Capítulo || 3

De vez em quando, olho de relance para a garota ao meu lado, torcendo para que ela não perceba e acrescente mais um item à sua lista de "coisas assustadoras que Noah já fez comigo".

Mas era inevitável não olhar para ela. Seu cabelo em um tom castanho que eu não conseguia definir, suas sobrancelhas que sempre pareciam formar uma expressão séria, sua boca perfeitamente desenhada em seu rosto. Tem alguma coisa que não seja perfeita nela?

Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos, mantendo meus olhos focados na estrada, e por mais difícil que possa aparentar, sem desviar o olhar, dessa vez.

Eu precisava parar com aqueles pensamentos. O mais rápido possível. Não iria deixar uma atração idiota estragar meu relacionamento, nunca faria isso com qualquer outra pessoa, tinha caráter o suficiente para isso. Ainda mais agora, quando eu e Heyoon estamos indo tão bem. Ela não merece algo assim. O simples pensamento de machucá-la é tão terrível que quero socar meu próprio rosto por isso.

Quando pensava estar há alguns minutos do aeroporto, meu celular toca de repente, mas decido ignorar, sem ao menos checar o nome no visor. Precisava, pelo menos, passar a imagem de alguém responsável no trânsito, sendo o que realmente queria era evitar mais alguém fazendo piadas sobre eu dirigir mal.

O celular volta a tocar, preenchendo o carro com o barulho irritante do toque, que há algumas semanas havia feito uma nota mental para trocar, mas nunca me lembrava. Suspiro, pegando o aparelho para atendê-lo, enquanto o equilibrava com o ombro, usando uma mão no volante e outra na marcha, logo a voz de Josh ressoando em meus ouvidos.

- E aí, Noah?

- É melhor eu não morrer, você vai ter que pagar uma indenização bem cara para a minha família. - Lexy reclama, enquanto tira algumas casquinhas do esmalte, parecendo não se preocupar, mas suas mãos levemente trêmulas poderiam dizer o contrário.

- O que foi, Josh? Eu estou dirigindo. - ressalto as palavras, como uma forma sutil de dizer para ligar outra hora.

- Ah, me desculpe. Esqueci que você liga para as regras do trânsito agora. - ele diz num tom de sarcasmo, me fazendo revirar os olhos.

- Eu estou com a Alexa no carro, é bom ser algo incrível o suficiente para valer por duas vidas. - ao ouvir seu nome, ela vira a cabeça rapidamente para mim, prestando mais atenção na conversa, mesmo que discretamente.

- Alexa? Deu um fora na Heyoon ou é poliamor?

- Todo esse mau humor é porque a Any te rejeitou mais uma vez? Meu namoro existe, pelo menos. Você devia desistir dela, cara, sempre foi assim desde o começo do grupo.

O silêncio domina por um tempo, o bastante para eu chegar a me perguntar se havia sido duro demais com ele, no entanto, sei que tudo o que disse é verdade, Josh talvez não admitisse, mas ele também sabia.

- A... a Any me beijou. - ele diz, quase em um sussurro, mas eu o ouço mesmo assim, arregalando os olhos e segurando o celular com mais força nas mãos em seguida.

- O quê? Sério? Onde? - pergunto tudo de uma vez, surpreso demais para formar alguma frase coerente.

- Foi no hotel, antes dos outros chegarem. Eu sei que é idiota e que não deve ter significado nada pra ela, não precisa me dizer...

- Não, não! - o interrompo, antes que ele pudesse falar qualquer outra coisa. - Eu estou indo para o aeroporto agora, quando estiver em Londres você me fala melhor sobre isso, ok?

- Tudo bem. Até depois, então.

- Então... você namora? - assim que largo o celular em uma parte qualquer do carro, a ouço perguntar, parecendo subitamente interessada no assunto.

- É algo... complicado. De acordo com o contrato do grupo, não podemos assumir um namoro publicamente, mas digamos que sim, eu e a Heyoon estamos juntos. - sorrio para Alexa, desviando o olhar da estrada por alguns instantes, o bastante para notar sua expressão não muito agradável.

- Ah... compreendo. - a vejo morder os lábios de leve, olhando para baixo, mas quando retomo meu olhar a ela mais uma vez, seus olhos estão focados em mim.

- O que foi?

- O que aconteceria se alguém descobrisse sobre algum namoro no grupo? Não necessariamente o de vocês.

Penso um pouco antes de responder. Talvez sejamos expulsos? Não, seria algo extremo demais. Poderia haver apenas uma multa, mas não acredito que seja tão simples assim, por isso, era melhor não arriscar. Pelo bem do grupo, ninguém precisava saber.

- Eu... não sei ao certo, mas não deve ser bom. - faço uma pequena careta ao falar sobre aquilo, pensando no que poderia acontecer caso nosso relacionamento viesse à tona, mas decido afastar aquelas ideias da minha cabeça, não era bom pensar em coisas ruins.

- Noah, acho que você passou do aeroporto há... 20 minutos. - ela diz, apoiando as mãos na janela, olhando para a mesma, com o olhar fixo em uma placa de trânsito que acabara de passar por nós.

- Só pode ser brincadeira... O próximo retorno fica há 50 quilômetros, vamos chegar atrasados para o vôo! - praguejo, apertando o volante com mais força, até sentir meus dedos ficarem brancos. - Aquelas pedras seriam ótimas agora, me sinto como um grande idiota.

Alexa ri, talvez pela primeira vez na viagem inteira, o que me pega desprevenido, mas inesperadamente, diminui parte da minha tensão com o horário perdido.

- Fomos idiotas juntos, eu também não prestei atenção, então, por mais que sua ideia seja satisfatória, eu teria que ser apedrejada com você, e essa ideia não me parece tão boa quanto a primeira. - ela sorri, esticando os pés. - Mas agora, onde está a alavanca para deitar o banc.. - em um ato distraído, ela puxa uma pequena alavanca, e pelo susto da ação inesperada, ela solta um grito de surpresa, me assustando também, logo, são duas crianças gritando e rindo.

Quando o momento passa, voltamos ao silêncio mais uma vez, e eu me culpo por não ter nada em mente para quebrar o clima estranho que se instalou, mas acabo fazendo isso da pior maneira.

- Sobre mais cedo, o que você disse sobre ser minha futura namorada... Era brincadeira, não é? - assisto sua expressão passar de despreocupada para assustada em questão de segundos após a pergunta.

Será que falei algo de errado?

- Ahm... Não, não, claro que não. - em seguida ela ri, como se fosse a coisa mais idiota que já houvesse escutado. - Eu tenho um namorado, aliás. O... Zach? Isso, Zach, é óbvio que sei o nome do meu próprio namorado. Só estou um pouco nervosa pela viagem. - ela ri mais uma vez, me deixando confuso por alguns instantes, mas começo a finalmente entender depois de um tempo, por isso rio também, como se estivesse, de fato, por dentro do assunto.

- Zach. Como vocês se conheceram? Você não parece alguém que namora. - sorrio, sem nenhuma outra intenção ao perguntar sobre o rapaz, apenas a curiosidade.

- Hum... num parque aquático. Eu estava morrendo. - ela diz e eu arregalo os olhos. - Não, não! Não foi tão grave assim. Na verdade, foi, mas... enfim, eu estava me afogando na piscina das crianças e ele... ele me tirou de lá e fez respiração boca a boca. Foi nosso primeiro beijo, inclusive. - Lexy ri nervosamente dessa vez, mas deixo o fato passar despercebido.

- Ah, sim. - sorrio com sua história. - Vocês parecem formar um bom casal, quero conhecê-lo quando viermos para a Austrália na tour.

- Ah, claro, claro. - ela assente com a cabeça, umedecendo os lábios e os mordendo em seguida, com isso, luto internamente para não encarar. - Por que está na Austrália? Não acho que more aqui, de qualquer forma.

- Vim para um evento com os fãs. Estava uma loucura, eu não esperava que tantas pessoas viessem só para me ver. É insano pensar nisso ainda, não parece real. - digo em um sorriso ao lembrar de ontem, os momentos vindo em mente e o som das pessoas gritando cravadas em minha memória.

- Às vezes eu me pergunto... Será que as pessoas vão me achar boa o suficiente? Quer dizer, vão gostar de mim como os outros? Eu sou tão... normal e anormal ao mesmo tempo. Eu não sei... - ela balança a cabeça. - Sou reconhecida pelo meu pai, e não por quem eu realmente sou. E depois de alguns comentários nas redes sociais... não tenho mais certeza que vou ser bem vinda. - ao olhar de relance para a garota, a vejo dar de ombros, com olhar pensativo e focado na estrada, enquanto apoiava a cabeça em seus braços, por cima de suas pernas cruzadas.

- Olha, eu posso não te conhecer muito bem ainda, mas tenho certeza que todos vão te amar, e não pelo o que os outros pensam sobre a filha do Simon Fuller, mas pelo o que você realmente é. Essas pessoas provavelmente vivem no porão da casa dos pais, se escondendo por trás de uma tela, não os deixe te botar para baixo. Você é linda, divertida e bem mais que alguns comentários maldosos em uma foto. Eu sei disso, só falta você saber também. - retiro minha mão sobre o volante e coloco por cima da sua, para reforçar ainda mais o que falava.

- Obrigada, Noah.

...

AAAAAAAAAAAAAA MEU OTP TÁ COMEÇANDO, GENTE

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