Capítulo 19 - Sobre lição e pizzaria.


Sempre tive convicção da minha covardia. Nunca pensei que eu chegaria longe demais, ou que alcançaria meus sonhos, isso porque o medo e a vergonha andam ao meu lado por quase toda a vida.

Na maioria das vezes quando eu me sentia pressionado ou diante de um desafio fugia e escondia-me de todos. O choro sempre me conduzia para um local triste e solitário, a escuridão sempre foi minha companheira. Sempre tive medo e pavor das pessoas as achava cruéis demais, porém isso mudou drasticamente com o tempo... Acho que o monstro sempre esteve em mim e não nas pessoas.

..

- Agatha, eu não vou conseguir fazer isso. - Digo em um lamento doloroso. Por que era difícil ela entender que eu não sou assim?

- Mattheus, Mattheus... - Sorri maliciosa e passa as unhas sobre à mesa em seu escritório. - Você é forte, moleque. Não é à toa que consegue fazer o que quero.

- Não faço porque quero, mas porque você me obriga! - Reclamo entredentes.

- Está querendo colocar as asinhas para fora, é? - Ela gargalha e se levanta. Dou três passos para trás temendo sua reação, mas bato minhas costas em um dos brutamontes que era um de seus seguranças.

- Eu não quis te desafiar. - Minto e abaixo a cabeça. Ela anda pelo cômodo como se fosse uma cascavel e para em minha frente. Sinto sua mão puxando fortemente meu cabelo fazendo-me olhar em seus olhos que me queimam com ira. Trinco os dentes para não libertar som nenhum de dor movido pelo seu ato.

- Eu sei que está se achando muito forte somente por estar com quinze anos... Mas deixa eu te lembrar uma coisinha. - Ela baixa lentamente sua cabeça e se aproxima do meu ouvido pronta para destilar seu veneno: - Quem manda aqui sou eu, seu corvarde! - Ela me empurra e bato as costas no chão. Tento me reerguer automaticamente, mas seu salto em meu peito impede-me.

Puxo o ar fortemente tentando controlar o medo que se instalou por cada célula do meu corpo. Ela aperta o salto com o pé e vejo seu sorriso crescer notando o pavor que há em mim.

- Moura, dê a lição que ele merece e mostre-o quem manda, para que nunca mais aconteça o que houve aqui outra vez! - Demanda ela sorrindo perversa.

- Sim, senhora. - Abro e fecho os olhos e meu coração bate descompensado.

- Agatha, por favor, desculpa! - Murmuro quando sinto meu braço sendo erguido.

- Homens não pedem desculpas, Mattheus. Eles só fazem o que devem. - Ela sorrir e olha para o homem que me puxa brutalmente. - Ah, Moura, mostre para ele que um homem de verdade não é um covarde, e não chora à toa. - Ele se apressa em me puxar enquanto arrasta meu corpo com brutalidade.

Luto para me reerguer, enquanto tento firmar os pés no chão, mas o modo em que meu corpo está sendo arrastado me impossibilita. Levanto os braços e fecho os punhos tentando socar os braços e as pernas do brutamontes e depois de alguns golpes consigo atingi-lo na coxa.

- Você é um imbecil mesmo, hein, moleque! Deveria agradecer por tudo que a gostosa da Agatha fez por você. - Ele para a caminhada e se abaixa em minha frente dizendo tudo sorrindo com um dente faltando na boca. Cuspo em sua cara e recebo um soco como resposta.

- Imbecil é você, seu pau mandado! Acha que ela uma dia vai se deitar com um merd# feito você? - Gargalho com escárnio e cuspo no chão. Recebendo um soco na cara e logo em seguida no estômago. Aponto o dedo em sua cara e sussurro: - Otário!

O brutamontes me arrasta enquanto debato-me entre seus braços, ele me xinga de todos os nomes que ouço da Agatha sempre. Não satisfeito por me puxa pelo braço ele me joga no chão assim que chegamos no quintal e começa sua sessão de chutes e agressões. Tento me levantar, mas o assovio que Moura efetuou trouxe como resultado mais dois homens que junto com ele começaram a me espancar.

- A gostosa da Agatha deixou fazer isso com seu protetor? - Pergunta um deles.

- Foi ela quem mandou, Sérgio. - Ele gargalha e continua: - O moleque aí tá pensando que se manda. É um b7st3 mesmo!

- Então, se a nossa patroa maravilhosa mandou, devemos fazer direito. - O pavor se alastrou por meu corpo assim que as palavras saíram da boca do homem.

- Vamos levá-lo para o matadouro! - Ouço a voz do outro homem, mas o zumbido em meu ouvido dificulta o reconhecimento.

Sinto meus braços e pernas sendo erguidos enquanto me carregam como se eu fosse uma caixa. O sol quente bate em meu rosto e fecho os olhos com dor.
Eles me guiam enquanto o terceiro homem começa uma sessão de agressões com uma madeira, sinto dor nas canelas e em minhas coxas e a queimação se intensifica nos braços. Tenho certeza que não caí no chão por estar sendo carregado, porque nem mesmo sinto meu corpo, tudo está dolorido e queimando.

O choro me sobe pela garganta e seguro a todo custo, mas perco a batalha quando sinto que chegamos no "matadouro" e se inicia uma tortura psicológica. Eles gritam me xigando enquanto socos,  pontapés e madeiradas são distribuídas por todo meu corpo. De repente eles param e então pisco os olhos enxergando Moura pairando sobre meu corpo.

- Seu rostinho é lindo, moleque. Acho que devemos soca-lo um pouco. - Sinto as lágrimas escorrendo de meus olhos assim que seu punho acerta meu olho. Mas ele não da somente um, porém uma sequência de vezes. Os brutamontes se revezam entre eles gargalhando como se fosse a cena mais engraçada do mundo. Puxo o ar lentamente sem forças para conseguir respirar e entre meu último suspiro vejo-o com um pano na mão depois disso a escuridão me envolve de vez.

*

Sacudo-me assustado e sentindo todo meu corpo protestar de dor. O desespero se alastra por cada célula de meu corpo assim que a avalanche de recordações vêm à tona. Esfrego o rosto e abro os olhos sentindo um líquido gelado escorrer por minhas bochechas. Ouço risadas e viro a cabeça tentando enxergar quem está no cômodo.

- A bela adormecida acordou. - Reconheço a voz do Moura e meu corpo treme de medo do que virá. Noto que estou dentro do meu quarto. - Espero que aprenda a lição, moleque. Não teste mais a paciência da Agatha... Afinal, sua punição pode ser pior do que a surra que recebeu hoje.

- Eu vou adorar cumprir as ordens da gostosa! - Afirma o outro.

- Você ama essas coisas, não é Sérgio?

- Não é que eu amo, mas devemos obedecer nossa patroa maravilhosa. - Eles gargalham e sinto a ânsia subir pela garganta.

- Por falar em maravilhosa que tal mostrarmos a ela o vídeo que fizemos do protegido dela? - Eles riem e viram as costas saindo do quarto.

Coloco o braço sobre os olhos e sinto o corpo protestar de dor. O choro me guia pelo caminho tão conhecido por mim: Sombrio e abandonado.

*

- Matt, o que está fazendo aqui? O que aconteceu com você, meu amor? - Bruna me examina com os olhos assim que apareço em sua janela às duas da manhã.

Levei uma hora para conseguir sair escondido pela janela do meu quarto sem ser visto pelos seguranças. Sorte que minha namorada mora uma rua atrás da minha.

- Preciso de ajuda, Brun. - Ela se apressa em me ajudar a pular pela janela enquanto examina-me com os olhos preocupados e raivosos. Mulher bipolar é f8d#!

- Você se meteu em mais uma briga, Matt? - Sinto o apoio do seu braço me sustentando e amparando até estarmos na cama.

- Ah, c#ralh7!

- Está doendo?

- Não Bruna, estou gemendo porque quero transar com você. - Respondo sarcástico.

- Não precisa ser ignorante. - Bufa enquanto se ergue e segue para o guarda-roupas. Ela volta com uma caixinha de primeiros socorros e se senta ao meu lado. - Pode começar a me contar o que aconteceu.

- Eu apanhei de uns caras. - Respondo o óbvio e ela aperta a gase com álcool em um machucado no rosto. - Ah, porr#, Bruna! Estava brincando - Sorrio irônico e ela revira os olhos.

- Como se eu não te conhecesse. - Ela murmura e é minha vez de revirar os olhos.

- Se você ficar de fogo no r#bo eu vou embora. - Digo rude.

- Sua paciência é admirável. - Levanto-me sentindo o corpo protestar de dor e me desprendo do seus braços que tentam me puxar. Quase caio no chão, mas consigo equilibrar o corpo na cômoda. Maldita dores.

- Vou embora. - Afirmo e passo a perna pela janela. Trinco os dentes sentindo a dor se alastrar.

- Não faz assim, amor. Vou ficar quietinha. Deixa eu cuidar de você. - Suplica.

- Pensasse nisso antes. Vou atrás de alguém que me ajude e não enche a p4rr# do meu saco! - Soo arrogante e pulo a janela. Ouço sua voz me gritando e viro-me mostrando o dedo para ela.
Ando lentamente pela rua deserta enquanto manco e apoio-me nos muros. chego na casa do meu amigo. Abro o portão com o macete que tem escondido e praguejo contra a dor que estou sentindo. Dou a volta na casa e chego na janela de seu quarto.

Olho no relógio em meu pulso e consto que são três e quarenta e cinco da manhã, levei mais de uma hora para chegar até aqui, sendo que Lucas mora uma rua antes de Bruna. Sou um merd# mesmo. Abaixo-me e caio sentado no chão sinto as lágrimas escorrendo causada pela dor. Agarro uma das pedras que estão ao meu redor e jogo na janela de vidro. Espero que ele acorde com o som, repito o ato por algumas vezes até que a cabeça de Lucas aparece entre o vidro que se abriu.

- O que você quer às quatro horas da manhã, Matt? - Faço um sinal para que ele abra a porta e logo ele some pela penumbra.

Ando lentamente para frente da casa e assim que a porta é aberta vejo-o arregalar os olhos.

- O que você fez, Matt? Estava devendo drogas outra vez?

- Não. Fui falar um pouco mais ousado com a Agatha e ela não gostou. Olha o resultado. - Digo apontando meu estado. Ele suspira e me abraça de lado amparando meu corpo.

- Vamos, eu vou cuidar de você. - Assinto com as vistas embaçadas de lágrimas. - Mas saiba que você está pior que os perdedores de MMA! - Tento empurrar seu corpo, mas quase caio no chão.

- Seu babaca. - Sussuro.

- Eu vou te ajudar, mas sou seu parceiro e preciso dizer a verdade... você está péssimo amigo. - Ele balança a cabeça contendo a risada e sinto vontade de soca-lo, mas nem isso posso fazer.

- Cala a boca, Lucas, não faça eu me arrepender de ter vindo. - Ele sorri e começa a caminhar enquanto apoia o peso do meu corpo em si.

Eu mereço!

*

- Você se meteu em mais uma briga de novo, meu filho? - Tia Sara pergunta assim que adentra ao quarto de Lucas na manhã seguinte.

- Eu não tive culpa. - Murmuro e esfrego minha nuca.

- Tudo bem, eu acredito em você. - Lucas se remexe na cama e senta esfregando os olhos.

- Bom dia, mãe. Será que a senhora pode trazer um café da manhã pra gente? - Ele sorri para ela e ela assente olhando fixamente para ele. Tenho certeza que eles se comunicaram somente pelo olhar.

- Conseguiu dormir? - Lucas pergunta assim que sua mãe fecha a porta.

- Nem por um minuto. - Dou de ombros como se não me importasse, e me arrependo no mesmo instante quando meus ombros aumentam a dor. - Vou comer e meter o pé, tá bom? Quando a Agatha sentir minha falta vai ser uma confusão lá. - Ele assente e se levanta seguindo para o banheiro.

Uma lágrima escorre em meu rosto e limpo-a brutalmente. Não tenho tempo para sentir isso.

- Você precisa denunciar ela. - Meu amigo volta secando o rosto e eu bufo.

- Já conversamos sobre isso. Eu não posso colocar a vida da minha avó em risco, cara. - Esfrego o rosto e tento segurar o choro. A porta se abre e seu Antônio adentra.

- Bom dia, garotos. - Ele me olha e se aproxima sentando-se ao meu lado. - Seu rosto vai ficar marcado por um tempo. Tem marcas de cortes aqui, Mattheus... Quem fez isso com você?

- Não foi nada, tio. - Viro o rosto para o lado oposto, mas ele segura em minha mandíbula me fazendo olhar em seus olhos. Tranco os lábios para não emitir som de dor.

- Você pode contar comigo, não sabe? - Assinto. - Eu estou aqui, Mattheus, não vou deixar nada de ruim te acontecer. - Seguro a risada debochada que quer sair de minha boca e meneio a cabeça.

Mal sabe ele que tudo de ruim já me aconteceu.

- Sabe, as vezes pensamos que estamos sozinhos no mundo, porque são tantas coisas negativas que nos acontecem... Chegamos a duvidar se em algum momento tudo ou pelo menos alguma coisa irá mudar. Eu sei que você enfrenta seus problemas, entendo que a dor grita pedindo um remédio... Eu compreendo que se enxerga dentro de um túnel escuro e fechado. É como se procurasse uma saída para sair do labirinto que está, mas não existem portas ou entradas para correr e contemplar a luz do dia. Você sofre tanto que é como se estivesse com um ferimento na carne que a cada dia piora, às vezes é como se soubesse que fosse morrer sofrendo porque nada em sua volta é bom, então por que sua morte seria? Contudo você se vê ansiando por isso; ansiando pela morte. Só que não é porque você odeia a vida, mas sim por querer se ver livre de toda a dor que está acumulada sobre seu corpo. O peso dos problemas e das dificuldades retiraram tudo de bom que havia em você, sua inocência foi arrancada brutalmente e tudo que você se lembra é da dor... Tudo que restou foi sofrimento...

"Mas existem certas situações que são inevitáveis, e mesmo que doa precisamos enfrentar. Devemos lutar e ter fé que dias melhores virão, necessitamos entrar na guerra e pelejar por nossas vidas. Temos que sorrir mesmo com vontade de chorar, e devemos chorar para aliviar o peso do coração porque nosso corpo não é um local para acumular sentimentos ruins, somos seres-humanos e devemos guerrear para retirar de nós tudo que traz um resultado negativo ao nosso corpo. Sabe qual é a resposta ou, digamos, o remédio que devemos buscar para ter coisas e sentimentos bons em nosso corpo? Sabe qual é a resposta para as dores e feridas? Jesus. Somente através do filho de Deus é que encontramos a verdadeira felicidade, só nEle que enxergamos como sair do túnel sombrio e deserto. Ele é o Jardim que a cada dia tem flores e frutos para nos dar e através destes presentes Ele muda os nossos dias e transforma nossas vidas. Você pode pensar que isso é coisa de "crente", mas não, se tiver somente um pouco de Fé Ele te fará ver que tudo é possível... Até sair de uma caverna com monstros. Ele é capaz de tudo e nEle podemos todas as coisas, basta confiar".

"Em Mateus sete, versículos sete e oito, dizem assim: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-a. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á.
E sabe o que isso quer dizer? Que se você orar pedindo ao Senhor para te livrar de todo o mal, Ele livrará. Porque Ele é fiel e sua palavra é a verdade. Confie no tempo dEle porque mesmo que demore Deus suprirá suas necessidades e responderá aos seus pedidos. Ele te ama incondicionalmente e por isso estregou seu único filho para morrer em nosso lugar, não porque merecemos, mas por amor as nossas vidas"!

..

Abstenho-me dos pensamentos desastrosos e hilários, pressionando o volante com força tentando a todo custo ocultar o caos que está instalado em meu interior.

- Já estamos chegando? - Ester pergunta pela quinta vez em menos de dez minutos. Ouço o riso de minha avó e Letícia, enquanto a ruiva começa a responder minha irmã:

- Teté, você precisa se acalmar. Eu sei que está ansiosa pelo jantar... Confesso que também estou. - Diz baixando o tom de voz como se contasse um segredo.

- Você também está com fome? - Questiona minha irmã. Letícia gargalha e responde:

- Um pouco. Mas você precisa se controlar porque quanto mais ansiosa você estiver, mais vamos demorar para chegar.

- Estou calma, Lê... Como a minha pressa iria atrapalhar nossa saída? Só estou com fome e eu não tenho o controle do carro. - Minha avó sorri e Letícia também.

- Só que você está ansiosa, com fome, quer chegar logo no restaurante e como você quer muito isso parece que demora cada vez mais. A pressa é inimiga da perfeição, já dizia os mais velhos, não é dona Angel?

- Isso mesmo. Não podemos colocar o tabuleiro no forno sem ligar o fogo antes, é tudo em seu devido tempo, minha filha. - Minha avó e suas comparações com comidas. Reviro os olhos.

- É muito chato isso. - Ester se opõe.

- Eu sei princesa, só que quanto mais rápido você quer as coisas, menos tempo para estarem prontas elas têm. Se tudo acontecer no momento que a gente quer, nunca estaremos prontos para esperar. Pensa comigo, se a gente não esperar o bolo assar ele não estará cru?

- Sim, mas eu gosto de comer a massa. Até passo o dedinho no pote. - Elas riem da resposta de Ester e eu seguro a vontade de sorrir.

- Tudo bem, eu sei que você gosta, mas não estará pronto, porque ele só fica no ponto depois de assar. É preciso esperar o tempo certo para tudo, princesa.

- Não gosto de esperar, Sereia. - Pelo espelho retrovisor vejo-a cruzar os braços.

- E você já imaginou como seria o mundo se todos não esperassem? - Ester coloca o dedo no queixo e para pensando no que Letícia disse.

- Eu acho que todos seriam felizes.

- Talvez pensariam que seriam felizes, mas não, meu amor, as pessoas não saberiam esperar e não teriam paciência para nada. Deus não se agrada disso. Tudo é no tempo do Senhor, assim como está escrito em Eclesiastes três: Tudo tem seu tempo determinado. Se o médico não esperasse o bebê se formar na barriga da mamãe para nascer quando chegasse o momento do parto ele não poderia viver porque não estaria preparado para este mundo. - Ester para absorvendo o que acabou de ouvir. Sinto o suor escorrendo frio por minhas costas e tenho medo de onde essa conversa vai levar.

- Lê, eu não...

- Chegamos! - Digo um quarteirão antes da pizzaria interrompendo a fala de minha irmã.

- Cadê? Cadê? Cadê? - Ester sorri empolgada e olha pela janela procurando o restaurante.

Eu não iria parar aqui, mas elas não precisam saber disso. Estaciono o carro e ajudo Teté a sair da cadeirinha de segurança, assim que seus pés tocam o chão sinto seus braços ao redor de meu corpo abraçando-me.

- Obrigada, Matt! Tem maior tempão que eu não como pizza. - Meneio a cabeça apenas e luto contra os pensamentos obscuros. Por que é tão difícil?

- Você não disse que iríamos em um restaurante? - Viro-me vendo minha avó questionar.

- Eu sei, mas a pizzaria estava mais perto e a Ester está com fome. - Digo parte da verdade.

- Tudo bem, tem um tempo que ela não come pizza mesmo. E hoje é um dia feliz e de comemorações. - Assinto recebendo seu abraço. Ela se afasta tentando controlar a euforia da criança e dou a volta no carro vendo Letícia a minha espera.

- Vamos? - Chamo-a não olhando dentro de seu rosto.

- Uma moeda por seus pensamentos? - Viro a cabeça com um sorriso de escárnio nos lábios.

- Você não iria gostar de ouvir nem a metade deles.

- Só saberei se você me contar. - Ela sorri amplamente e sinto vontade de manda-lá parar com este ato.

- Letícia, meus pensamentos não são da sua conta. - Falo rudemente.

- Queria entender porque você está assim. Estava tudo bem e do nada você mudou sua fisionomia... Eu disse algo que não deveria? Se foi isso me perdoa. Não tive intenção de magoar ou irritar você. - Viro de costas não suportando ver seu rosto magoado.

Eu estava pronto para dizer a ela: As pessoas precisam pensar antes de dizer merd4s, mas sua fala e seu rosto entristecido cortam meu coração como se estivesse sendo massacrado.

- Me desculpa. - Murmuro ainda virado. Puxo o ar fortemente vendo minha avó e Teté conversando entre si em um banco de cimento.

- Você não precisa me pedir desculpas, não fez nada. - Viro-me e me aproximo de seu corpo.

- Eu sou um babaca em muitas das vezes, ninguém precisa me dizer isso porque eu sei. - Passo os fios de seus cabelos que o vento balançou para trás de sua orelha.

- Ninguém é perfeito, Matt. - Ela afirma sorrindo de forma moderada.

- Estou achando que você beira a perfeição. - Confesso vendo seus olhos brilhando em minha direção, enquanto as bochechas aumentam a tonalidade. Eu não mereço o  brilho de seus olhos.

- Não mesmo. - Ela sorri acanhada e segura minha mão que eu, nem mesmo percebi, estar fazendo carinho em sua bochecha. - Me perdoa mesmo, tá? - Pede e eu me afasto sentindo-me um completo idiota.

- Não me peça perdão... Você não fez nada eu que fui um babaca como sempre. Vamos entrar e comer uma imensa pizza? Acredito que esteja com fome. - Ela aumenta o sorriso e assente começando a caminhar.

- O amigo que convida paga o banquete, não é? - Sorrio impossibilitado de não fazer.

- Com certeza. Posso ser um idiota em muitas das vezes, mas sei ser cavalheiro quando devo.

- Acho que vou gostar desse seu lado. - Ela sorri e eu balanço a cabeça para não imitar seu gesto. - Ainda bem que meu cunhado não está aqui, porque se não... - Letícia da uma pequena risada matando sua fala.

- Se não o quê? - Paro de andar questionando.

- Ah, ele é médico e sempre opta pelo saudável. Sabemos que pizza não está na lista. - Voltamos a andar enquanto eu balanço a cabeça confirmando.

- Ele está certo, mas podemos comer uma besteira às vezes.

- Bem às vezes mesmo.

- Eu não posso dizer o mesmo. - Cruzo os braços me aproximando de minha avó.

- Então você gosta de comer essas coisas? Pizza, chocolate, x-tudo e tudo mais?

- Não gosto, eu amo, mas não diga isso a ninguém. - Ela solta uma pequena gargalhada e balança a cabeça.

- Ah, eu te entendo. Também gosto, mas tento não comer com frequência. - Responde ajeitando a bolsa no ombro.

- Seu segredo está seguro comigo. - Afirmo olhando dentro de seus olhos. Ela sorri e passa o cabelo que o vento balançou para trás.

- Até que enfim, pensei que eu não iria comer minha pizza hoje. - Letícia sorri do drama de Ester.

- Não seja exagerada, Teté. - Minha avó repreende.

- Não é exagero, vovó. Eu juro que pensei que não comeria. - Ela sorri sapeca e eu noto que está brincando.

- Então vamos acabar com sua fome infinita? - Indago.

- Sim! - Ela sorri empolgada e se levanta do banco.

- Quem vai escolher os sabores? - Pergunto.

- Eu! Eu! Eu! Eu! - Ester pula gargalhando enquanto enche meu coração de alegria. Minha irmã não faz ideia que somente ela foi minha felicidade por muito tempo.

(..)

- Hum! - Teté solta um som de satisfação quando mastiga a pizza de frango com catupiry.

- Está boa? - Letícia pergunta incerta. Controlo a vontade de sorrir vendo o seu sorriso nervoso.

- Boa não. Maravilhosa! Está uma delícia, Sereia. Prova! - Indica o prato dela com a fatia. Letícia assente sem jeito e corta seu pedaço colocando-o na boca. Ela fecha os olhos com força e mastiga a massa fazendo careta.

- E então, gostou? - Pergunto pegando o segundo pedaço para comer.

- Não sei dizer ao certo, acho que terei que provar outra vez. - Minha avó e Ester dão risada.

- Que curioso, não é? - Digo sarcástico.

- Muito, Matt. - Afirma sorrindo e enfia mais um pedaço na boca.

- Letícia, você sabia que o Mattheus chorava pedindo para comprar pizza? Ele sempre gostou de comer besteiras na rua. - Minha avó começa a falar e eu reviro os olhos.

- Como consegue ser magro, Matt? Sempre comeu porcarias na rua, e isso engorda muito.

- Letícia, minha avó é exagerada. - Digo comendo.

- Exagerada? Claro que não, meu filho. Teve uma vez, acho que ele deveria ter uns treze ou quatorze anos. Lê, ele chorou feito um bebê pedindo pizza de calabresa. Augusto nesse dia chegou mais tarde, então eu tive que o esperar porque meu dinheiro tinha acabado. Ainda me recordo dele sentando no último degrau da escada chorando de soluçar porque seu tio ainda não havia chegado. - Puxo o ar fortemente e controlo a vontade de mandá-la calar a boca.

- Sério? - Letícia sorri e nega com a cabeça. - Não posso dizer muita coisa porque eu chorava pedindo para minha mãe fazer bolo de maracujá. - Levanto a cabeça e vejo-a sorrindo sem jeito. Ela nunca cita sua mãe, mas eu a entendo. Lucas comentou que ela e a irmã perderam a mãe de forma súbita.

- Eu nunca conheci minha mãe. - Ester se pronuncia. Um silêncio mortal toma conta de nossa mesa enquanto todas as outras continuam com suas conversas paralelas.

Jogo grosseiramente o guardanapo sobre o prato e me levanto da cadeira de forma bruta. Inspirando o ar fortemente, viro a direta e entro dentro do banheiro... Eu sabia que no momento em que minha avó abrisse a boca falando do passado saíria merd#s de lá!

Eu não posso ter uma crise nesse momento.

(...)

"O cansaço mental e um aliado do descanso espiritual".

Thayla Fernanda

E aí, gente, tudo bem?

Gostaram do capítulo de hoje? Palpites do que está por vir?

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Beijos e fiquem com Deus!

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