malas mesmo, pulou para dentro do carro. Foi o tempo de ligar o carro e começar a dirigir para ele dormir de novo.

Isso porque só bebeu duas garrafas.

No hotel, ele subiu se arrastando até o quarto, sem aceitar minha ajuda.
Assim que entramos, ele se jogou na cama, e do mesmo jeito que caiu, foi o jeito que imediatamente dormiu.

Cheguei perto para conferir se realmente estava dormindo, e parecia que sim. Tirei a blusa e a calça que estava usando, ali no quarto mesmo, e fui até o guarda-roupa. Coloquei um shorts de dormir, e até peguei o remédio para tomar, mas desisti, então só guardei novamente.

Fiquei no sofá, e nele eu estava posicionado exatamente de frente para a cama. Ele era alguém espaçoso que, e em poucos minutos dormindo ali, já ocupava toda a cama, deitado de qualquer jeito, e a coberta toda no chão.

Eu sabia que algum dia a dívida não seria mais uma desculpa ou pretexto, e eu precisava fazer alguma coisa, mas o quê?

Eu não sabia o que fazer.

Enquanto pensava e olhava o tempo todo na direção dele, abri a parte inferior do sofá para ficar mais confortável, e quase como um milagre, consegui pegar no sono.

🫐

No dia seguinte.

Acordei com um raio de sol batendo bem no meu rosto. Fiquei tentando entender por que o sol cheirava a baunilha, até que abri os olhos e vi o Jimin dormindo no sofá, junto comigo. Meu corpo deu um salto, e sentei no sofá quando percebi que não era um sonho. Ele estava apagado e, diferente da roupa com que deitou, usava um pijama.

— Como ele veio parar aqui? — sussurrei.

Olhei as horas no relógio e vi que nosso voo era em uma hora, ou seja, estamos atrasados.

— Jimin, acorda, precisamos ir embora.

Depois de insistir algumas vezes, ele conseguiu acordar e sentou. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar ontem, e ele coçava, buscando aliviar o sono.

— Por que dormiu comigo no sofá? — perguntei.

— Eu?

— Sim, você.

Ele fez uma cara de quem estava nitidamente tentando inventar uma mentira.

— Eu... bom, eu... eu sou sonâmbulo, é isso.

— Sonâmbulo?

— Isso mesmo.

— Isso não foi convincente.

— Não importa se não foi, é a verdade. Eu não dormiria com você nem se me pagasse. Vou fazer minhas malas.

Ele levantou rápido e começou a arrumar suas coisas, que estavam espalhadas por todo o quarto, enquanto eu dava risada com a pior desculpa que ele já inventou.

Fizemos o check-out e saímos do hotel, rumo a Melbourne. Ele não falou nada, mas pelo seu olhar perdido para a janela, eu sabia que estava agoniado por estar sem o celular.

Pouco mais de uma hora depois, chegamos no aeroporto, e era a mesma coisa para o check-in; eu precisava entrar em um lugar diferente para conseguir embarcar com a arma, e encontrei ele já na área de espera.

— Toma — Entreguei meu celular na mão dele.

— Por que tá me dando seu celular?

— Porque sei que você está impaciente sem celular e sem música.

— Mas assim eu posso ver suas coisas...

— Não tô nem aí. Pega logo.

Ele pegou o celular e agradeceu com um sorriso bonito.

— Obrigado, prometo que vou ter cuidado e não vou olhar nada além das músicas.

Porra... minha vontade era de obrigar ele à parar de sorrir assim pra mim.

Ele colocou os fones e começou a montar uma playlist com as músicas que gostava.

Embarcamos no avião, e era só o começo de uma viagem cansativa de 13 horas. Ele ficou no assento ao meu lado, e dormiu ouvindo música assim que o avião decolou.

Ele era claramente um adolescente.

🫐

Finalmente desembarcamos em Incheon, e o relógio marcava mais de 20h da noite. No carro, enquanto seguimos para Seoul, ele continuou dormindo. Eu só conseguia me perguntar como alguém conseguia dormir tanto.

Assim que estacionei em casa, os funcionários vieram retirar as malas do carro.

— Jimin? — coloquei a mão no seu braço, e ele acordou.

— Chegamos?

— Sim.

Ele olhou pela janela e apoiou a cabeça no banco, tentando despertar. Tirou os fones e entregou meu celular em seguida.

— Obrigado por me emprestar.

Ele desceu, e na entrada da casa começou a conversar com a Sra. Lee, que entrou com ele.

Ainda dentro do carro, olhei para o celular e vi que ele criou uma playlist chamada "Jiminie", e automaticamente sorri quando li.

Guardei o celular e desci do carro.

— Eu vou para o meu quarto, boa noite. — Passei por eles me despedindo e subi para o meu quarto.
Depois de outro banho, parei na varanda e liguei para o Yoon.

— Cheguei na Coreia.

— Finalmente. Vá para a Sixx amanhã sem falta, eu não aguento mais ficar negociando nada, meu negócio é matar e eliminar concorrência.

— Seu pai falhou nessa parte com você.

— Não nasci pra isso, e ele sabia, por isso sou seu sócio... Quer sair pra beber agora? Não estou com sono.

— Até queria, mas não tô afim de sair de casa, consegue vir aqui?

— Vou ganhar um aumento se eu for?

— Aumento de trabalho.

Ele riu.

— Chego aí em três minutos.

— Ok.

Nós desligamos, e ele demorou mais do que falou. Separei algumas garrafas de soju pra gente tomar, assim como um maço de cigarro.

— Você levou exatamente 20 minutos. — falei quando abri a porta da entrada.

— Eu sei, peguei um trânsito fodido, acredita?!

Ele morava no meu bairro, uma rua depois da minha.

Nós rimos juntos com a desculpa esfarrapada dele.
Mesmo que estivesse à noite, o clima estava bom, então sentamos na área da piscina. Entreguei uma garrafa para ele e começamos a beber.

— Tudo certo para a filial?

— Sim, as construções começam na próxima semana.

Entreguei o maço de cigarro para ele, que pegou um e acendeu.

— Isso é ótimo.

— Sim, quero extrair tudo que for possível. Vamos enriquecer.

— Mais? — ele riu enquanto tossia com a fumaça.

— Sim, meu caro, muito mais. Quanto mais grana, melhor.

Brindamos com duas garrafas de soju bem geladas.

— Que delícia. Não aguentava mais beber só cerveja — falei.

— A cidade era pequena mesmo?

— Minúscula, mas pelo menos era bonita, mesmo em meio ao quase deserto.

— E o barman, como foi viajar com ele?

Ouvir essa pergunta fez um furacão de respostas passar pela minha cabeça.
Acendi um cigarro e dei um trago antes de responder.

— Normal.

— Normal?

— Muito normal.

— Hmm — deu com os ombros — então tá.

— O que mais quer que eu diga?

Ele deu outro gole no soju e continuou.

— Quero que diga a verdade, Jungkook.

Dei um sorriso muito sútil enquanto olhava para a garrafa que eu segurava. Nem eu sabia o que estava acontecendo.

— Eu paguei a faculdade dele, o curso, e tudo o que ele devia, antes da viagem.

Ele pensou por uns segundos antes de responder.

— Se fez isso, por que continua cobrando ele?

— Por que quero ele aqui comigo, não quero que vá embora, não tá claro?

Ele apoiou as costas na cadeira de descanso, acompanhado de um longo suspiro.

— Ele não vai ficar na sua casa por muito tempo, e você sabe disso. Se não quer que isso aconteça, precisa fazer alguma coisa.

Dei outro gole na garrafa, enquanto meu olhar se perdia no movimento da água na piscina.

— Eu sei...

— O primeiro passo é você assumir que se apegou à ele.

Fiquei pensativo enquanto continuava olhando para a garrafa.

— Ele tem aula amanhã? — perguntou.

— Sim, por quê?

— Eu vou levar ele.

— O que? Não, nem pense nisso.

— Não confia em mim, Jeon?

— Não.

— Isso é um problema todo seu. Avise que eu vou buscar ele, e levo para a Sixx no fim da aula.

— Por que quer fazer isso?

— Sou seu amigo, preciso fazer algo para ajudar.

— Não existe ajuda, não tem possibilidade de existir nada entre nós dois.

— E por que não?

Impaciente, peguei outro cigarro e acendi. Fiquei olhando a brasa queimando, com a fumaça subindo lentamente.

— Olha pra mim, Yoon, não nasci pra gostar de ninguém, muito menos de um cara.

— Você se cobra muito, sempre tentando ter o controle de tudo. Deixa as coisas rolarem, cassete. Ele já sabe que você pagou as dívidas dele?

— Não, e nem quero que saiba. Se ele descobrir e souber que fui eu, seria um motivo para ele ir embora.

— Seria mesmo, por isso que você precisa agir. Não importa o que ele é, ninguém tem nada a ver com sua vida. E se alguém se incomodar com vocês, nós matamos a pessoa, é tão simples — deu com os ombros.

Dei risada com sua forma de sempre tentar deixar as coisas leves, mesmo sendo um assassino frio.

— Obrigado, Yoon.

— Então, está resolvido, amanhã às 07h eu estarei aqui. E relaxa, vou devolver o seu garoto de ouro, e não vou contar que você tá caidinho por ele.

— Cala a boca, infeliz...

Ficamos conversando mais um pouco, e ele foi embora assim que sentiu que estava ficando bêbado.

Quando entrei em casa, já era tarde, pouco mais de 1h da manhã. A maioria das luzes da casa estavam apagadas, e apenas a luz da cozinha iluminava o corredor. Fui até lá achando que era a Sra. Lee, para pedir que fosse descansar, mas quando cheguei na entrada da cozinha, vi que era o Jimin.

Ele olhou para trás na minha direção, depois voltou a mexer nas panelas enquanto cozinhava algo.

— Desculpe, não sabia se podia mexer nas coisas da cozinha, mas tô com fome e não quis incomodar ninguém.

Me aproximei e encostei no balcão ao lado do fogão.

— Você pode pedir um delivery, se quiser.

— Obrigado, mas quero comer tteokbokki. — ele inclinou a panela na minha direção, e mostrou que já estava quase pronto. E estava cheiroso.

— Amanhã o Yoongi vai te levar para a faculdade, e depois, para a Sixx. Não se atrase.

— Ok.

Pela primeira vez, não questionou algo que falei. Ele pegou a panela, deu novamente as costas e colocou o tteokbokki em duas tigelas.

— Prove — deu uma leve empurrada na tigela em minha direção — Não coloquei veneno, esqueci de novo de trazer junto comigo.

Ele riu e sentou.

Fiquei olhando para ele por uns segundos antes de também me sentar. Peguei o hashi e comecei a comer, e estava ótimo, tanto o molho quanto o ponto do tteokbokki. Eu nem estava com fome, mas por ele, eu não me importava de comer.

— Não vai dizer nem se ficou bom? Que grosseria.

— Está muito bom. Obrigado.

Ele riu, olhando para a tigela dele, brincando com o hashi entre os bolinhos de arroz.

— E você, não vai perguntar por que o Yoongi vai te levar?

— E vai adiantar eu perguntar?

— Não, mas estou acostumado a te ouvir questionando tudo.

— Idiota... — ele revirou os olhos, e eu dei risada com a expressão dele.

— E sua peça?

— É amanhã à noite.

— Ok.

— Você vai? Começa às 18h.

— Não. Imaginei que não quisesse que o tirano aqui fosse.

— Eu quero! — ele começou a tossir quando percebeu o tom animado que respondeu — Pode ir, se quiser, e se não quiser, não vá, eu não ligo.

— Não liga?

— Não.

— Ok, então não vou.

— Você não precisa necessariamente assistir a peça, imagino que seja chato pra alguém como você, mas terá muitas outras coisas no festival.

— Hmm, parece bom. Vou ver na minha agenda se vai dar para ir.

Era óbvio que eu iria.

Quando terminamos de comer, ele levantou, pegou as tigelas e colocou na lava-louças.

— Vou para o quarto, tchau, boa noite.

— Jimin?

Ele já estava caminhando para a porta, e olhou para trás.

— Obrigado por viajar comigo, mesmo que tenha sido forçado.

— Eu gostei, foi legal. Até amanhã. — ele sorriu e saiu da cozinha, deixando o silêncio do cômodo para trás.

Cada vez que ele sorria assim era como um tiro entrando cada vez mais no meu peito, fazendo mais e mais estrago.

Eu levantei e também fui para o meu quarto.

Já era madrugada, e eu não estava com sono. Ontem eu bebi pouco, mesmo assim, consegui dormir sem remédio, só olhando para ele e sentindo seu perfume no quarto.

Hoje isso não vai funcionar.

Abri a gaveta da mesa de cabeceira, peguei o remédio e tomei. O recomendado era tomar e relaxar, mas nem isso eu era capaz de fazer. Liguei o notebook e fiquei trabalhando, ou ao menos tentei.

Eu só conseguia pensar que o Yoongi estava certo, era questão de tempo até ele ir embora daqui, e isso não deveria ser algo para eu me preocupar...

Eu estava me preocupando mais que tudo.

Senti meu corpo desacelerar lentamente conforme  o remédio finalmente fazia efeito, e depois de alguns minutos diminuindo meu ritmo gradativamente, eu acabei dormindo com o notebook ligado.

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O coração de pedra tá amolecendo? Serase?
Espero de coração que vocês estejam curtindo, estou escrevendo muito animada para o decorrer da história.
Conto com sua presença no próximo capítulo.

Até lá! 💙

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