Capítulo seis

Sasuke Uchiha.

Alguns dias depois do "doce presente" da minha companheira de esconderijo, estive refletindo no que eu faria agora. Não posso pedir ajuda a Akatsuki com essa mulher por perto, apesar de sentir que devo deixá-la por aí ou entregá-la à corte suprema de Orochimaru. Tenho certeza que a mandariam ela fazer coisas terríveis. Tão medonhas que prefiro nem imaginar, não desejaria isso nem para o meu pior inimigo.

Muitos acreditam que a verdadeira mente por trás de tudo é a inteligência artificial - até porque foi isso durante muitos anos, a humanidade se tornou preguiçosa com o fácil acesso que a revolução industrial trouxe consigo, a globalização teve um gigantesco impacto no planeta Terra -, mas possuo as minhas dúvidas, meu irmão acreditava que os humanos ainda estavam no controle. Itachi criou uma teoria que um velho conhecido seu era a grande mente por trás de tudo, e se tudo ocorrer como eu planejo, vou matar esse desgraçado, achar o meu irmão e destruir esses andróides.

Sakura pode ser útil para alguma coisa, afinal, para sua chegada extremamente silenciosa deve haver mais pessoas como ela por aí. Eu só preciso devolvê-la para um tal de Kakashi, ele parece ser importante para ela, já que foi o primeiro nome que chamou quando despertou. As chances de estar errado são gigantescas, já que duvido que tenham alguma coisa. Mas terei que arriscar e torcer para essas pessoas terem suplementos, ferramentas ou algum conhecimento para auxiliar-me a fazer uma manutenção nas minhas peças. A jornada até a Akatsuki demoraria muito, posso encontrar empecilhos durante o caminho, é preciso estar preparado para qualquer batalha. Essa organização é a única que pode oferecer o que preciso para matar um certo alguém. Ela é formada por pessoas como eu, que infelizmente sofreram alguma alteração no seu corpo, e por pessoas dispostas a morrerem tentando mudar esse mundo. Pelo menos foi o que Itachi me contava, não é como se eu pudesse confiar em uma memória do passado, mas poderia tentar, já estou no inferno de toda maneira.

Minha rotina tem sido coletar alimentos e levar para o lugar em que estava instalado, tenho feito alguns curativos no lugar em que havia sido perfurado, ainda sentia muita dor na região, estou tendo muito cuidado para não infeccionar e ganhar novos problemas. Tenho montado equipamentos para nós dois e estou na tentativa de criar uma invenção para que eu não tenha que carregar Sakura comigo para sempre, como é algo provisório, não é perfeito, mas o suficiente até ela conseguir se firmar sozinha no chão e ser entregue a esse tal de Kakashi.

Sinto seus olhos curiosos me vigiando de longe, ela sempre faz isso. Não fala nada, apenas observa com a maior cautela, eu ignoro, como de costume, quanto menos precisar ouvir sua voz irritante é melhor para mim, ainda estou morrendo de raiva dela por ter feito aquilo.

— O que você está fazendo? — perguntou. Isso me surpreendeu, mas evitei qualquer tipo de reação que poderia surgir, então, ainda sem olhar para ela eu respondo:

— Uma cadeira. — digo de forma simplista.

— Uma cadeira? — questiona surpresa, obviamente não estava esperando essa resposta.

— Sim. 

Optei por não dar respostas longas, talvez ela desista de conversar e deixe-me concentrar no que precisa ser feito. Infelizmente, isso não deu certo, já que a garota lançou outra pergunta.

— Por quê? — perguntou de maneira divertida — Vai abrir uma loja de cadeira para os androides? 

— Para os andróides não, mas talvez para pessoas que estejam com uma das pernas imóveis e que atrapalhem os meus planos.

— Eu não pedi para estar nessa situação — resmungou.

— Também não pedi para ter que te aturar, mas aqui estamos nós, não é? 

Ela ficou em silêncio por poucos segundos antes de me perguntar algo novamente.

— Ainda sim, por que uma cadeira? 

— Não posso ficar te carregando pra todo lugar que eu for, você vai precisar se locomover sozinha.

— Vou sair desse lugar? — Sakura mudou o tom de voz para um mais leve e animador. Virei-me para encará-la e pude notar um brilho genuíno nos seus olhos com a pergunta. Ela é alguém extremamente expressiva, isso ainda vai matá-la, é tão simples encontrar o ponto fraco de pessoas que demonstram muito sentimentos, é só você ir atrás de quem ela mais ama…

— Vai, pedirei algo em troca. Kakashi oferecerá uma boa recompensa por você, acredito que será uma troca justa.

O brilho dos seus olhos sumiram um pouco, mas ainda conseguia identificar um pouco de esperança vindo deles.

— Você é terrível.

— Eu sou terrível? — tive que rir da sua fala — Fique agradecida que darei a oportunidade de você voltar para seus companheiros, eu poderia facilmente matá-la após a facada que me deu.

Isso pareceu o suficiente para deixá-la quieta pelas próximas horas. Agradeço profundamente a isso, pois consegui voltar a minha construção e terminar o que precisava ser feito.

Quando terminei, fui comer algo, estou faminto! Algo que aprendi após morar por anos sozinhos, foi fazer e armazenar as minhas próprias pílulas comestíveis, elas equivalem a uma refeição completa, contendo; Trigo, peixe, sal, açúcar, batata, grão-de-bico, arroz, cenoura, gengibre e qualquer outra coisa que encontro. Ingeri somente uma única unidade. Não é a refeição mais deliciosa que já tive, mas é o suficiente para conter energia e nutritivos, sabor terrível é só uma condição desse benefício. 

Tenho pouquíssimas lembranças de quando era criança, mas uma das poucas que tenho é de quando minha mãe cozinhava para mim. Eu amava observá-la na cozinha, Mikoto colocava muito carinho e amor no que cozinhava, apesar de possuirmos diversos funcionários e robôs qualificados para o serviço, essa era uma das poucas coisas que ela fazia questão de fazer com os filhos. Fecho os olhos e consigo forçar a minha imaginação a trazer o cheiro do alimento e o som de sua voz cantarolando. Forço a minha mente para trazer a imagem de seu rosto, consigo vê-lo, infelizmente não de maneira nítida, a imagem de minha mãe não é tão clara como gostaria. Sacudo a cabeça e tento esquecer dessa memória, ela está morta. Da mesma forma como todos integrantes da minha família, isso não importa mais. Tenho que focar na exceção, preciso salvar o meu irmão mais velho.

Desloco-me até uma parede, estou utilizando alguns panos como cama, já que onde eu costumava dormir a barraqueira está. Iria partir quando amanhecesse.

[...]

— Sasuke, baixa isso! — mamãe mandou. 

— Desse jeito eu não vou conseguir escutar… — fiz beicinho.

Minha mãe detestava barulho alto, acredito que seja por influência do meu pai. Ele é um homem muito rígido, mamãe e papai vivem brigando no quarto deles, acho que é por isso que ela não gosta de muita bagunça. Eu detesto isso! 

Prefiro quando vou para a casa do Itachi, ele deixa eu fazer o que eu quiser, às vezes penso que é só uma desculpa vinda dele por se sentir sozinho. Meu irmão teve uma discussão com o papai e preferiu se mudar, achei isso injusto, ele era o único que me entendia. Mamãe vive trabalhando, e papai viaja muito, passo muito tempo com aquela máquina ridícula. Ela é mais da minha família do que os próprios integrantes.

— Deixe de ser mal criado, Sasuke-San — Minha babá eletrônica falou. Apenas obedeci e baixei o volume do meu tablet.

Estávamos demorando muito para chegar na coletiva de imprensa do meu pai, estou ficando entediado.

— O que é aquilo? — Mamãe perguntou para o meu pai enquanto olhava para o vidro do nosso veículo.

Meu pai largou o computador para ver o que era. Estou doido para ter um carro que nem o dos meus pais! Ele dirige sozinho, pelo que meu irmão me contou, as pessoas tinham que aprender a dirigir, outras nem tinham acesso a tecnologia. Que bizarro, não?

A única coisa que escutei antes de tudo apagar foi os gritos da minha mãe, algo tinha atingido o nosso carro.

Acordo e vejo o meu irmão, estávamos em uma sala.

— Ma-mano… — tenho dificuldade ao abrir os olhos.

— Não era para ele ter acordado agora! — escuto alguém falando, mas não era a voz de Itachi.

— Ei, tá tudo bem, estou aqui — tocou em minha cabeça — Vamos te ajudar.

— Ca-cadê a minha m-mãe?  

— Agora! — Itachi cortou a minha pergunta e senti os meus olhos ficando mais pesados.

Quando acordei, eu estava completamente diferente. Meu braço, minha perna e meu olho estavam sendo substituídos por um tipo de prótese.

Todo dia, o mesmo sonho. Abro lá meus olhos e tento buscar o máximo de ar com os meus pulmões.

Sinto algo em contato com o meu rosto de maneira forte, pelo impacto que recebi na minha face levantei de forma imediata, uma almofada. Ela jogou uma almofada em mim.

— O que foi, praga?! — vociferei irritado.

— Finalmente a florzinha acordou. Estou com fome, quero comer alguma coisa.

— E eu com isso? — passo a mão no meu rosto, perto do meu olho falso, tenho uma cicatriz enorme nesta região.

Caminho até a gaveta onde guardo as pílulas comestíveis, pego um porção e coloco em uma sacola, jogo na direção dela. Em seguida, pego tudo que eu preciso de forma rápida, eu levaria pouquíssimas coisas comigo. Só preciso dos meus equipamentos de luta, manutenção das pílulas. O resto eu me viro. Sakura não vai conseguir fugir tão facilmente, então não preciso me preocupar com ela no momento.

— Pegue apenas uma. 

Pego a cadeira e deixo ela mais próxima na cama, seria um enorme empecilho carregar essa coisa para cima e para baixo, preciso arranjar alguma pomada de cicatrização rápida para essa praga, ela vai me atrapalhar demais. Em seguida, minhas mãos vão em direção da garota.

— Não toque em mim. 

— Acha que consegue sentar nessa porcaria sozinha?

— Consigo. — pontuou, revirei o meu único olho e fui para trás da cadeira. Tem certos momentos em que eu agradeço por ter essa força monstruosa em uma mão.

Apesar da dificuldade, Sakura conseguiu se sobressair com excelência, após ter se sentado na cadeira de rodas.

— Como você construiu isso? — questionou. 

A mulher começou a tocar nos braços improvisados da cadeira, eles estavam servindo como suporte para aguentar o peso dela. Sakura é uma mulher magra, não é como se precisasse de muita coisa para sustentá-la.

— Meu irmão era inventor, muitas das coisas eu observei e aprendi com ele.

— Você pode não ser a pessoa mais receptiva, mas até que serve para alguma coisa.

— E você não serve para nada.

— Por que está comigo ainda? — perguntou, algo no seu olhar mudou. Esses olhos são expressivos demais! 

Agachei-me na frente dela, antes de fazer qualquer coisa, perguntei:

— Posso? — Ela levou um tempo para pensar, mas autorizou com a cabeça. 

Toquei no seu tornozelo, fui o mais delicado possível ao retirar as ataduras improvisadas de sua perna. Sakura respondeu ao meu toque com uma careta, tentei ser o mais delicado para retirar seus ferimentos.

— Respondendo a sua pergunta… — continuei focado no seu machucado que não estava com uma aparência nada boa. — Estou pensando na recompensa que a sua vida me trará se eu te devolver a esse tal de Kakashi.

— É mais fácil ele me entregar de bandeja já que fiz o contrário do que ele disse — resmungou.

— Eu deveria te entregar de bandeja para a corte do Orochimaru — comentei.

— Aí, que gelado! — Fez uma careta quando minha prótese entrou em contato com sua perna.

— Quanto drama.

Após fazer um novo curativo, ergui a minha cabeça para cima e percebi que ela estava me olhando.

— O que foi? — questionei.

— Estou surpresa por você ser parecido com uma enguia elétrica.

— Quê? — surpreendo-me com a sua fala.

— Você sabe o que é uma enguia elétrica? 

— Óbvio que eu sei o que é a droga de uma enguia. — resmunguei. — Mas por que uma?

— Vocês se parecem. — riu de maneira debochada.

Graças a essa comparação medíocre e sem explicação alguma, optei por não perguntar mais nada, não estou em condições para dar ouvidos a bobagens, o tempo é algo relativo, algo que nós não temos. Engraçado, meu irmão dizia a mesma coisa. Como será que ele deve estar agora?

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