Capítulo || 1
Antes de terminar a arrumação da mala, vou saltitando para a cozinha, sem muita cerimônia ao comer o almoço que a essa altura, já estaria frio, ou no mínimo, servindo de morada para algumas moscas sem-teto, mas decido ignorar, porque era isso ou comer a gelatina de dois meses na geladeira.
Ainda com um vestígio de sono, caminho em passos lentos até o quarto, arregalando os olhos ao me deparar com o estado do lugar, surpresa que ao chegar, as roupas estarem espalhadas pelo chão, e meu perfume, quebrado.
Levo alguns segundos para absorver toda aquela informação diante de meus olhos, tentando ao máximo acreditar que deveria ser o efeito de alguma das drogas que o Bash havia acidentalmente colocado na comida, ou que estava morta e aquela era um tipo de visão distorcida do paraíso, mas me recusava a crer naquela cena.
Eu não poderia estar mais ferrada, um carro chegaria para me buscar em 20 minutos, e certamente estaria farto o bastante para simplesmente me deixar abandonada na calçada.
- LARA, VOCÊ TROUXE AQUELA PESTE PRO MEU QUARTO DE NOVO? - falo alto o suficiente para que ela me ouça, em seguida, recebendo outro grito em resposta, com seu tom de voz diminuindo a medida em que ela se aproximava da porta do meu quarto, com o animal em mãos.
- A BELINHA NÃO É UMA PESTE! A única errada é você, que deixa essas coisas para arrumar na hora de ir.
Ela faz uma cara brava e dá de ombros. Eu não recuo, continuo com a mesma expressão irritada, mas vendo que aquilo não levaria a lugar algum, apenas reviro os olhos e, bufando, começo a catar as coisas jogadas no chão.
Ah, claro, também não poderia deixar de lado o fato de Belinha, na verdade, ser macho, mas Lara já estava tão apegada àquele nome que nem ligou. Acho que esse é o nosso 5° animal chamado Belinha.
- Isso que dá colocar ecstasy na ração do cachorro, Larinha. - respondo depois de um tempo, pegando a última peça no chão e soltando um gemido frustrado ao ver que ainda tinha o frasco de perfume quebrado para limpar.
- Foi só uma vez, Lexy! Como eu ia adivinhar que aquilo não era tic-tac? O Bash que deixa essas coisas perdidas pela casa e eu sou a culpada? - ela diz com um olhar ofendido, uma das sobrancelhas levantadas e mãos na cintura, dramaticamente.
Resolvo abandonar a discussão, terminando de arrumar a mala e me olhando no espelho pela última vez, para conferir se não havia trocado os pares de tênis ou colocado a blusa do lado contrário, o que seria bem compreensível considerando meu histórico de vergonhas em público.
Quando me dou por satisfeita, vou correndo até a porta da casa, ralando o joelho com uma queda inesperada, mas àquela altura, não seria isso que me pararia.
Após a despedida curta e um olhar de reprovação da minha mãe pelo jeito que andava, acabo percebendo estar mais atrasada do que esperava, já que não havia sinal de carro algum por ali.
Solto um grunido alto, amaldiçoando mentalmente a pedra que me fez desviar da estrada e bater o carro semana passada, enquanto vasculhava a mochila à procura do meu celular. Assim que o acho, disco o número do meu pai com agilidade, mordendo a parte interna da boca com mais força ao som de cada bip.
- Oi, filha. Já está no carro?
- Ah, oi. É... Eu meio que me atrasei... um pouquinho. Tem como você vir me buscar? - faço uma pequena careta enquanto falava, mexendo freneticamente no tecido da blusa.
- O quê? Por quê? Você ainda não superou esse hábito de se atrasar, Alexa? - a voz dele soa cansada, como se estivesse farto de presenciar coisas desse tipo.
- Foi aquele cachorro! Não deveria simplesmente dar esses animais pra Lara, ela tem 7 anos e ainda pede ajuda da mamãe pra se limpar no banheiro, acha que ela tem capacidade de cuidar de um ser vivo? - com aquele ressentimento voltando a tona.
Ouço-o suspirar.
- Tudo bem, tudo bem. Estou resolvendo alguns assuntos do grupo fora da cidade, mas vou pedir pro Noah te buscar, ele deve estar por aí. Esteja pronta, se perder outro carro, vai ter que ir andando.
- Noah? Quem diabos é No... - começo a murmurar, confusa, mas ele já havia desligado.
Bufo, resolvendo esperar no gramado fofo que estava sentada, mordendo os lábios com força, até sentir o gosto metálico invadir minha boca, me obrigando a parar.
Ser filha de Simon Fuller tinha suas vantagens, afinal, como conseguir uma vaga no grupo que ele organizava como presente de 17 anos, mas ter atenção definitivamente não era uma delas.
Depois de 10 minutos de espera, decido deitar na grama, torcendo para que nenhum animal resolvesse passear pelo meu cabelo ou coisa parecida, mas só por precaução, coloco meu casaco por baixo da minha cabeça.
Eu devo ter cochilado por alguns minutos, porque quando abro os olhos, me deparo com um par de olhos verdes me encarando.
Olhando para seus olhos, começo a divagar, eu poderia acordar com essa visão todos os dias, mas a realidade me faz voltar à tona em questão de segundos, interrompendo as imagens nada comportadas que iam surgindo em minha mente.
Decido que precisava parar com aquela imaginação toda, não raciocinando muito bem ao levantar a cabeça num ato rápido, fazendo nossos narizes colidirem e uma onda de dor atravessar meu corpo imediatamente. Coloco a mão no local da batida, constatando o sangue.
- Merda... - murmuro, por um instante, esquecendo do completo desconhecido ao meu lado, que há poucos segundos me encarava de uma forma assustadora, não muito diferente de mim, convenhamos.
Ele poderia me olhar o quanto quisesse, eu não iria reclamar.
- Qual seu problema? Por que fez isso? - ele diz, aparentemente irritado, com sua mão cobrindo o nariz e uma careta dominando sua expressão.
- Qual o meu problema? Acho perfeitamente justificável levar um susto depois de acordar com um estranho me olhando. - digo em um tom de deboche, para mascarar o fato de achá-lo extremamente atraente. Ainda com uma das mãos no nariz, para impedir que o sangue se espalhasse mais.
- Seu pai me mandou vir te buscar, saí do carro só para conferir que não estava morta. - ele dá de ombros, com um sorriso de lado no rosto. - Seu nariz parece bem feio... - ele comenta, se aproximando um pouco, enquanto toca meu rosto com a ponta dos dedos, me fazendo recuar.
- Ah, muito obrigada, é gratificante ouvir algo assim. - dou um sorriso sarcástico, pegando um lenço de papel que sempre carrego em minha mochila para limpar o sangue, que parecia não ter fim. Se aquilo continuasse a fluir daquela forma, iria precisar de uma bolsa de sangue.
- Quer ajuda com a mala? - ele pergunta, logo atrás de mim.
- É o mínimo depois de acertar minha cara com seu nariz. - murmuro, mesmo sabendo que a responsável pela batida era eu, mas não iria admitir isso de jeito nenhum.
- Isso deve pesar quase 100 quilos. Espero que as pedras que você carrega aqui dentro não sejam para me matar. - consigo ouvi-lo resmungar, fazendo um sorriso singelo brotar em meus lábios, mas trato de tirá-lo o mais rápido possível.
- Noah, se eu quisesse você morto, seu corpo estaria no fundo de um rio nesse momento. - pisco para ele, entrando no carro e sentando no banco da frente. - Aliás, eu sou a Alexa, mas pode me chamar de Lexy ou futura namorada.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top