Capítulo 1 - Sobre sonhos e propósitos!

Depois de cinco anos ansiando pela tão sonhada viajem finalmente chegou o dia de nossa partida. Desde nova sempre sonhei em poder transformar vidas através de minha ajuda como médica e como uma filha de Deus, que se prontifica a estender a mão aos necessitados e da apoio aos que perderam esperanças.

Sempre assistia muitos filmes e lia muitos livros. Geralmente quando a mocinha protagonista ficava doente ou engravidava precisava de um médico para ajudá-la a se recuperar e até mesmo viver. Os coadjuvantes se saíam bem porque sempre tem um parente ou amigo que está doente e precisa de socorro. O filme e o livro "A culpa é das estrelas" é um ótimo exemplo de apoio e amor pela vida, não só como ajuda profissional, mas também mostra que ainda tem chance de conseguir pessoas reais e verdadeiras ao seu lado. Eu me enxergava desta forma: Ajudando pessoas. Resgatando vidas.

Quando contei à minha mãe pela primeira vez que meu sonho era ingressar na área de medicina, ela questionou o motivo para eu escolher uma profissão tão complicada e difícil.

- Por que, minha bonequinha? Você pode ser o que quiser! Só não escolha uma profissão muito perigosa porque aí a mamãe não aguenta as emoções!

Ainda me lembro que dei risada pela forma que ela se pronunciou. Qual mãe nunca fez isso? Sejamos sincersas! Mas aí, quando eu revelei a ela o motivo sua atitude mudou. Expliquei que desde pequena meu sonho era salvar vidas e, desde então, ela compreendeu que este era o meu futuro.

Ser médica.

As crianças geralmente mudam de profissões algumas centenas de vezes no decorrer da vida, mas essa foi a primeira escolha do meu coração e também do coração de Deus.

No início cheguei a duvidar se conseguiria realizar uma cirurgia.

Será que eu não teria medo de abrir um corpo e mexer nele? Mas não!

Tive a plena convicção disso quando em uma aula no ensino médio eu precisei dissecar o corpo de um sapo.

Tudo bem, pode parecer que não tem comparação o corpo de um animal para o de um ser-humano, mas o pertencimento que eu senti nas mãos naquele momento me fez ter a certeza de quê isso era o que eu amaria fazer pelo resto de minha existência.

E hoje, eu realizo minha profissão com êxito e o maior respeito e, acima de tudo, amor.

- Doutora Letícia, a senhora poderia me acompanhar para ver um último paciente antes de ir? - Virei-me para Nora; uma das enfermeiras e sorri concordando.

- Em qual andar? - Questionei pondo o jaleco outra vez.

- É no terceiro. - Disse Nora apertando o botão do elevador.

- Não me recordo de pacientes lá. - Comentei e ajeitei o cabelo frente ao espelho.

- Ele é novo. Patrick, pediu para passa-lo para a senhora. - Sorriu sem graça.

- Ele sempre faz isso. - Balancei a cabeça. - Hoje que é minha despedida não podia faltar uma troca dessa, mas infelizmente não poderei acompanhar o paciente. Qual é o caso dele?

- Não tive acesso ao formulário ainda. - Nora disse, apertando os dedos das mãos.

Assenti em silêncio.

Hoje é o último dia de trabalho no hospital e posteriormente último dia vivendo na minha grande e amável cidade de NY. Se eu cogitar a ideia de falar que não estou sentindo bem no meu coração essa partida; estaria mentindo... É óbvio que as batidas dentro da caixa torácica estão descompensadas, são muitas emoções e sentimentos juntos sendo sentindos de uma só vez. Vivi meus incríveis vinte e cinco anos aqui e cresci rodeada por pessoas que sempre demonstraram seu amor e admiração por mim.

Contudo, tem uma corrente elétrica que passa por toda a massa muscular do meu corpo e é, como se ela se transportasse para fora de mim e me puxasse como um imã traídor para o Brasil.

Eu sei que a vida lá fora não é fácil, sobretudo é mais forte do que eu!

Meu corpo e minha alma imploram por uma libertação que eu não sei em que área precisa. A única certeza que eu tenho é de que ela está lá: No Brasil; Pronta para me libertar!

- SURPRESA! - Coloquei as mãos no peito assustada e dei passos vacilantes para trás.

A faixa pregada na parede e os balões de diversas cores deixavam explícito a festa de despedida: Minha partida.

Enxerguei perfeitamente todas as pessoas dentro do quarto; lugar onde mais parecia um salão de festas.

A cama hospitalar não se encontrava aqui, porém uma mesa com um bolo de maracujá e cupkakes estavam posicionados no centro do cômodo.

- Vocês são incríveis! - Puxei uma grande quantidade de oxigênio e consegui pronunciar.

- Você merece, doutora Letícia. -Olhei para Connor, que me olhava com atenção e parecia tentar registrar aquele momento em sua mente.

- Eu... nem sei o que dizer! - Bati as mãos na lateral de meu corpo.

Senti braços ao meu redor e um grande abraço me foi dado. Era Nora, que se desculpava por ter me enganado. Funguei emocionada e a agradeci pela surpresa. - Não precisa se desculpar. Nora. - em seguida me abraçou e me abençoou em minha mudança.

Depois de receber abraços de maior parte da equipe médica que eu trabalhava. Partimos o bolo e; a pedido de Connor - o que achei lindo, é claro - realizamos uma oração de agradecimento a Deus.

- Eu não poderia ter trabalhado com pessoas melhores que vocês. - Começo o discurso.

- Melhor que a Helena, podia. - Brincou enfermeira Susan; irmã de Connor, sendo acompanhada por risadas.

- Isso é muito amor guardado. - Mandou beijinho Hele.

- Deixe-me terminar. - Pedi rindo e chorando.

- Pode falar Letícia. - Permitiu Connor.

Sorri como agradecimento.

- Sou grata à Deus por ter me permitido trabalhar aqui pelos cinco anos mais felizes da minha vida. Eu sei que sou falha, teve vezes que briguei com as novatas por não trabalharem direito. - Eles riram. - Mas isso era necessário. Não se pode brincar com as vidas dos pacientes, eles precisam de amor e cuidado e não falta de paciência da nossa parte. - Respirei fundo e passei o dedo abaixo do olho. - Quero lembrar que voltarei para visita-los. Não pensem que me esquecerei de vocês, porque isso, jamais! Peço que vocês continuem sempre com o mesmo amor que sentem pelos nossos pacientes. Continuem neste lindo trabalho e sigam e prossigam em conhecer mais de Deus, para que assim, vidas vejam Ele em vocês...

(..)

O caminho de volta para casa foi feito de maneira rápida e prática. Depois de estacionar o carro em minha vaga entrei dentro de casa jogando as chaves no aparador ao lado da porta.

- Ainda bem que chegou! - Exclamou Sofia, ela desceu rapidamente as escadas e puxou-me pelo braço.

- O que foi, Sôh? - Questionei.

Minha irmã parou de subir os degraus e respirou fundo olhando dentro de meus olhos.

- Minhas regras não desceram. - Sussurrou; como se fosse um segredo com seus olhos começando a lacrimejar.

- Não acredito! Será que tem uma bolinha ou bolinho da titia aí dentro? - Toquei em seu ventre.

- Será? - Me olhou com os olhos transbordando de lágrimas.

- Vamos fazer um teste? - Incentivei.

Sei como este momento é difícil para ela.

- Você vai ficar comigo? - Perguntou segurando em minha mão.

- Ainda estou aqui. - Puxei seu corpo para o meu e a abracei.

- Tá bom, tá bom. - Respirou fundo. - Seja o que Deus quiser.

Assenti preocupada com sua ansiedade.

Subimos o restante de degraus e entramos na primeira porta do corredor; que era seu quarto e do Ethan. Sofia, abriu a terceira gaveta da cômoda e puxou de lá uma caixinha com um teste de gravidez. Fizemos uma troca de olhar rapidamente, onde eu tentei lhe passar confiança. Depois de entrar com ela dentro do banheiro e ficar olhando-a fazer xixi no potinho, esperamos juntas os cinco minutos necessários.

- Como foi o último dia no Hospital? - Perguntou lavando as mãos.

- Gratificante e doloroso. Foi difícil ter que me despedir de pacientes que eu amo como se fossem da minha família... e foi doloroso dar tchau para toda uma equipe que sempre esteve do meu lado. - Ela assentiu em silêncio.

- Eu sinto em dobro o sentimento que eles sentiram. - Balancei a cabeça. - Ainda não aceito sua ida. - Baixou a cabeça.

- Você sabe que voltarei para te ver. - Me aproximei dela. - Minha alma grita para que eu vá... É mais forte do que eu. - Confessei.

- Eu sei. - Fungou. - Vamos ver o resultado? - Perguntou apertando minha mão.

- Promete não se isolar se não for o que tanto quer? - Implorei. - Eu não estarei aqui para te entupir de doces, mas minhas orações hão de te acalentar através do Espírito Santo de Deus. - Sofia, olhou-me dentro dos olhos e assentiu.

Puxei sua mão e fomos até a bancada onde se encontrava o palitinho que precisava estar com dois riscos rosas.

Contudo, o que enxergamos foi somente um solitário sinal.

- Sinto muito, Sôh! - Digo com pesar. Puxo seu corpo para junto do meu e amparo-a enquanto ouço seu choro abafado pela minha roupa.

Minha irmã casou-tem tem cinco anos, e há quatro tenta ter um filho. Hoje ela está com trinta anos e sua médica disse que nesta fase é um pouco mais complicado para gerar uma criança e, tem até mais possibilidades de ser uma gravidez de risco.

Ethan e ela sofrem por causa desta dificuldade, mas continuam firmes e fortes confiando nas promessas de Deus para as suas vidas, todavia não é fácil lidar com a avalanche de emoções que inundam os corações.

- Por que toda essa demora, Let? - Fungou.

- Eu não sei, bonequinha... Mas Deus sabe o momento certo para cada coisa, logo você vai estar com um filho nos braços.

Permanecemos abraçadas por algum tempo que foi incontável para mim.

Direcionei seu corpo para fora do banheiro e ajudei-a a repousar em sua cama de casal. Alguns minutos depois Sôh adormeuceu com o rosto vermelho e inchado do choro, enquanto eu fazia uma carícia em sua cabeça.

Ouvi o barulho da porta e avistei meu cunhado adentrando no cômodo.

- O que aconteceu? - Questionou, Ethan com o cenho franzido e se aproximando da cama olhando sua esposa com atenção.

- As regras dela não desceram... Mas o teste deu negativo. - Digo apenas.

- De novo não. - Murmurou meu cunhado. Seu corpo desceu e ele sentou-se no chão ao lado do rosto de sua mulher.

Afastei-me centímetros dando espaço para que ele olhasse-a com atenção. Ethan, direcionou a palma da mão em direção ao rosto de minha irmã e retirou os fios que tampavam os olhos dela.

- Ela está muito abalada com sua partida hoje. - Respirei fundo e balancei a cabeça.

- Eu sei... Mas não foi intencional. Eu sinto que meu chamado é lá! Deus disse que eu podia ir porque grandes coisas Ele faria através de minha vida... Ethan, preciso ir.

Permito que uma lágrima role de minha face.

- Eu sei disso, Let. - Olhou-me rapidamente e voltou as vistas para a esposa. - Mas isso não diminuiu a dor em nosso coração. A gente compreende, porém sofre com a partida. - Disse ele fazendo cafuné em Sofia.

- Já demorei tempo de mais. - Comentei. - Consegui juntar uma boa quantia para recursos, mas Lucas insistiu muito para que a morena e eu ficássemos em seu apartamento. - Digo referindo-me a Louise. Minha amiga, irmã de Ethan e cunhada de Sofia... Uma grande família.

- Eu sei que você e Louise não queriam, mas depositei uma quantia na conta conjunta de vocês e na de cada uma particular. - Franzi o cenho.

- Não era necessário, Tantanzinho. - Dei um pequeno sorriso.

- Eu sei que não. Louise, já está com um dinheiro bom das fotos que tem feito, mas lá vai ser tudo novo e, se caso não dê certo, vocês podem recorrer como uma emergência. - Propôs.

- Você é muito convincente. - Brinquei.

- Sempre soube. - Gabou-se.

Sorrimos um para o outro, mas foi por pouquíssimo tempo.

- Eu sei que você vai, mas me promete uma coisa? - Olhei para a janela enquanto sentia o vento forte entrando.

- Claro. - Respondeu ele, olhando o rosto de Sôh.

- Cuida dela, tá? Eu sei que você vai e além disso vai proteger, mas eu preciso que você me prometa isso. - Implorei.

Ethan, olhou-me dentro dos olhos e assentiu com a cabeça.

- Pode ter a total certeza que sim. Eu cuidarei e protegerei ela. - Esticou a mão como confirmação.

Sorri em sua direção e respirei fundo.

- Vou ver se esqueci algo pelo quarto, tudo bem? Assim que ela acordar, se der, me chama. - Pedi.

- Você vai viajar em poucas horas, pode terminar de se cuidar e tomar banho. Sei que está cansada. Vou cuidar da Ruivinha. - Conssenti e sai do quarto.

Andei mais um pouco pelo corredor e adentrei em meu quarto fechando a porta em seguida.

As bagagens estavam enfileiradas em ordem de tamanho perto da cama. Eu já tinha arrumado tudo no meio da semana.

Tomei um banho e comecei a arrumar-me logo para a viagem, daqui a pouco Louise chega e o chororô vai se iniciar.

Aqui em NY ainda está frio por causa do início do ano, mas no Brasil é verão. Em dúvida se ia com roupa de frio ou calor, optei por me aquecer e quando chegar lá é só retirar as roupas grossas.

(..)

Estávamos reunidos na sala, Louise e sua mãe já haviam chegado e o resto dos amigos da igreja e alguns vizinhos, a despedida havia sido ontem na sexta-feira.

O maior sofrimento era agora: Dar tchau para quem sempre esteve do seu lado.

- Eu não estou sabendo lidar com essa dor. - Sussurrou minha irmã no abraço.

- Você precisa ser forte. Me promete que vai cuidar do seu restaurante e vai seguir a sua vida fazendo o que tanto ama? - Questionei.

- Não é a mesma coisa sem você, Let. - Fungou. - Eu sei que você precisa, mas me dói.

- Eu amo você, Sôh. - Confessei chorando.

- Eu... eu... eu amo você, bonequinha. - Soluçou com o rosto enterrado em meu pescoço.

Depois de ouvir Louise chamando-me, Ethan puxou delicadamente sua esposa de meus braços enquanto tentava consola-la.

- Precisamos ir. - Informou Louise.

Assenti limpando as lágrimas.

Dona Samantha, abriu os braços para me receber em um abraço.

- Desejo uma boa viagem, minha filha... Que Deus abençoe essa nova fase de sua vida e da minha filha. Viva o que Deus escreveu para a sua trajetória e creia nas promessas dEle para sua vida. - A apertei no abraço.

- Amém. - Funguei.

- Cuide dela, Letícia. - Pediu em sussurro. Conssenti.

Louise; igualmente a mim, sempre quis mudar-se para o Brasil e agora que estamos tendo essa oportunidade seguimos correndo atrás de nosso sonho.

- O táxi chegou. - Anunciou Samantha.

Com a ajuda do motorista, Ethan colocou todas as bagagens dentro do porta-malas do carro.

Segurei firme nas mãos de Louise e saímos de dentro de casa. Um filme passou rapidamente em minha cabeça e a convicção de que Deus está no controle de tudo acalentou meu coração de forma rápida e eficaz.

Meu cunhado veio abracar-me rapidamente.

- Eu só tenho uma coisa para lhe dizer. - Murmurou.

- O quê? - Funguei.

- Voe alto. Liberte o pássaro aprisionado dentro de você, e então viva!

Com os olhos fechados tentando conter as lágrimas assenti com a cabeça. Me afastei dizendo:

- Na verdade foi mais de uma coisa. - Brinquei.

- Eu me empolgo. - Sorri e senti os braços de Sofia ao meu redor.

- Vai com Deus, bonequinha... Viva os planos do Senhor e nunca duvide do amor dEle por você. - Me apertou no abraço.

Depois de mais alguns abraços apertados e lágrimas sendo derramadas, Louise e eu conseguimos entrar no veículo para ir a caminho do aeroporto.

- Como você convenceu a Sofia para não nós levar até a decolagem? - Questionou retocando o batom.

- Pedi ajuda ao seu irmão. Só ele para me ajudar em realizar essa proeza. - Comento ajeitando-me.

- Preparada? - Perguntou morena.

- Sim! - Exclamo sorrindo e secando as lágrimas.

(..)

Sentada, com a poltrona reclinável já dentro do avião prestes a decolar, os últimos acontecimentos vinham como terremotos abalando minhas estruturas.

O pedido copisioso e suplicante de Sofia para que eu prometesse que ligaria para ela assim que colocasse os pés no Brasil quebrara meu coração em pequenos pedaços.

Eu não enxergava-me sem ela, contudo eram necessários sacrifícios para o bem maior.

Deus sempre cumpre as promesas que faz. Podem passar anos e o esquecimento pode até se alojar na mente, mas Ele é Fiel para realizar tudo que planejou desde o início.

A vida não é fácil. Viver o que Deus escreveu é se sacrificar todos os dias para agrada-lo e obedece-lo, mas tudo vale a pena; tudo por amor e confiança nas promessas dEle. Ele sempre cuida da caminhada de seus filhos e nenhuma folha de árvore cai se não for de sua vontade.

Medos e incertezas sempre hão de se impregnar nos corações, mas quando estamos estruturados nos braços do Senhor não precisamos temer... Ele é nosso auxílio e socorro bem presente na angústia. É preciso viver essa palavra, é necessário ter Ele como base.

Ele nos ama e o amor dEle nos alcança até quando duvidamos de tudo que Ele prometeu.

Agora enquanto eu via a grande Cidade ficando mínima, conseguia compreender o que estava prestes a acontecer:

Mudança de vida.

Recomeço.

Os propósitos do Senhor concretizando-se.

Sonhos sendo vivenciados...

Que Deus me ajude!

(...)

"Voe alto e liberte o pássaro aprisionado dentro de você. Acredite nos seus sonhos e em tudo que Deus prometeu".

Thayla Fernanda

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top