Capítulo 25 - Sobre crises e fraquezas

Leia o aviso!

Oi, gente, tudo bem? Perdão pela imensa demora em trazer atualização. Desde dezembro para cá aconteceu uma montanha russa em minha vida. Bom, eu casei oficialmente no dia 29/01. Alguns já sabiam que eu somente morava junto, mas depois de muita luta conseguimos nos acertar perante o altar do Senhor! (Aleluia, irmãos!) Bom e como eu estava com o casamento marcado foi uma correria sem fim, junto com as festas de final de ano, as coisas da igreja, vida de mãe de um menino de 5 aninhos em sua primeira formatura e outro menino que acabou de completar dois aninhos... Foi uma doidera sem fim. Mas como nem tudo são flores enfrentei uma chateação muito grande no começo deste mês e isso foi o que mais atrasou a escrita pois eu estava com metade do capítulo pronto já. Tive esse problema que me abalou demais e eu estava sem ânimo e nem estava bem para vir concluir o capítulo. Mas agora estou bem e consegui concluir. (Glória a Deus!) Mas ainda estou com a vida na correria, então peço paciência (ainda mais) e compreensão. Jamais vou abandonar a obra! Orem sempre por mim também e saibam que eu oro por vocês.
Obrigada por estarem aqui comigo e obrigada pelos 1K de seguidores! Eu amo a vida de vocês! Beijos e uma ótima leitura!


- Letícia, eu... - Matt para sua fala e engole em seco direcionando o olhar para o lado. Me afasto de seu corpo e massageio as têmporas.

- Acho melhor eu ir deitar, já está tarde e você trabalhou o dia todo... Deve estar cansado. - Abraço meu corpo tentando me aquecer por causa do vento forte.

- Não estou com sono, ruiva. Só quero te ver bem. - Ele se aproxima e segura em minha mão conduzindo-me em direção do corredor.

- Aonde está me levando?

- Para o seu quarto. Vo-você precisa descansar. - Diz nervoso.

- O que está acontecendo, Matt? - Indago entrando dentro do cômodo.

- Nada. Mas você precisa descansar. Vai escovar seus dentes, enquanto eu vou fechar a porta da sacada. - Assinto e sigo em direção do banheiro. Meu nariz arde e sinto o choro subir em minha garganta.

Opto por tomar banho, apesar de estar entrando bastante vento pelas janelas do apartamento o cômodo se encontra abafado. Nesses momentos sinto falta de NY, do frio que nos abraça no inverno, dos ventos gélidos e principalmente da neve.

Sinto a água gelada em contato com meu corpo e automaticamente as lágrimas escorrem de meus olhos. Um suspiro sôfrego abandona meus lábios e sinto a avalanche de emoções tomar conta de mim. Os soluços saem sem permissão e as cenas se repetem em minhas memórias embriagando-me e abalando minhas estruturas. O barulho da água saindo do chuveiro impede-me de ouvir os barulhos ao lado de fora, mas a forças com que os soluços saem se sobresaem a ela e não sei como controlar os sons emitidos.

Perco as forças de meu corpo e me ajoelho no ladrilho do box, afundo o rosto entre as mãos à medida que me perco entre as lembranças. Uma completa bagunça se forma em minha mente e eu balanço a cabeça de um lado para o outro tentando ofuscar os pensamentos. Sinto minha pele arrepiar. Não estava sendo capaz de sentir meus pés e tampouco meu corpo. Parece loucura o estado em que eu me encontro. Posso jurar que meu corpo está em um precipício, mas ao mesmo tempo é como se ele tivesse despencado montanha abaixo e eu não sinto nada além da dor e da confusão das lembranças. Eu não sinto absolutamente nada, mas ao mesmo tempo é como se eu lutasse para respirar e não conseguisse. Como isso é possível? Meu corpo parece afogar no mar de confusões na qual foi lançado e eu não sei identificar se isso é ilusão da minha cabeça ou uma lembrança de alguma viagem que eu havia feito com minha mãe e não me recordava mais. Será que é possível esquecer um trauma e quando tudo desmoronar todo o passado vir a tona?

- LETÍCIA! - Ouço socos na porta.

Será que é uma lembrança de quando João Vitor foi atrás de mim? Isso foi real? Ele foi atrás de mim?

- LETÍCIA! - Mais socos são lançados na madeira da porta.

Onde estou? Aonde meu corpo se encontra neste momento? Sinto minha cabeça se movendo de um lado para o outro... Será que estou abaixo das águas e não consigo respirar?

Sacudo meu corpo procurando respostas, mas sinto-me tão perdida. Alguém precisa me ajudar... Senhor, cadê você, Pai? Por que isso está acontecendo comigo? Afogo-me e não consigo identificar se estou banhada em lágrimas ou dentro de um mar na tempestade.

- LETÍCIA, EU VOU CONTAR ATÉ TRÊS E SE VOCÊ NÃO ABRIR A POR## DESTA PORTA EU VOU ARROMBAR E QUE SE FO#$ O RESTO...! ABRE ESSA MER4A! - Pisco meus olhos e sinto-os emabaçados, tento focar minha mente na voz que ouço... Parece tão familiar... Aconchegante. - POR FAVOR, RUIVA, NÃO ME FAÇA ARROMBAR ESSA PORTA...! SOU EU, SEU AMIGO, O MATT! - Ouço sua voz ao longe e suspiro não conseguindo controlar o choro compulsivo.

- Deus... - Sussurro entorpecida pelas lembranças. - Me ajuda, Aba... O-o-o que es-está aconte-te-tecendo? - Sinto um vento forte adentrar pelo vasculhante do banheiro e pisco os olhos recordando-me de onde estou. Meu corpo se arrepia pelo suave soprar do vento. E meus cabelos, mesmo ensopados, se balançam. Os pelos de meu braço se arrepiam enquanto percebo uma quentura rodear meu corpo. É incontestável Seu abraço enquanto sinto o conforto vindo do Seu Espírito para a minha alma.

O choro não cessa, mas controlo os soluços e ergo-me do chão enquanto abraço meu corpo como se estivesse abraçando meu Pai. E neste momento eu sei que é isso que estou fazendo. Desligo o chuveiro enquanto sussurro um obrigada por entre as lágrimas e os pequenos soluços que saem pelo choro que se libertou.

- LETÍCIA, POR FAVOR! - Ele soca a porta do banheiro e o desespero toma conta de cada célula do meu corpo.

- Matt. - Murmuro chutando a madeira da porta. Minha garganta dói e sei que se tentar falar alto será uma tentiva inútil.

- Eu-eu-eu estou aqui, minha ruiva. - Ouço seu suspiro profundo e sinto minhas lágrimas descerem. - Saia daí de dentro, me deixa te ajudar. - Ele diz alto e eu balanço a cabeça mesmo ele não vendo.

Permaneço em silêncio enquanto coloco as roupas íntimas atrapalhando-me por conta do choro que não cessa. Resgato de cima da pia extensa a mesma roupa que eu estava vestida e puxo do gancho o grande roupão que Sofia presenteou-me no ano passado. Não sei porque estou colocando-o, mas acho que é uma falha tentativa de senti-la perto de mim.

- Ah, Pai, obrigada. - Sussurro esfregando os olhos tentando fazer o choro parar, mas minha tentativa é falha.

Mattheus se encontra em silêncio desde o momento em que chutei a porta, mas sei que não saiu do quarto. Debruço-me sobre a pia enquanto não tenho coragem de me olhar no espelho. Respiro e inspiro, mas os pequenos soluços não param e o choro não cessa.

Pego a toalha e seco meu cabelo resolvendo sair de dentro do banheiro antes que o Matt arrombe a porta. Faço um coque frouxo não me importando com os pingos que caem. Desligo a luz e viro a chave na fechadura criando uma coragem que não tenho para sair do cômodo.

A primeira coisa que recebo além do vento no rosto que adentra pela janela, são as mãos grandes e macias de Mattheus nas laterais do meu rosto. Ergo os olhos ao seus e percebo sua fisionomia preocupada e olhar cheio de lágrimas pressas. Matt faz uma carícia nas maçãs de minha face e logo em seguida me aperta dentro do seu abraço. Não me contenho e o abraço de volta sustentando todo peso do meu corpo sobre si.

- Chiii. Vai passar, vai passar, minha ruiva. - Matt sussurra em meu ouvido enquanto passa as mãos por entre os fios de meu cabelo. Ele me guia abraçado ao seu corpo em direção à cama e senta encostado na cabeceira trazendo minhas costas para seu peito. Estico minhas pernas na cama enquanto Matt se mantém com as mãos abraçadas em minha cintura sustentando-me.

Permanecemos em silêncio enquanto ele retira suas mãos de minha cintura e começa a fazer um cafuné em meus cabelos. Deito minha cabeça em sua perna e continuo chorando não tendo o controle de meu próprio corpo. O tempo parece não passar enquanto as lágrimas dançam por minha face. Sinto a calça de moletom de Mattheus molhar com a água que desce de meus olhos e cabelo.

- Sin-sinto mu-muito por-por molhar vo-você. - Murmurro sentindo a garganta doer por causa dos soluços que saíram.

- Isso é o que menos importa no momento. Se sente melhor? - Ele indaga e eu nego com a cabeça. Mattheus não força mais perguntas e eu luto com todas as minhas forças para parar de chorar.

Por toda minha trajetória eu fui forte e mesmo quando tive que enfrentar situações difíceis como a perda de minha mãe e a traição de João Vitor, nunca fiquei como estou agora. É como se algo me puxasse precipício abaixo e eu não consigo lutar contra isso.

O choro copisioso persistiu, porém silencioso. Eu sentia a dor sendo liberada através das lágrimas, mas era como se toda ferida do mundo estive doendo dentro do meu peito.

(..)

Pisco meus olhos sentindo-os emabaçados. A claridade que adentra pela janela do quarto me faz ter certeza que é manhã. Os acontecimentos da noite anterior vêm como uma avalanche em cima de mim. Levanto-me bruscamente e sinto uma pontada na cabeça e sei perfeitamente que o motivo deu estar sentindo-a foi pelo choro compulsivo da madrugada. Mattheus se encontra no mesmo lugar que me recordo e sinto meu coração pequeno somente por saber tudo que ele deve ter sentindo ao me ver no estado em que eu estava. Sua cabeça está levemente jogada para trás na madeira da cama e posso afirmar que ele dormiu por poucas horas.

- Não estou dormindo, ruiva. - Assusto-me com sua voz rouca assim que ele abaixa a cabeça e olha dentro de meus olhos. - Eu iria te assustar assim que notei que acordou, mas fiquei com medo da sua reação.

Fico grata por sua percepção porque do jeito que me encontro era capaz de sentar no chão e começar a chorar novamente.

- Obrigada pelo que fez. - Digo depois de um tempo.

- Se quer me agradecer... Saiba que precisamos conversar. - Assinto e mordo a parte interior da bochecha.

- Eu sei disso.

- Tome um banho e faça o que precisa. Vou te deixar à vontade enquanto preparo algo você comer antes de tudo. - Diz erguendo-se da cama e esticando o corpo.

- Não precisa...

- Precisa sim. - Ele soou rude me interrompendo. - Desculpe, mas deixa eu cuidar de você. - Pisco os olhos e seguro a vontade de chorar.

- Tudo bem. Vou tomar um banho e melhorar um pouco o rosto. - Digo imitando seu gesto e levantando da cama. Abraço-o no mesmo instante e logo depois de um suspiro ele retribui.

(..)

Já de banho tomado e dentes escovados, penteio meus cabelos enquanto espero Matt retornar. Passei todo o momento reformulando tudo que ocorreu e cheguei á conclusão do que aconteceu. Assim que decido ir atrás do meu amigo ele retorna com uma bandeja em mãos. Noto seus cabelos molhados e o cheiro do seu perfume amadeirado enche o quarto.

- Tomou banho por que hoje é sábado? - Pergunto sorrindo e vejo o sorriso irônico que se formou em seus lábios.

- Pelo menos uma vez na semana é necessário. - Ele tenta brincar, mas seu rosto está sério demais.

- Senta aqui, Matt. - Chamo-o e ele coloca a bandeja ao lado da cama no criado mudo e se aproxima de mim se ajoelhando em minha frente.

- Tem certeza que quer conversar? Eu não quero que se sinta pressionada a nada. Você não é obrigada, ruiva. - Sorrio para ele e deposito um beijo em sua testa.

- Não é nada demais. Venha. - Puxo sua mão e ele faz o que pedi.

- Olha...

- Está tudo bem, Matt. - Respiro fundo e me pronuncio. - Sabe quando algo mexeu com você interiormente e você nem se deu conta da proporção disso?

- Sim. Algumas coisas só percebemos quando os danos vêm. - Balanço a cabeça concordando.

- Foi isso que aconteceu com o sequestro que o Connor comandou... Isso mexeu comigo de um jeito que eu não imaginei, sabe? E quando me dei conta estava enfrentando uma crise de choro.

- Ontem?

- Não. Eu percebi a alguns dias, mas ignorei e fingi que nada tinha acontecido, mas aí as crises de choros pioraram e aconteceu tudo aquilo ontem. - Digo apertando minhas mãos uma na outra.

- Tudo bem não estar bem. - Ouço sua voz e repenso.

- Eu sei que sim, mas eu não posso permitir que isso se torne algo em minha rotina. Quando nos damos conta de que algo está errado devemos lutar para acertar. Se eu quero viver bem e em paz preciso me livrar de tudo que me aprisiona.

- O que quer dizer com isso?

- Decidi visitar a Najú como uma paciente. - Confesso e sinto o choro subir pela garganta. - Não é fácil para mim. Eu sempre fui forte, sorridente e era sempre eu quem ajudava, mas me vejo precisando de ajuda. E eu não sou uma religiosa que acha que precisar de um psicólogo é falta de fé. Sou uma cristã que entende que Deus deu capacidade para homens nesta terra para cuidar do nosso corpo físico e até mesmo do mental.

- Eu tenho orgulho de você. - Ouço-o dizer e olho para seu rosto. Matt segura fortemente suas lágrimas.  Me aproximo mais e abraço-o apertado. - Eu estarei do seu lado.

- Obrigada por isso... Mas quero te pedir um favor.

- Peça. - Disse se afastando.

- Será que isso poderia ficar entre nós dois até eu me recuperar? - Ele olha fixamente em meus olhos e depois vira sua atenção para a janela.

- E se o seu irmão vir perguntar? Ontem a noite ele passou aqui no quarto e eu fingi que estava dormindo. - Ele solta um som de irritação e continua: - Não foi com a intenção de mentir para ele, mas na hora meu corpo reagiu assim. Fiquei com medo do que ele pensaria. Tenho o maior respeito do mundo pelo Lucas, ele sempre esteve ao meu lado e do mesmo modo te respeito.

- Não se preocupe. Sei que sua intenção não foi ruim e sei também que me respeita... Obrigada por isso. E se o meu irmão te perguntar algo peça-o para vir falar comigo. - Ele assentiu com a cabeça e indicou a comida à frente.

- Se alimente para irmos ver a Najú então. Vou ligar para ela. - Ele se levantou da cama, mas segurei em seu braço.

- Tome café comigo, por favor. Imagino que não tenha comido nada e sei que a maluquinha da Najú irá nos atender. - Matt suspira e meneia a cabeça.

Ele busca a bandeja que continha uma variedade de coisas e coloca entre nós. Pego um pedaço de pizza da noite anterior e mastigo sorrindo para ele que me retribui com um aceno de cabeça.

(..)

O sol está que está nos aquecendo no céu me traz a certeza do calor que o Rio de Janeiro faz, mas isso não me impede de sentir um frio por dentro de meu corpo. Esfrego os braços mais uma vez assim que cruzo as pernas sentada na cadeira confortável do consultório de Najú. Estamos aqui a poucos minutos, mas me parecem horas.

- Respira fundo que você já vai ser atendida. - Matt comenta enquanto passa seu braço pelos meus ombros.

- Como se respira mesmo? - Brinco tentando diminuir a tensão.

- Do mesmo jeito que...

- Letícia Smith, dona Ana Júlia pediu para a senhora entrar. - A secretária atrás do balcão diz.

Levanto esfregando as mãos nas laterais da calça jeans. Um arrepio sobe por minha espinha enquanto eu puxo e solto o ar tentando controlar as batidas frenéticas do meu coração.

- Se precisar é só me gritar que eu quebro a porta e vou atrás de você. - Matt diz após se levantar. Sorrio em sua direção e balanço a cabeça.

Forço minhas pernas a andar em direção a sala e assim que consigo apresso meus passos temendo desistir. Bato duas vezes na porta e após ouvir um "entre" abafado adentro empurrando a madeira. Ana Júlia se levanta da poltrona e vem abraçar-me, recebo seu gesto e retribuo sorrindo em seu pescoço.

- Vem, não posso ficar te agarrando. Hoje você não é minha amiga. - Balanço a cabeça compreendendo o que sua fala quis dizer enquanto vejo-a seguir novamente para seu lugar. - Mesmo um paciente sendo amigo do especialista não se pode ultrapassar um certo ponto... Mas você entendeu, sei que é esperta. - Noto o sorriso em seu rosto assim que ela se senta na poutrona.

- Sim, Najú. - Me aproximo sentando-me em um divã que está localizado a alguns centímetros de minha amiga.

Parando para analisar o cômodo vejo sua mesa localizada no canto da sala tendo a cadeira na cabeceira, de frente para o computador e perto do divã que estou sentada. Logo à minha esquerda contém um sofá com uma imensa vista da janela de vidro que nos dá a visão da grande cidade do Rio de Janeiro. Uma pequena mesinha também está ao lado do sofá e, por incrível que pareça, um frigobar está ao lado da porta e do outro uma máquina de água gelada e uma garrafa de café. Suspiro sentindo-me confortável com a vista que obtenho da cidade.

- Como você tem passado os dias? - Ouço a voz de Ana Júlia e permaneço com os olhos voltados para a janela.

- Eu decidi vir de coração e mente aberta por isso posso te confessar que eu não estou bem. - Puxo o ar fortemente e solto-o sofregamente. - Eu estava bem, mas desde o dia em que fui sequestrada... Tenho me feito de forte, mas não consegui. - Interrompo minha fala e engulo o bolo de choro que subiu em minha traqueia.

- Você não se acha forte? - Indaga Ana Júlia. Ouço os botões do teclado soando ritimados em meus tímpanos conforme Najú escreve.

Aguardo por um tempo enquanto divago em meus pensamentos.

- Sempre me achei forte. - Sussurro sentindo seu olhar sobre mim. - Não digo isso de forma soberba, sabe? Mas eu sempre confiei na palavra do Senhor e por todo tempo a força dEle bastou em todas as provações.

- E o que mudou?

- Não sei. Acho que soltei a mão dele e pensei que daria conta sozinha. - Confesso sentindo uma lágrima solitária rolar.

- Quando você soltou a mão do Senhor? - Não ouço mais o barulho do teclado. Sinto só seus olhos sobre mim.

- Eu... Eu acho que foi no momento em que guardei tudo para mim. Não desabafei, não procurei um apoio espiritual. Pensei somente que suportaria ter todas as lembranças em minha cabeça, mas o fardo foi muito grande. - Digo deixando as lágrimas escorrerem.

Ana Júlia nada diz enquanto choro olhando para a grande cidade pelos vidros da janela.

- Sabe, eu preciso te confessar que não gosto de demostrar fraqueza, acho que este foi o erro além de soltar a mão do Senhor. Eu me sobrecarreguei por querer guardar tudo sem pedir um auxílio, sendo que Deus deixou nesta terra pessoas capacitadas para ajudar... Nem para o meu próprio pai eu confessei nada. Fiquei somente como a mulher sulamita dizendo que tudo ia bem sendo que nada estava. Percebo que o problema foi a forma que conduzi isso. Eu mentia dizendo que estava bem, mas durante as madrugadas eu acordava chorando quando sentia todas as sensações que senti naquele carro... - Um soluço me escapa e jogo a cabeça no encosto não conseguindo dizer nada.

Najú nada diz enquanto tenho uma crise de choro intensa. As memórias daquele dia dançam em minha cabeça como um disco aranhado e em replay. Não sei por quanto tempo permaneci na mesma posição chorando; com as mãos escondendo o rosto. Mas era tão bom colocar tudo para fora, eu sentia um peso sendo liberado.

- Eu acho que-que peguei aquilo que é de Deus. - Digo depois de um grande tempo. - Jesus levou o fardo por nós e eu estava querendo levar o meu e o de todos sobre os ombros. A dificuldade em mostrar fraqueza é porque eu sei que eles precisam de mim... Eles se espelham em mim... Como eu ia quebrar na frente deles? Da Sôh? Da Lou e... e do Matt? Sabe, o medo que eu sinto deles acharem que eu não poderei ajudar é grande, sendo que eu posso, nem que seja emprestando meus ouvidos! Foi para isso que Deus nos chamou... Para servir. E eu não aceito ser um vaso quebrado, não quero não poder ajudar... Quero ser uma amiga que todos podem contar, mesmo que somente para estar ali e segurar na mão ou só orar. - Soluço tentando controlar o choro.

- Todos somos fortes, mas só conseguimos nos manter pela misericórdia e graça dEle. O que aconteceu com você foi uma sobrecarga. Quando carregamos um peso por muito tempo começamos a perder as forças, aí é necessário parar para descansar. É neste momento que até mesmo nós precisamos... Alguém precisa intervir e nos ajudar a chegar em nosso destino. Mas se não pararmos para descansar a tendência é pararmos de vez. Se não descansarmos nossas forças se esvairão e desabaremos no chão por não suportar o peso que trazemos. Se não pedirmos um auxílio, nunca chegaremos no final da jornada, porque sozinhos não conseguimos. Além de demorar muito mais, o peso se tornará maior conforme a caminhada, pois nossa força humana não aguenta o fardo.

"Em nossa vida com Deus não é diferente. Se somente andarmos sozinhos com todo o peso dos problemas e dificuldades vai chegar um momento que não suportaremos. A questão é no momento da parada para descansar,  sabe por quê? Porque se estivermos sozinhos e não pedirmos um auxílio podemos não suportar levantar... E é aí que está o perigo. Porque em nossa vida com O Senhor, o inimigo está furioso pela jornada que temos prosseguido e ele, como é sujo, se aproveita do momento da fraqueza para dar um fim em nossa vida. Se não tivermos força para pedir ajuda morreremos no caminho e nunca alcançaremos nosso alvo. Cristo tem um amor sem igual por nossas vidas e não é isso que Ele quer para nós. Por isso Ele disse para deixarmos o fardo nEle, porque com Ele o peso que a nossa natureza humana não consegue carregar se torna uma pena levíssima quando estamos respaldados em nosso Pai. Ele troca o fardo pesado pelo jugo suave. Ele transforma o peso em pena e conforme caminhamos passamos a ver o Seu agir em todas as coisas. Suportamos tudo que, outrora, não aguentaríamos. E vencemos o que pensamos que perderíamos! Mas para isso é preciso pedir o auxílio do Senhor. Sem Ele nada disso é possível. Precisamos confiar em seu poder e em suas promessas pois o tempo dEle não é o nosso, mas a vontade dEle é maior e melhor."

(..)

Depois de uma hora e meia dentro daquela sala, saí com o rosto mais inchado do que já estava, porém com o coração leve e confiante. Após muito choro ignorei a "linha" entre paciente e especialista e abracei Najú esmagando-a entre meus braços. E agora só consigo ver o olhar preocupado de Matt sobre mim.

- Você está bem? - Ele pergunta pela terceira vez e eu balanço a cabeça apenas controlando a vontade de sorrir.

Acabamos de descer do elevador e estamos seguindo em direção a sua moto dentro do enorme estacionamento. Assim que chegamos ele retira as chaves do bolso e fala três tons mais alto.

- Assim eu vou surtar! Você ama falar, diz que está bem, mas fica quieta como se não estivesse. O que houve lá dentro? Ela te deu uma injeção de esquecimento? - Dou risada e viro-me para ele. O surpreendendo com um abraço apertado.

Matt paralisa enquanto circulo meus braços sobre seus ombros e afundo o rosto em seu pescoço. Ele demora alguns segundos, mas logo retribui o gesto me apertando entre seus músculos. Ficamos assim por um tempo enquanto sinto sua respiração pesada em meu ombro já que ele abaixou levemente sua cabeça. Sinto seu perfume amadeirado e não consigo não gostar do aroma.

- O que você está fazendo comigo, ruiva? - Ouço sua pergunta sussurrada em meu ouvido.

- Me diz você, Matt... O que está fazendo comigo? - Nos afastamos do abraço enquanto olhamos um nos olhos do outro.

Suas íris escurecidas me prendem de um forma diferente. Observo seu rosto por completo e me pego olhando para seus lábios e não tenho muito tempo para raciocinar pois logo sinto-os se juntando ao meu em um beijo inesperado, mas muito bem aceito.

Mattheus aperta seus braços ao meu redor enquanto aprofunda o beijo me fazendo perder os sentidos. Não tendo noção de meus atos levanto as mãos e passo pelos fios de seu cabelo, Matt aproveita o ato e aprofunda ainda mais o beijo me deixando sem ar. E quando a falta de oxigênio é o problema, nos afastamos. Sinto meu rosto esquentar enquanto os lábios estão dormentes, o coração acelerado, as mãos formingando querendo permanecer nos fios de cabelo dele e as pernas bambas como gelatina.

Olho dentro de seus olhos e não sei se me arrependo ou não, só sei que faço o que meu raciocínio pede e então...

(...)

"Todos somos fortes em Deus, mas sem nosso suplemento diário... Enfraquecemos".

Thayla Fernanda.

E então, gente? O que acharam deste capítulo? Eu estava com muitas saudades! Obrigada por tudo!

Muitas emoções ainda nos aguardam! Não desistam de mim!

Algum palpite do que está está por vir? Gostaram do presente?

Beijos, fiquem com Deus! E saibam que vocês moram em meu coração!

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