Capítulo 57
3794 Palavras
Tudo escureceu e assim permaneceu.
Não sei ao certo por quanto tempo estou dessa forma, enxergando o pleno nada, rompido vez ou outra por vultos e estranhas nuances de cores em movimento que recordam momentaneamente o fluir do vento, e logo desaparecem.
Não tenho certeza do que enxergo, nem se realmente enxerguei algo, pois meus olhos parecem pesados demais e não consigo ter força o bastante para abri-los.
Vez ou outra tive a sensação de me mover.
Como se erguida no ar e flutuasse, talvez parada no lugar, ou quem sabe até me movendo pelo ar. Da mesma forma que a sensação surgiu, ela desapareceu, e então surgiu novamente, e acho que assim permaneceu. É outra coisa que não tenho certeza.
A verdade é que não tenho nenhuma certeza neste momento.
A única sensação que permaneceu em mim foi de algo familiar em mim.
Um calor que acho já ter sentido antes, a muito tempo atrás, não consigo lembrar exatamente onde ou quando foi, mas é um calor que penetra meu corpo e o esquenta cada parte do meu ser em intensidade que não queima ou incomoda, está muito distante disso. É uma sensação agradável e confortável, me traz grande relaxamento e parece retirar um imenso peso de mim.
Uma sensação muito parecida de quando consigo adormecer profundamente, uma agradável familiaridade, e dessa sensação, às vezes tenho a sensação que algo dourado, também sem forma, passar em torno de mim repetidas vezes, emanando o calor e o conforto que sinto em mim.
Tenho a sensação de ver novas nuances próximas de mim. Cores pálidas e opacas, brancas e cinzentas que surgem ao longe sem uma forma clara, vagando lentamente de um lado ao outro sem assumir qualquer tipo de aparência que soe familiar ou me diga qualquer coisa.
Algo sem forma definida, mesmo que tente me concentrar, não consigo distinguir nada nessas novas cores e seu mover estranho. Da mesma maneira que as primeiras cores, tons vermelhos que parecem igualmente opacos surgem ao longe e se aproximam, passando próximos de mim mas não o bastante para que possa tocá-los. Mesmo que tentasse, não acho que conseguiria.
Vezes ou outras, algo parece ecoar nesse lugar estranho. Sons e ruídos estranhos, que parecem distantes e ao mesmo tempo tão próximos como se originados de algo bem a minha frente que não consigo enxergar.
São tons difíceis de distinguir, mesmo que me concentre não consigo entender nada em suas variações e no tempo que duram, mas que não chegam a me assustar ou deixar apreensiva, apenas bastante curiosa em saber de onde surgem, e se podem significar alguma coisa. São sempre tons iguais que surgem, e permanecem surgindo e desaparecendo um atrás do outro, até que parece que aos poucos se distanciam e voltam a desaparecer, e mergulho novamente em silêncio.
Tudo que sei é que isso é tudo que me rodeia, é tudo que existe à minha volta, e já não sei a quanto tempo as coisas estão assim.
*****
Por muito tempo tudo em torno de mim permaneceu igual, nuances de cores e ruídos, seguido de um silêncio absoluto.
Durante esse tempo consegui ver algo próximo a formas nas nuances que surgem. Algo que vezes ou outras se assemelhava momentaneamente a uma silhueta, que no instante seguinte transformava-se outra vez em algo sem forma, moldada unicamente em uma espécie de névoa colorida que vagava por alguns momentos, até então desaparecer outra vez.
Mesmo sem conseguir abrir meus olhos, e descobrir o que de fato essas nuances são, conseguia sentir elas próximas de mim. E notei também que, sempre que surgiam, os ruídos também estavam presentes, cada nuance não se diferenciava somente pela cor, eles também emitiam os mesmos ruídos, tons sempre muito semelhantes.
Além disso passei a reparar também, essas nuances apresentavam padrões de movimento. A de cor avermelhada sempre se move muito, possui uma inquietação aparente. A de cor branca é um pouco mais calma e move-se menos a princípio, mas às vezes ela também se agita. Ja a nuance acinzentada é a mais quieta, pouco se move e seu mover é lento, às vezes tudo que faz é estar parada mais atrás das outras.
Em certo momento notei a presença de uma nuance diferente, que apareceu pouquíssimas vezes, e sempre que veio estava sozinha. Ela é muito menor que as demais, mas possui um tom branco marcante. Essa última aparecia pouco, e sempre era a que chegava bem próxima de mim, e assim permanecia, quase que aninhada a mim.
Senti algo muito familiar e reconfortante, algo dentro de mim reagia quando essa em particular se aproximava, quase como se fosse tocar em mim, tamanha sua proximidade, e quando eventualmente se afastava ou desaparecia, sentia a necessidade de gritar, de tentar agarrar esse algo que pouco surgia mas sempre se aproximou tanto e não queria que ficasse longe.
Perdi a noção do tempo em algum momento.
Ainda assim, notei que as sensações de antes permaneceram em mim como mãos invisíveis que restringiram meus movimentos, mas cada vez mais, essas mãos invisíveis afrouxavam e o peso que havia sobre mim parecia desaparecer.
Aos poucos passei a notar algo diferente, passei a perceber meu corpo novamente. Ele aparentava responder cada vez mais a meus comandos e conseguia sentir que podia esboçar alguns primeiros movimentos, até mesmo o peso em meus olhos já parecia diminuir.
E tudo culminou a este momento, em que o peso sumiu de meu corpo. Sinto que estou leve, e o calor que havia em torno de mim, surgida da aura dourada suavizou.
Mais uma vez, tento abrir meus olhos, e desta vez consigo fazê-lo, sem a dificuldade que tive antes.
Me encontro flutuando no ar sem emitir quaisquer ruídos. Encaro o ambiente ao redor, um espaço que já estive antes, nas vezes que fui gravemente ferida. Um cômodo amplo e vazio, onde tudo que existe é uma aura dourada capaz de recuperar quem estiver em seu interior.
Avanço devagar enquanto a aura, vagamente se afasta do meu corpo como se abrisse caminho para mim. Meus pés descalços tocam o chão e sinto o peso do meu corpo novamente, podendo caminhar para fora do quarto.
Abro a porta e deixo o quarto, espiando em volta para reconhecer minha própria casa e sua habitual tranquilidade, e atraída pelos sons vindos do andar abaixo, desço as escadas devagar.
Atravesso a sala, atenta a tantos detalhes. Tantas coisas que certamente já vi antes, mas tenho a sensação de não ter dado o mínimo de atenção em todas as vezes anteriores que as observei. Poderia dizer até que está sendo uma nova primeira vez nessa casa, onde tudo pode ser uma novidade que desejo olhar e descobrir cada pequeno detalhe.
Conforme me aproximo da cozinha, passo a reconhecer as vozes vindas dali, e sem me segurar adentro a cozinha, encontrando não só um ambiente familiar, mas também rostos familiares, que me encaram em surpresa assim que notam minha presença.
- Mamãe! – Mel é a primeira quem diz algo, saltando da beirada da mesa e vindo até mim, tão mais rápido que imaginei ser possível, e me abraça no mesmo momento que me abaixo para ergue-la nos braços, sentindo uma falta imensa da minha filha.
- Mika, você acordou. – Nick diz com uma expressão de alívio, sequer notei o momento em que ele e Layla ficaram de pé. – Como está se sentindo?
- Muito bem, e bem leve. – Respondo deixando carinhos no cabelo de Mel, que até o momento não deixou de me abraçar com toda a força que tem.
- É um alívio te ver acordada. – Layla solta um suspiro aliviado, que parece estar preso a dias.
- Quanto tempo fiquei desacordada? – Pergunto sem deixar de dar carinhos para Mel.
- Hoje seria o décimo primeiro dia desacordada. – Nick explica, trocando um rápido olhar com Layla, ela por sua vez não corresponde e apenas vai a o olhar, enquanto que eu reflito sem acreditar em quanto tempo estive adormecida. – Ficamos preocupados pelo tempo que estava levando para se recuperar.
- Nenhum anjo no Paraíso costuma levar tanto tempo para se recuperar, até mesmo os da legião se recuperam em menos tempo. – Tenho a sensação de que Layla está tomando cuidado com quais palavras usa ao se referir ao Paraíso ou a Legião. Além disso, tenho a impressão de vê-la contida e com olhares baixos – Você ter levado tanto tempo para acordar nos assustou muito.
- Desculpe preocupar vocês. – Ofereço um sorriso a eles e olhando para a mesa, e pelos pratos preparados, suponho já ser o horário do almoço. Além disso, dou falta de algo, ou melhor, de alguém – Onde está Klauss?
Os dois trocam um olhar rápido, e então Nick avança um passo – Eu não sei o que te falar primeiro Mika...
Só essa resposta já me deixa suficientemente aflita e encarando ambos repetidas vezes – Me fala, onde está o Klauss?
- Ele está no Abismo. – Nick responde após um longo suspiro, e ao ver minha expressão incrédula, ele continua – Os machucados dele eram muito graves, e não havia tempo da Layla buscar sua aura de repouso...
- Mas como ele está? – O interrompo.
- Está se recuperando. – Nick ergue as mãos em uma maneira de me pedir para manter a calma – A última notícia que tivemos foi há dois dias, quando o Cara do Casaco veio aqui. Klauss ainda está desacordado, mas boa parte dos ferimentos já foram curados, e a graça dele está sendo restabelecida. Em breve ele também acordará.
Baixo meu olhar ao chão por um momento, e então volto a encarar ambos – Eu quero ver o Klauss.
- Você vai poder ver ele logo Mika, por enquanto tente descansar. – Layla pede com alguma suavidade na voz – Você passou por muita coisa.
- Eu sei, mas preciso ver ele. – Insisto. – Preciso ver como ele está por mim mesma.
- O Cara do Casaco virá logo. Você pode pedir para ele te levar até o Klauss. – Nick faz um gesto para a mesa, indicando para que eu me sente – Ele prometeu para a Mel que daria notícias.
- Ele prometeu? – Olho deles para Mel, que se aninhou no meu colo e adormeceu sem que eu percebesse. – E está cumprindo?
- Ele tem aparecido para dar notícias de vez em quando, isso conta como um sim? – Nick olha para Layla, mas não recebe uma resposta dela. Na verdade, Layla não só está muito quieta, ela claramente está estranha, falando pouco, está distante e parece desviar o olhar quando Nick a encara de volta.
- Então... Espero que ele surja logo. – Admito me sentindo vencida, encolhendo os ombros e me sentando em uma das cadeiras, sentindo os braços doerem. Devo ter perdido o costume de segurar Mel nos braços por causa de todo o tempo desacordada, ou talvez ela tenha ficado um pouco mais pesada.
- Quer comer algo? – Nick faz um gesto mostrando os pratos dispostos sobre a mesa – Layla e eu preparamos tudo faz pouco tempo.
Perdi muita coisa durante esses dias?
- Não muito, as coisas ficaram bem paradas desde que tudo aconteceu. – Nick se senta bem à minha frente, e com uma mão ele gesticula para os pratos à nossa frente – Quer comer algo? Layla e eu preparamos tudo faz pouco tempo.
Dou uma rápida espiada nos pratos e, apesar de não sentir fome alguma desde o dia que voltei a ter uma graça no meu corpo, sei que quero experimentar os pratos feitos – Vou querer depois, por agora quero saber tudo que aconteceu.
- Você conta tudo Nick? – Layla pergunta, espalmando as mãos nas pernas e fazendo menção de seguir para fora de casa.
- Claro, eu contarei. – Observo o anjo que parece apressado em sair daqui, e isso se confirma quando vejo a velocidade com que Layla deixa a cozinha.
- Está tudo bem com ela? – Pergunto alguns segundos após ela sair – A Layla pareceu apreensiva com alguma coisa.
- Está sim, ela só estava bastante preocupada com você e o Klauss. – Nick diz com um sorriso leve, que se desmancha quando o som característico de quando um anjo alça vôo vem de fora da casa. Ele então encara, em silêncio, a porta da cozinha por onde Layla saiu, respirando fundo antes de se voltar a mim novamente. Realmente aconteceu alguma coisa, e isso me deixa intrigada – Ela vai ficar bem.
Já sei muito bem que depois, irei perguntar diretamente a Layla o que aconteceu. – Como você me achou aquele dia?
- O Klauss me guiou até você. – Explica – Sem a ajuda dele, não sei se teria conseguido te encontrar a tempo.
- Ainda bem que me encontraram, eu estava em uma situação bem difícil naquela hora. – Admito em um suspiro pesado, que me escapa por lembrar dos momentos daquele confronto com Stefan, ainda tão vivos na minha mente. Pode até ter passado muitos dias desde o ocorrido, mas para mim continua sendo como se tivesse acontecido a poucas horas. – Mas como você encontrou o Klauss? Ele se afastou rápido demais, e os três juízes estavam logo atrás dele...
- Não foi preciso muito para encontrar o Klauss, eu conseguia ouvir os barulhos da luta dele com os três juízes de longe. Além disso, aquele furacão que ele criou era tão grande que podia ser visto de qualquer lugar. – Nick explica batendo a ponta do dedo nervosamente na mesa. Talvez as memórias ainda estejam vivas em sua mente, igual é comigo – Tivemos alguma dificuldade, mas encontramos Klauss antes que acontecesse algo pior.
- Mas e os três juízes? – Questiono apreensiva. Ao meu ver, Aecos, Minos e Radam reunidos seriam um problema imensurável. – Eles não deixariam vocês fugirem...
- A Cria do Abismo ficou para lidar com eles. – Diz simplesmente.
- Os três juntos? – Não sei dizer o quão incrédula estou ao ouvir isso, e a sensação aumenta quanto Nick confirma com a cabeça – Isso é loucura.
- Não discordo disso. Mas o que achei mais estranho é que nenhum dos três tentou impedir quando eu estava levando Klauss comigo. Pareciam até ter esquecido de nós. – Ele ergue seus ombros – Sorte a nossa.
- Não tenho certeza se foi sorte... – Minha voz até soa sussurrada, mas em meio ao silêncio, não duvido que Nick tenha ouvido. Além disso, o que ele contou me faz lembrar daquele dia que levaram Klauss a força para o Paraíso – Já houveram algumas operações para capturarem ele, eu mesma participei de uma ação dos anjos como intrusa. Lembra quando fomos levados para o Abismo?
- Lembro, naquele dia a Layla veio atrás do Klauss para que ele ajudasse contra a Cria do Abismo. – Nick baixa o olhar, se reservando ao seu silêncio reflexivo, e nesse.curto instante baixo o olhar para Mel, me certificando se ela realmente está dormindo ou se está apenas quietinha em meus braços. Prefiro poupar ela de certos assuntos, quem sabe eu conte quando ela crescer – Ela também disse sobre ele ser alguém problemático para o Paraíso.
- E Raika também enviou demônios para a cidade para rastrearem ele. – Nick aperta os olhos e apoia o queixo na mão. – O submundo também tinha interesse nele, e no Abismo.
- Então, é possível que tenham nos deixado ir, pelo Cara do Casaco ser um alvo muito maior. – Concordo com um leve gesto com a cabeça – Ainda assim, sorte nossa.
Solto uma risada leve com sua conclusão – Tudo bem, não posso discordar que teve um pouco de sorte mesmo.
Nick solta um riso curto, e nesse momento em particular me atento em como ele parece diferente de quando eu o conheci no submundo. Sua aparência segue a mesma, talvez apenas um pouco mais maduro e tendo o olhar um pouco mais firme que antes, poderia dizer até que seu porte físico está algo um pouco mais forte do que antes.
Nick parece ter crescido desde a primeira vez que o vi, e ao mesmo tempo, ele parece o mesmo. Continuo vendo um pouco daquele iniciando que ficou curioso em haver "alguém de asas" caminhando pelo submundo, e tentou se apresentar.
Meu sorriso desmancha e baixo o rosto, sentindo o nervosismo em mim por querer tocar nesse assunto, e mencionar esse nome – O que houve com o Stefan?
- Ele está morto. – Ouvir essas palavras, ao mesmo tempo que me causam um grande espanto, também trazem alívio – Zephyr surgiu sozinho pouco depois que você desmaiou, e levou o corpo do Stefan embora. Zephyr apareceu logo depois, e levou o corpo de Stefan com ele, não cheguei a ver a Violet ou a Diana. Acho que voltaram ao submundo.
- Então... Acabou? – A busca por essa certeza inflama em mim. Não somente a certeza de que Stefan não existe mais, mas também, que finalmente estou livre dessa sombra que sempre me perseguiu e não preciso mais viver com esse medo dentro de mim ou temendo que ele estivesse sempre à espreita.
Nick me observa por longos segundos, mantendo-se em um profundo silêncio. Não diria que ele esteja escolhendo o que me dizer, como se fosse despedaçar meu alívio e qualquer conclusão que tenha, na verdade a maneira como ele está agora, faz parecer que ele ainda não havia parado para pensar nisso.
Após segundos, que talvez tenham durado minutos, ele faz um gesto afirmativo com a cabeça – Sim, acabou. Não precisa mais se preocupar com Stefan.
- É tão bom saber disso... – Me encosto na cadeira, sentindo como se um grande peso acabasse de ser retirado de mim – Tão bom...
- Agora, a única coisa que resta é Klauss se recuperar e voltar para casa. – Nick estica suas mãos acima da cabeça de maneira relaxada.
Algo importante me vem em mente, que afasta de mim qualquer chance que tenha de realmente me sentir relaxada – Espera Nick, quantos dias você disse que fiquei desacordada?
- Onze dias, por que? – Ele ergue uma sobrancelha, e começo a refletir, com a preocupação voltando a ganhar espaço dentro de mim.
Já passou mais da metade do tempo que a Legião deu ao Klauss e a Layla para cumprirem suas punições... Punições que envolvem eliminar tanto a mim como Nick.
Somente agora me dei conta de que realmente estamos ficando sem tempo, e isso é um problema imenso que torna-se pior a cada novo segundo. Até a invasão dos demônios acontecer na cidade, Klauss e eu não tivemos nenhuma ideia do que podemos fazer para contornar essa situação.
Não importa o que pensássemos como solução, sempre encontramos o mesmo problema comum. Os arcanjos da alta esfera, principalmente. E pra piorar tudo ainda mais, existe alguém acima de todos eles que compactua com tal punição, o Grão Mestre Arcanjo.
Hel'El é o equivalente de Raika no submundo. Assim como Raika governa acima de todos no submundo, Hel'El governa acima de todos no Paraíso. Não existe nada nem ninguém que esteja à altura desses dois ou que consiga se opor a eles.
Levando isso em conta, Raika mostrou saber tudo que Nick e eu fizemos no mundo humano. Sabia como eu me envolvi com Klauss e também sobre minha filha com ele, assim como também sabia sobre como Nick se envolveu com Layla. Se ela sabe, não é exagero assumir que seu equivalente no Paraíso também saiba tudo isso sobre nós.
De alguma forma eles sabem, eles nos observam de alguma maneira. Não sei se através de alguém que enviaram para nos observar sem que soubéssemos, ou por meio de algo que os permita nos enxergar. Seja como for, mesmo se escaparmos dos Arcanjos ou dos Juízes, Hel'El e Raika ainda assim poderiam nos encontrar.
Então talvez... Não haja uma maneira de fugir deles.
Será que... É isso? É assim que as coisas vão acabar, não temos qualquer chance de escapar?
- Você ficou quieta Mika. – Nick me questiona com alguma preocupação – Está tudo bem?
- Eu não sei bem... Estou preocupada em como as coisas vão acontecer daqui pra frente. – Admito reflexiva, deixando um suspiro escapar – Inclusive, quero te perguntar uma coisa, como o Cara do Casaco lidou com os três juízes?
- Queria saber te explicar, mas nem eu sei. – Nick torce a boca de lado – Tudo que sei é que, quando ele reapareceu, não tinha um único arranhão.
Solto uma risada curta ao ouvir isso, em um misto de indignação e surpresa com um feito que ao meu ver, parece completamente impossível – Adoraria saber como ele consegue essas coisas, chega a ser um absurdo.
- Uma vez ele me contou que se recupera muito rápido. Acho que tem haver com isso. – Nick salta os ombros, e imagino que talvez essa seja uma justificativa que tenha dito a si mesmo algumas vezes para se convencer.
- Talvez, nas vezes que enfrentei ele, não importava o que eu fazia, ele continuava de pé e não parecia nem um pouco abalado... – Vou parando de falar e olho novamente para Nick, pisco algumas vezes enquanto reflito em algo que não havia dado atenção até agora – Ele mesmo já te disse isso?
- Sim, enquanto estive no Abismo, tive chance de conversar mais com ele. – Acabo boquiaberta ao descobrir isso, a tal ponto que mal sei o que dizer.
- Por que foi ao Abismo? – Questiono mais surpresa do que qualquer outra coisa.
- Perguntei a ele se conhecia algum lugar onde eu poderia aprender a usar todo aquele poder que Raika liberou em você. A Cria do Abismo deu a ideia de passar alguns dias lá, e eu aceitei. – Nick termina sua explicação da forma mais casual possível, enquanto termino de absorver tal informação.
- Então, foi por isso que você ficou sem dar qualquer notícia por alguns dias. – Concluo pensando alto, enquanto deixo leves carinhos no cabelo de Mel, que se mexeu um pouco no meu colo. – Viu muitas coisas por lá?
- Muitas, mas nada que realmente venha ao caso agora. – Nick se põe de pé, retirando algo do bolso de sua calça – Vou tentar falar com ele para descobrir como Klauss está, acho que você não quer esperar as notícias surgirem.
Observo Nick caminhar até a porta da cozinha e para ao lado do batente, já eu, procuro dar atenção somente a Mel, e aproveitar cada segundo com ela e suprir toda a falta que eu sinto dela.
Apesar de tudo que acabei de saber por Nick, e o misto de sensações que tudo poderia me causar, procuro apenas ignorar.
Na verdade, ignorar não me parece tão difícil quanto imagino. Algo em mim faz com que eu não esteja sentindo as coisas por completo, não digo que tive o real impacto de tudo que Nick contou, poderia até dizer que estou anestesiada de várias formas diferentes.
Talvez essa seja somente uma consequência de ficar desacordada por tanto tempo, e ainda esteja voltando a mim.
Seja como for, por hora darei tempo a mim mesma. Acho que é o que preciso.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top