Capítulo || 39 - FINAL

Nada era capaz de me desestimular naquele momento. Até mesmo a pele salgada, que em vários momentos me fizeram arder em
frustração, ou os flocos de areia no biquíni arranhando as leves queimaduras. Nada entrava no caminho dos seus lábios até os meus. Quer dizer... exceto as dezenas de balões de aniversário que enchíamos há poucos minutos.

Tive de encarar o sorriso forjado da atendente ao comprar os utensílios de festa, como se desejasse um "Feliz aniversário" com seus olhos grandes e amendoados. Desde quando balões de aniversário são usados em aniversários? Uma ideia tão retrógrada, pensei que as crianças desconstruídas e veganas se preocupassem mais com o destino do lixo.

Porém, até então nossa festa particular na praia estava indo super bem. Com excessão da música... e da a praia. Mas levando em conta a manhã exaustiva montando castelos de areia, um quarto beira-mar e vinho era tudo que precisava.

- Lexy... - Noah resmunga entre um beijo e outro.

Não dou atenção

- Alexa Roseeeeee!

- Hum?! - com um leve tom de irritação, respondo. Entretanto, como disse, nada me deixaria longe de seus lábios rosados, por isso mantenho-me perto.

- Não podemos perder tempo com beijinhos idiotas de "não-namorados" - ironiza nosso atual status de relacionamento, levantando da cama - Temos coisas mais interessantes a fazer, e claro, não temos mais vinho, precisamos improvisar.

Vejo seus olhos percorrerem a suíte de hotel até a pequena mala que trouxe comigo, abrindo-a em seguida. Da mesma forma que não há como prever seu próximo passo, não é possível contornar sua ideia, seja lá o que Noah estiver planejando. Uma vez que seu foco - geralmente falho - é ridiculamente preciso após a terceira taça de vinho, cedo a seu apelo.

- Isso é algum tipo de alterego reservado para as praias Australianas? - lá estava Noah, com sorriso sugestivo e em mãos, uma calcinha fio dental que trouxe caso as coisas tomassem um rumo diferente.

- Para outro momento! - apresso-me em sua direção. - Momento este que acabou de acontecer, ou seja... - arranco-lhe o pequeno retalho de renda vermelha. - Guarde esse tecido na memória, porque nunca mais vai vê-lo.

Vejo seus olhos mudarem da expressão golden retriever alimentado até meu sorvete de chocolate caiu no chão. Dou um beijinho no biquinho formado por seus lábios e logo há um sorriso em seu rosto novamente.

- Lexy, qual a altura da sua piscina?

- Humm, não temos piscina. - ignoro a pergunta aleatória, voltando a sentar na cama.

- Ah, não... - torna-se preocupado novamente. - Sobre isso, tenho uma boa, e duas más notícias.

- Quero ouvir a boa.

- Essa não posso contar ainda.

- Então a má!

- Também não... - ele parece se arrepender de suas palavras, mas suas intenções já haviam sido reveladas.

- Noah Jacob Urrea! - minha voz parece fazê-lo recobrar os sentidos.

O garoto ao meu lado, que já havia perdido o foco no assunto há muito tempo, torna-se apreensivo ao perceber o celular vibrando incansavelmente. Ao mesmo tempo em que tenta desviar minha atenção do objeto, gagueja algumas sílabas incompreensíveis e se aproxima com uma das mãos em minhas costas.

- Okay, okay, você venceu, vamos sair! - Noah brinca, dando-se por vencido de algo que ele mesmo sugeriu enquanto caminha até o banheiro. - Quer vir junto?

- Claro, não deixaria você sair sozinho pela Austrália. - rio baixinho, alcançando meu celular.

- Bobinha - ele ri mais alto, aproximando-se da cama novamente. Ao chegar perto o suficiente, abaixa o celular e agarra firmemente minha perna, com intuito de me trazer para perto. - Eu perguntei se você quer tomar banho comigo.

Um rubor intenso assume o pigmento da minha pele, deixando rastros de fogo por onde passava. Assumi que essa reação fora causada pela vergonha somente, mas a medida que seus dedos subiam para a parte interna da minha coxa, não tive tanta certeza.

As aulas de educação sexual no ensino fundamental foram traumáticas o suficiente para estabelecer alguns parâmetros na minha vida sexual. Por isso, precisei reunir muita força para negar.

- Por mais que a ideia de bebezinhos com seus olhos verdes seja fofa... - ajeito meu corpo na cama, sem me desvincular de seu toque. - Não quero desperdiçar meus anos na academia por um barrigão - brinco, evidenciando a falta de proteção e tentando aliviar a tensão sexual formada no ambiente.

- Droga, você venceu - ele sorri, inclinando-se e tocando a pontinha do meu nariz com o seu. - Não demoro.

Assim que ouço o barulho da porta fechando atrás de si, resolvo alimentar minhas inseguranças e decido me esconder embaixo dos lençóis com o celular de Noah. Meus direitos de não-namorada eram escassos, mas com um pouco de discrição e brilho da tela reduzido, meu esconderijo estava seguro.

Toda a história de "duas notícias ruins e uma boa" me pareceu suspeita demais, por isso, logo após adivinhar sua senha - "Alexa Urrea" - entrei diretamente na conversa com um de seus maiores aliados e parceiro no crime: Josh Beauchamp.

Josh: rosas vermelhas ou brancas?
Josh: é, vermelhas, não queremos um casamento ainda.
Josh: sei que disse que balões com letras são bregas, mas o que acha de...
Josh: BALÕES COM FOTOS DE GATINHOS??!
Josh: vou levar.
Josh: Owwn, olha essas mini boias de coração pra piscina
Josh: [foto]

As 7 mensagens recentes de seu melhor amigo me deixam confusa, mas assim que minhas engrenagens destravam, percebo as intenções por trás do suposto plano. Josh iria pedir Any em namoro! E de alguma forma, minha piscina inexistente estava envolvida. Não sabia que Any participava do fã clube de gatinhos como eu, mas tenho certeza que as opiniões de Josh foram as únicas levadas em consideração nessa decisão.

Em um suspiro decepcionado, devolvo o aparelho a sua posição original, mas permaneço encolhida embaixo do edredom. Não sei o que esperava encontrar, talvez não uma surpresa para Any mas para... mim? Uma ponta de inveja parece me dilacerar em contraste com a felicidade que sinto por minha amiga. Era ótimo, estava feliz por ela, mas não consigo evitar, desejava ser a garota do pedido, mais que tudo. Qualquer ideal feminista abandona minha mente enquanto divago nas possibilidades.

Movida por esse desejo, caminho determinada para fora de meu casulo, cada passo reforçando ainda mais minha ideia, e ao encarar o espelho embaçado do banheiro sinto-me fraquejar, mas já havia decidido.

Abro o box do chuveiro e sorrio com a visão de suas costas cobertas pela espuma, cobrindo a vista que tanto almejava. Seus músculos contraem quando me vê, ao mesmo tempo que um sorriso malicioso estampa sua face. Em silêncio, pega minha mão e me convida para dentro. Enquanto gotículas de água molham o vestido curto e leve de praia, evito contato com seus olhos, reunindo coragem.

- Quero ser sua namorada.

Pronto. Aí está.

- Isso é algum tipo de decreto ou um pedido? - um sorriso teimoso cresce a medida em que entende minhas palavras. - Mas não, não aceito.

- O que?! - pergunto incrédula.

Estava prestes a deixar o lugar e iniciar uma sessão de choro e murros no travesseiro, mas suas mãos em minha cintura me impedem. Ele dá risada e deposita um beijo casto em minha bochecha, achando graça da situação cômica. Enquanto Noah ponderava sua resposta, meu rosto transformava-se gradativamente em vermelho escarlate.

- Não, dominatrix, não posso aceitar seu decreto - Noah ri da própria piada, enquanto meu rosto permanece corado. - Até porque tenho o meu preparado há semanas, sabe o trabalho que dei pro Josh nesses últimos dias?

Daria tudo para poder assistir em reprise o momento em que finalmente entendi o que estava acontecendo. Eu era a garota. A surpresa era pra mim!

Peço perdão às gerações passadas de Any pelos insultos secretos e ciumentos, mas o remorso logo dá espaço à sensação avassaladora que preenchia meu coração. Um sentimento que não poderia colocar em palavras, apenas senti-lo a medida que meu coração batia descompassado e pernas enfraqueciam.

- Ah, não! Estraguei os preparativos!

- Bom... é, estragou - sua expressão se contorce levemente, em um leve riso - Mas a intenção não era essa? Ter você inteirinha pra mim?

Tento protestar, mas era tarde demais. A água quente do chuveiro agora caía sobre meus cabelos, e apesar do choque térmico, a temperatura do ambiente parecia estimular cada vez mais as sensações escondidas dentro de mim.

- Sempre fui sua, Noah. - observo suas íris brilharem enquanto escuta minhas palavras, encantado com minha declaração.

- Ah, Alexa, você não sabe quanto tempo esperei pra ouvir isso.

Seus lábios alcançam os meus com urgência, o que não seria novidade, mas dessa vez era diferente. Dessa vez havia a certeza, a confirmação dos nossos sentimentos, sem medo de rejeição ou de uma cama vazia pela manhã.

Ansiava por seu toque, precisava desesperadamente sentir suas mãos percorrendo meu corpo, por isso não protesto quando o vestido encharcado cai sobre o chão, revelando a pressa que ambos sentíamos em estar cada vez mais perto.

O fino tecido que ainda me cobria me causa uma onde de irritação momentânea, aliviada instantaneamente quando as mãos de Noah encontram o laço do biquíni, sem separar nossas bocas ou quebrar o contato. Sentia que poderia desmaiar caso suas mãos parecem de me tocar.

Estava inerte demais na decisão que havia tomado em um momento de impulsividade que mal percebi meus arredores. Noah estava sem nenhuma peça de roupa. Um gemido inevitável escapa ao constatar que, de fato, Noah estava pronto para mim.

- Sabe... - digo entre beijos. - eu amaria ser ovacionada na presença de balões de gatinho. - sorrio, puxando seus cabelos e o fazendo sorrir. - A surpresa está de pé.

Em prol da sustentabilidade, Noah desliga o chuveiro e em meio a risadas bobas, me pega no colo e me deposita na cama. Não há mais suavidade em seus movimentos, nem cuidado com os lençóis recém lavados. Quase como um instinto animal, seu corpo forte pressiona o meu na cama, buscando atingir cada ponto não explorado, cada centímetro de pele queimando à espera de seu contato. Enquanto agarrava o travesseiro sob mim, implorava por mais, reagindo a cada investida.

De repente, o mar tempestuoso deu lugar à calmaria e a sensação inexplicável de ser amada. O naufrágio de emoções finalmente chegara à civilização, a tripulação que mesmo abalada, não se arrependia de nada do que havia vivido. Era assim que me sentia, que Noah me fazia sentir.

- Você agora precisa cumprir sua função de homem e comprar a pílula. - digo com um sorriso no rosto, ainda extasiada.

- Não quer mesmo ter bebês comigo, não é? - Noah diz com uma falsa magoa.

- Pra ele se tornar um pequeno ingrato que vai me abandonar aos 18 pra namorar um músico nos Estados Unidos? Não quero que siga o exemplo da mãe. - digo na expectativa que Noah entenda a mensagem subliminar.

- Não... serio?! Não acredito! Vamos nos ver todos os dias!

Noah inverte nossas posições e faz seu corpo ficar sobre o meu, para então segurar meu rosto e depositar beijinhos por toda sua extensão, deixando transparecer sua felicidade contagiante.

- Eu te amo.

A frase é proferida entre risos, como quem informa as horas ou pede o sal à mesa. Espero que continue a piada ou diga que confundiu as palavras, mas seu rosto permanece com a mesma expressão radiante. Certamente, não era brincadeira ou erro algum. Noah não esperava respostas ou um "eu te amo" de volta, nem mesmo a rejeição poderia apagar seu sorriso ou perturbar sua serenidade.

- Noah... - acaricio seu rosto, aproveitando a incrível sensação que sentia, prestes a explodir com o que iria falar - Eu te amo.

E, por fim, o ciclo estava fechado, os corações batiam em uníssono, as mãos estavam entrelaçadas, as testas tocando e as mechas de cabelo pinicando a face. Algo tão singelo e puro que precisaria recorrer à utopia das palavras imaginárias para descrevê-lo. E ainda assim seu sentido estaria incompleto, gestos não seriam suficientes. E como fazê-lo, quando nem mesmo o peso da gravidade é percebido quando estamos juntos? Em qualquer atmosfera, Jupiter, Marte ou na Lua, contanto que Noah estivesse ao meu lado e seus olhos verdes estivessem nos meus, nada mais importaria.

- NOAH? Já se livrou da Alexa? Espero que sim... - a batida apressada no quarto de hotel desperta meu devaneio. - Ah, so pra constar, trouxe as rosas brancas, espero que não se importe.

- Não me diga que todos estão aqui para o pedido!

- As passagens estavam na promoção, amor.

...

Uau!

Eu ainda me lembro de anos atrás quando comecei essa obra, de ser a maior fã assumida do fandom, e estar terminando essa fanfic depois de tanto tempo é uma realização. Eu, assim como muitos de vocês, viu esse grupo se fragmentando e tendo outras pecinhas adicionadas, mas a essência sempre será a mesma, e apesar de já não acompanhá-los tanto, Now united vai ter sempre um pedacinho do meu coração.

Obrigada a quem estava aqui desde o começo, quem esperou as atualizações e principalmente, quem está aqui comigo no último capítulo.

Vou lembrar com carinho de escrever essa obra que vai deixar saudades... e quem sabe não rola algum capítulo bônus, hein?

Amo muito todos vocês!!!❤️❤️

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