Capítulo 18 - Sobre estar juntos e rejeição
Olá, gente, tudo bem? Espero que sim. Bom, eu não sei se todos vocês que leem o livro estão me seguindo, se não, não sabem do recado que deixei em meu mural. Avisei que meu celular quebrou e pedi perdão pela imensa demora. Eu tinha um capítulo quase pronto e infelizmente o perdi, contudo Deus sabe de todas as coisas e nada sai do controle de suas mãos.
Reescrevi o capítulo e muitas coisas não ficaram como no outro, mas confesso que no começo fiquei frustrada, porque tudo que eu queria era lembrar de cada detalhe do que perdi, mas compreendi que Deus não queria daquele jeito, e gente, a vontade dEle sempre é melhor, então este é o melhor.
Os capítulos sairão. Mesmo com a demora, estou escrevendo pelo celular do meu marido, então peço a compreensão de todos vocês.
Espero que aproveitem a leitura, pois foi feita de coração. Obrigada pela força, paciência e carinho de todos vocês.
Assim que a moto de Mattheus estaciona em frente a casa de sua avó, sinto-o ficar tenso e apreensivo. É nítido que ele está abalado com todo o ocorrido e isso é compreensível, mas seu coração precisa ser controlado. Matt tem que entender que somos humanos e estamos propícios a errar sempre. Nossa carne diariamente grita pela imundície do pecado e, infelizmente, às vezes, não conseguimos resistir. Contudo devemos sempre ter força de vontade para não permanecer no erro.
Acontece de repente, de forma tranquila, silenciosa... É assim como a serpente. Quando ela quer dar o bote, rasteja e tenta surpreender a vítima com sua mordida venenosa para neutralizar e poder fazer o que quiser com ela. Com o pecado também é assim, ele age em igualdade como uma cascavel, se infiltrando e danificando todos os nossos mecanismos de defesa. Ele arma uma emboscada para poder nos enrolar entre sua pele áspera tentando nos deixar paralizados; um completo enganador, que ilude olhando-nos de forma centrada, buscando nossa total atenção para somente, então, dar sua cartada final: que é nos deixar viciados em seu abraço mortal, ou em sua mordida que, outrora, era ruim e amarga como fel, mas agora que o veneno fez efeito e não nos matou, mas sim viciou, deixando-nos entorpecidos e viciados.
Quando nos demos conta, os danos são quase irreversíveis, a vontade vai surgindo e nos enxergamos encurralados como se estivéssemos presos entre quarto paredes de onde não é possível sair, porque a emboscada que foi criada nos jogou dentro do cômodo que parece não haver portas, tudo foi orquestrado para que sofrêssemos como animais enjaulados. Tentamos arrancar as correntes imaginárias que estão nos deixando jogados no chão sujo, fedido e podre, mas tampouco nos demos conta de que é tudo uma mera ilusão da nossa mente traiçoeira que está viciada no veneno da cobra. Tudo foi tramado para que sofrêssemos com a abstinência, pois assim, morreríamos sufocados pelas vontades e pressões psicológicas. Ficamos afogados em um mar mental que nos fazem enxergar coisas inexistentes e ouvir palavras ininteligíveis... Tudo acaba sendo fruto da nossa fértil imaginação, que foi movida pelo pecado, pelo veneno e pela droga que ficou armazenada e infiltrada enquanto poluía tudo de bom e amável que existia. O vício cresce e quando tentamos vencê-lo somos surpreendidos pela vontade que nos consome, ao menos conseguimos controlar a infeliz satisfação de fazer tudo para suprir a abstinência que o pecado está trazendo. É uma droga que quanto mais o usuário quer se livrar, mais ele quer consumir, quanto mais se luta para negar a vontade, mais o tóxico se impregna no sistema e ele se vê sem opções de saída.
Por não conhecer a Deus verdadeiramente, as pessoas acham que é impossível vencer o vício do pecado, mas em Lucas diz que Tudo é possível ao que crê. E é confiando nessa palavra que aqueles que conhecem ao Senhor conseguem vencer, porque estes sabem que com Fé e perseverança conseguimos vencer todas as barreiras que se levantarem. Às vezes, algumas pessoas acham que só vencerão quando ganharem prêmios, mas existem muitos casos em que as pessoas ganham somente por permanecer lutando. Nem sempre para ser um vencedor é preciso estar com um troféu, mas só continuar batalhando para sair de todos os problemas já se é um vitorioso.
Somos tão fortes em Cristo e não nos damos conta disso, os efeitos colaterais que o veneno causou em nosso organismo deixaram sequelas que precisam ser curadas no Senhor, porque Ele é o único remédio que nos trará a cura certa. Não adianta procurar meios errados, ou só tentar ocultar da mente, não basta só deixar "para lá". É preciso vencer o medo e continuar na guerra. Somos soldados dispostos a vencer, mas para obter a vitória é preciso estar na batalha, não se pode fugir ou tentar esconder-se. Somos importantes para o Reino e é pensando no amor do Pai e nas promessas do Eterno que vamos ter forças para lutar e vencer.
As pessoas precisam entender que a guerra já foi vencida por Cristo, quando Ele deu sua vida por nós, mas precisamos lutar as batalhas diárias porque nossa carne sempre clamará pelo veneno do pecado, ela sempre vai ceder e para que não venhamos viver neste ciclo vicioso devemos batalhar todos os dias, por todas as horas, minutos e segundos, porque o tratamento para se livrar do vício é um processo e às vezes ele demora mais para ser vencido e requer de cada pessoa decidir ser forte nesta transição ou deixar os dias passarem sem se importar de vencer. O lembrete que devemos ter em mente é: Somos soldados e nesta batalha nosso general já venceu, agora, estamos em fase de treinamento para estarmos prontos para encontrarmos com Ele.
(..)
Depois do que pareceram minutos, Mattheus se remexeu no assento. Permiti que ele pensasse e dei o tempo que ele precisava para retirar forças e prosseguir. Espero ter ajudado.
- Vamos? - Indago descendo da moto e ajeitando a bolsa. Ele assente somente e retira a chave da ignição.
- Você acha que eu consigo? E se elas me odiarem? - Pergunta parando em minha frente.
- Matt, é impossível odiar você. E é claro que consegue. - Afirmo. - Todos erramos alguma vez na vida, é normal... Você só não pode permanecer no erro.
- E se eu estiver tempo demais no mesmo lugar? E se eu nunca mudar? - Ele cruza os braços sobre o peito e fita o outro lado da rua.
- Mattheus, tudo tem seu tempo. Algumas coisas demoram mais para mudarem, outras são rápidas. Mas isso não significa que nunca vai acontecer, só mostra que precisa de mais tempo e paciência. Você é forte vai superar tudo que necessita. - Seus olhos brilham em minha direção enquanto sinto-o me avaliar.
- Será que sou tão forte assim?
- Por que eu mentiria para você? Claro que sim, só precisa enxergar a força que tem aí dentro. - Digo apontando para o seu coração.
- Do que vale essa força se não for perdoado? - Ele levanta a cabeça e olha para o céu contemplando as estrelas.
- Por que você não seria perdoado? - Cruzo as pernas e tombo a cabeça.
- Fiz coisas das quais não me orgulho e não quero que você saiba. - Responde amargo. - Falei palavras que minha avó não deveria ter ouvido. Eu não mereço o perdão nem o amor delas.
- Todos nós erramos e falamos o que não deveria ser dito na hora da raiva. Em algum momento da vida alguém precisará de perdão porque ninguém é perfeito.
- Minha irmã é perfeita. - Rebate ele.
- Sua irmã é uma criança. Ela ainda errará na vida, não estou desejando isso a ela, mas todos somos falhos... Matt, você precisa se perdoar primeiro.
- Eu não mereço o meu próprio perdão. - Responde com um sorriso sarcástico.
- E por que?
- Já fiz as pessoas que eu mais amo no mundo sofrerem e isso não merece perdão... Letícia, eu amo as mulheres que estão dentro daquela casa, mas elas sofreram demais por minha culpa e isso é irreversível. - Aponta ele para a fachada da casa enquanto diz tudo com o olhar ressentido.
- Por que você não pode se dar uma chance? Eu estou do seu lado. - Seguro sua mão endireitando minha postura.
- Eu já me dei tantas chances. Já tentei inúmeras vezes... Eu te disse uma vez que sou danificado e coisas danificadas não têm concerto. - Diz puxando o oxigênio fortemente.
- Você está se subestimando. Tente olhar para a frente e esquecer o passado, eu sei que não é tão simples como parece, mas você é forte, Matt, e... eu estou aqui contigo. Eu disse que estou do seu lado e permanecerei, se você deixar.
- Você tem certeza do que quer? Meu mundo não é colorido feito um arco-íris, muito menos com sorrisos iluminados e dias ensolarados, é o oposto. - Diz abrindo os braços e afastando-se.
- Você precisa me ouvir de verdade. Eu disse que quero ser sua amiga, que confio em você, então não importa os dias chuvosos e nublados estarei sempre do seu lado... e começaremos entrando naquela casa e fazendo as duas pessoas que você mais ama nesse mundo feliz. - Digo firme. Inesperadamente sinto seus braços em volta dos meus e recebo seu abraço. Retribuo o ato e olho para o céu agradecendo a Deus em silêncio.
- Você é incrível, branquela. - Me afasto dando risada e empurro levemente seu braço. - Tem alguém corada aí?
- Nem sei do que você está falando. - Sorrio brincalhona e finjo que sua frase e bipolaridade não me abalaram.
- Já te disse que você mente mal?
- Ainda bem, não é? Pra que eu quero saber mentir? - Sorrio em sua direção e capturo rapidamente um leve sorriso em seus lábios.
- Dizem que mentira tem perna curta. - Ele dá de ombros.
- Ainda bem que não sou tão baixinha, né? Mas deixa esse assunto para depois, vamos ver a sua bombom. - Ele assente somente.
Seguimos lentamente pela calçada e Mattheus abre o portão puxando uma cordinha que fica ligada à fechadura. Andamos pelo pequeno caminho de pedras e paramos em frente à porta enfeitada com flores.
- Eu... não consigo. - Afirma ele com o olhar perdido. Puxo sua mão junto à minha e forço-o a me olhar.
- Qual é o seu medo? - Indago vendo seu nervosismo.
- Rejeição. - Diz com a voz embargada. Meu coração se aperta dentro da caixa torácica enquanto sinto sua mão suar frio.
- Matt... Elas nunca rejeitarão você. Eu vi como foram os dias de sua irmã e de sua avó, estive ao lado delas enquanto Teté não conseguia dormir, vi ela chorar de saudade, ouvi ela gritar por seu nome... Eu sei que isso pode te fazer mal, mas não é essa a intenção. Quero que você enxergue que elas te amam e nunca deixarão você ou te abandonarão. - Afirmo.
- É difícil... - Ele levanta a cabeça para o céu e percebo seu esforço para não chorar. - Elas são tudo o que eu tenho... não posso perdê-las.
- Então vamos lutar, Matt! Você é forte, amigo. - Sorrio e puxo sua mão tentando fazê-lo olhar para mim. - Elas não querem te perder e você também não quer isso, então vamos à batalha.
- Como? - Sussurra olhando-me.
- Tentando. Nada nessa vida é fácil, se você quer uma profissão dos sonhos, precisa estudar; se você ama uma pessoa e deseja obtê-la, você tem que lutar por ela; se você quer um trabalho, precisa procurar e se você não que perder quem ama, precisa lutar e permanecer lutando. Somos fortes juntos e eu estou contigo em qualquer batalha. Não sou tão fraquinha assim. - Afasto-me dele e levanto o braço mostrando meus músculos fracos, mas sorrindo como se fosse a coisa mais linda e forte do mundo.
Mattheus relaxa sua feição negando com a cabeça e rindo se aproxima me abraçando outra vez. Isso está se tornando frequente, mas como não seria? Somos amigos e estamos juntos lutando por sua vida. É somente isso!
- Você não tem noção de como é incrível, Ruiva. - Ele se afasta e beija minha testa enquanto suas mãos fixam-se ao lado de minha cabeça. Sua respiração forte de menta bate rente ao meu rosto enquanto ele se afasta lentamente. Sinto meu coração acelerado e tenho medo de que ele possa ser ouvido. Matt me olha de forma centrada passando os fios de meu cabelo solto para trás da orelha.
- O-obrigada. - Digo fixada em seus gestos.
- Não me agradeça por dizer a verdade. Você é maravilhosa e tenho certeza que sabe disso. - Sorrio enquanto ele se afasta.
- É, eu sei que sou especial. - Balanço a cabeça sorrindo convencida.
- Acho que o tempo com seu irmão tem contaminado você. - Comenta ele pondo as mãos nos bolsos.
- Ossos do ofício. - Dou risada, mas ela logo cessa quando a porta é aberta.
Viro-me para a frente enquanto vejo Ester parada olhando atentamente para seu irmão. A menina permite que suas lágrimas escorram enquanto ela processa se a cena em questão é real.
- Matt! - Sussurra dando um passo a frente. Mattheus, joga-se no chão e abre os braços chamando-a para repousar ali e é o que sua irmã faz.
Permaneço em silêncio enquanto ouço-os chorarem e sinto minhas lágrimas silenciosas em uma dança feliz pela cena.
- Me perdoa, bombom. Me perdoa. Me perdoa. - Ele se afasta rapidamente enquanto pede olhando-a nos olhos.
- Você não precisa de perdão, Matt... Precisa do meu amor, e ele está todo aqui. - Ela coloca as mãos sobre o peito e ele não resistindo a fala, abaixa a cabeça entre as mãos e chora copiosamente. Parece que enxergo um filho pródigo voltando para casa.
Coloco as mãos na boca tentando não soltar soluços, mas a intensidade da verdade e do amor é tão real que sinto-me emocionada.
- O que eu fiz para merecer você, Teté? - Ele a puxa de novo para um abraço enquanto chora na pequena curva de seu pescoço.
- Você fez tudo... Matt... meu amor é seu. - Ela responde enquanto tenta controlar o choro.
Eles permanecem assim enquanto somente as lágrimas falam por si, dona Angélica aparece às pressas com um pano de cozinha em mãos e os cabelos eriçados. Seria uma cena engraçada se não tivesse tanto choro e tanta emoção. A avó volta para dentro de casa enquanto chora em silêncio e eu continuo em meu lugar observando os irmãos em um abraço emotivo.
Deus é incrível demais!
- Vem, eu preciso te mostrar todos os meus desenhos. - Ela levanta às pressas e puxa-o pela mão.
Seco minhas lágrimas enquanto tento controlar minhas emoções e permaneço no mesmo lugar, absorta demais para andar ou me mover. Sinto-me levemente perdida.
- O que você está fazendo aí? - Coloco as mãos no peito assustada com o timbre da voz dele.
- Que susto, Matt! - Empurro levemente seu braço e ele cruza-os me olhando seriamente.
- Não respondeu minha pergunta. - Rebate.
- Eu estava ajeitando meu cabelo. - Digo fazendo o gesto.
- Acredito. E os porcos voam.
- É o quê?
- Já te falei que você mente muito mal. - Dou risada e assinto.
- E eu amo isso. - Respondo.
- Sério, Ruiva. Vamos entrar, você é minha amiga... Disse que estaria do meu lado, então, não precisa ficar perdida ou tentando se esconder por chorar, eu faço isso sempre. - Olho-o dentro dos olhos e dou-lhe um pequeno sorriso.
- Acho que você que é o incrível aqui.
- Não sou mesmo. Chega de papo, vamos entrar que eu vou matar a saudade.
(..)
- Sereia, me desculpa, eu não te comprimentei. - Ester pede um pouco depois de termos entrado.
- Não se preocupe, meu amor. - Beijo a ponta de seu nariz.
- Eu já estava com saudades de você. - Diz enrolando uma mecha de meu cabelo. Sorrio em sua direção e a puxo para um abraço.
- Eu também. - Sussurro em seu ouvido. - Mesmo eu tendo vindo aqui ontem. - Dou risada e ela me acompanha.
- O que tanto vocês cochicham? - Mattheus pergunta enquanto está sentado no chão entre os diversos papéis de desejos espalhados.
- Não é nada, Matt. - Teté responde sorrindo.
- Cadê minha avó que até agora não vi? - Dona Angélica imediatamente aparece na porta da cozinha.
- Estou aqui, meu filho. - Ela sorri enquanto segura uma colher em mãos.
- Pensei que não queria me ver. - Sinto a verdade em suas palavras.
Dona Angélica vem da cozinha como um leão feroz e puxa seu neto do chão o abraçando rapidamente.
- Jamais diga isso de novo, está me ouvindo, garoto? - Ela olha-o dentro dos olhos enquanto repreende-o com as vistas sobrecarregadas de lágrimas. Mattheus assente enquanto abraça sua avó novamente.
- Me perdoa, vó. Me perdoa... Eu não fui forte o suficiente. - Ele murmura no abraço.
- Não diz isso, meu filho. Você é o homem mais forte que eu conheço desta terra... Enfrentou coisas que ninguém conseguiria enfrentar e hoje está de pé lutando. Erga sua cabeça você é mais forte que tudo isso.
- Eu lutarei, vó. - Ele se afasta e afirma olhando-a nos olhos. - Não irei embora outra vez... Eu não quero nunca mais voltar naquele...
- Chega, meu amor, já passou, já passou. Agora você está em casa novamente. Está no lugar onde todos te amam e nunca te rejeitarão... Você entende isso, não é? - Ele balança a cabeça positivamente e se abraçam mais uma vez.
- Eu amo você, vó.
- Eu também amo você, meu filho. - Sorrio vendo a cena e ouço Ester fungar enquanto levanta e se junta no abraço.
Mattheus se afasta e pega-a nos braços beijando-a e abraçando as duas novamente.
- Junte-se a nós, Lê. - Chama dona Angélica.
- Não, Dona Angel. - Sorrio sem jeito. - Esse momento é de vocês.
- É seu também Ruiva, venha. - Matt estende a mão e balanço a cabeça negativamente rindo sem graça.
- Está tudo bem, gente. Estou bem aqui. Fico feliz somente em ver a felicidade de vocês. - Afirmo sorrindo.
- Vem, Sereia, você faz parte da família. - Ela diz do colo de seu irmão e me puxa pela mão. Sigo-a sentindo minhas bochechas ardendo pela vergonha que estou sentindo. E através de um quádruplo abraço sinto como o Senhor tem trabalhado: Ele tem sido manso, suave e amável enquanto mostra que age através de gestões e ações. Só posso agradecê-lo por estar me usando sem eu mesma notar.
- Obrigada, Pai. - Sussurro enquanto uma lágrima rola sobre minha face.
(..)
- Estou muito feliz por ter aceitado sair um pouco de casa, vó. - Mattheus confessa após sua irmã subir as escadas.
- Eu estava na cozinha procurando alguma coisa boa para cozinhar. Lê merece um jantar bom, e a Teté merece esse reencontro... Ela sofreu, meu filho.
- Eu sei, vó. Me perdoa... Mas eu não soube reagir a tudo que...
- Não precisamos falar disso, meu filho. Eu sei como se sentiu. - Ele assente e coloca a pasta com desenhos sobre a estante.
- Como foram as coisas por aqui? E meu tio?
- Seu tio vive naquele hospital, não é, Lê? - Indaga ela virando-se para mim.
- É sim, dona Angel. Senhor Augusto ama aquele local, e eu o entendo perfeitamente. São tantos testemunhos que acontecem diariamente lá. - Sorrio olhando para ela.
- O que importa é que ele está bem. - Responde Mattheus.
- Tudo bem, eu vou ver como a Teté está no banho e irei me ajeitar logo para não ficar muito tarde. Já volto, Lê. - Sinto seu beijo minha testa enquanto assinto para ela e logo depois vejo-a fazer o mesmo ato com seu neto. Acompanho-a com os olhos enquanto ela sobe os degraus da escada.
Permanecemos em silêncio por um tempo, até que a voz firme dele enche a sala.
- Estou feliz por perceber que você esteve presente aqui com elas - Meneio a cabeça.
- Você tem grandes motivos para ama-lás... São pessoas que valem a pena ter ao lado. Sua vó é uma senhora sábia e uma grande mãezona, e sua irmã é uma anjinha em forma de menina. Você tem sorte, Matt. - Afirmo brincando com a bolsa em meu colo.
- Pelo menos tenho elas, não é? Nada mais me resta além delas. - Sinto sua voz pesar e tento não pensar, no momento, no porquê de sua feição ter mudado desse jeito.
- Você tem a mim também agora. - Sorrio tentando espantar qualquer vestígio de sentimento ruim. - Não foi você quem disse que sou incrível e especial? Então, você é um grande sortudo por me ter como amigo. - Sorrio convencida e balanço os cabelos rindo.
- Lucas te contaminou feio, hein. - Ele brinca balançando a cabeça.
- Meu cunhado não fica atrás também. - Sorrio lembrando do médico convencido.
- Ethan? - Levanto a cabeça e assinto.
- Já te falei sobre ele? - Indago com o cenho franzido.
- Acho que sim, não tenho certeza. - Diz virando as costas e olhando Ester descer as escadas.
- Olha, Matt, estou usando meu vestido novo. - Levanto-me sorrindo boba contemplando a felicidade que está no rosto de Teté.
- Mas como você está linda, minha princesa bombom! - Ele abre os braços e recebe-a entre eles.
- Obrigada, Matt. - Ela se afasta sorrindo e vem saltitando em minha direção. - O que você achou, Sereia?
- Eu? Estou encantada demais com a sua beleza para opinar. - Ester sorri contente e pega as pontas do vestido rodando-o.
- Obrigada. - Ela se aproxima e me chama para contar um segredo. Abaixo-me em sua altura e empresto os ouvidos. - Estou de short por baixo do vestido. Vovó disse que sou uma mocinha e não posso mostrar a calcinha. - Ela se afasta orgulhosa como se fosse a adulta da sala. Dou risada e puxo seu rosto beijando-a várias vezes na testa e bochecha.
- Você é uma princesa mesmo! - Digo a abraçando.
- Que tanto vocês chochicham? - Ouvimos a voz do Matt e nos viramos para ele.
- Está com ciúmes, Mattheus? - Pergunto e Ester gargalha.
- Claro que não. Mas vocês gostam de falar entre si. - Vejo-o revirar os olhos e dou risada.
- Matt, estamos falando coisas de meninas. - Ester responde e abro o sorriso vendo-o revirar os olhos novamente.
- Bobeira isso.
- Lê, eu acho que ele está com ciúmes... Matt está com ciúmes, Matt está com ciúmes. - Teté começa a cantar e eu bato palmas incentivando. Vejo o rosto dele começar a ganhar cor e aumento meu sorriso.
- Matt, você está corado? - Ele coça a nuca e abre um pequeno sorriso com covinhas.
- O que é corado? - Ester pergunta parando de cantar. Viro-me para ela.
- Não estou corado. Nem sei o que isso significa. - Balança a cabeça matando o sorriso. - Responde ela, Letícia, o que é corado?
- Teté, é como eu fico quando estou com vergonha. Minhas bochechas ficam vermelhas e elas ardem por causa da tonalidade que ficou. - Ela me observa atentamente enquanto processa minha resposta.
- Então, Matt está com vergonha porque estava com ciúmes da gente? - Dou de ombros e sorrio com sua esperteza. Ouço-o bufar.
- Teté tire essas coisas da cabeça, Letícia é maluca. - Disse piscando para a irmã.
- Por que eu? - Questiono.
- Você quem disse que estou corado, mas isso é coisa da sua cabeça com cabelo queimado. - Ester coloca as mãos na boca em espanto e eu imito seu gesto como se fosse a coisa mais absurda que Matt disse.
- Não pode chamar ela de cabelo queimado, o certo é Ruiva, Matt, igualzinho quando você disse que iria buscá-la lá fora quando entramos. - Solto uma gargalhada vendo o desenrolar da cena: Ester com a mãozinha na cintura enquanto faz sinal de não com o dedo para seu irmão.
- Meu amigo, eu prefiro branquela e Ruiva, porque cabelo queimado e água de salsicha, como diz meu irmão... Assim não dá. - Ele tenta conter o sorriso e Teté balança a cabeça concordando comigo.
- Estou ferrado com essa amiga que fui arrumar. - Ester sorri da careta que Mattheus faz e eu acompanho-a sentindo a felicidade reinar dentro deste lar.
(..)
- Pensei que não desceria mais, vó. Porque mulher demora tanto para se arrumar? - Ele bufa enquanto está jogado no sofá ao lado.
- Olha como ela está linda, Matt. - Ester diz se levantando do tapete.
- Preciso concordar com a nossa princesinha, a senhora está deslumbrante, dona Angel. - Sorrio para ela quando seu corpo para de frente ao meu.
- Obrigada, meninas. Estou acostumada com a falta de paciência do meu neto. - Ela sorri para ele enquanto pisca um olho.
- Vamos, vó linda. - Ele se levanta e segura na mão da Ester guiando-a para fora. - A senhora está maravilhosa, mas ainda demora para se arrumar. - Demos risada enquanto o seguimos.
- Essa noite será inesquecível. - Ouço dona Angélica dizer.
Dona Angel continua fechando a porta quando apresso meus passos para fora do quintal.
- Você se incomoda se eu pegar uma carona para o apartamento? - Pergunto ao Matt, assim que vejo-o abrindo uma garagem lateral na casa.
- Você não vai com a gente? - Ele indaga e Ester me olha atentamente.
- É um programa de família. - Sorrio sem jeito.
- Mas minha irmã não disse que você é da família? - Pergunta retoricamente. - Além disso amigos não abandonam um ao outro.
- Não mesmo. Tem que fazer promessa com mindinho. - Teté diz esticando sua mão com o pequeno dedo levantado.
Sorrio com sua inocência e estico minha mão na direção do Matt.
- Se vamos fazer, faremos do jeito certo, não é princesa? - Ester assente e Mattheus estica sua mão juntando seu dedo ao meu.
- Agora vocês dizem juntos: Prometo estar ao seu lado, porque amigos não abandonam um ao outro. - Matt me olha fixadamente, enquanto Teté diz as instruções. - Vocês falam no três... Um, dois e... já!
- Prometo estar ao seu lado, porque amigos não abandonam um ao outro. - Dizemos em uníssono enquanto nossos olhares estão fixados. Mattheus me olha seriamente, enquanto devolvo o olhar com um sorriso nos lábios.
- Parabéns! - Nos viramos para Ester vendo-a bater palmas e comemorar a promessa feita no mindinho. Sinto Matt puxar seu dedo e recolho minha mão sorrindo sem graça.
- Podemos ir agora, fechei a casa. - Dona Angélica chega ao nosso lado comentando. Ela está vestida com um vestido solto na cor na verde-água e calçada com uma sandália fechada clara.
- Vou pegar o carro. - Mattheus entra para a garagem e franzo o cenho.
- Ele também tem automóvel? - Indago para Dona Angel.
- Augusto deu de presente quando o Matt voltou de NY. - Olho para ela de volta.
- Não sabia que ele esteve em NY. - Comento ajeitando a bolsa no ombro.
- Ele esteve lá quando...
A buzina soa atrás de nós e nos viramos vendo Mattheus sair e colocar Ester sentada em uma cadeira para crianças. Dona Angélica entra no banco traseiro junto com a neta e sorrio sem jeito quando Mattheus abre a porta do passageiro para mim.
- Obrigada, Matt. - Percebo uma pequena tensão vindo dele assim que ele se acomoda no banco do motorista.
Não sei o que aconteceu para que ele ficasse desse jeito. Mas espero que ocorra tudo bem neste jantar e que Deus me dê sabedoria para lidar com a bipolaridade de meu mais novo amigo.
(...)
"Podemos sentir o sentimento de rejeição através de ações e palavras de outras pessoas, mas devemos permanecer firmes e confiantes em nosso Eterno. O homem pode falhar, nos magoar e arrancar de nós os piores sentimentos, mas Deus é Fiel e é nEle que devemos confiar e repousar... Aconteça o que acontecer Ele nunca virará as costas para você".
Thaylla Fernanda
E aí, gente. O que acharam do capítulo de hoje?
Palpites do que virá? Segurem as emoções.
Comentem e votem.
Beijos e fiquem com Deus. Amo vocês.
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