Capítulo 56
9824 Palavras
Fiquei completamente sem reações quando os três juízes surgiram, ainda mais quando os três partiram no encalço de Klauss, ignorando a mim e Ion'Alia como se sequer estivéssemos presentes.
Não demorou para que eu entendesse, o alvo daqueles três era Klauss, desde o início.
Ion'Alia ficou sem uma reação aparente, e alçou vôo rapidamente, sumindo da minha vista em poucos instantes, me deixando sozinha naquele lugar.
Não sabia o que fazer, se seguia Klauss e tentava ajudar de alguma forma, se voltava para casa, se apenas esperava. Minha decisão foi tomada ao perceber a ausência daquele que nos trouxe para essa armadilha.
A raiva queimou em mim e me levou a seguir Stefan, seguir seu encalço e acabar com isso de uma vez por todas.
Quanto a Klauss, devo confiar nele. Apesar da raiva e da desconfiança que encontrei em seus olhos, devo confiar nele.
Precisaremos conversar quando voltarmos para casa, mas agora, devo apenas confiar nele, e que ele conseguirá escapar dos três juízes.
Quanto a Stefan, decidi segui-lo voando alto, tanto para descobrir onde está, como também para me mover mais rápido que ele, e assim que o encontrei, não saí de seu encalço. Percebi que ele fez o caminho de volta à estrada onde o encontramos, se refugiando dentro de um dos casarões abandonados, um enorme bem afastado dos demais, mas considerando os terrenos dos casarões, todos são afastados.
Não foi difícil perceber também que ele escondia o ombro vez ou outra, o golpe que Klauss atingiu realmente o feriu, talvez mais do que eu imagine. Stefan pode gostar de bancar e se mostrar o melhor, mas não será fácil fazer isso com o ombro naquele estado.
Pouso logo em frente ao casarão, encarando as portas fechadas e avançado. Estou decidida a encontrá-lo, e acabar com algo que começou desde a primeira vez que me atacou... Não, isso iniciou muito antes, em nossa primeira troca de olhares já havia algo errado.
Bato as mãos nas portas, as escancarando de maneira brusca e barulhenta frente ao grande silêncio aqui presente, erguendo flocos de poeira e sujeira ao ar, que misturam com os cristais de gelo que invadem o ambiente.
- Stefan! – Grito irritada para o denso e escuro ambiente diante de mim – Vamos, apareça!
Não tenho resposta. Tudo está quieto neste cômodo amplo e com poucos móveis cobertos por um pano antigo. O ar aqui dentro é diferente do que senti fora do casarão, é estranho, quente e muito carregado, o cheiro de coisas antigas muito forte e estar aprisionado aqui junto a poeira a tanto tempo torna tudo muito pior. O único alívio é o vento frio que vem do lado de fora.
Aperto os punhos e avanço sem hesitar – Você não queria resolver as coisas comigo, acabar com a caída imunda?! Estou aqui agora, por que não aparece? Está com medo de mostrar essa sua cara ridícula pra mim?!
Mesmo com tais provocações o que tenho de resposta é unicamente o silêncio. Ele pode tentar se esconder, permanecer calado o quanto quiser, mas sei que está aqui em algum lugar, só preciso forçar a aparecer.
Após avançar alguns passos e estar prestes a explorar por um corredor do outro lado deste salão, ouço o som das portas fechando atrás de mim, rompendo a iluminação que havia aqui. Ao olhar para trás, com a luz da minha graça brilhando em minhas asas e iluminando o lugar, enxergo uma figura de costas para mim, com as mãos na porta e um nítido ferimento no ombro.
- Resolveu aparecer? – Questiono.
- É muita coragem sua vir aqui sozinha, não acha? – Stefan baixa os braços e vira para mim, com um riso prepotente.
Fagulhas de chama crescem em torno de sua mão, e a erguendo a mim, uma onda flamejante é lançada contra mim de uma vez, mas sem medo ergo meu braço e, concentrando minha graça com toda a força que consigo, com tudo que aprendi durante todo esse tempo, consigo conter tal ataque e romper a onda de chamas, que se dissipa no ar em pequenas fagulhas.
- Conseguiu conter minhas chamas? – Ele tem as sobrancelhas saltadas e a surpresa estampa sua face por alguns segundos, quando ele volta a sorrir – Que surpresa, talvez agora você consiga me proporcionar alguma diversão.
- Estou cansada de você Stefan, da sua cara, da sua voz... Da sua presença, sempre me causando problemas! Do medo que você me causa toda vez que escuto seu maldito nome! – Avanço em passos lentos, abrindo minhas asas e reunindo meu poder entre minhas mãos. – Eu quero acabar com isso, e você também, não é?
Stefan não me responde em palavras, mas não me passa despercebido o brilho nefasto em seu olhar, que só se reforça pelo sorriso que cresce em seu rosto. Ele anseia por isso, talvez até mais do que eu.
- Como eu esperei por isso... – Diz rindo baixo, tirando a mão de seu ombro machucado como se mal sentisse qualquer incômodo. Em qualquer outra situação eu acreditaria, mas não agora, ele parece suar e seu olhar aperta. – Sem anjos, sem amiguinhos para atrapalhar, só eu e você.
Algo em suas palavras me deixa em alerta. Conheço Stefan pouco, mas o suficiente para saber que ele não costuma agir de forma limpa, então é bom estar preparada para que alguém, um dos seus lacaios, surja e interfira no que está para acontecer aqui, e a situação pode ficar muito difícil para mim.
O melhor é agir rápido, e tentar acabar com isso o quanto antes.
Stefan avança um passo desorientado, e se posiciona de modo a deixar seu ombro ferido para trás de seu corpo, talvez o protegendo. Talvez esse seja um bom ponto para mirar qualquer ataque meu.
Ele salta para um ataque, não tão preciso quanto tantos outros que já desferiu contra mim, é até mesmo lento, que me garante a chance de conseguir não me desviar, mas sim avançar a desferir um contra ataque, lançando meu punho de maneira certeira no canto de seu rosto, o obrigando a recuar alguns passos.
Essa abertura me garante a chance de me impulsionar para frente com a força de minhas asas e, deixando o chão, consigo bater com meu joelho na altura de seu peito, o lançando para trás com tal força que Stefan é impulsionado para trás, desabando desajeitado sobre alguns móveis, enquanto pouso no chão de forma suave, sem desviar meu olhar dele.
Girando seu corpo no chão e usando alguns dos móveis próximos para se impulsionar para cima, Stefan se coloca de pé tão rápido quando pode e imediatamente se lançou contra mim, rompendo qualquer distância que havia entre nós.
Seu punho passa próximo do meu rosto, consegui me desviar somente pelo susto que me obrigou a recuar alguns passos, meu próprio instinto de luta não seria o bastante para fazer com que eu esquivasse. Se fosse Klauss, é certo que ele conseguiria desviar por instinto, mas eu ainda não tenho tal instinto aflorado. Mas não posso me distrair com isso.
Tento me manter longe de Stefan, ele lança seus punhos contra mim, e voltando um passo de cada vez, consigo me manter afastada dele, mas ainda assim posso ser atingida com a menor distração. Seu ferimento o obriga a se mover mais devagar do que poderia, e isso me abre a chance de devolver alguns golpes, socos que não são tão fortes em seu corpo ou então em seu rosto. Mas a cada soco que consigo acertar nele, Stefan consegue me devolver outro.
Ele arfa com seu fôlego sendo tomado quando meus punhos acertam, ele recua devagar cobrindo cada local atingido com uma de suas mãos, e com o olhar inflado em raiva e excitação, ele avança novamente e atinge outro golpe certeiro em mim. Seu rosto vira bruscamente quando minha mão envolta em chamas o acerta na lateral do maxilar e ele arfa no momento que o bato na altura do estômago, e quando menos espero o baque acerta a lateral do meu corpo e os impactos acertam meu rosto, me forçando a recuar e esbarrar em qualquer coisa atrás de mim.
Graças ao ferimento que Klauss causou em Stefan mais cedo, estou conseguindo ser capaz de manter um confronto direto com ele e acertar bons golpes ao me aproveitar de seu ferimento que o deixou mais lento, mas ainda assim isso se mostra difícil. Mesmo ferido Stefan consegue ser tão rápido como eu, e sua experiência em brigas está se mostrando a cada instante.
Um de seus golpes acerta a lateral do meu rosto com mais força que os anteriores, um que me desorienta por um momento e me faz perder o equilíbrio, caindo sobre um dos móveis e inutilmente tentando me agarrar nos tecidos para conseguir me manter de pé. Já Stefan me segura pelo cabelo e me ergue a força, me puxando para cima de um dos móveis do outro lado da sala e me soltando assim que minhas costas batem em algo estranhamente macio, e quando dou por mim, Stefan pressiona ambas as mãos no meu pescoço e o aperta sem parar.
Tento me soltar, segurando em seus braços, tentando empurrar seu rosto, mas ele se desvencilha e, com o peso de seu corpo ele aperta ainda mais meu pescoço, e começo a me desesperar por não conseguir sair. Abro os olhos devagar e, tateando seu braço, alcanço a ferido em seu ombro causada por Klauss, e sem perder tempo enfio o dedo em sua ferida aberta, arrancando um grito de dor genuína e profunda do demônio, o suficiente para forçar ele a soltar meu pescoço e tentar se afastar de mim, mas o impeço. Cravo minhas unhas em seu braço o fazendo soltar um rosnado resmungado, com minha outra mão livre, agarro sua camiseta e o puxo novamente para mim, acertando minha cabeça e seu nariz, e conseguindo me mover embaixo dessa parede de músculos, ergo a perna o suficiente para bater meu pé em seu peito para conseguir tirar ele de cima de mim com um forte empurrão, e assim me lanço para ficar de pé outra vez.
Stefan ainda cobre o rosto com o último golpe recebido, e recuando minha mão, desfiro um soco que acerta na lateral de seu rosto, bem acima do olho, o obrigando a virar o rosto para o lado, e em um princípio de corrida, dou um pequeno salto e dou um chute que atinge a lateral de seu corpo, o lançando ao chão em uma queda desengonçada.
Um gemido me escapa quando a onda de dor passa por mim, sinto pontadas de dor em meu corpo toda vez que respiro, e estar arfando agora só torna as dores ainda piores. Passo as costas da mão pelo rosto, retirando o suor e os fios de cabelo grudados na minha testa, e involuntariamente levo a mão para um dos locais onde mais fui golpeada com força por Stefan e mais a dor me incomoda, mas apesar disso, tento ignorar todas as sensações em meu corpo e me manter de pé.
Ele se ergue novamente e, arfando passando a mão pela boca, ele vem contra mim outra vez, usando de suas chamas em torno do corpo para se lançar em um ataque mais rápido e mais devastador, mas antes que ele consiga cruzar metade da distância que nos separa, já recuei minha mão e, com minha graça concentrada, lanço uma rajada de luz tão intensa que o rebate de volta para trás, forçando seu corpo contra a parede.
Stefan se levanta mais uma vez sem parecer realmente incomodado com ter sido acertado, e as chamas queimam ao redor de seu corpo. Elevam-se de seu punho e espalham-se em torno de si, e em um golpe na parede, o fogo se espalha em uma onda pela sala onde estamos, caindo sobre os tecidos que cobrem os vários móveis ao nosso redor, iniciando um incêndio que rompe a escuridão presente com as labaredas crescentes.
Stefan começa a rir, e subitamente seu riso torna-se uma gargalhada incessante, macabra. Ao mesmo tempo, o calor e a fumaça começa a incomodar meus olhos.
- Vou matar você, seu anjo imundo – Seu olhar recai em mim outra vez – Vou arrancar essas asas com minhas mãos.
Recuo levemente com algum temor, mas me forço a continuar onde estou. Não vou fugir. – Quero ver você tentar Stefan.
Ele corre em minha direção, se impulsionando para frente usando suas chamas que consomem cada vez mais deste lugar. Tento me desviar pulando para o lado, mas ele consegue segurar meu braço e, com uma força que não esperava que ele tivesse, ele me puxa de forma tão brusca que perco o equilíbrio, não conseguindo evitar de ser lançada contra alguns dos móveis.
Antes mesmo que eu acerte qualquer coisa a minha frente, algo agarra em minhas asas e sou puxada para trás outra vez, e algo rígido atinge a base das minhas costas com tanta força que arranca um gemido de dor meu, e sinto um puxão forte vindo das minhas asas, e uma dor latente cresce em mim.
Lanço meu olhar sobre o ombro e enxergo Stefan com um sorriso macabro no rosto enquanto suas mãos firmam entre as plumagens, e um novo puxão me arranca um novo gemido.
O desespero me alcança ao compreender a situação que me encontro e começo a me debater, tentando escapar de alguma forma de suas mãos, tentando alcançá-lo e fazer com que me solte, mas minhas mãos não o atingem, ele se desvia e pressiona mais minhas costas, como se quisesse me torturar com a força que está aplicando.
- Vamos, anjo nojento. Grite! – Ele da um novo puxão, mas fecho os olhos e reprimo qualquer demonstração de dor que possa surgir.
A pressão em minhas costas some e sou puxada para trás de uma vez, e minhas costas batem contra o corpo de Stefan que mais parece uma parede de tão rígido, e antes que eu consiga ter um tempo de reação, seu braço passa em torno do meu pescoço e me pressiona de modo que começa a me erguer, o suficiente para que a ponta dos meus pés quase não toquem mais o chão.
Seguro em seu antebraço e tento me desvencilhar, tento forçar para que o aperto alivie, acerto socos em seu braço, mas nada é o bastante para fazer com que Stefan me solte.
Sinto seu rosto se aproximar do meu e sua respiração quente atinge minha pele, causando calafrios que me estremecem em temor. Sua aproximação entrega um odor forte de cinzas e queimado, que por um instante supera o cheiro carregado da fumaça e causam bastante incômodo em mim, e por um momento que pareceu uma eternidade, estranhamente, nada acontece, apenas sua risada em meio às chamas pode ser ouvida.
- Eu ainda não vou matar você. – Sua outra mão começa a passar pela minha barriga e invade minha roupa, alcançando minha pele e seus dedos ásperos começam a subir. – Tenho ideias bem melhores antes disso.
- O que?! – Consigo dizer, voltando a me debater – Me solte Stefan!
- Quer saber o que vou fazer com você? – Ele pergunta em tom maldoso – Já fiz parecido com sua amiga Diana, ela adorou... E sempre me pede mais.
- Já falei pra me soltar! – Pressiono meus dedos com mais força em seu braço, mas não consigo fazer com que me solte. Sua outra mão alcança a altura de meu seio e, antes que tente qualquer toque em mim, eu o seguro, impedindo que continue – Pare!
- Com sua amiga Diana é ótimo, assim como é com Violet... Mas acho que com um anjo como você será ainda melhor. – Ele diz a última parte em um sussurro ao meu ouvido, enquanto que aperto os olhos e tento golpear ele, sem conseguir nada – Eu vou usar você Mi'Ka, como aquele tolo do Klauss nunca será capaz de fazer, te farei gritar para mim, e vou aproveitar cada segundo disso.
Uma ideia me surge, mas devo ser rápida. Ergo uma de minhas mãos, deixando Stefan momentaneamente livre para tocar meu corpo como quiser com seus toques pesados e ásperos como lixa, e concentro o fogo entre meus dedos. Nesse curto momento minhas asas abandonam o tom branco e abraçam o dourado ardente, mudando bruscamente para intensas, semelhantes às que envolvem meus dedos e as que nos rodeiam.
Seguro o braço de Stefan, liberando toda a chama que manifestei em sua pele, arrancando um urro de dor do demônio, mas que ainda insiste em me segurar com firmeza – Isso ainda não é o bastante Mi'Ka. Saiba que Diana consegue me causar mais dor que isso, e eu gosto.
- Pouco importa o que você gosta ou o que Diana faz com você. – Apesar de tentar não demonstrar, sua voz asquerosa e toques em meu corpo me fazem estremecer em medo, e cada vez mais me sinto suja de ser tocada por ele.
Meu fogo não parece adiantar contra ele, mas esse não é mais o único poder que existe em meu corpo, e rapidamente o tom pálido retorna as minhas asas, e as chamas, antes avermelhadas, tornam-se brancas.
Desta vez um gemido contido escapa de Stefan, enquanto as chamas brancas invadem seu braço e fazem com que um intenso brilho surja dentro de seu braço, e o gemido se transforma em um grito de agonia, e Stefan afrouxa me empurra.
Apesar de me desequilibrar e até cair desajeitada ao bater nos móveis, não sinto dor o suficiente para dizer que me machuquei, até por isso consigo me impulsionar para cima e ficar de pé outra vez, focando minha atenção no demônio à minha frente, que arfa sem parar enquanto segura seu antebraço sem olhar para mim.
Encaro rapidamente minha mão, encontrando chamas brancas que nunca vi antes, e fitando minhas asas, encontro nelas uma forma estranha, elas tem o aspecto de fogo de quando eu possuia somente o poder do Submundo, mas ao mesmo tempo trazem a tona o tom e brilho branco do Paraíso, como se ambos os poderes convergissem em um só.
A lascívia de antes se converte em apenas uma fúria assassina, seus dentes apertam e seus olhos cravam em mim, ao mesmo tempo em que o fogo ao nosso redor se move de forma estranha. E por entre o ardor forte de queimado, o ar começa a se mover de forma estranha, junto a um forte e incômodo aroma de flores e terra molhada.
Mesmo que agora Stefan tenha ambos os braços machucados, ele ainda manifesta seu poder, não como antes. Ele parece ter um pouco de dificuldade ao fazê-lo, e arrisco dizer que ele está bem machucado, mas com certeza ainda não é o bastante para fazer com que ele pare.
- E pensar que você iria conseguir me fazer qualquer coisa. – Stefan rosna enraivecido.
Emanado em torno de si, o fogo cresce como um pilar e espalha ao redor como uma onda avermelhada contínua, que consigo me proteger usando minhas asas e toda a graça emanada delas, só que agora, tudo está sendo coberto pelo fogo, Stefan simplesmente não para, ele expressa um grito que parece vir do ponto mais profundo de si, e cada vez mais ele cria o fogo do nada, e enquanto me protejo sem conseguir contra atacar.
A onda de fogo é forte, a ponto de empurrar meu corpo para trás, e apesar de mal ouvir os ruídos, com o canto dos olhos consigo notar a estrutura do casarão se partindo e fragmentos sendo levados ao longe pelo fogo.
Partes da casa severamente consumidas pelas chamas cedem à nossa volta, as paredes possuem fendas e partes do teto vão cedendo. É uma questão de tempo até tudo ruir, e acabarmos soterrados embaixo de restos de madeira e pedras queimados, mas o demônio sequer parece se importar se isso acontecer.
Não posso deixar isso acontecer.
Abandonando a proteção concedida pelas minhas asas imbuídas do poder dos anjos e demônios, me impulsiono para frente, mergulhando mais fundo na onda de chamas, que se revela mais ardente à medida que avanço. Passo a sentir tamanho calor chamuscar minhas roupas e atravessar minha pele, a dor da queimadura começa a incomodar, mas não o suficiente para me impedir de alcançar Stefan, nem de bater ambas as mãos em seu peito e o lançar para trás, com força o bastante para que ele atravesse a frágil parede atrás de si.
O barulho estrondoso de seu poder desapareceu, dando lugar ao repentino estrondo de seu corpo atravessando a frágil parede, e por fim, somente resta o som estalado do fogo por todos os lados. Fagulhas do fogo e cinzas atravessam o ar, em meio a densa fumaça presente aqui, e não contenho o impulso de tossir sem parar.
Um barulho ao meu lado me assusta, e vejo parte do teto que acabou de cair ao meu lado, ao mesmo tempo, vejo que Stefan começou a se erguer. Se quero ter alguma chance de sair daqui, preciso fazer isso agora.
- Mi'Ka! – O escuto rugir como um animal, e seu grito contém uma fúria implacável. – Eu vou te matar caída nojenta!
Não olho para trás.
Corro para a porta e tento abrir, mas para minha completa e desagradável surpresa, as portas estão trancadas.
Sem parar de tossir, giro a maçaneta algumas vezes e puxo a porta outras, ela reage com minha força aplicada, mas não ao ponto de abrir.
Insisto sem resultado, e continuando a tossir, bato o corpo contra a porta algumas vezes, mas mesmo frágil, ainda assim a porta não cede. Olho para trás para checar se Stefan está vindo e, com as chamas brancas envolvendo minhas mãos, decido testar um pouco de como funciona esse poder, lançando uma pequena bola de fogo, que explode em uma esfera pálida que espalha fagulhas de fogo e graça que voam no ar, e a porta finalmente abre.
Um último estalo atrás de mim me alerta da emergência e me arremesso para fora da casa, que em poucos instantes irá ser completamente consumida pelo fogo, e após me afastar alguns passos, torno a olhar para trás.
A mudança tão brusca do calor sufocante do fogo junto a fumaça carregada de cinzas e mofo para o frio congelante e a leveza o ar puro me soam estranhas, até mesmo agressivas, a ponto de que me desoriento por um leve momento com o gelado do ar entrando em mim com um incomodo agudo meu peito, a ponto de me fazer arfar desesperadamente. Meu corpo confunde as sensações tão antagônicas de tal maneira que me sinto desorientada por demorados segundos, com as mãos nos joelhos e suando pelo calor ao mesmo tempo que o vento gélido e a neve recaem em mim, e após um pequeno momento me recuperando, meus olhos se perdem na casa envolvida pelo fogo.
Volto a atenção a porta, onde apesar do fogo, pouco consigo ver em seu interior. A fumaça ofusca boa parte do que poderia ser visto ali dentro, e principalmente, quem poderia ser visto. A fumaça escura escapa por cada espaço aberto da casa, seja pela porta ou pelas janelas entreabertas, elevando-se em uma densa nuvem escura repleta de brasas e fuligem, carregadas para longe com o vento e acompanhada pela neve.
Mal tenho tempo de reação quando uma forte explosão flamejante acontece dentro do casarão, um estouro tão forte que arrebenta boa parte do lugar, lançando pedaços de madeira chamuscada, fogo e cinzas por todos os lados, e também fazendo com que parte da casa comece a desabar ruidosamente. Mesmo estando do lado de fora, o impacto passa pelo meu corpo com intensidade o bastante para me fazer cair para trás, e sou atingida por alguns pedaços da casa que voaram em minha direção.
Tento me erguer, quando vejo sua silhueta surgindo por entre o fogo que agora, começa a consumir não só a casa, como também parte da vegetação próxima.
Isso me faz lembrar da primeira vez que o vi treinando.
Lembro-me do mar de chamas ardentes que ele manifestou no Submundo, algo tão expansivo que tomava todo aquele salão e crescia metros de altura, alcançando réplicas de anjos que sucumbiram sob seu esmagador poder em questão de meros segundos.
- E você realmente conseguiu irritar ele. – Ouço uma voz familiar ao meu lado, mas tal familiaridade só indica que estou com ainda mais problemas. Meu olhar encontra sua figura, parada de braços cruzados e com um riso desdenhoso – Meus parabéns Mika.
- Zephyr? – Percebo o momento em que ele lança sua perna para trás, e giro meu corpo no chão e me impulsiono para trás, sentindo somente o vento de seu chute passando próximo do meu rosto, pouco antes de eu conseguir ficar de pé outra vez.
Ele ri, descruzando seus braços, enquanto tento dividir minha atenção entre ele e Stefan – E eu não sou o único. Veja.
Paradas não muito distante de onde estou, vejo Violet e Diana.
Apesar de ferido, ainda estava um pouco difícil manter uma luta equilibrada somente contra Stefan, já poderia ter perdido em definitivo se não fosse por todo o sadismo desse demônio, mas agora que estou sozinha contra todos, não tenho certeza se poderei vencer.
- Por que tudo isso?! – Questiono encarando cada um deles – Por que nos perseguem tanto?! Só nos deixem em paz!
- Porque, você pergunta? – Violet é quem toma a frente, vindo em minha direção, com uma das mãos na cintura. – Não é óbvio?
- O que é óbvio? – Pergunto a olhando de canto.
- Vocês são anjos, nós, demônios. – Violet salta os ombros – Não leve a mal, para mim e Zephyr, não é nada pessoal. Fazemos o que fomos feitos para fazer... Caçar, e matar anjos.
- E para cada um de vocês, algo foi pensado. – Diana finalmente se pronuncia, e ouvir sua voz desperta em mim uma raiva repleta de desgosto e repulsa, e não consigo olhar para aquela que um dia foi uma das minhas únicas amigas quando eu estava perdida no submundo, sem sentir o desprezo crescer em meu peito – Para você, e para seu namoradinho anjo. Mesmo que você tenha sorte e consiga escapar, aquele anjo não poderá fugir dos três juízes reunidos.
Agora está claro. Mesmo agora, ainda é uma armadilha.
Foi algo pensado para lidarem tanto com Klauss, como também lidar comigo. E nós dois caímos nessa armadilha.
Fecho os olhos e respiro fundo para manter o máximo de calma que posso, por mais difícil que isso seja, voltando a encarar um por vez, parando em Stefan no exato momento que uma ideia me surge – E vocês escolheram lidar comigo.
- É claro que sim. – Abro as mãos, me concentrando como consigo para tentar fazer isso da maneira mais rápida que posso, mas ainda não manifestando qualquer fagulha de poder. Ainda não é o momento. – Eu não darei a nenhum outro demônio o prazer de matar você, sua caída suja. Eu quem vai arrancar suas asas, desfigurar esse belo rosto e te fazer gritar com cada violação que farei com esse corpo. Sou eu quem vai te matar!
- Desde o começo, você tem essa fixação em mim Stefan. – Digo entredentes, tentando ganhar tempo para mim e também me concentrar, e acima de tudo, entender o porquê de tudo isso – Desde o começo você me ataca, você me persegue. Por que?!
- Responde sorrindo de canto – Porque eu quero, e porque eu posso!
- O que?! – Consigo dizer genuinamente incrédula, e isso quase retira minha concentração. Quase. – É somente por isso? Porque você quer?
- Eu querer me divertir usando você como meu brinquedo não é algo que você não irá aceitar, mas eu não estou nem aí. – Ele avança, atravessando as chamas e me encarando em um olhar apertado – Agora chega, já conversamos demais!
- Tem razão. Já falamos muito. – Ergo os braços com minhas mãos abertas. A luz surge por entre os dedos, e um véu avermelhado começa a tomar forma em torno de mim, espalhando-se pelo ambiente em uma velocidade maior do que em todas as vezes que já fiz antes.
O véu espalha cada vez mais, expande sobre as chamas e cresce também aos céus, criando uma grandiosa parede luminosa que se move devagar ao redor. Uma aurora avermelhada toma forma dentro desse curto espaço, tingindo tudo de vermelho com sua intensa luz.
Uma aurora que não tem nem perto do capricho e carinho que dediquei a tantas outras. Não deixo de passar meu olhar de um lado ao outro, apenas para ter certeza de qual seu tamanho atual, e ao fazê-lo, não me passa despercebido todas as falhas presentes nessa aurora, sendo essas diversas fendas presentes entre as luzes, picos luminosos em parte da extensão enquanto outros mal apresentam algum brilho.
Poderia até dizer que estou decepcionada com meu desempenho, mas esse não é o momento de pensar nesse tipo de detalhe.
A maior característica dessa aurora é ser criada com a essência do submundo, que já se mostrou instável tantas outras vezes e resultou em uma imensa explosão. Quanto mais eu a alimentar, mais devastadora se torna, e no momento em que eu parar de alimentar essa aurora, ela começará a colapsar e todo o poder existente nela irá resultar na explosão que conheço bem.
A aurora percorre espaço o suficiente para alcançar a todos, porém Diama, Violet e Zephyr ae afastaram imediatamente, somente Stefan permaneceu no lugar, não parecendo temer o que estou fazendo.
Baixo as mãos quando a aurora finalmente ganham tamanho e altura suficientes para uma explosão devastadora, e espero o momento que a aurora começar a ficar instável. Se eu tentar escapar da explosão agora, eles podem entender o risco que essa aurora representa e ter tempo o suficiente para também escaparem. Devo permanecer no centro desse espaço até pouco antes da explosão acontecer, e correr o risco de ser atingida.
- O que é isso Diana? – Violet pergunta.
- Eu não sei, nunca vi a Mika fazer algo assim. – Ela responde com estranheza, evitando encostar em uma das extremidades da aurora que seguiu em sua direção e parou metros antes de alcançá-la.
- Como você não sabe? Você foi amiga dela! – Violet insiste com raiva, também não ousando se aproximar demais.
- Não tenho como saber, eu nunca vi ela fazer isso antes. – Diana rebate irritada.
Stefan permanece parado sem esboçar reações, mal se movendo. Mas fitando seu rosto, é notável que ele passa seus olhos de um lado ao outro pela aurora com aparente desconfiança. Já Zephyr avança, passando um de seus braços por entre as luzes – Isso não está causando nada, parecem ser somente luzes.
Fico em alerta com essas palavras, e me concentrando novamente em Stefan, vejo que ele faz o mesmo, e ele sorri após alguns segundos – Nem mesmo uma queimadura superficial, está querendo um show de luzes para seus últimos momentos?
Recuo um pequeno passo, quando Violet e Diana começam a avançar, seguidos de Zephyr, e por fim Stefan, que salta dos escombros da parte desabada da casa. Todos invadiram o espaço da aurora, mas ela não parece nem um pouco instável.
Olho de um lado ao outro, os quatro parecem prontos para me atacar, e nesse momento me dou conta que as luzes começaram a ficar estranhas, onde seu tom vermelho torna-se mais intenso.
Penso em alçar vôo, mas uma onda de vento repleta de sujeira vem da direção de Zephyr, me pegando desprevenida e quase me desequilibrando. Stefan vem do alto, com um grande quantidade de chamas moldada acima de sua cabeça, e saltando para trás consigo evitar o golpe que atinge o chão de terra, em uma explosão que espalha o fogo por todos os lados ao redor do demônio, que me encara com ferocidade sem se levantar, quando algo passa ao meu redor e circula meu corpo, carregando um odor floral muito distinto do cheiro de queimado. Diversas pétalas vindas de Violet passam em torno de mim, e no momento que senti este aroma pela primeira vez, sinto minha vista embaçar e meu corpo pesar.
Cubro o rosto e abro minhas com força, afastando as pétalas de mim, e fitando o alto me jogo para cima, tanto para me afastar deles como tentar escapar da posição que estou de alguma maneira.
É um mover rápido, que em segundos me distancio a metros do chão e estou perto de passar da altura máxima que a aurora atingiu, quando algo envolve minhas pernas e impede minha ascenção ao alto. Quando olho para baixo, encontro Diana agarrando em minhas pernas.
- Você não vai a lugar nenhum Mika. – Diana firma seus braços com força ao redor de mim e como pode parece tentar escalar meu corpo.
- Me solte agora Diana! – Tento empurrar ela para longe, mas ela se agarra em mim novamente e se iça para cima. Recuo uma das mãos e, concentrando minha graça em chamas entre meus dedos, avanço com um golpe e seguro o rosto dela.
Ela me olha com algum desespero, e tenta livrar seu rosto em um grito mudo, sem sucesso. De repente um novo peso recai sobre mim, forçando com que eu perca um pouco mais de altura, dessa vez é Violet, que nessa repentina aparição empurra minha mão para longe de Diana e atinge um golpe em meu estômago, causando uma onda de dor brusca. – Não, não, não anjinha, você fica aqui com a gente.
Mais algo se agarra em mim, e maia um pouco de altura é perdida, e quando olho para o outro lado, agora é Zephyr quem contém meu outro braço, impedindo qualquer última ação minha – Nada pessoal, certo?
Diana escala meu corpo, envolvendo suas pernas em torno das minhas e segura meu cabelo em uma de suas mãos, o peso dos três ao mesmo tempo está sendo demais para aguentar me sustentar no ar, e cada vez mais perco altura.
Um último peso recai em mim, agora em minhas costas, e um braço passa em volta do meu pescoço com tanta violência que consegue me arrancar um gemido – Você não vai fugir, caída imunda. Hoje eu acabo com você Mi'Ka.
Com tantos em cima de mim, não consigo mais me sustentar no ar e despencamos no ar, e momentos antes de acertar o chão, a aurora atinge seu brilho máximo, e tudo que percebo é o intenso brilho de chamas brancas que nos envolve por todos os lados, em um ruído ensurdecedor que anula todos os meus sentidos.
Meu corpo inteiro sacode com força, contorcido por impactos que me atingem por todos os lados e envolvido por ondas de fogo pálido que passam e penetram na minha pele, e todos os sentidos do meu corpo desligam nesse instante.
Tudo está confuso, sei que estou parada, caída em algum lugar, mas o mundo inteiro ainda assim parece girar sem parar, em mistura de ruídos contínuos que não consigo identificar com clareza, e sensações que atravessam meu corpo, dentre o calor e o frio que passam de minha cabeça aos pés, vagando rápido e devagar, e minhas forças parecem tão distantes que me mover parece uma tarefa impossível. As dores em mim são intensas, pontadas atingem minha cabeça e meu corpo sem forças pulsa em dores contínuas.
Sentindo ter usado todo o meu poder e ter sido levada ao limite ao ser atingida pela explosão, abro os olhos com bastante dificuldade, e forçando meu corpo sobre os braços que tremem sem parar, consigo erguer meu tronco, sacudindo a cabeça levemente, olho ao redor. Minha visão ainda está um pouco embaçada, mas nuances e silhuetas deformadas podem ser vistas, algumas instáveis luminosas e outras que são somente algumas formas, enquanto algo cintilante vaga pelo ar, e aos poucos vou identificando tudo que está à minha volta.
Parte da vegetação próxima foi afetada pela explosão, onde árvores foram arrebentadas ou parcialmente arrancadas do chão, o restante da estrutura do casarão acabou cedendo com a onda da explosão. Em meio ao escuro, procuro por qualquer sinal dos demônios que me atacavam, mas não vejo qualquer um deles.
Passos apressados na terra chamuscada vindos de trás de mim chamam minha atenção, estou para olhar para trás quando algo agarra meu cabelo, empurrando minha cabeça para frente e puxando para trás novamente com violência, tamanha força que quase sou tirada do chão, mas ainda permaneço de joelhos. Instintivamente tento me libertar, alcançando somente as mãos de quem está me segurando – O que você fez?!
Ergo meu olhar como consigo, encontrando um rosto familiar tomado pela raiva. Diana me encara, com seu rosto sujo pela terra escura e ferido por arranhões e algumas queimaduras e seus cabelos completamente desarrumados. Suas roupas foram quase que inteiramente destruídas pelo fogo e os impactos e agora ela está pouco coberta, deixando a mostra boa parte de sua pele morena, que está repleta de tatuagens e alguns cortes. Os dentes apertados e a forma como me encara deixam clara sua raiva, e ela puxa meu cabelo para trás mais uma vez, com ainda mais força do que antes.
- Você acha que vai se safar? Acha mesmo?! – Ela diz, agarrando meu pescoço e me empurrando contra o chão, montando sobre mim no momento que meu corpo bate no chão e usa seu peso para me manter presa. O cansaço e os danos que recebi da explosão me deixaram sem força o bastante para consegui resistir. Tento me erguer, me desvencilhar dela, mas não consigo, ela torna a me prender embaixo de si – Pois não vai Mika. Não vai!
- Me solta Diana... – Minha voz sai rouca e forçada, tento me erguer, livrar um de meus braços, mas ela continua me segurando.
- Não vou deixar você ir a lugar nenhum. – Ela esboça um sorriso estranho.
- Por que isso? – Questiono a encarando no fundo de seus olhos – Por que tudo isso? Nós éramos amigas, o que mudou? É só porque sou um anjo?!
- Nada mudou, eu entendi a realidade. – Ela começa um riso seco – Somos diferentes, pertencemos a existências diferentes que não podem se misturar. Nascemos e existimos para destruirmos uns aos outros, essa é a realidade. Essa é a verdade!
- Você não sabe do que está falando Diana! – Rebato, tentando forçar meu corpo para cima – Nick e eu somos amigos, mesmo sendo diferentes, não queremos nos destruir. Klauss e Layla o vêem da mesma forma, não queremos nos destruir de forma alguma! Nick e Layla não se odeiam, eles...
Diana empurra a mão em meu pescoço, me interrompendo com a força que aplica – Cala a boca! Eu não quero ouvir esses nomes! Nick, aquele idiota desesperado não faz ideia do que está fazendo... Layla, não suporto esse nome ridículo, o que aquele anjo enjoado tem demais?!
Não esperava ouvir isso de Diana, nem esperava que ela demonstrasse tal incômodo em relação a Nick. Um incômodo que não entendo qual a origem, e sinceramente não faço questão alguma de entender qual seja, tudo que quero é sair desse lugar.
Diana começa a apertar suas mãos ainda mais em meu pescoço, e a sensação de perigo cresce em mim. Bato a mão na terra chamuscada e, agarrando um punhado, lanço como consigo no rosto de Diana, que pega de surpresa acaba me soltando e aliviando parte da pressão que fazia sobre mim.
Aproveitando desse momento de alívio, impulsiono meu corpo para cima, invertendo as posições e vantagens, conseguindo prender Diana no chão e, erguendo uma de minhas mãos, manifestando o poder da minha graça em meio das chamas do submundo, desfiro um golpe que acerta seu busto e arranca um grito profundo dela.
Seu corpo arqueia no chão, Diana tenta se debater em um grito gutural, suas mãos espalmam em meus braços, outras vezes nas pernas, ela tenta me empurrar e por muito pouco consegue se desvencilhar, mesmo assim consigo me manter sobre ela e continuar tal golpe. Um brilho pálido surge do ponto onde minha mão toca, e esse brilho se repete dentro do corpo dela com tal intensidade que não esperava acontecer.
Neste momento onde tudo acontece rápido demais para processar, um lado meu faz com que lembranças comecem a surgir, vindas talvez do mais profundo do meu ser. Lembranças que talvez não sejam tão distantes, mas que pertencem a uma realidade tão distante do que vivemos no agora, que faz parecer serem de muitas décadas atrás.
Memórias da primeira vez que vi Diana ao lado de Nick tomam forma em meus pensamentos. A aparente inocência que enxergava em ambos e que também existia em mim em certo grau me gerou alguma identificação, mesmo que não tenha dado a mínima importância naquele momento, da inicial desconfiança em relação a ambos e a amizade que passou a surgir em nossa convivência.
Lembranças que tornam isso muito mais difícil do que já está sendo, no fundo sei muito bem que não quero fazer isso, não é minha vontade. Mas agora, no ponto em que nos encontramos, sinto que já não tem mais volta.
Se eu não o fizer, Diana virá atrás de mim novamente, poderá tentar algum mal contra Klauss ou ainda pior, ameaçar a vida de Mel novamente, e isso é algo que não vou aceitar de forma alguma.
De repente sou puxada para trás e meu corpo bate no chão em uma queda arrastada. Olho para cima e tudo que enxergo é uma silhueta que desfere um golpe pesado em meu peito, me mantendo pressionada contra o chão. Tento me erguer, mas o peso sobre mim é grande demais e não consigo me livrar, e ao olhar para cima, percebo se tratar de Stefan, que está respirando fundo e inteiramente chamuscado. Parte de suas roupas foram destruídas na explosão, parte se seu peito e braço estão descobertos, deixando à mostra os músculos tensos e as diversas tatuagens e cicatrizes que esconde, além disso consigo ver claramente muitas marcas de queimadura recentes em sua pele.
Mas ele está diferente de antes. Toda a sua pele está levemente vermelho acinzentada, visivelmente parece áspera e coberta por escamas, uma imensa e fina cauda surgiu e em sua cabeça, acima das orelhas, um par de chifres negros cresceu, e seu cabelo agora possui mechas cinzentas por entre os fio negros.
- Foi um bom ataque anjo, eu realmente senti. – Ele diz debochado, curvando seu corpo para frente e aumentando a pressão em meu peito, enquanto sua cauda bate fortemente contra o chão em um impacto que parece esmagar tudo aquilo que atinge – Mas já chega, vou acabar com isso agora.
Ouço sons próximo e de canto de olho enxergo Diana se erguendo e vindo até próximo de Stefan. Onde a toquei, ficou uma marca extensa que ela tenta cobrir com uma mão. Sua expressão é de dor, e com nítido esforço ela se mantém de pé.
- Onde estão Zephyr e Violet? – Stefan pergunta sem sequer a olhar.
- Eu não sei, desde a explosão os dois desapareceram. – Diana olha ao redor algumas vezes – Não faço ideia de onde podem estar.
- Terminaremos com ela, e vamos procurar por eles. Não devem estar longe. – Stefan ergue uma de suas mãos e chamas surgem entre seus dedos – E então, qual de nós fará isso?
- Vamos matar ela? – Diana parece ter alguma decepção em sua voz – Achei que nós iríamos nos divertir com ela primeiro.
- Era o que eu queria, mas estou sem paciência com esse anjo, não quero mais brincar com seu corpo ou fazer ela gritar. – Ele fecha o punho devagar e sua voz agora se carrega com raiva e novo – Não tenho mais vontade alguma pra lidar esse anjo. Por mim, mato ela agora... Mas posso ser paciente se quiser usar ela para se divertir um pouco.
- Me divertir usando a Mika? – Ela vira seu olhar a mim, e a perversidade que encontro em si me fez tremer. Ela sorri e passa a língua no canto da boca – Acho que vou gostar muito de ter ela por algumas horas, ainda não me diverti com um anjo.
- Então vamos parar de perder tempo e levá-la ao submundo assim que achar aqueles dois. Lá vocês se trancam em algum lugar, e você faz o que quiser com ela, mas aproveite bem porque terá pouco tempo antes que eu decida matar essa caída... Por mais que queira fazer isso agora. – Não consigo dizer nada, me debater ou tentar me afastar, estou em choque olhando para Diana, que apenas tosse. – Diana?!
Stefan volta seu olhar a ela e a surpresa toma conta de si, o forçando a recuar e me aliviar de tal pressão, quando percebe uma lança moldada em puro fogo atravessando a barriga de Diana. Ela própria parece incrédula com o que acabou de acontecer consigo, e tentando tocar a lança de fogo, ela cai de joelhos – O que... É isso?
Procuro ao redor e, na direção das costas de Diana, encontro duas figuras conhecidas. Aperto os olhos e reconheço Nick ajudando Klauss ficar de pé, segurando um dos braços do anjo em torno de seu pescoço, e tendo seu braço livre esticado em nossa direção, por onde fagulhas de fogo se apagam.
- Klauss? Nick? – Questiono os olhando sem acreditar em meus olhos, e Diana os encara de canto de olho, sem deixar de apertar o local onde a lança de a atravessou, que agora se dissipa.
- O que, mas o que eles estão fazendo aqui?! – Stefan questiona, quando um novo foco de fogo cresce nas mãos de Nick, e uma nova lança de fogo é disparada, acertando em cheio o peito do demônio, que recua alguns passos, claramente incrédulo por ter sido atingido, mas não parecendo ter sido realmente ferido.
Viro no chão e, conseguindo me arrastar rápido, fico de pé e corro até eles, assustada com o estado que Klauss se encontra.
Ele me olha e tenta vir até mim, mas suas pernas fraquejam e ele cai de joelhos no chão, sendo auxiliado por Nick logo em seguida, ainda assim o anjo tenta erguer seu rosto e manter seu olhar em mim.
Me abaixo ao seu lado e seguro seu rosto em minhas mãos. Klauss está machucado de uma forma que nunca vi antes, sequer imaginava ser possível conseguirem ferir ele até esse ponto que precisa de claro esforço para se manter desperto.
- Klauss, o que houve com você? – Sussurro preocupada, sem saber onde tocar no anjo. – Preciso levar ele de volta para casa Nick.
- Pensei o mesmo, mas Klauss insistiu em virmos atrás de você Mika. – Nick diz abaixado ao meu lado, e então passa seus olhos pelos meus próprios machucados – E acho que fizemos bem em vir.
- Veja só quem apareceu, o mais fraco dos iniciandos. E trouxe consigo mais um anjo asqueroso. – Stefan diz com um riso debochado, que logo se transforma em uma alta gargalhada. A mesma feição arrogante que momentos antes havia desaparecido retorna agora – O que pensa que veio fazer aqui?
- Vim tirar dois amigos meus de um problema enorme. – Nick se levanta e avança um passo, ficando entre nós e Stefan, como se decidido e prestes a enfrentar o pior dos demônios que já tive o desprazer de conhecer. Klauss encara Stefan com um pulsar forte em seus olhos ambar, e ele tenta se erguer, mas um resmungo entrega quão intensa são as dores que sente nesse momento.
- Não sei como esse anjo conseguiu escapar dos três juízes do submundo, mas nesse estado, não há nada que ele possa fazer para se defender. – Stefan cruza seus braços e ergue o rosto levemente – Não faço ideia do que pretende fazer vindo aqui nessas condições, anjo da lua pálida, mas estar a minha frente significa somente sua morte.
- Você não vai encostar um dedo neles Stefan! – Nick o alerta com firmeza em sua voz.
- Ah, não? – Stefan finge segurar seu riso ao levar a mão a testa, que logo se transforma em uma nova gargalhada – Isso é algum tipo de piada? E o que o mais fraco dos demônios pensa em fazer para me impedir?!
- Do que está falando Nick...? – Diana se pronuncia, ofegante e permanecendo caída. – Por que está protegendo os anjos, você enlouqueceu? Saia já do caminho!
- Faça o que Diana está pedindo, ela é mais esperta que você. – Um olhar repleto de sadismo se manifesta em Stefan – Se sair agora, garanto não fazer nada contra você, nem mesmo direi sobre sua traição aos juízes. É melhor ir embora agora Nick, eu permito.
Nick permanece calado, quando então olha para mim e Klauss sobre o ombro. Conheço Nick desde meu primeiro dia no submundo, sei o poder que possui e conheço sua personalidade, ele não é do tipo que se envolve em conflitos e nem é forte como Stefan, que exala marcas de lutas e violência extrema, ele parece até viver para isso. Existe uma diferença absurda entre eles.
- Não irei a lugar algum Stefan. – Nick declara, para o meu desespero.
- Nick? – Consigo dizer.
- Seu idiota! Sai da frente agora! – Diana diz em um misto de raiva e suplica, ela consegue ficar de pé mas seus ferimentos a impedem de se mover. Já Stefan, solta uma risada entredentes.
- Pelo visto nem todos são espertos, mas não tem problema. Vou arrancar você do caminho. – Stefan descruza seus braços e as chamas tornam a surgir em torno de seu corpo tensionado, como se exalada de suas escamas e cicatrizes. O chão embaixo de nós começa a tremer de repente e rachaduras surgem por todos os lados, e dentro de cada fenda uma intensa luz avermelhada pode ser vista, que cada vez mais torna-se incandescente, exalando fumaça e calor sem parar, e essa luz da lugar a intensas labaredas que elevam-se ao céu – Poderia dizer que admiro sua coragem, mas isso é uma grande mentira. E agora, não tenho paciência pra lidar com alguém tão insignificante e sem poder algum!
Nick protege o rosto com os braços, enquanto tento pensar em uma maneira de nos tirar daqui. Não sei se tenho poder o suficiente para conseguir alçar vôo novamente, ainda mais levando Klauss e Nick comigo.
Nick recua uma de suas mãos, e outra das mesmas lanças de fogo surge e sem demora ele a arremessa contra Stefan. A lança acerta o corpo do demônio, mas diferente de antes, ela simplesmente se desfaz e é engolida pelas chamas manifestadas por ele, que claramente demonstra não se incomodar em ser atingido.
- Que decepção, um poder tão fraco quanto o seu não pode fazer nada contra mim, deveria saber com quem está se metendo. – Stefan gargalha enquanto ergue uma de suas mãos e virando a palma para o alto, onde o tremor fica ainda mais forte e o fogo emerge com mais intensidade – Você vai aprender qual o seu lugar!
A luz avermelhada misturada às chamas se intensifica ao extremo, e todo o chão embaixo de nós desaparece de repente, dando lugar a uma explosão, que nos ergue e arremessa ao céu junto ao fogo, fumaça, terra e pedras chamuscadas. O estrondo é tão grande e sou erguida tão rápido que sequer consigo mensurar o quanto fui erguida, e tudo de repente para, quando sinto o frio do chão embaixo do meu rosto, e alguma sujeira cai novamente sobre mim.
Aperto os olhos e, com minhas últimas forças ergo o rosto, vendo somente a silhueta de Stefan, em meio a fumaça e chamas, estando bem ao centro da grande explosão que varreu tudo à sua volta de uma maneira assustadora.
Gemendo de dor e cansaço, procuro por Nick e Klauss ao redor enquanto me forço a ficar de pé com muita dificuldade, mas não consigo encontrar nenhum deles caído próximo de mim, e a fumaça pouco levada pelo vento frio dificulta minha busca por eles.
- Pelo visto, você conseguiu sobreviver ao meu ataque Mi'Ka. Que falta de sorte, deveria ter aproveitado a oportunidade e morrido junto deles. – Arfando e com a visão um pouco embaçada, consigo ver Stefan erguer sua mão a mim novamente. Ele não desmancha seu sorriso – Se é assim, vou exterminar você para que vá para junto deles. Fazer isso será um enorme prazer.
Aperto os olhos por um instante e respiro fundo, conseguindo enxergar com clareza novamente, e encarando o demônio por este curto momento, solto uma pequena risada – Não seria melhor se preocupar um pouco com você mesmo?
- O que? – Stefan questiona desmanchando seu sorriso e erguendo levemente as sobrancelhas.
- Por que vou explicar, quando você mesmo pode ver? – Baixo meus olhos ao seu peito, e Stefan faz o mesmo, tendo uma feição assustada surgindo em seu rosto arrogante.
- Que marca são essas?! – Ele questiona, aproximando a mão trêmula das marcas de queimaduras, uma no meio de seu peito e outra marcando seu abdômen mais ao lado, e enfurecido volta a me encarar. – O que é isso... Quando eu fui atingido?
- Você não reparou por ser alguém cegado pela arrogância, Stefan. – Ouço a voz de Nick pouco atrás de mim, e me virando, o vejo se aproximar e passar por mim em passos lentos e pesados. Ele aparenta estar bem, só não digo ileso pois ele está coberto de arranhões e sujeira, mas não parece ser nada grave. – São duas marcas, eu o atingi duas vezes.
- Aquelas lanças ridículas?! – Stefan toca as marcas, e um rugido de dor escapa dele, o forçando a encurvar o corpo para frente e respirar entredentes – Não me faça rir, não tem como aquilo ter me ferido assim...
Nick ergue sua mão novamente, e mais uma das lanças de chamas surgem sobre a palma de sua mão, dessa vez uma maior que as anteriores, e a segurando com aparente firmeza, assisto ele arremessar a lança, que atinge Stefan em cheio, arrancando um urro mudo de seu alvo e o forçando a recuar um passo – Agora são três vezes, três marcas.
A lança de chamas é imensa, e está ficada bem no meio do peito de Stefan e saindo em suas costas. As chamas moldadas em bastão permanecem ali por um tempo, até que finalmente se dissipam, deixando uma nova e imensa marca de queimadura.
- Não... – Stefan rosna – Isso... Não é possível...
- Como conseguiu isso Nick? – Pergunto em um sussurro surpreso.
- Estive no Abismo aprendendo a usar o poder do Submundo que retiramos de você naquele dia, mas ainda não aprendi a controlar completamente. – Ele para de caminhar a certa distância de Stefan. Tanto ele quanto Diana encaram Nick – Mas mesmo assim, não seria o bastante para enfrentar alguém como Stefan. Por isso, Klauss depositou uma pequena parte de sua graça em mim, para aumentar minhas chances de causar qualquer dano real em Stefan.
- Foi um plano arriscado... – Ouço a voz de Klauss perto de mim, e olhando ao lado, encontro o anjo de pé, ainda mostrando certo esforço para fazê-lo – Mas foi nossa melhor escolha, Nick disse que baixariam a guarda por ele ser "o mais fraco". Por isso, confiei um pouco da minha graça para que a usasse quando tivesse uma oportunidade.
- Eu... Eu não acredito nisso... – Escuto Stefan falar em voz baixa.
Diana consegue ficar de pé com alguma dificuldade, olhando com raiva para nós, e então para Stefan. Afastado dos dois, consigo ver Zephyr surgindo com Violet desacordada nos braços. – Stefan, vamos sair daqui.
- Você ainda vai com eles Diana? – Nick pergunta a ela.
- Você se envolveu com anjos, com a tal "Layla", não é? E a errada sou eu? – Ela responde ríspida, tentando puxar Stefan, que não sai do lugar. – Vamos embora Stefan.
Stefan permanece onde está, se desvencilhando de Diana a forçando recuar alguns passos, e após alguns segundos, posso ver um pequeno sorriso em seus lábios e consigo ouvir sua risada bem baixinho. – Eu não acredito nisso... Eu sendo... Vencido pelo mais fraco dos iniciandos... A vergonha que sequer sabe lutar...
Seu sorriso aos poucos desmancha e Stefan aperta os dentes, fecha ambos os punhos, e fagulhas de fogo tornam a surgir em torno de Stefan, e nesse momento Diana recua assustada.
- Malditos... Vermes... – Ele rosna com a raiva carregada de uma fúria implacável, e meu corpo inteiro tem um calafrio de mais completo terror, quando vejo o imenso pilar de chamas surgindo repentinamente em torno de Stefan, um turbilhão flamejante que se espalha por todos os lados, lançando fogo em volta e também ao céu como uma contínua explosão, onde o calor de antes sequer se compara com agora – Malditos sejam! Eu vou... Matar todos vocês... E levarei essa cidade junto!
Um grito, que se assemelha a um rugido bestial se desloca por todos os lados. Um urrar tão selvagem que faz tudo ao redor tremer violentamente, e todo o fogo nos atravessar com a mesma brutalidade, tão rápido e contínuo que mais se assemelha a uma imensidão avermelhada que não tem fim. O calor atravessa minha pele e invade meu interior, mesmo que eu tente resistir, está cada vez mais quente, como nunca senti antes.
- Eu vou incinerar tudo... Cada casa... Cada pessoa... Cada vida, eu queimarei todos... Eu matarei todos! – É possível ouvir a voz estrondosa de Stefan como um trovão que ecoa por entre as ondas de chamas que passam por nós cada vez mais – Que tudo... Seja destruído... Tudo!
Aperto os olhos com força, e tudo que penso é como acabamos em tudo isso, e como agora parece que não existe mais chance alguma de escapar. Eu gostaria que tudo fosse somente um pesadelo. Mel, eu espero de todo o meu coração que você esteja segura.
De repente todo o fogo se dissipa e se concentrar únicamente dentro de um imenso turbilhão de vento e fogo, onde um intenso brilho avermelhado existe em seu interior, algo que ilumina a tudo a nossa volta como um sol em miniatura, exalando todo seu calor sem parar, quando tudo se dissipa ao mesmo tempo, restando somente Stefan parado ao centro, que nos encara em um misto de surpresa e raiva.
- Passei meus últimos anos protegendo esta cidade e todas essas pessoas. Este é o lar da minha família. – Klauss diz com a voz rouca e com muito esforço. – Não vou permitir que você destrua esta cidade.
- Seu... Anjo... Desprezível! – Stefan grita, e seus olhos tremem. Ele tenta avançar um passo, quando tosse com um último gemido de dor. Stefan nos encara, com os olhos apertados, ele luta para ficar de pé, porém seu corpo cede em uma queda ruidosa.
Não existem mais ataques, chamas, não existe nada. Stefan não se levanta mais.
Tudo que resta nesse lugar é o forte odor de queimado das ruínas da casa e da vegetação destroçada, e o assovio do vento frio acima de nós.
Nick baixa os braços, lançando seu olhar para trás ao mesmo momento que respira fundo, encontrando a mim e Klauss, e logo voltando a olhar na direção de Stefan uma última vez.
- Acabou? Ele... Está...? – Tento dizer, mas a fraqueza em mim é absurda, e eu mesma não consigo terminar de falar, nem mesmo ficar de pé.
Tudo que sinto é meu corpo despencar para trás, meus olhos encaram o céu nublado uma última vez antes de tudo se apagar, e um baque silencioso recair em meu corpo.
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