C A P Í T U L O 2



Aurora podia sentir olhares sobre ela e isso a incomodava muito. Ela nunca gostou de atrair a atenção das pessoas, sempre foi reservada, dando preferência aos livros em vez de festas ou qualquer outra coisa do tipo.

A garota cresceu em um bom lar. Apesar de seus pais, a maior parte do tempo, não estarem presentes por causa do trabalho, ela entendia perfeitamente como ser militar era difícil, e isso não fez com que crescesse sem amor. Recebia muito amor não só de seus pais, mas também de seus avós, porque eles a criaram. Aurora conseguiu entrar para Harvard, o lugar onde ela mais desejou estar, apesar da resistência dos seus pais por causa da mudança drástica de estado. Agora estava cursando Literatura.

Caminhava lentamente pelos corredores da grande universidade. Queria se lembrar dos mínimos detalhes, apesar de se sentir insegura perante tantas pessoas.

Tentava manter-se firme e focar em seu caminhar para não acabar desmoronando no chão. Não gostava de atrasos. Com isso, viu que precisava se apressar o máximo possível ou perderia sua primeira aula. Passou pela porta, encontrando algumas pessoas já acomodadas em suas carteiras. Abaixou a cabeça e dirigiu-se até uma que estava vazia. Sentou-se e, finalmente, pôde respirar um pouco melhor, sentindo-se aliviada.

— Olá, me chamo Hanna Thompson. — Levou o seu olhar até o lugar de onde vinha a voz e viu uma garota de cabelos longos, cacheados e castanhos. Com certeza, ela era popular na universidade, pois tinha uma beleza que poderia ser notada a metros de distância.

— Prazer, sou Aurora Baker. — Tentou abrir o seu melhor sorriso, e Hanna retribuiu com outro, sentando-se na cadeira ao seu lado.

Hanna era uma garota típica de filme de comédia romântica, um clichê. A pele branca, mas tendo um leve bronzeado; o rosto definido com o nariz pontiagudo; os olhos verdes brilhantes e as bochechas coradas. O corpo tinha curvas, mas não o bastante para sair do padrão americano.

— Você é nova por aqui? — a garota indagou, curiosa. — Claro que deve ser, porque eu nunca tinha visto uma pessoa com um ar tão singelo. O restante dos universitários é malicioso. — Deu de ombros, agindo como se aquilo fosse normal. Na verdade, era, mas Aurora sempre se sentiu desconfortável, nunca se sentiu igual aos outros jovens de sua idade.

Gostava de livros. Poderia passar o dia em um lugar rodeado de flores e calmaria, lendo seus livros da Jane Austen, em vez de beber ou usar drogas.

— Obrigada, eu acho... — falou em um tom mais baixo, não sabia como responder à garota. — Sim, eu sou nova no campus, cheguei no sábado aqui. — Não queria deixar que a conversa acabasse por não saber reagir àquele diálogo.

— Seja bem vinda — desejou Hanna e abriu um enorme sorriso. — Estou aqui desde o ano passado, mas acabei mudando o curso. — A moça estava com uma feição triste no rosto.

— Parece não ter gostado da ideia... — disse rapidamente, sem pensar. Depois de escutar o que havia saído de sua boca, arrependeu-se amargamente. Tinha um defeito muito grande: não conseguia controlar a boca.

— Não mesmo. O meu pai queria que eu fizesse esse curso e aqui estou. — Soltou um suspiro triste.

Ela não queria ter mudado de curso, estava feliz em fazer teatro, mas seu pai disse que não teria futuro com as artes. A carreira de teatro não era tão requisitada, ainda era um tabu para a sociedade ser atriz, então ele praticamente a obrigou a fazer Literatura. Já que seu pai, o Sr. Thompson, era um escritor famoso na Itália, ele queria que a filha seguisse o mesmo caminho que ele.

Hanna não havia se importado com a sinceridade na fala de Aurora, então, vendo que ela não a reprimira, assentiu para a garota e virou para frente, encarando o quadro branco.

Aurora tinha amado a sua primeira aula, o que deixou a garota de longos cabelos loiros ainda mais apaixonada por Literatura. Hanna estava ao lado dela desde o início. Havia se dado bem com ela e gostado dela, apesar de sentir-se um pouco penalizada.

— Eu amo balas de alcaçuz. — Hanna estava com a voz embolada por causa da grande quantidade de balas que colocou na boca, fazendo a outra gargalhar. — Vamos, fale mais sobre você. Quem é Aurora Baker?

Hanna era curiosa e fazia essa pergunta a todos que conhecia. Mas Aurora ficou tensa, ninguém nunca perguntou isso a ela diretamente. Sempre queriam saber coisas superficiais, mas aquele questionamento soava profundo. Nunca teve amigos, nem qualquer outra pessoa tão próxima a ela que não fosse os seus pais ou avós. Ninguém nunca quis saber quem ela era, e não sabia como responder à nova colega, porque nem ela própria sabia quem era. Acabou sentindo-se desesperada.

— Tudo bem. Se não quiser responder, não precisa. Eu entendo que é uma pergunta invasiva. Sempre pergunto isso às pessoas que conheço, mas você não foi a única que não me respondeu. — Notou o constrangimento, percebendo que não deveria ter perguntado isso a uma pessoa que acabou de conhecer.

Aurora sentiu-se mais aliviada ao ouvir a última fala de Hanna, pelo menos ela não foi a única.

Elas estavam sentadas no gramado em frente à universidade. Aurora sempre gostou de ar puro. Apesar de o ar de Massachusetts não ser totalmente limpo, gostava da brisa gelada batendo em seu rosto. Naquele momento em que abriu os olhos, viu um garoto... Ele parecia diferente dos demais. Estava caminhando apressadamente, como se estivesse acontecendo alguma coisa. Mas, mesmo assim, algo nele chamou-lhe atenção, e ela não conseguiu desviar o olhar até que ele sumisse do seu campo de visão.

— Aquele é Tyler Walker. — Encarando a menina, Hanna percebeu sua atenção fixa no rapaz, mas parecia que a garota havia entrado em algum tipo de transe.

O estilo do rapaz era o mais chamativo, com as roupas pretas com bela jaqueta de couro da mesma cor, mas eram nítidas as tatuagens em suas mãos, que pareciam subir para o braço. O rosto era perfeitamente desenhado, o maxilar estava rígido. Os olhos eram claros e os cabelos eram castanhos, tudo nele parecia ter saído de uma das revistas da Forbes, sessão Homens mais bonitos.

— Sabe o porquê dele estar praticamente correndo pelo campus? — indagou Aurora após sacudir a cabeça como quem põe os pensamentos no lugar.

— Provavelmente deve estar indo fumar, já que é a única coisa que ele faz no intervalo — respondeu a amiga, dando de ombros. — Não que ele seja uma pessoa ruim. Na verdade, Tyler é um dos garotos mais legais e respeitadores do campus, e isso é raro de se encontrar por aqui. A maioria é babaca — Hanna continuou a sua fala, e Aurora prestava atenção a cada palavra que saía de sua boca. — Ele é um lobo solitário, a única coisa que o acompanha é seu maço de cigarros. Ele se tornou assim por causa da morte do pai.

— Deve ter sido muito difícil para ele. — Sentiu-se penalizada novamente, não sabia como era perder uma pessoa tão importante assim.

— Foi e ainda é, mas Tyler está superando isso. Ele é um bom garoto, Aurora. — Sorriu para a garota e apertou levemente o seu ombro.

Tyler é um bom garoto!

Aquela frase ficou gravada em sua mente. Ela não gostava nem de pensar que um dia poderia perder seus pais, isso a deixava assustada. A curiosidade em relação ao rapaz foi algo que despertou dentro dela uma inquietação, e sentia que precisava descobrir mais sobre ele.

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