Três, dois, um! Enfio a lâmina no abdômen dele, aproveito esse tempo em que ele se curvou pela dor e tento me manter em pé, por ainda estar machucada, fui retribuída por uma nova onda de dor na região afetada, como não estou em minhas melhores condições, foi muito difícil tentar escapar, eu mal cheguei na porta da casa quando sinto mãos pesadas pegando- me pela cintura com brutalidade.

Meu corpo ficou se debatendo a todo instante, eu sabia que não teria muito tempo, porém, acreditei fielmente que teria o tempo perfeito para escapar e sair desse lugar. Sasuke jogou o meu corpo contra a cama, o que fez com que eu batesse a cabeça na parede, mas nada é tão insuportável quanto a dor que estou sentindo na perna. A formigação voltou, olho para as ataduras e percebo que voltaram a sangrar, não posso ficar desse jeito por mais tempo.

—  Idiota! — Vociferou irritadíssimo — É desse jeito que retribuí uma ajuda?!

— Eu não pedi a sua ajuda! — devolvo no mesmo tom de voz.

Meus olhos percorreram pelo local novamente em busca de alguma outra arma eficiente que poderia ser usada nesse exato momento, meu coração está batendo de forma rápida, como se fosse sair para fora do corpo, meu peito está doendo, o ar se tornou denso e pesado, a única coisa que faz eu ter certeza que estou com medo, é o fato de estar imóvel.

O homem veio até mim, segurou em meu pescoço com uma determinada força, forçando com que eu olhasse para ele. Isso me deixou sem ar.

— Você é uma ingrata!  — Largou-me e se virou.

Percebi que ele ainda estava com a mão no  machucado e andava de forma diferente. Pela forma que tentei escapar, ele desapareceu.

Levei a minha mão até a minha perna e finalmente dei a devida atenção. Tirei as ataduras e observei; Em volta da ferida possui uma mancha roxa, em seguida, bem no meio, tem um corte… Mais profundo do que imaginei, ao tocar no ferimento, solto um gemido, causado pela dor.

— Tenho que dar um jeito nisso…

Qualquer movimento que eu faça isso daqui começa com uma nova onda de sangue, já estou capturada pelo inimigo e agora estou sangrando em uma respectiva cama. Eu definitivamente estou na merda. Sempre pensei que estar na merda era ter que ouvir o Lee tentando aprender a tocar flauta, posso sentir um enorme desejo de negar, mas, eu estava segura naquele acampamento medíocre. Eu não deveria ter saído daquele modo. Parando para pensar melhor, Kakashi deixou com que eu saísse de forma muito singela, em toda a minha vida - durante o tempo em que estive com ele - o Hatake nunca deixou com que eu seguisse os meus impulsos malucos, por que deixou dessa vez?

Enfim, não dá para ficar se remoendo no momento, já foi. Não posso me culpar por uma decisão no passado, sendo que naquele momento, aquela era a mais coerente para mim. Entretanto, isso não evitou a morte de Hikari. Sei que não tenho culpa disso, mas, ela era tão jovem. Consigo me lembrar de todos os momentos em que tivemos juntas.

" Odeio esse lugar, tem regras demais! Sei que é para a minha segurança, mas eu queria ficar mais livre, ter a oportunidade de sair patrulhando para sanar todas as minhas dúvidas, gosto de dizer que sou como uma caixa de abelhas, se abrir para dar uma olhada, já era! Gosto de saber os porquês da vida.

Pelo que me recordo, antes disso tudo acontecer, eu sempre fiquei intrigada com a funcionalidade dos robôs, eles eram demais… Bem, exceto a governanta, ela era uma andróide responsável por ficar de olho em mim, a mulher sempre ficava atrás de mim como se fosse minha própria sombra. Nathalie, não deixava eu ir brincar, eu era obrigada a ficar em casa estudando. Eu tinha aproximadamente cinco anos na época.

— Atrapalho? — Escuto uma voz adocicada, o que me tirou de meus pensamentos, nem me dou o trabalho de olhar no rosto da pessoa, sei quem é.

— Depende sobre o que irá falar.

Hikari não me respondeu, porém, escuro ela pegar algo, em seguida, sentou- se ao meu lado. Percebi que a garota pegou pedras. Ergo a minha sobrancelha, porém não digo nada. Ela pega uma pedrinha, ergue para cima e joga na água em um ângulo certeiro, fazendo com que a pedra quicasse algumas vezes.

— O que está fazendo? — Pergunto.

— Não está vendo? — Jogou mais uma vez. Reviro os meus olhos, mas continuo observando ela jogar.

— Você é como essa pedra — Falou, olhei para ela sem entender — Assim como ela, você é dura, rígida e insensível. Porém, isso é só uma camada que você usa para  se proteger.

— Uau, não sabia que tinha pedido uma psicóloga.

Ela pareceu não se importar com o que eu disse, pois continuou.

— Mas, da mesma forma que estou manuseando essa pedrinha para quicar na água com excelência, é desse jeito que você tenta sustentar sua vida. Só que eu acho que você está segurando da forma errada.

Isso me deixou um pouco incomodada, peguei uma pedra de sua mão e joguei na água, ela pulou duas vezes. Fiquei extremamente satisfeita. Hikari, por outro lado, jogou e fez com que a pedrinha pulasse seis vezes.

— Menos força e mais velocidade — sugeriu.

—Menos força e mais velocidade — Imitei, contudo, segui a sua dica. Dessa vez a minha pedra pulou duas casas a mais do que a rodada anterior.

— Viu só? Eu disse. — riu. Acabei cedendo um risinho também "

Sacudo a minha cabeça pelas lembranças.

— Você sempre soube como me enxergar além da superfície. — suspiro.

Fecha os olhos, lembrando-me dos momentos compartilhados com minha amiga. A dor pela perda começa a ceder espaço para uma energia renovada dentro de mim. Sei que, apesar de tudo, Hikari continua sendo uma presença constante em minha vida.

Quando alguém morria no acampamento, Kakashi sempre fazia algum discurso, mas, uma vez o seu discurso me atingiu com tamanha delicadeza, finalmente pude perceber e entender.

"A morte é uma parte natural da vida. Pode ser dolorosa, triste e difícil de lidar, mas é assim que a natureza funciona. É por isso que precisamos aproveitar cada momento e viver com intensidade. Não tenham medo de enfrentar os desafios que estão por vir, sempre se lembre de que a morte é apenas uma etapa do ciclo da vida, e que não devemos deixar isso nos deter de viver da melhor forma possível."