- Não se ofenda, mas fazer dupla com você foi uma péssima ideia. - constato para Noah, quando, apenas poucos minutos depois de deixar nosso primeiro remo cair na água, também derrubar o segundo.

- Eu empurraria meu próprio corpo na água se as leis da física me permitissem. - ele comenta, unindo suas mãos e as esquentando sob o casaco após tentar movimentar o barco por conta própria, mas desistindo em segundos quando não aguenta a baixa temperatura.

- As leis da física não me impedem... - murmuro, analisando as pontas ressecadas do meu cabelo, a única coisa interessante o bastante para se fazer naquele momento.

- Está com frio?

Levanto os olhos, passando a encarar o verde inebriante dos seus, mas os desviando rápido demais quando percebo que a situação começava a ficar constrangedora. O jeito como as coisas mais simples podiam causar efeitos maiores do que deveriam, me deixava sem saber como prosseguir.

- Um pouco. - dou de ombros, apertando ainda mais o casaco que usava contra meu peito, em uma forma de aplacar o frio que sentia.

Minutos antes, havia ligado para Josh e contado que não conseguiríamos voltar sozinhos por obra de certo alguém, por isso ele garantiu que em pouco tempo iria nos ajudar. A palavra de Josh quanto a horários não é exatamente confiável, então o que nos restava era esperar por algo surpreendente acontecer para nos tirar do tédio mortal até que ele aparecesse.

- Vem aqui. - Noah estende seu braço, me olhando como se não aceitasse uma simples negação como resposta. Reviro os olhos e o seguro, passando a sentar ao seu lado, em uma distância considerável levando em conta o pouco espaço que tínhamos.

Seus braços ao redor do meu corpo me transmitiam muito além de apenas calor, embora me sentisse em chamas cada vez que seus dedos me tocavam. Me permito fechar os olhos por um instante, apreciando a sensação que ainda não sabia definir ao certo, e mesmo a desconhecendo, era capaz de ser afetada diretamente por ela.

- Quer falar sobre aquele dia na festa? Ou... sobre o que houve entre você e a Heyoon? - não sabia se obteria alguma resposta para as perguntas, mas não podia simplesmente deixá-las guardadas no fundo da minha mente para esquecê-las.

À medida em que sentia seus músculos enrijecerem, a suavidade do seu abraço passa a ser substituída pela tensão. Com sua não-tão-inesperada reação, tento evitar, mas acabo em guerra comigo mesma ao questionar sobre suas reais intenções, tendo então, a certeza de que minha escolha de palavras não foi a melhor para ambas as partes, já que Noah estava claramente desconfortável e não parecia à vontade em responder.

- Lexy... - ele pondera por alguns instantes. - Eu não quero que um relacionamento passado deixe estranha minha relação com você.

- Me desculpa por ser a pessoa a revelar isso, mas e se sua ex-namorada não for o problema? A Heyoon não tem nenhum tipo de envolvimento com isso! É justamente não saber que tipo de relação temos que está a tornando estranha. - afasto-me de Noah, passando a ocupar o lado oposto do barco.

- Por favor, só não quero ter que lidar com isso agora. - ele estica sua mão, alcançando a minha. - Eu... não sei o que está acontecendo, mas não quero ter que me afastar de você, Alexa. - ele diz, após recolher sua mão para perto de seu colo novamente quando a empurro.

- Tudo bem. Sinta-se livre para pensar em si mesmo. Sozinho.

Pisco algumas vezes para evitar as lágrimas, talvez a pior parte de ser extremamente sensível. Em seguida, giro os calcanhares e movo meu corpo para perto da ponta, me virando para encarar o lago enquanto abraçava minhas pernas e apoiava o queixo em meus joelhos.

- Alexa, olha pra mim.

Ignoro-o completamente, respirando fundo e me encolhendo ainda mais quando uma brisa fria atravessa e deixa arrepios por toda minha pele.

Haviam grandes chances das minhas atitudes estarem sendo infantis naquele momento, mas as de Noah eram infinitamente piores por serem egoístas. Ele não tinha o direito de me deixar confusa daquele jeito.

- You've got me nervous to speak (Você me deixa nervoso para falar) - ouço de relance sua voz, cantando baixinho. - So I just won't say anything at all (Então eu não vou falar nada) - percebo sua inusitada escolha de música e mordo os lábios para evitar sorrir. - I've got an urge to release (Eu tenho que soltar o que está preso) - suas palavras começavam a ficar mais claras a medida em que sentia o pequeno barco se mexer e Noah se aproximar.  - And you keep tellin' me to hold on (Mas você continua dizendo para eu segurar) - minha respiração parece falhar por alguns segundos quando sinto seus dedos em meu ombro. - You've got me nervous to move (Você me deixa nervoso para me mover) - solto um suspiro involuntário quando suas mãos descem por meus braços - So I just won't give anything to you (Então eu não vou te dar nada) - ele segura meu cotovelo e me impulsiona levemente para virar. - You got me turnin' all around to be who you need me to (Você me fez revirar tudo para ser quem voce quer que eu seja).

As palavras estavam praticamente formadas em minha cabeça, não seria fácil proferi-las, mas a razão era a mais sensata a ser usada, por isso teria que aguentar. Mesmo que fosse difícil. Quando visualizo Noah a minha frente, com o olhar vidrado no meu, me olhando como se apreciasse algo, eu perco a fala. Abaixo a cabeça nervosamente e brinco com os próprios dedos, sem saber exatamente como agir.

- Toda vez que eu te vejo... é como se algo dentro de mim se acendesse. Eu não sei explicar, meu coração parece bater incansavelmente mais rápido. Eu nunca passei por um infarto, mas talvez essa seja a sensação. - ele solta uma risada baixa. - Uma vez tentei imaginar como minha vida teria sido sem você nela, como se Fuller fosse apenas o sobrenome do nosso produtor, não da garota que estou apaixonado. - estremeço à simples menção daquela palavra. Apaixonado. - E... considerando tudo que acabei de dizer, você já sabe o final da história.

Levanto meu rosto gradativamente, me deparando com a expressão ansiosa de Noah e cabelos arrepiados por estarem sendo freneticamente bagunçados, me fazendo rir de leve e esticar minha mão, tocando a sua e a abaixando.

- Acho que essa é a hora que você diz algo... - ele diz após bons minutos de silêncio, usados de bom agrado para minhas divagações que não levaram a lugar algum.

Umedeço meus lábios, levando uma das mãos livres até meu cabelo e o afastando do rosto, o que talvez não tenha sido a melhor ideia, já que estava completamente vermelha. Eu, Alexa Rose Fuller, de fato, não sabia o que fazer.

Fui uma total hipócrita quando exigi explicações de Noah quando eu mesma não sabia definir o que sentia. As coisas entre nós parecem ter acontecido... rápido demais, é impossível se apaixonar verdadeiramente em poucos meses. Eu o amo, mas talvez não seja o suficiente para algo a mais.

E Heyoon. Eu não podia fazer aquilo com ela. Minha consciência anda me matando nos últimos dias, essa não é a forma que uma amiga deveria agir. Tudo se tornou confuso demais depois da festa, nada daquilo foi certo. Quando me tornei uma vadia sem coração?

Apenas me inclino em sua direção, percebendo um sorriso singelo se formando em seus lábios. Odiava o fato de me tornar a responsável por tirá-lo. Passo minhas mãos de leve por seu rosto, as levando para sua nuca e deixando-as na parte superior do pescoço, tentando memorizar cada milímetro de sua pele. Fecho os olhos quando estamos perto o bastante para nossos narizes tocarem, respirando com dificuldade. E então, pela última vez, o beijo.

- Eu sinto muito, Noah.

...

Eu sei, sou uma pessoa horrível por esse capítulo :')

Aliás, MUITO MUITO MUITO MUITO OBRIGADA PELOS 14K!!!!!! ❤❤❤❤