Capítulo 28 - Sobre mendigar e esperar

Se cuidar não é falta de fé, mas sim ter prudência e saber o momento certo de obedecer.
Usem máscara quando sair de casa e não se esqueçam de lavar as mãos. Deus nos protege e guarda, mas precisamos fazer nossa parte.

Beijos e boa leitura!


- Familiares de Ester Ribeiro? - Viro no mesmo instante e sinto meu irmão me acompanhar. - Vocês são o quê da menina? - Lucas se vira na direção do Matt apontando e responde:

- Aquele é o irmão dela, mas está abalado. O senhor pode nos dizer. - O homem alto suspira e se manifesta:

- As notícias que eu tenho não são as piores. A pequena Ester está bem, na medida do possível. A pancada foi forte, por isso, o desmaio, mas não rompeu nenhum vaso sanguíneo e nem artéria. Ela está fora de perigo.

- Então, por que ela está bem, "na medida do possível'? - Indago notando Matt abaixar a cabeça.

- Quando fizemos os exames completos percebemos coisas alteradas, ou seja, ela está com uma infecção urinária e uma anemia avançada. - Suspiro agradecendo a Deus.

- Mas isso é muito fácil para se tratrar. - Lucas responde por mim.

- Sim, mas como a infecção está grande precisaremos deixa-lá aqui para medicarmos o antibiótico na veia, pois assim iremos conter o avanço e a infecção não vai se alastrar. - Assinto compreendendo.

- E já podemos vê-la? - Indago.

- Ela ainda está dormindo por causa da anestesia. Seria bom que o irmão dela fosse na recepção para fazer a ficha de internação. - Concordo apertando sua mão.

- Obrigada. - Lucas se aproxima e agradece o cumprimentando também.

O médico se retira e nos viramos para Matt que se mantém na mesma posição.

Não posso mentir e dizer que não me abalei com o que houve entre a gente. No dia que saímos do consultório da Najú, ele me surpreendeu falando daquela forma e insinuando que só estamos próximos por causa do trato que fizemos quando andei de moto com ele pela primeira vez. Virei as costas arrasada naquele estacionamento e quando entrei no elevador, só conseguia chorar.

A verdade é que me senti como na noite em que encontrei João Vitor me traindo. Foi como receber uma nova traição; posso ter exagerado, mas Matt estava sendo o amigo que eu nunca tive e eu estava gostando da nossa relação. Para ser sincera, ainda gosto e ainda tenho-o como o amigo que me ajuda quando estou cansada e que se preocupa quando não estou bem.

Mas ele me tratou como uma mulher que fica em seu pé mendigando amor. Contudo, se tem uma coisa que aprendi é que nunca devemos juntar as migalhas de amor que nos dão para construir nada. O que mais me impressionou em sua atitude foi o depois... Matt sumiu do apartamento e nem disse nada a ninguém, agiu como um menino inconsequente e imaturo mas comecei a notar que isto é uma característica dele. Pode ser que ele não goste desse seu lado ou até mesmo que lute contra isso e eu torço muito pela segunda opção. Notei que ele fizia isso em várias ocasiões que requeriam um pouco mais de si, então acredito que isso veio através da fuga dos seus traumas.

Teve dias que acordei e me olhei no espelho para apenas observar que os dias de choro incessante me presentearam com belas bolsas embaixo dos olhos e uma cara mais inchada que um baiacu. Fiz o melhor que pude com o que tinha de maquiagem e pedi a Deus que ninguém reparasse. Mas falhei, pois Lucas indagou:

- E essa cara inchada e seus olhos parecendo que não dorme a dias? Acha que não escuto seu fungado do meu quarto? Ou acha que não percebo como tem se arrastado noite e dia para fazer tudo? Você não é assim. Cadê minha água de salsicha mais sorridente e animada do Brasil?

Inventei que eram dias de mulher e que a saudade estava me sufocando demais. Se ele acreditou ou não, eu não sei, mas não tive coragem e nem forças para contar a ninguém. Evitei todas as chamadas de vídeos de Sofia e Ethan essa semana somente inventando que estava ocupada e que a Internet estava ruim por uma manutenção.

Me recordo que chorei assim que as portas do elevador se fecharam. Estávamos em um momento tão incrível e eu apreciei. A muitos anos não me sentia como me senti no momento do beijo... A alguns anos eu nem sequer tinha dado brecha para o amor, mas talvez eu tenha me deixado levar pela forma que ele me ajudou e se fazia presente... Eu chorei nos dias seguidos que ele não estava lá. Naqueles momentos eu desejei a minha mãe. Lembrei de seus conselhos e guardei em meu coração seu toque e seu abraço para a dor da saudade não tirar de mim o consolo que o Espírito Santo me concedeu.

Me recordei de quando ela me aconselhou sobre namoro e isso me levou em memória para aquela noite:

...

- Sabe filha, você completou quatorze anos hoje e precisa saber que se amar primeiro é essencial.. Vai chegar uma fase de sua vida que as emoções tentarão falar mais alto que o coração... - Respirou fundo. - Você vai pensar que o mundo acabou porque um relacionamento não deu certo..

- Não, mãe! - Interrompi sua fala. - Eu sei que se não der certo é porque não foi da vontade do Senhor... Aprendi no Estudo bíblico jovem. - Justifiquei.

- Eu sei que você vai tentar, e pode ser que consiga, mas também tem chances de ser o contrário... Geralmente o primeiro namoradinho é o nosso primeiro amor e é sempre mais doloroso do que tudo que já vivemos, porque essa é a fase que os hormônios gritam dentro de nós como pólvora querendo explodir.

- Não serei assim. - Balancei os pés.

- Estou orando para que não seja, mas acontece com todas as meninas, minha filha. Quando você ama ou está apaixonada não consegue pensar racionalmente. Muitas das vezes o medo de não achar um amor, ou até mesmo a dor temporária do término é dilacerante... Eu como mãe, quero te ajudar, alertar. Estou tentando mostrar que sempre estarei com você; se assim Deus permitir. Mas quero que você seja forte e corajosa como Josué foi um dia. Quero que você mergulhe nas águas confiando em Deus assim como Naamã mergulhou... Desejo que você confie e tenha a fé que José teve... Quero que você viva a palavra de Deus! Não quero te ver chorando e pensando que o mundo acabou porque um relacionamento não deu certo, mas quero que você supere decidindo não se trancafiar e nem murmurar... Não é porque um namoro não deu certo que nenhum vai dar. Não pense que porque um rapaz te magoou e feriu seu coração todos vão... Deus já escreveu a sua história e, se preciso for, Ele refaz tudo de novo... Deus apaga um passado corrompido e transforma e restaura, porque Ele é O Autor da vida, O Autor de Recomeços...

...

No dia em que lembrei disto tudo passei a madrugada inteira chorando. Minha vontade exterior era nunca mais olhar no rosto do Matt. Poxa, ele me colocou como uma qualquer e foi isso que eu senti. Mas depois parando para analisar os fatos nunca daríamos certo e eu preciso saber qual é a vontade do Senhor para a minha vida. Deixei minhas vontades falarem mais alto e sofri por dias as consequências daquele beijo. Acredito que se for da vontade do Senhor será em outro momento e de outra forma.

A partir do dia que entendi que acabamos nos precipitando naquele beijo, vi as coisas com outra visão. Eu teria que mendigar a atenção e amor de Matt, teríamos que lidar com os conflitos de diferença de personalidade e ainda tem o jugo desigual. Eu acredito que existem namoros que através da vida de um, o outro, conhece a Cristo e se converte, mas para ter a certeza é preciso jejum e oração.

Não podemos simplesmente entrar em um relacionamento nos baseando com o que aconteceu na vida de outra pessoa. É necessário saber o que Deus quer para nós, isso se engloba até mesmo em uma amizade. Não podemos nos doar e amar por dois sendo que o outro não quer isso. Deus sempre tem planos maiores e melhores que os nossos, então não podemos aceitar migalhas que nos oferecem,  sendo que Cristo tem um banquete a nossa disposição. Só é preciso esperar o tempo dEle! O tempo do Senhor pode ser mais lento que o nosso, mas isso não é porque Ele não nos ama, mas sim porque está nos preparando. Quantas vezes pensamos estar preparados para receber alguma coisa e depois notamos que simplesmente não era o momento e que não tínhamos maturidade suficiente receber aquilo? Várias vezes! Mas a nossa pressa em querer tudo da nossa maneira nos traz uma cegueira que no impede de notar a verdade. Somos muito imaturos para inúmeras coisas e só notamos isso quando quebramos a cara. Muitas das vezes por não querermos esperar e confiar no tempo do Senhor, apressamos as coisas e sofremos as consequências disso. Colhemos os frutos da desobediência e sofremos o deserto que acabamos impondo a nós mesmos. Sabemos que esperar o tempo de Deus é complicado, pois somos apressados e queremos tudo na mesma hora, contudo é preciso aprender que o tempo é o melhor processo de amadurecimento. Quando estivermos prontos Deus vai conceder o desejo do nosso coração, claro, se for o melhor para as nossas vidas.

Precisamos estar prontos para receber também o "não" do Pai, pois se essa for a resposta do Senhor, será porque não é o melhor para nós. Deus não nos dará algo que destruirá a nossa relação com Ele e nem aquilo que nos fará mal, pois nós não entendemos, mas existem coisas que não recebemos porque causaria danos. E pela graça e pelo amor do Senhor, Ele retira isso de nossas vidas para nos preservar. Cristo nos ama e Sua vondade é que compreendamos que Ele quer o melhor para nossas vidas. Se confiarmos e crermos em seu amor veremos as coisas com outros olhos e não nos deixaremos enganar com as armadilhas, com migalhas do mal.

(..)

- Matt, levanta daí! Sua irmã está bem, você ouviu o que o médico disse. Agora vamos lá cuidar da internação dela. - Meu irmão tenta convencê-lo enquanto Mattheus está com os cotovelos nos joelhos e mãos no alto da cabeça.

- Só preciso de mais uns minutos aqui. - Sua voz sai baixa, mas conseguimos entender o que diz.

- Vou deixar vocês a sós e vou buscar os documentos da Ester na minha sala. Guardei a bolsa da dona Angel lá, junto com as coisas da bombom. - Lucas assente e se aproxima sentando-se ao lado de seu amigo.

Deixo-os sozinhos enquanto sigo para o outro lado do hospital. Durante o percurso de caminhada agradeço ao Senhor pelo grande livramento que forneceu a Ester, ela poderia ter ficado com problemas neurológicos, mas Deus a livrou de tudo. Suspiro assim que saio do elevador enquanto minha mente recria o como Matt chegou abalado ao hospital. A necessidade de sua alma de encontrar um descanso é tão grande que sinto que ele não conseguirá resistir ao Senhor por muito tempo, basta continuarmos intercedendo por sua vida.

Assim que pego tudo que preciso, volto para a ala infantil de emergência e não os encontro. Sigo para o setor de internação e vejo meu irmão no corredor sentado em uma das cadeiras.

- Tudo bem? - Indago pondo a mão em seu ombro.

- Estou esgotado, Lê. - Coloco as bolsas na cadeira e abaixo-me em sua frente.

- O que aconteceu? - Retiro o cabelo que está em sua testa e ele sorri puxando minha mão e plantando um beijo nela em seguida.

- Você viu como ele chegou aqui... O corpo dele não está aguentando mais. - Confessa com os olhos brilhando.

- Você está chorando, Lucas? - Fixo meus olhos nos seus e ele sorri triste.

- Claro que não é só um cisco no meu olho. - Balanço a cabeça.

- Claro, homens nunca choram, não é? - Reviro os olhos e ele sorri. - Mas não se preocupe sinto que o tempo do sofrimento está chegando ao fim. - Confesso me referindo ao Matt.

- Eu não vejo a hora disso acontecer. - Ele puxa minhas mãos que estavam em seu joelho e me ergue puxando-me para o seu lado. Acomodo-me enquanto ele respira fundo. - Não gosto de te ver assim. - Franzo o cenho estranhando o rumo do assunto.

- Assim como, Lucas? Eu estou bem.

- Bem? Com essas olheiras enormes e comendo igual a um passarinho? Pensa que não reparei, água de salsicha? - Balanço a cabeça sentindo-me exposta.

- Isso não é nada. Como foi o trabalho? - Tento distorcer a conversa.

- Não adianta mudar o foco do assunto, Lê. Não foi desse jeito que me imaginei cuidando de você. - Pisco meus olhos tentando entender meu irmão.

- Como assim, Lucas?

- Quando você me disse sobre seu sonho de vir para cá, eu vi uma oportunidade de estarmos mais próximos e vivermos aquilo que nos foi tirado com o passado. Imaginei que eu cuidaria de você e que a felicidade reinaria em seu interior.

- Mas eu sou feliz, modelo dental. - Ele sorri e balança a cabeça negativamente.

- Me desculpa se o meu trabalho não está me dando mais tempo com você. Prometo que, assim que  puder, eu tiro férias. - Aumento meu sorriso em sua direção e dou um beijo em seu rosto.

- A mulher que casar com você terá muita sorte. - Digo tentando tirar o foco de mim.

- Todo mundo sabe que ela será muito sortuda! Sou um pitelzinho, como dizem as irmãnzinhas igreja. - Solto uma pequena risada e bato em seu braço.

- Convencido! - Ele sorri abertamente, mas logo fica sério de novo.

- Eu conversei com o Matt sobre você. - Arregalo meus olhos, mas tento disfarçar.

- Por que? O que você falou com ele?

- Eu só queria tirar minhas dúvidas. Ele sabe que não pode te magoar se não eu dou uma surra nele. - Lucas sorri e eu balanço a cabeça.

- Não precisa se preocupar, Lucas. Isso é tudo parte do processo. - Ele assente.

- Por que você acha que não impedi nada? Eu sei que Deus tem planos maiores e melhores do que os nossos. - Assenti notando dona Angel se aproximar no corredor.

Levanto-me as pressas notando ela sorrir para a enfermeira.

- A senhora não estava em observação? - Seguro em sua mão a conduzindo.

- Como você mesma disse, minha filha, estava, no verbo passado. - Ela sorri e eu balanço a cabeça rindo também.

- Vó Angêlica e seu jeito doce e cabeça dura. - Meu irmão diz atraindo nossa atenção. Ouço um suspiro da enfermeira que está ao lado de dona Angel.

- Menino Lucas! Quando tempo! Você me abandonou! - Eles se abraçam e meu irmão sorri.

- É o trabalho que consome todo meu tempo. - Ele dá um beijo na testa dela e se afasta sorrindo. Noto a enfermeira olhando para ele, mas Lucas finge que não vê.

- Eu sei, meu filho. Você lutou muito para ser esse advogado maravilhoso que é. - Lucas sorri ficando corado e dou risada.

- Ver meu irmão com vergonha é difícil, hein, dona Angel.

- Os anos de convivência fizeram isso. - Lucas sorri e lhe dá um beijo na testa. - Agora vou ver minha neta. - Ela segue adiante enquanto voltamos para o nosso lugar.

- Preciso voltar para o escritório. As coisas por lá devem estar um caos. - Ele suspira e se levanta. Acompanho seu ato e sinto seu abraço. - Nunca esqueça que você é muito amada.

Me afasto sorrindo e lhe dou um beijo na bochecha.

- Pode deixar! Jesus não me deixa esquecer jamais. Ás vezes parece que não somos amados, mas isso é uma ilusão do inimigo ou até mesmo uma autoestima baixa que vem para nos desanimar e desmotivar. Por isso é preciso conhecer a Deus, pois quando O conhecemos, sabemos que Seu amor é eterno. - Abro um sorriso para o meu irmão e seu celular toca.

- Você é incrível, água de salsicha. - Reviro os olhos rindo. Lucas me abraça e sai ás pressas para atender seu celular e voltar ao trabalho.

Pego as coisas que estão na cadeira e sigo em direção do quarto de Ester. Assim que me aproximo noto que a pequena gargalha para um Matt sorridente e totalmente o oposto do que se encontrava lá fora.

- Sereia! - A primeira e me notar é Teté.

- Você deixou a titia preocupada, meu amor. - Deixo as coisas sobre a poltrona e me aproximo de seu corpo.

- Às vezes um susto é necessário. - Ela diz mexendo na orelha de seu ursinho. Franzo o cenho tentando compreender sua fala.

- O que quer dizer com isso, Ester? - Mattheus indaga do outro lado da cama.

- Nada, Matt. - Ela sorri e mostra seu dente banguela.

- Sabia que você fica linda com essa janelinha na boca? - Pergunto sorrindo.

- Sim! A vovó disse a mesma coisa. - Ela olha para a senhora que retira os pertences de dentro da bolsa. - Não é mesmo, vovó? - Dona Angel acena com a cabeça e sorri.

- É sim, minha filha. Você continua a mesma princesinha linda de sempre. - Ester abre um imenso sorriso.

- Já posso ir para casa? - Olho para seu rosto e levanto o olhar para Matt logo em seguida.

- Você tá vendo essa bolsinha que está pendurada nesse ferro? - Teté assente para o irmão. - Então o médico vai vir e colocar mais remédio aí, para você melhorar bem rapidinho e voltar para a nossa casa. - Ester levanta o olhar para a bolsa de soro e faz uma careta.

- Mas ali só tem água, Matt! - Protesta. Soltamos uma risada com sua voz indignada.

- Mas o médico vai vir colocar o remédio na água para não doer em você, sabia? Por isso está ligado nesse curativo em seu braço, sabe qual o nome dele? - Pergunto.

A menina sapeca olha para sua mão aonde está conectado o acesso.

- Não sei. Isso é muito estranho. Eu já vi nos filmes. - Ester arregala os olhos e fala: - Mas nos filmes sempre aparece gente para matar quem está no hospital! Vó, não quero ficar aqui! - Diz tentando se erguer.

- Dona Ester, que tipo de filmes a senhorita tem visto? - Teté percebe que falou demais e dá um sorriso sem graça.

- Foi só um dia, Matt. Eu juro! - Ela levanta o dedinhos e os cruza como se estivesse jurando.

- Não faz muito bem ver filmes assim. Podemos ter pesadelos. - Digo segurando em sua mão.

- A vovó já falou que não pode, não é Teté? - Dona Angel diz cerrando os olhos em sua direção.

- Vó, foi somente uma vez! - Ester diz como uma súplica.

- A vovó acredita em você, mas isso não pode se repetir! Você é muito novinha. - Ester sorri banguela e assente.

- Com licença. - Nos viramos para a porta aonde o médico está parado.

- Entre. - Matt pede e segue em direção ao homem uniformizado.

- Bom o horário de vocês infelizmente esgotou. Agora só poderá ficar um acompanhante com a Ester. - Ele olha no relógio e prossegue: - Vocês podem se despedir dela, ainda tem cinco minutos.

O homem se retira do cômodo e nos viramos para uma criança entristecida.

- Amanhã eu venho te visitar, tá bom? - Matt pergunta a irmã e ela assente cabisbaixa.

- Você promete que não vai me deixar aqui? - Pergunta com embargo na voz. Olho a cena sentindo o peso de suas palavras.

Matt olha para a irmã deitada na cama. Seus olhos observam o rosto da pequena em silêncio demorando a responder sua pergunta. Um frio passa por minha espinha e sinto receio pelo o que ele pode responder, mas para a surpresa de todos ele diz após um tempo:

- Eu nunca te deixaria aqui, bombonzinha. Você é minha irmã e é a mulher que mais amo nesse mundo, depois dessa velinha que está atrás de mim. - Ele brinca amenizando a tensão que se formou no quarto e sua avó lhe dá um tapa na cabeça.

- Não me chame de velha! - Sorrio em sua direção e dona Angel pisca para mim.

- Obrigada, Matt, eu te amo! - Teté abre os braços e seu irmão a abraça apertando-a e beijando seus cachinhos. Vejo-o sussurrar algo no ouvido da pequena e acredito que ele também afirma que a ama.

- Você vai ficar bem? - Pergunto assim que o corpo de Matt se afasta do seu. Ester me observa e sorri abertamente.

- Não tem como eu não ficar bem com Jesus, Ele está aqui comigo, e além dele a vovó e o Ted, eu sabia que iria precisar dele. - Ela afirma puxando seu ursinho. Sorrio em sua direção e lhe dou um beijo na testa.

- Você é muito forte Teté. - Cochicho em seu ouvido.

- Você também é. - Ela sussurra de volta e eu me perco alguns segundos observando seu olhar.

Assim que o médico retorna ao quarto terminamos de nos despedir e saímos em silêncio. Sigo ao lado de Matt, mas mantendo certa distância. Ainda não paramos para conversar sobre tudo que aconteceu, porém, como ele é um enigma não tem como saber se ele quer falar sobre isso ou não.

Assim que saímos pelas portas de vidro do hospital e chegamos na calçada, retiro meu celular do bolso para chamar um carro por aplicativo.

- O que está fazendo? - Ele para sua caminhada quando nota que parei.

- Chamando um carro. - Digo o óbvio.

- Não precisa disso, Ruiva. Eu te levo para casa depois. - Levanto meu olhar para seu rosto e sinto vontade de chamá-lo de cara de pau.

- Depois de onde, Mattheus? - Indago colocando o celular no bolso e levantando uma sobrancelha.

- Eu queria pedir sua ajuda para buscar roupas para a Bombom e minha avó. - Cerro meus olhos e puxo fortemente minha respiração tentando controla-lá.

- E quando você iria me pedir isso? Saiu andando na frente! - Acuso-o. Olhei o seu pescoço e eu tinha vontade de abraçá-lo e apertá-lo ao mesmo tempo. Como alguém podia fazer isso comigo?

A todo momento lembro de como ele foi carinhoso na noite em que tive um surto de choro. Me recordo do seu carinho, de sua atenção e de como ele cochilou todo torto enquanto tentava me acalmar a noite toda. Solto um suspiro que estava entalado na garganta.

Assim que ele tenta falar, o interrompo: - Tudo bem, Mattheus. Não posso deixá-las usando roupas que você escolher.

Ele me olha atentamente e seus lábios se repuxam levemente em um sorriso. Cruzo meus braços na defensiva enquanto ele observa meu gesto e fecha a expressão do rosto, ficando sério.

Um táxi passa e ele levanta a mão fazendo sinal. Bufo tentando controlar a vontade de enchê-lo de perguntas.

Adentramos no carro e ele dá o endereço de um restaurante. Cruzo meus braços novamente e viro o rosto para a janela notando a paisagem.

- Ruiva? - Ouço-o me chamar após um tempo. Permaneço do mesmo jeito e respondo:

- Pode falar, Mattheus, estou ouvindo.

- Estamos indo buscar minha moto para seguir para a casa. Ela está no restaurante que eu estava com seu irmão. - Assinto somente e permaneço calada. Lembro-me que Lucas disse ter falado com ele sobre mim. Sinto minhas bochechas arderem de vergonha e agradeço a Deus por estar com o rosto virado.

O resto do caminho foi feito em um silêncio não muito confortável, mas o trânsito estava tranquilo então, rapidamente chegamos em frente a praia.

- Quanto deu? - Pergunto e sinto Mattheus virar bruscamente para me olhar. Ele mexia em sua carteira concentrado.

- Tá maluca? Eu vou pagar! - Diz bufando.

- Por que você tem que pagar? Eu também vim! - Digo olhando-o seriamente. - E eu não sou maluca!

- Tudo bem, mas foi eu quem chamei o táxi! - Ele protesta.

- Isso não significa nada! - Viro-me para o motorista e digo plena. - Por favor, pode me dizer quanto deu? Ainda preciso buscar roupas para levar ao hospital não posso me dar o luxo de ficar brigando.

Matt sai bufando do carro e bate a porta com força. Pago o motorista e murmurro um "desculpa, vai com Deus" e saio do carro. Observo o local que estou e fico surpresa com a beleza do mar, mas meu encanto acaba assim que o idiota para sua moto quase em cima do meu pé.

- Sobe, Ruiva. - Sinto que ele tenta controlar o tom de voz. Bufo e subo na garupa da moto.

Babaca!

Tudo pela Ester e dona Angel. Mentalizo o motivo de estar andando novamente na moto dele.

- Não vai segurar em mim? - Ouço o tom de sarcasmo em sua voz.

- Não. Vou me segurar nesse apoio aqui. - Coloco minha bolsa entre nós e seguro no ferro da moto.

- Se você cair eu não me responsabilizo. - Ele aperta o guidão da moto e o motor soa alto.

Assim que sinto que a moto vai correr pela pista, retiro os braços do ferrro e circulo-os pelo seu corpo. Mattheus solta uma risada enquanto aumenta a velocidade. Meus cabelos voam com a rapidez e a intensidade dos ventos me faz fechar os olhos. Sinto-os lacrimejarem pelo leve incômodo que o vento proporcionou. O peso de tudo que me aconteceu hoje, me faz ficar emotiva.

Controlei minhas emoções a todo momento, mas estar como paciente na situação não é bom. Meus pensamentos foram traiçoeiros e quase me deixei levar pensando que Deus poderia recolher a pequena Ester. Fiquei com um bolo de choro entalado na garganta por todo o tempo, mas orei e pedi ao Senhor que me sustentasse e Ele sustentou.

Só precisamos clamar para que Ele entre com total providência em nossa vida e em cada área dela, pois Ele é fiel para nos sustentar.

Pisquei notando que estávamos chegando. Viajei tanto em pensamentos que nem me dei conta. Mattheus estacionou a moto, desci assim que ele desligou o motor. Esperei ele descer e abrir o portão para, então, o seguir. Andamos pelo caminho de pedras e ele logo abriu a porta da casa. O cheirinho de lavanda estava por todo o ar e recordei-me que dona Angel e eu tínhamos acabado de limpar o chão quando recebemos a ligação falando sobre o acidente na escola.

- Letícia? Estou falando com você. - Levanto os olhos para um Mattheus que me observa sério. - Vamos subir. - Ele estica sua mão, mas cruzo os braços recusando seu toque.

- Eu te sigo. - Digo apenas. Ele bufa e começa a andar pisando pesadamente como uma criança birrenta.

Subo atrás dele e logo estamos dentro do quarto infantil. Observo a decoração rosa do cômodo cheio de ursos e barbies nas prateleiras. Vejo sua mochila que tem vários bombons desenhados. Sorrio notando a beleza através dos detalhes.

- Você pode separar as roupas, por favor? Eu vou pegar os vestidos que minha avó gosta. - Assinto somente e sigo em direção ao guarda roupa.

Separo alguns shorts, blusas com mangas e regatas. Vou em direção a uma gaveta dentro do guarda roupa e separo peças íntimas, juntamente com meias. Olho para a prateleira de cima e noto uma mochila rosa grande, puxo-a e arrumo tudo dentro dela.

(..)

- Acabei. - Digo ao Matt assim que ele retorna ao quarto de sua avó.

Mattheus ficou sem jeito de pegar roupas íntimas e me pediu ajuda, então agora tudo está dentro de duas mochilas grandes, fora uma mala com lençol e cobertor, que segundo ele, foi intimação de dona Angel.

- Podemos ir? - Ele pergunta. Assinto colocando a mochila de Ester nas costas.

Matt segue à frente e logo estamos chegando na escada, descendo os degraus. Evitei olhar e observar as outras portas por educação, mas notei que tem mais de dois quartos, talvez seja banheiro, não sei.

Assim que nos aproximamos do sofá Mattheus joga a mochila de sua avó sob o móvel e coloca a mala no chão de modo brusco.

- Eu não aguento mais ficar assim com você! - Coloco a mochila no sofá notando sua expressão.

- Assim como, Mattheus? Estamos pegando as coisas para levar ao hospital... Só isso. - Cruzo os braços na defensiva.

- Você sabe que não é somente isso.

- Então me diz o que é? - Olho-o com as bochechas ardendo de nervoso.

- Eu preciso fazer isso! - Diz para si mesmo e quando noto seu ato, arregalo meus olhos.

Ele não pode estar fazendo isso...

(...)

"O amor rompe barreiras e suporta adversidades, mas antes disso ele resiste ao tempo de espera. Não podemos ser apressados com nada, principalmente com o amor, que é algo puro e nos foi dado por Deus, através de sua graça! Se valorize e saiba reconhecer quando é o tempo de parar e esperar o agir do Senhor, Ele sabe o tempo certo para todas as coisas".

Thayla Fernanda

E aí, gente, tudo bem?

Gostaram do capítulo de hoje? Pensaram que eu ia matar a Teté? Não sou tão má assim, mas dizem muito isso no meu WhatsApp... O povo tá criando calúnia ao meu respeito. Hehehehe!

Palpites do que Matt fez?

Gostaram da capa nova? Foi feita com muito amor pela becaahsoouza. ❤

Beijos e fiquem com Deus!

Volto em breve! ❤

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