Capítulo 17 - Sobre cicatrizes e reações
Lorenavieira12 KelyhSilvah1 SrtaMaritti
Sabe, muitas pessoas passam por nossas vidas, sejam elas dentro de um ônibus, ou no caminho até a padaria e até mesmo na fila de um mercado. Cada uma dessas pessoas deixam algo em nós e são esses pequenos detalhes que fazem toda a diferença para sabermos se a pessoa permanecerá em nossas lembranças e se terão algo a mais... E hoje eu estou aqui para dizer como vocês são especiais para mim, como vocês têm deixado uma marca em meu coração. Kel, Lô e Rafinha... Suas datas de aniversários passaram e eu não consegui fazer tudo o que gostaria, mas estou aqui, lembrando-as de como meu amor por cada uma de vocês é sem igual. Desejo tantas bênçãos dos céus para as suas vidas que, se fosse enumerá-las eu faria um imenso texto... E eu amo fazer isso, mas meu celular ruim não ajuda, o tempo corrido não coopera, mas a homenagem não pode faltar. O lembrete de amor não pode ficar esquecido. Eu amo cada uma de vocês e podem até pensar que estou sendo injusta por dedicar um capítulo para às três, mas não, isso é uma forma de demonstrar o quanto me preocupo e como estou me importando em saber como cada uma se sente, enfim, eu amo vocês e peço que compreendam isso... Feliz aniversário atrasado e que Deus abençoe-as de maneira surral. As bênçãos e tudo que eu desejo de melhor estão em minha orações por vocês, então fiquem com o meu eterno e grande amor.
Foi difícil conseguir chegar até aqui. Meu corpo ainda quer correr, fugir e se esconder dos olhos brilhantes dela, mas eu senti tanta vontade de ver esse maldito sorriso que não tive forças para lutar contra isso. Eu sou um grande covarde fracote.
Fiquei parado em cima da moto alguns segundos quase desistindo de entrar na ONG e falar com a ruiva, mas eu sinto que sou obrigado a isso. Não posso me esconder pelo resto da minha vida, só que, essa é minha maior vontade. Quando, enfim, levantei a bunda do assento percebi como eu precisava vê-la e após enxergar seu corpo saindo daqueles portões e correr em minha direção me abraçando foi o ápice da loucura.
- Senti saudades. - Digo não sabendo o que falar. Vejo seus olhos oscilarem e então ela sorri corando.
- Quer entrar? Ainda tem bolo. -Assinto.
A verdade é que estou com tanta vergonha pela forma que fugi da casa de minha avó que não sei como farei para voltar. Não sei como olharei no rosto de minha irmã depois de tudo que eu passei, de novo. A overdose da semana passada quase me matou em uma maca de um postinho de saúde sem recurso algum.
Eu me lembro de estar no quarto da boate do Max, e depois só me recordo de acordar em um corredor do posto de saúde em uma maca fodid@. Não sei como sobrevivi a mais essa overdose, mas o médico idiota deixou bem claro: Pode não ter uma próxima vez. E p#rr4! Eu sei! Sou médico e sei de toda a mer#a que isso faz em meu organismo, mas é difícil controlar a vontade quando o surto do passado vem. Aquela mulher foi uma peste em minha vida!
Ainda fui roubado e levaram meu celular naquele posto de merd# e isso só fez com que eu ficasse ainda pior. Acordei depois de dias em um estado deplorável: barba grande, cabelos compridos, fedendo a bebida e suor... Como eu disse: deplorável! Tive que ficar esperando Lucas sair de casa com a Letícia pela manhã para depois vigiar Louise saindo também e só então, entrei no apartamento e me arrumei como um homem de verdade.
Não sei como consegui reunir coragem para chegar até aqui. Na verdade eu sei que a saudade de minha bombom foi maior que a vergonha e o medo de ser rejeitado.
Passamos por Najú que está conversando com um rapaz e eu sinto seus olhos sobre mim, mas não ouso devolver o olhar. Letícia guia-me para o refeitório do lugar e aponta para o banco de madeira, sento-me ainda em silêncio e aprecio ela abrir a geladeira e pegar uma garrafa com o que suponho ser suco e logo depois ela traz consigo uma caixa e deposita sobre à mesa. Puxo o ar fortemente na tentativa de controlar as batidas do meu coração ansioso.
- Fizemos um trato e eu preciso cumprir minha parte. - Inicia ela dizendo enquanto abre a caixa. Franzo o cenho não entendendo.
- Está falando de quê? - Ingado aceitando o bolo que ela me oferece.
- Como assim do que estou falando? - Senta-se perguntando.
- Não sei, ué, merd#!
- Mattheus, lembra que se eu andasse de moto e perdesse o meu medo você permitiria que eu me aproximasse de você para sermos amigos? - Questiona ela fixando os olhos em mim e ignorando o modo rude que falei. Fitei profundamente aqueles olhos que me transmitiam segurança. E droga, ela estava decidida. Inevitavelmente ela chegou e avistou a bagunça que eu era de longe e quis ficar. Mesmo com todas as minhas barreiras, ela quis ficar e, sem nem mesmo perceber, ela destruiu uma a uma com um sorriso e aqueles olhos. E que olhos!
- Foi mal. Tanta coisa aconteceu que acabei esquecendo. Tem certeza disso? Você quer mesmo se aproximar? - Pergunto receoso e ela assente com a cabeça. - É um caminho sem volta.
- Claro, mas se meu irmão confia em você, eu também confio. - Afirma colocando o suco no copo. Começo a comer o que ela me ofereceu e permaneço em silêncio.
Letícia se ajeita no banco e toma um pouco do suco também. Ficamos em um silêncio estranho enquanto reuno coragem para começar a falar alguma coisa. Sinto minhas mãos suando frio e cada vez mais me convenço de como sou covarde. Depois de terminar de comer os dois pedaços do bolo de chocolate, começo a falar:
- Letícia... Sei que eu não deveria ter saído daquela forma da casa de minha avó e nem deveria ter te deixado lá... - Interrompe-me ela.
- Esquece isso, Mattheus. O que importa é que você está aqui e está bem. O que passou, passou. - Diz pondo um fio de cabelo atrás da orelha. Lembro-me que esse é um dos gestos mais frequentes dela.
- Obrigado. - Digo ocultando todo o efeito que essas palavras fazem em mim.
- Mas me conta... Quantos anos você tem? - Sorri enquanto coloca os cotovelos sobre a mesa. Abro rapidamente um sorriso pela forma impressionante com a qual ela mudou de assunto.
- Tenho vinte e sete por quê? - Cruzo os braços jogando-os sobre a mesa também.
- Estou começando meu questionário sobre você. - Sorri abertamente.
- E por que você precisa disso?
- Amigos sabem as coisas um do outro. - Comenta o óbvio revirando os olhos. - Acho que esse, meu mais novo amigo, é um pouco lerdo. - Levanto uma sobrancelha surpreso pela ousadia da ruiva.
- Mal nos conhecemos e você me chama de lerdo? - Balanço a cabeça contendo o sorriso que deseja se abrir.
- Confiança é assim, depois de dada não pode ser retirada. - Dá de ombros.
- Eu te dei confiança? - Sorrio debochado.
- A partir do momento que você permitiu que eu me aproximasse de você, bom, foi quase uma permissão de confiança. - Fala sorrindo.
- Estou te achando muito esperta. - Afirmo seriamente.
- Sempre fui. - Dá risada dizendo. - Bom, nem sempre. Quando eu era mais nova me achava muito inteligente, aí quando fui traída, pensei que fosse uma burra... Depois que o amadurecimento necessário veio, eu entendi que coisas ruins acontecem até com pessoas boas.
- E você não detesta toda essa merd@? Confesso que odeio as partes ruins da vida, mesmo sabendo que todos passam alguma vez na vida.
- Não tem como detestar. Claro que eu não gosto de sofrer e nem desejo isso para ninguém, mas com o tempo aprendi que isso nos molda e faz ser quem somos na atualidade.
- Eu discordo. Às vezes, passamos por algumas merd@s na vida e isso não acrescenta em nada no futuro, pelo contrário, só piora tudo. - Letícia remexe-se como se estivesse desconfortável.
- Mas sabe... As pessoas acham isso porque não retiraram do processo que passou o crescimento certo.
- Como assim? Não tem como tirar um benefício do sofrimento.
- Claro que tem. Vou te dar um fácil exemplo. Quando uma criança cai e se machuca, ela tira um aprendizado daquela queda, porque naquele momento ela descobriu um lugar que não deve ir, ela aprendeu que não deve correr demais, ou que precisa tomar mais cuidado por onde anda. Mas se essa mesma criança só olhar para o machucado que ficou em seu joelho, não tirará boas coisas da queda, pelo contrário, achará que a culpa foi do chão com buracos, ou foi do amigo que acabou esbarrando... Existem muitas formas de observar a situação que passamos e é aí, que está o segredo.
"Se só olharmos para nossa queda com um olhar julgador e acusador, sabe? Procurando culpados. Nunca aprenderemos nada daquele tombo, mas se pararmos para analisar aquela situação e pensar com outros olhos poderemos aprender e crescer com essa queda... Deus nos permite passar por certos tombos para aprendermos com aquilo, mas somos imperfeitos e temos a mania de querer condenar tudo. Se todas as vezes que caíssemos tirassémos algo de aprendizado evitaríamos de cair novamente, porém optamos por criticar a queda, preferimos julgar e apontar o dedo para quem estava do nosso lado no momento do tombo".
"Aprendemos nos momentos da fraqueza, nos momentos do choro e aprendemos quando sorrimos em meio a dor, porque, mesmo que doa e que seja difícil sentir o ferimento em nosso corpo depois que passamos fica uma marca, e essa cicatriz diz muito ao nosso respeito. Eu acho que tudo é a forma que olhamos para a situação, porque se passarmos por uma dificuldade e ficarmos lembrando dela com rancor, com tristeza, ou até mesmo procurando culpados nunca iremos aprender e entender o porquê daquilo ter acontecido, mas se pararmos para analisar, como se estivéssemos jogando um jogo online, aí sim, tiraremos aprendizado das coisas ocultas e ficaremos agradecidos por ainda estarmos aqui. Quantas pessoas passam por problemas e perdem a guerra para vida? Vou te outro exemplo"...
"As drogas. Muitas pessoas morrem de overdose em um só dia, mas e quem vence esse vício? Se estas pessoas que vencem ficarem presas no passado e nos momentos difíceis que passaram nunca aprenderão com essa dificuldade, me refiro ao vício, só que se elas se lembrarem e pensarem na nova oportunidade que Deus está dando para prosseguir na vida, elas poderão até testemunhar e ajudar quem ainda não conseguiu vencer. Mas e se a morte tivesse chegado? Aí sim, elas não poderiam ter tirado aprendizado, porém elas ainda têm vida e existe um ditado que diz: Enquanto há vida existe esperança e é nesta esperança, nessa chama e nesta oportunidade que precisam se apegar. Olhar para frente e lutar contra o passado é uma forma de aprendizado, porque, sabemos que o que passou, passou. O que importa é trazer conosco coisas boas e que podem dar frutos, ou seja, aprendizados e amadurecimento".
- Let, temos que fechar a ONG! - Nos viramos para Najú que está na soleira da porta do refeitório.
Ainda estou digerindo todas as palavras que a ruiva falou. É impressionte a sabedoria dela e eu fico contente por poder conversar sem me empurrarem a bíblia.
- Vamos? - Assinto ainda em silêncio e ajudo-a a recolher a pequena bagunça sobre à mesa. Terminamos de ajeitar tudo em silêncio.
Saio ao seu lado e sinto puxarem meu braço na saída do portão. Olho para Ana Júlia que me devolve um olhar neutro.
- Tá doida, car@lh4! - Murmuro olhando em seguida em volta procurando por Letícia.
- Ela está indo colocar as coisas no carro. - Cruzo os braços e reviro os olhos.
- Não te perguntei nada.
- Olha como fala com sua amiga. - Aponta o dedo em meu rosto e bufo sem paciência.
- O que você quer?
- O que você quer? É assim que você fala comigo depois de passar dias sumido? Andou fumando merda, Matt? - Viro o rosto bufando para disfarçar a vergonha que essa pergunta me dá.
- Estou bem, Najú.
- Estou vendo que você está ótimo, mas sua avó e sua irmã não. Será que não pensa nelas?
- Olha como você fala! Não sabe merd# nenhuma que se passa em minha cabeça!
- Ainda bem, né? Porque não deve passar nada menos que vento, seu cabeça oca! - Sinto seu tapa na minha cabeça e bufo com vontade de sorrir.
- Vem aqui! - Puxo seu corpo e a abraço sabendo como ela esteve preocupada comigo.
- Não faz mais isso, Matt. - Ouço sua voz embargada e me sinto mal por fazê-la sofrer.
- Não farei.
- Deixa de ser mentiroso! - Empurra-me secando os olhos.
- Nossa relação de amizade me comove. - Digo sarcástico.
- Acabamos. - Viro para Letícia que sorri chegando ao nosso lado.
- Você vai embora com ele? - Najú pergunta.
- Não.
- Sim. - Dizemos em uníssono. - Vamos comigo, preciso terminar de falar com você. Eu te levo para casa, afinal, também irei. - Ela olha-me e assente lentamente. Najú fixadamente me examina feito gavião e levanta as sobrancelhas sugestivamente.
- Toma cuidado, minha branquela. - Diz puxando a ruiva para um abraço. Reviro os olhos e dou passos me afastando dando privacidade para elas se despedirem. Depois de alguns sussurros Letícia vem sorrindo enquanto ajeita a bolsa no ombro.
- E você, têm quantos anos mesmo? - Pergunto mesmo me recordando da sua idade.
- Vinte e cinco. - Aumenta o sorriso. - Estou na flor da idade.
- Está mesmo. - Digo apenas enquanto ajudo-a a sentar na garupa da moto.
- Você é mesmo médico? - Indaga ela quando sento-me em sua frente.
- Sim. Sou clínico geral. - Respondo com um nó na garganta.
- O corpo humano é algo incrível, não acha? - Questiona ela enquanto começo a percorrer lentamente o caminho com a moto.
- Sim. Nossa capacidade de suportar as coisas é surreal. - Respondo gostando do assunto.
- Deus é sem igual... Você também acha incrível a forma que um feto se desenvolve dentro de um corpo e se transforma em uma criança? - Sinto seu sorriso no tom de sua voz.
- Você escolheu a profissão certa? Acho que deveria ser obstetra. - Continuo o diálogo apreciando ouvir sua voz. - E sim, eu acho incrível o desenvolvimento de uma mulher gerando um filho.
- Na verdade eu fiquei em dúvida entre as duas. - Ela dá um pequena risada e prossegue: - Mas salvar vidas é o que eu amo fazer e me senti ligada a crianças, não sei como, mas optei por pediatria. Quem sabe eu não me forme em obstetria depois. Ainda sou nova.
- Tenho certeza que será uma das melhores. - Confesso começando a aumentar a velocidade da moto.
- Obrigada. - Olho-a pelo retrovisor e vejo suas bochechas com tonalidades fortes. Levanto a cabeça e presto atenção no trânsito ignorando o reboliço que está meu interior.
Passamos o restante do trajeto em um silêncio agradável. Estou reunindo todo mínimo de coragem existente em meu ser para pedir sua ajuda.
Chegamos no prédio onde moramos e adentrei com a moto para o estacionamento desligando o motor em seguida. Ajudei Letícia a descer e sentei-me de lado vendo-a ajeitar a bolsa no ombro.
- Eu... quero falar com você. - Digo incerto.
- Você está bem? - Pergunta se aproximando.
- Estou. Mas eu preciso da sua ajuda. - Confesso virando o rosto para o lado vendo um carro se aproximar e estacionar.
- Diga do que você precisa. Eu já te pedi ajuda uma vez, agora estamos em uma troca de favores. Pense assim. - Diz sorrindo.
- Você está tentando me "acalmar"? - Pergunto sorrindo por dentro. Minha maior vontade é dar risada da forma linda que seu rosto se encontra, mas eu não gosto de sorrir.
- Não é bem um "acalmar". - Diz fazendo aspas com as mãos. - Mas é fazendo você se sentir mais confortável. Parece está tenso. - Meneio a cabeça e observo que ninguém sai do carro que estacionou.
- É que... não sou muito de pedir nada a ninguém, sabe? Isso é estranho para mim. - A ruiva começa a sorrir e olho-a apreciando seu sorriso malditamente lindo.
- Desculpe, mas estou tão acostumada a pedir ajuda que soa até estranho para mim. - Comenta pondo um fio atrás da orelha. Observo-a e noto suas sardas pelas bochechas e nariz.
Como eu não percebi isso antes?
- Diga, Mattheus. Pode confiar em mim. - Suspiro e olho para o carro outra vez percebendo os faróis apagados.
- Podemos fazer um trato. Não sei se é muito justo. - Balanço a cabeça. As drogas da semana passada me deixaram mais idiota que o normal.
- Diga. Da outra vez eu me sai bem. - Ela se aproxima da moto e se acomoda em meu lado.
- Bom... Eu peço sua ajuda se você começar a me chamar de Matt. - Dou de ombros como quem não quer nada. Ela vira o rosto me examinando e abre um imenso sorriso.
- Realmente não é muito justo. Mas eu gosto do seu apelido, só não tínhamos intimidade para isso.
- Não foi você quem disse que a confiança foi dada? Não tem como voltar atrás. - Ela dá uma pequena gargalhada.
- Está usando minhas palavras contra mim? Que audácia! - Sorrio não conseguindo controlar.
- Não é bem... contra você. É a favor da nossa nova amizade. - Ela pula da moto e para em minha frete esticando sua mão.
- Então trato feito, Matt. - Aperto o cumprimento e mantenho-me sério lutando contra a confusão que se instalou internamente.
- Trato feito. - Repito suas palavras tentando falar o que tanto preciso.
- Quando você estiver pronto estarei aqui. - Disse ela sustentando nossas mãos unidas. Olho-as e observo atento esse gesto, criando, então, a coragem que faltava.
- Preciso da sua ajuda para ir até até casa de minha avó. - Digo de uma vez. Suspiro e viro o rosto para o lado. - Estou com vergonha pela forma que sai de lá naquele dia. - Confesso. Sinto o aperto em minha mão aumentar e levanto o olhar vendo o sorriso da ruiva.
- Estou muito feliz de ver que você está reagindo. - Comenta sorrindo.
- Reagindo?
- Sim. Sabe, muitas das vezes tudo que precisamos fazer é reagir, mas estamos tão sobrecarregados por causa de toda luta diária que enfrentamos que só queremos parar e desistir, mas tudo que devemos fazer é prosseguir e reagir. Mesmo que essa reação seja "inútil" aos olhos de todos devemos ignorar e lutar. Seguir mesmo que a ferida esteja aberta, sangrando e quase nos matando, prosseguir mesmo que a dor esteja nos fazendo suspirar sem forças, lutar mesmo que sem vontade, pelejar mesmo que a guerra esteja "perdida" aos olhos de muitos. Independente de tudo isso devemos sempre permancer reagindo porque quando reagimos é sinal de que ainda sentimos tudo e, isso, mesmo que seja doloroso, nos mostra que ainda somos capazes de suportar muitas coisas. Somos capazes de prosseguir mesmo com a dor. Somos fortes o suficiente para enfrentar tudo.
"Jesus sempre reagiu a tudo, Ele lutou até em silêncio enquanto muitos achavam que Ele não tinha poder para mudar toda a situação da sentença de Cruz. Entretanto o silêncio de Jesus também era uma reação, uma completa reação de amor e entrega, porque muitos não sabiam, mas enquanto Ele estava calado, sofrendo o poder de Deus se manifestava e mais uma profecia se cumpria. Reagir a tudo é primordial para nosso avanço, mesmo que aos olhos de muitos seja uma sentença de morte, precisamos mostrar que ainda sentimos, que ainda lutamos, que ainda nos arrastamos para prosseguir. Eu sei que sua dor é grande e sua ferida está aberta jorrando sangue e fazendo-o sentir fisgadas na alma, mas você precisa continuar reagindo, persistindo e prosseguindo porque tudo que fazemos traz respostas e a resposta em reagir é a vida que não deixamos esmorecer. Lutar, seguir e prosseguir mesmo que nada faça sentido precisa ser nossa meta: Eu vou lutar, me rastejar, choramingar e farei tudo que estiver ao meu alcance para continuar nesta jornada difícil e com turbulências... No fundo da nossa alma sabemos que vale a pena, independente do que dizem, e de como apostam em nossa derrota, somos mais do que vencedores somente por reagir. Essa reação mínima é inútil para muitos, mas para Deus que olha por nós, é uma resposta por tudo que Ele fez e faz ao nosso favor... Reaja sempre porque você verá as respostas que a vida vai te dar e que Deus vai te recompensar".
- Entendi. - Respondo apenas. Ela assente e puxa minha mão tirando-me da moto. - O que foi?
- Preciso de um banho para chegar na Teté apresentável. - Comenta enquanto me guia por entre os carros. Aciono a moto e seguro a risada que sinto vontade de libertar.
Chegamos no elevador e ela balança a cabeça em negação seguindo na direção das escadas.
- Vamos de elevador mesmo. - Puxo sua mão de volta e ela me olha com o cenho franzido.
- Tem certeza disso? - Pergunta incerta. Tombo a cabeça analisando suas feições, mas assinto somente tentando ignorar o caos em meu interior. Seguimos para dentro da caixa metálica e puxo minha mão da sua delicadamente.
- Você tem visto minha irmã? - Tento puxar algum assunto.
- Tenho sim. Teté é um amor de criança. Tenho visto seu crescimento na escola e fico toda boba. - Comenta ela sorrindo.
- Parece que estão bem.... Íntimas. - Dou de ombros como quem não quer nada.
- Ah, eu gosto muito dela. Acho que temos uma amizade. - Levanta os ombros e sorri acanhada.
- Fico feliz. - Afirmo seriamente. As portas se abrem e saímos enquanto uma senhora adentra.
Sigo-a pelo corredor e adentramos no apartamento. Ouço risadas e logo enxergo a família reunida. Sr. Antônio, dona Sara, Lucas e Louise.
- Matt! - Exclama a morena vindo em minha direção. Ela me abraça e eu franzo o cenho enquanto sinto seus braços circulando minhas costas. Permaneço estático e observo Lucas sorrir sem graça enquanto as risadas acabam.
- Oi, Louise. - Digo afastando-a delicadamente.
- Aonde você estava? Estávamos preocupados com você! Aonde já se viu, sumir e nem dar explicações! - Bufou ela.
- Não te devo explicações. - Digo ríspido.
- Não precisa ser ignorante. - Confronta ela.
- Já chega, Louise. - A ruiva se aproxima e puxa o braço de sua amiga.
- Vou falar umas verdades para ele. - Se debate dizendo.
- Vamos! - Demanda Letícia puxando-a para o corredor.
- Mattheus, não irei demorar. - Assinto vendo-a murmurar uma briga com a amiga.
- Acho que minha filha, nem me notou aqui. - Antônio comenta soltando o riso.
- Sabe o que é mais estranho do que isso, pai? - Pergunta retoricamente. - Letícia chegou com o Matt. - Forço uma tosse vendo o sorriso idiota no rosto do meu amigo.
- Não é nada disso que você está pensando. - Justifico vendo seu Antônio sorrindo irônico.
- Mas eu nem falei nada.
- Mas seu sorriso insinua tudo. - Debato.
- Bem-vindo de volta, amigo. - Ele se levanta com os braços abertos e me abraça.
- Obrigado. - Murmuro e dou um tapa em sua cabeça. Ele devolve o gesto e se afasta sorrindo. - Senhor e senhora Lewis, me perdoem por não ter cumprimentado vocês. - Digo indo abraçá-los.
- Não se preocupe, querido, está tudo bem. - Aceito o beijo que ela me da e balanço a cabeça em resposta.
- Como você está? - Sr. Antônio me abraça rapidamente enquanto pergunta.
- Estou bem. - Minto descaradamente.
- Espero que seja verdade. - Ele confronta.
- E o senhor, está bem? - Ele sorri e assente.
- Graças a Deus está tudo ótimo. O Senhor tem feito maravilhas. - Meneio a cabeça e não digo nada.
Lucas me puxa pelo braço e me guia para seu escritório. Aceno para os senhores Lewis e sigo-o.
- Você estava no Max? - Pergunta ele assim que fecha a porta. Esfrego os cabelos recém cortados e ando lentamente em direção á janela.
- Sim. - Respondo e ouço-o suspirar.
- Não quero e não vou te julgar, mas você prometeu que não voltaria mais naquele lugar. - Comenta calmo. Fico um tempo em silêncio observando a noite que chegou e, após um suspiro respondo:
- Me perdoa. Lembro como você lutou para me tirar de lá. Mas... Foi mais forte do que eu. - Confesso baixo.
- Estava com a Vanessa? - Puxo o fôlego fortemente e assinto somente. - E me diz uma coisa?
- Fala. - Digo quando percebo seu silêncio.
- Como você estava com a Vanessa, mas chegou aqui com minha irmã? - Viro-me para ele e permito que enxergue a confusão em meus olhos.
- Só consegui lembrar dela após sair do posto de saúde. - Ele se aproxima e me examina com o olhar.
- Você fez tudo outra vez? - Pergunta seriamente.
- Qua-quase tudo. - Informo sabendo onde ele quer chegar.
- Me diga.
- Não transei com ela, Lucas. - Ele sorri e eu bufo.
- E por que não? - Da risada perguntando.
- Não tive vontade, merda! - Dou de ombros.
- Eu fico tão feliz em saber disso.
- E por quê?
- Ué, Matt! Aquilo lá é uma casa de prostituição. Não é só a boate. Eu sei bem as coisas que eles permitem lá.
- Todas estão ali porque querem. Ninguém as força a nada. São livres feito um pássaro. - Confronto sentindo o peso das palavras.
- Não vamos entrar neste assunto. O que importa é que você está bem e está aqui. - Ele me puxa para um abraço e sinto sua dor através desse gesto.
- Prometi a mim mesmo que não voltarei mais lá. - Confesso. - Eu vou lutar contra toda essa merd#! É por ela, Lucas.
- Eu sei, e estou orgulhoso de você. - Se afasta dizendo. Ouvimos batidas na porta e o rosto de Letícia aparece logo depois.
- Posso entrar? - Pergunta com um sorriso.
- Que pergunta idiota, água de salsicha. Entra logo. - A ruiva balança a cabeça e adentra ao local.
Seu corpo segue na direção de seu irmão e aprecio como ela está linda dentro de uma calça jeans e uma blusa regata. Os cabelos soltos e o rosto sem maquiagem só deixam-na ainda mais bela.
- Você está linda. - Comento enquanto eles estão se cumprimentando.
- Ah, obrigada, Matt. - Sorri com as bochechas coradas.
- Não era Mattheus? Agora já é Matt? - Indaga Lucas.
- Está com ciúmes, modelo de pasta dental? - Alfineta ela.
- Não, cabelo queimado. - Diz ele puxando-a para um abraço apertado quase a sufocando.
- Me solta. - Ela pede sorrindo.
- Não. Não aceito que ele te leve mim. Isso é um absurdo! - Dramatiza ele.
- Para de ser ciumento, seu magrelo! - Ela se afasta sorrindo. - Ninguém, nunca, vai me roubar de você.
- Acho bom mesmo.
- Aonde vocês vão? - Semicerra os olhos questionando.
- Não te interessa. - Respondo sorrindo sarcástico.
- Ei! - Ela protesta.
- Isso é dor de cotovelo, Lê. Vão com Deus e tomem cuidado. - Ele diz seriamente. Balanço a cabeça entendendo a verdade em suas palavras.
- O Senhor cuida dos seus, Lucas. - Ela afirma enquanto ajeita a bolsa lateral no ombro.
Eles se despedem e Lucas faz sinal de que está de olho em nós. Dou risada e aceno saindo do cômodo.
- Vamos? - Pergunta ela sorrindo enquanto seguimos pelo corredor. Concordo e coloco as mãos nos bolsos.
Reuno toda a pouca coragem que tenho para não correr e fugir. O medo da rejeição é grande demais em meu interior, mas enquanto vejo o sorriso de Letícia tento focar em outras coisas.
A viagem vai ser longa e eu só espero conseguir completa-la.
(...)
"Aceite suas cicatrizes, elas fizeram você ser quem é hoje. Tudo é para um bem maior e mesmo que não entenda agora, um dia, dia tudo estará límpido aos seus olhos... Aceite a mudança que as feridas fizeram em você, e se ainda não compreendeu, passe a olha-las com outros olhos e por outra pespectiva".
Thayla Fernanda
E aí, gente. Tudo bem?
O que acharam do capítulo de hoje? O que acham que vem pela frente?
Votem e comentem.
Beijos e fiquem com Deus.
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