Capítulo 51

6586 Palavras

Em um vôo silencioso e rápido, atravesso os céus rapidamente, rumando para a entrada do Paraíso mais próxima da cidade, tendo minha mente tomada por incontáveis pensamentos que mal posso conter.

Não esperava por aquilo. Minha casa ter sido atacada e deixada naquele estado, e pior ainda, haver uma convocação de retorno ao Paraíso.

Não foi preciso pensar muito para saber de onde veio aquele ataque.

Não havia como demônios encontrarem minha casa e agirem de qualquer forma, por anos permaneci oculto deles, e mesmo Aecos só conseguiu me alcançar por seguir meu encalço após vasculhar a cidade. E depois de ver aquele orbe, não tenho dúvidas, aquilo foi obra de anjos.

Antes de partir, Mika e eu reparamos todos os danos causados e arrumamos toda a casa. É impensável sair e deixar tudo naquele estado, me sinto mais tranquilo que a casa esteja arrumada.

Agora, quero me concentrar apenas alcançar o Paraíso e descobrir o que aconteceu e o motivo de tudo aquilo, e também, devo descobrir o paradeiro de Layla, que não estava em nenhum lugar da cidade.

Ao longe enxergo a esfera de passagem ao Paraíso, e limpando meus pensamentos da melhor maneira que consigo, preparo minha mente para o que precisarei enfrentar.

Acesso a esfera, com todo o espaço ao meu redor transicionando para o espaço imenso sem piso, onde um grandioso céu sem fim se estende por todos os lados. O sol brilha intensamente ao longe, pintando o céu a sua volta de um gracioso dourado que é refletido nas incontáveis nuvens, e conforme a vista se distancia do céu, o dourado da lugar a um suave azul e o branco das nuvens. Este lugar sempre será algo surpreendente, independente de quantas vezes ou quanto tempo se passe aqui.

Recolho as asas próximas ao corpo, sentindo meu corpo ser elevado lentamente sem sequer emitir sons. Pouco tempo passa, até que eu me encontre diante das portas do Paraíso, que abrem-se para mim assim que me aproximo e revelam o lar dos anjos aos meus olhos.

Cerro o olhar e aperto os punhos com firmeza, tornando a avançar em passos largos e decididos para a Alta Esfera, lugar onde os Arcanjos se reúnem, e também onde encontrarei as respostas que procuro.

Mal entro no Paraíso e, ao longe enxergo a Alta Esfera, a maior e mais imponente estrutura do paraíso, algo que simplesmente não tem igual.

Conforme caminho, noto que alguns anjos olham para mim, outros abrem espaço para mim, mas sempre com seus olhares cravados em mim, talvez com algum espanto ou admiração, e isso se repete durante todo o caminho. Mas não tenho tempo de pensar nisso, existe algo mais importante que preciso fazer.

Adentro o salão principal da Alta Esfera, onde alguns anjos se mostram distraídos com diferentes tarefas, e alheios a minha presença. Passo os olhos de um lado ao outro alguns segundos, e decido por tomar um dos corredores para ir aos andares superiores.

Antes que eu volte a andar, sinto uma mão pesada tocando meu ombro, impedindo meu avanço e fazendo com que meu corpo inteiro tencione em nervosismo, e imediatamente fico momentaneamente paralisado quando sinto a graça esmagadora aqui presente, e imediatamente sei quem é.

Quando finalmente olho para trás, encontro o Arcanjo Ka'Ruel, me encarando com um olhar endurecido e o lábio curvado para baixo – Venha comigo! – Ordena com a voz áspera, e passa caminhando ao meu lado em passos pesados que parecem ecoar no ar.

Observo o grande Arcanjo avançando através do salão principal, tendo seus dois pares de asas manifestados nas costas, e as mantendo bem, próximas do corpo, reluzindo num branco intenso e puro, brilho que se estende através de seu imponente corpo.

Franzo a testa e caminho atrás dele sem demora, pois é justamente com meu mestre Arcanjo que poderei descobrir respostas. Ou ao menos, é com isso que estou contando.

Conforme caminhamos, percebo que o caminho fica com cada vez menos anjos, e os poucos que passam por nós abrem caminho para o grande Arcanjo, que até o momento não disse nada para mim.

Ele para diante de uma sala e entra, e sigo logo atrás dele. Olhando ao redor, reconheço ser uma sala muito semelhante a que estivemos quando vim ao Paraíso pela última vez, contudo o espaço parece ser muito mais amplo, além disso, o aparente bosque em que estamos parece ter árvores mais distantes da trilha que atravessamos.

- Sua graça está agitada, Ka'Su. – Ouço Ka'Ruel quebrar o silêncio de repente, e direciono meu olhar a ele – Senti sua presença assim que chegou ao Paraíso.

- Mestre Ka'Ruel, desejo falar algo importante com o senhor. – Digo sem rodeios, e ele sequer olha para mim – Trata-se do motivo da minha inquietação.

- Fale. – Diz simplesmente.

- Mestre, recentemente minha morada foi atacada. E também, um membro da Legião que estava na minha cidade está desaparecido. – Digo o observando, sem deixar de caminhar.

- Sabe quem realizou o ataque? – Ele pergunta, conforme nos aproximamos de uma parte aberta desta ampla sala.

- Não gosto se pensar em tal possibilidade, mas havia uma orbe do Paraíso em minha morada. Suspeito que o ataque tenha sido feito por anjos. – Explico apertando os olhos e interrompendo meu caminhar, o observando se afastar – O anjo desaparecido trata-se de Layl... Lay'L, um dos novos membros da Legião.

- Então sua suspeita é que foi um ataque orquestrado por anjos. – Ele interrompe seu caminhar – Onde estava durante o ataque?

Não esperava por tal questionamento, contudo, acredito que não tenho como mentir. E na verdade, não devo fazer isso – Eu estava fora da cidade. Pedi para Lay'L cuidar da cidade durante minha ausência.

- Se ausentou sem autorização Ka'Su? – Ele questiona de forma retórica, virando devagar e me olhando de canto de olho – Já refletiu na possibilidade de não ter sido um ataque?

- Como? – Pergunto sem entender a princípio, quando começo a juntar as evidências – Mestre Ka'Ruel, por acaso o senhor...?

- Soltem-na! – Ele ordena, quando ouço um som surgido por entre as árvores, de algo que não percebi haver ali.

Figuras emergem e atravessam a copa das arvores, voando em nossa direção e soltam algo quando estão próximos. Esse algo bate contra o chão em uma queda pesada e ruidosa, e levo alguns segundos para identificar o pequeno corpo caído ao chão e as asas caídas em torno de si.

- Layla! – Corro até ela e me abaixo ao seu lado, a erguendo com cuidado e olhando ao seu rosto que possui alguns machucados e arranhões superficiais, e ela reage em dor. Suas roupas estão rasgadas e com marcas de luta, roupas humanas, que indicam que ela realmente foi atacada enquanto estava em casa, e ela tentou resistir. – Layla, olhe para mim... Por que fizeram isso com ela?

- Ainda não se deu conta da situação em que se encontra, não é Ka'Su? – Ka'Ruel tem uma voz endurecida e agressiva, carregada em uma notável irritação que queima em seus olhos.

Paro por um momento e um estalo me ocorre, fazendo com que eu finalmente preste mais atenção no que existe ao meu redor, e silenciosamente movo meus olhos de um lado ao outro, me dando conta da presença de vários anjos ao nosso redor, ocultos por trás das árvores deste grande salão, e minha irritação fez com que eu não notasse a presença de nenhum deles até agora. Estou cercado, percebo todos preparados para um ataque.

Me dou conta de como fui descuidado.

- O que significa tudo isso, mestre Ka'Ruel?! – Questiono, tentando encontrar alguma forma de sair daqui, mas não vejo uma brecha sequer.

- Realmente não sabe? – Ele fica de frente para mim, me encarando de cima – Acaso esqueceu-se de todas as suas transgressões recentes?

- Transgressões? – Me pergunto em voz baixa.

- Suas recentes ações Ka'Su, o Paraíso está ciente de tudo que tem feito. – Sua voz soa acusatória.

- Refere-se a Mi'Ka?! – Questiono com irritação na voz – Já disse que irei eliminar ela assim que não tiver mais utilidade para mim!

O Arcanjo me encara sem mudar sua expressão, quando sinto a mão de Layla agarrar a manga da minha blusa, mas tenho a sensação de que não é uma boa ideia desviar meu olhar do Arcanjo agora – Acredita que pode nos enganar? Estou ciente de que não o fará, vi que a caída é mais do que uma ferramenta para você, vi que possuem uma relação estabelecida e vivem como um casal, até mesmo adotaram uma criança humana.

Aperto os olhos, deixando Layla deitada e me erguendo devagar – Se sabe de tudo isso, então porque? Mika não é alguém ruim, já tive certeza disso por diversas vezes.

- Suas transgressões não são somente essas. Aquela caída não somente deixou o submundo como fez com que um demônio sujo vagasse livre pela região de sua responsabilidade sem que tomasse uma ação, e como se não bastasse, houveram situações recentes onde trabalhou junto de servos do submundo. – Ele encara Layla com desdém – E levou consigo esse patético anjo inexperiente, que ousou se encantar pelo demônio, se encontrando em segredo com ele por diversas vezes.

O anjo abre seus dois pares de asas com ferocidade e imponência, onde sua graça se agita em torno de seu corpo semelhante a uma aura branca, tão ardente ao mesmo tempo que aparenta ser tão fria quanto gelo. Seu poder se expande em torno de seu grande corpo e se estendendo através de todo o salão como pequenos feixes luminosos emergidos do chão, criando uma pressão tão absurda que faz com que o ambiente inteiro sofra grandes tremores.

- Sua punição está decidida! – Ka'Ruel proclama, e temo pelo que irei ouvir – Traga a cabeça de Mi'Ka, e será perdoado por seus desvios!

Um choque me atinge com as palavras que ouço do Arcanjo. Meu corpo inteiro treme em nervosismo e sequer consigo raciocinar – O que? – Digo entredentes.

- Se envolveu com uma caída suja que se entregou ao submundo, adotou uma mera criança humana, e tornou-se amigo de um demônio, atraindo outro membro da legião para um caminho manchado! – Ele diz de maneira severa e sombria – Se deseja ser perdoado, deve cumprir com tal penitência.

Meu corpo inteiro treme cada vez mais, incrédulo de que estou em tal situação ouvindo tais palavras, sendo colocado contra a parede dessa maneira. E encarando o Arcanjo, dou a única resposta que ecoa em minha mente – Não!

- O que disse? – Ka'Ruel indaga, não esboçando qualquer reação.

- Eu não irei fazê-lo mestre Ka'Ruel! – Digo com firmeza, causando uma comoção e espanto nos anjos que nos rodeiam que murmuram algo entre si, porém minha atenção permanece apenas no Arcanjo. – Não posso ir contra suas ordens, é meu mestre e lhe devo completa obediência, mas não posso fazer o que me ordena. Por favor, me peça para fazer qualquer outra coisa! Me puna de outra maneira, mas não me ordene para fazer mal a Mika!

- Já está decidido – Ele soa com uma voz tão assombrosa que me assusta.

Os anjos ao redor parecem se preparar para um ataque, e nesse instante me preparo para me defender caso seja atacado por todos, manifestando minhas asas e as abrindo ao máximo, me posicionando bem acima de Layla para impedir que qualquer avanço a atinja.

- Mestre Ka'Ruel, por favor reconsidere! – Peço em um grito, sendo minha última tentativa.

- Já reconsiderei muito, dei ouvidos demais a So'Riel e Hil'Del, e como resultado, um dos nossos maiores soldados agora brinca de família com uma caída tola e uma insignificante criança humana! – Ele balança seu braço no ar, sendo essa sua ordem – Legião! Ataque!

Todos os anjos disparam em um ataque em conjunto, vários anjos avançando através das árvores e vindo em minha direção, carregando armas moldadas de graças, que reluzem seu brilho através das lâminas direcionadas a mim.

Corro meus olhos de um lado ao outro rapidamente, são múltiplos ataques vindos de todas as direções. Não tenho como combater a todos os anjos fisicamente, se o tentar, inevitavelmente serei atingido por seus golpes.

Ergo as mãos rapidamente e as aproximo do peito, fechando meus olhos e concentrando minha graça em toda sua potência, transbordando através de cada parte de meu corpo, e em um esticar dos braços, meu poder se manifesta em minhas mãos como dois intensos clarões intensamente reluzentes, projetando uma grande varredura de vento e energia pura, forte o suficiente para empurrar todos os anjos que atacaram para longe, em incontáveis gritos causados no impacto repentino que atingiu seus corpos.

Vagarosamente baixo os braços, fitando Layla que despertou, mas não tem forças para se levantar. Enfurecido, ergo meu olhar novamente para Ka'Ruel, sem erguer meu rosto, e nos confrontamos em uma troca de olhares repleta de hostilidade.

- Ah Ka'Su, será que não compreende? – Ka'Ruel se demonstra indiferente aos anjos caídos a nossa volta – Atacar esses anjos significa estar se rebelando contra mim.

- Vejo que já não faz diferença, por isso deixarei claro agora. – Começo a falar, avançando em passos lentos até o Arcanjo – Mestre Ka'Ruel, compreendo que tenho cometido diversos desvios quanto aquilo que sempre seguimos na Legião, contudo nunca deixei de agir pelo correto e sigo agindo pelo que considero certo conforme o senhor me ensinou.

- Agir pelo certo? Abrigou uma caída em sua morada mas renega a presença de seus irmãos da Legião, permite que demônios vaguem livres em sua cidade e até tornou-se amigo de um deles, fazendo com que essa tola se apaixonasse por um deles! – Os olhos do arcanjo inflamam em raiva, e sua graça se intensifica ainda mais, crescendo ao ponto de parecer tocar o topo deste salão. A pressão emanada pelo Arcanjo mais poderoso é tamanha, que é difícil conseguir permanecer firme onde estou – É decepcionante ver um anjo que sempre esteve a serviço do Paraíso, se rebaixar dessa maneira por seres tão desprezíveis!

- Está enganado! Eles não são desprezíveis Mestre Ka'Ruel, o senhor não sabe o que está falando! – Insisto, mas sei que é completamente em vão.

Cada passo que ele da, torna os tremores ainda piores, e sinto o perigo iminente diante de mim. Não existe outra alternativa.

- Não permitirei que vague livre no Paraíso ou mesmo no mundo humano após tantas ações, após agir como um manchado pela perversão, suas transgressões requerem punição! – Ele declara, erguendo sua mão acima da cabeça e fagulhas de sua graça se projetam ao alto, lembrando estrelas ascendentes – Vou me encarregar de puni-lo, e lançá-lo ao local onde pertence!

O Arcanjo direciona sua mão a mim onde um clarão surge da palma de sua mão, e vejo a imensa onda de poder e graça pura se deslocando velozmente até mim, varrendo qualquer coisa que exista no caminho.

Não tenho tempo de desviar, e mesmo se conseguisse, não teria como alcançar Layla e tirá-la do caminho de um ataque tão devastador. Se quiser sobreviver e proteger Layla, só me resta uma única opção.

Recuo ambas as mãos, reunindo todo o poder que reside em mim e contra atacando, lançando uma mesma onda de graça e vento e raios de minhas mãos, colidindo com o ataque lançado por Ka'Ruel e o choque de nossos golpes cria um imenso turbilhão de graça diante de nós, emanando uma intensa luz branca em seu interior e fazendo com que o ambiente inteiro comece a tremer sem parar, junto a um estrondoso ruído.

O impacto foi tamanho, que com o canto dos olhos reparo como as árvores ao redor reagiram em um sacolejar brusco e violento o qual não consegui ouvir seus sons, e todo o chão abaixo de meus pés começa a colapsar em grandes rachaduras que surgem do local onde nossos ataques colidem.

Sinto toda a tensão em meu corpo por tanto poder que estou liberando de uma só vez. Meus braços doem e meus olhos incomodam pelo contínuo vento causado pela colisão contínua de nossos golpes, sustentada por continuarmos a liberar nossas graças sem ceder por um segundo que seja, e percebo que estou sendo empurrado para trás, por pouco não me desequilibrando.

Meu corpo fraqueja e a força de minha graça diminui por um instante, e a energia concentrada desestabiliza e passa a avançar outra vez até mim, lentamente. Não consigo manter isso por muito tempo.

Olho para baixo, e Layla encara o conflito de poderes com assombro, se segurando no chão para não ser arrastada para longe. Ela parece desperta o suficiente – Layla! Agarre-se em mim!

Ela ergue seu olhar a mim e, rapidamente envolve seus braços em minha cintura com firmeza e firmando suas mãos em minhas roupas. Abro minhas asas rapidamente e cancelando meu ataque, dou um salto com todas as minhas forças, puxando Layla para o alto comigo, bem a tempo de conseguirmos desviar de todo o poder concentrado.

Mal tenho tempo de ver o que aquela massa de poder atingiu, porém a explosão é tão devastadora que o impacto nos atinge no ar, arremessando para longe tão rápido que sequer sei em qual momento meu corpo atingiu as paredes deste grande salão e foi ao chão numa queda pesada.

Ergo-me devagar, procurando por Layla rapidamente, mas a poeira erguida é tanta que mal enxergo o que está a minha volta.

Um rompante pode ser escutado não muito longe, e uma onda de vento se projeta, afastando toda a poeira presente para longe, revelando o espaço completamente alterado. As árvores presentes foram queimadas e retorcidas, muitas tendo sido arrancadas do chão, não havendo nenhuma que tenha ficado inteira. O gramado foi reduzido a uma terra chamuscada e algumas fagulhas de graça pairam no ar.

E ao centro do imenso salão, Ka'Ruel está de pé, com suas asas bem abertas, não tendo sofrido qualquer dano da explosão. E para piorar, seu olhar está voltado a mim.

Torno a ficar de pé, não me incomodando pelas dores em meu corpo, reparando nos outros anjos também se erguendo e ameaçando um novo ataque. Minhas forças já se restabeleceram, e aproveitando disso, ergo ambas as mãos acima da cabeça, manifestando fagulhas da minha graça que emergem ao alto lentamente, e a apontando para frente, todas as pequenas centelhas de minha graça avançam rapidamente como feixes de luz, percorrendo todo o espaço e acertando os vários anjos que já se moviam até mim, os lançando ao chão novamente em quedas pesadas, e fazendo que os demais anjos que já estavam de pé permanecessem no lugar.

Fiz questão de reduzir a força desse golpe para algo não letal. Esse ataque em força máxima é capaz de ferir fatalmente quem for atingido, e não é minha intenção ferir esses anjos, apenas derrubá-los.

Mas o maior problema, é sem dúvidas, o imenso Arcanjo a minha frente.

Baixo meus braços devagar e encaro o Arcanjo que fora meu mestre por tantos anos, agora me sentindo forçado a vê-lo como um inimigo.

- Creio que ainda não compreendeu que atacar estes anjos significa se rebelar contra mim! Estar contra mim é o mesmo que estar contra a Legião, contra todo o Paraíso! – Ka'Ruel questiona, erguendo sua mão a mim novamente, preparado para lançar mais um golpe. – Insistirá em resistir a sua devida punição, Ka'Su?

- E eu já disse antes, nunca deixei de agir pelo correto e sigo agindo pelo que considero certo, todos os dias de minha existência! – Aperto os punhos sem me permitir ceder frente a grande potência do Paraíso diante de mim – Isso envolve viver com Mika e nossa filha Mel, e considerar Nick confiável, um demônio que se provou diferente dos outros e se mostra digno da atenção e afetos de uma irmã da Legião!

Abro minhas mãos devagar e junto minhas asas, transbordando todo o brilho de minha graça que se eleva intensamente, iluminando a tudo ao meu redor. Em minhas mãos, concentro meu poder como se diante de um inimigo, pequenas partículas luminosas emergem do meu corpo e pairam ao meu redor.

- Não me importo se quiser me julgar ou me condenar, faça o que bem entender, mas como espera que eu fique calado e aceite, quando insiste em insultar com tamanho desprezo e me peça para matar alguém tão importante para mim?! – Direciono minhas mãos a ele, e toda minha graça se inflama – Toda vez que o faz, só inflama minha raiva ainda mais! Eu não me importo se é um dos Arcanjos ou não, não aceitarei que continue a tratá-los dessa maneira. Saiba mestre Ka'Ruel, eu ainda não te mostrei tudo do que sou capaz!

- Defendendo uma caída traidora e um demônio? – Ele questiona, e por mais uma vez tenho a impressão de enxergar algum lampejo de satisfação e até mesmo orgulho nos olhos enfurecidos do grande Arcanjo, que recua uma de suas mãos, onde uma grande quantidade de poder celestial se concentra, tão densa que parece até distorcer o ambiente a sua volta – Estou vendo que o anjo com o poder semelhante ao dos Arcanjos, cada vez mais, trilha o caminho dos traidores! Muito bem Ka'Su, se assim prefere, então mostre o quão grandiosa é sua convicção, mostre todo o seu poder!

Desfiro mais um ataque, no mesmo instante que o Arcanjo direciona sua mão a mim. Por mais uma vez, nossos graças lançadas em intensas ondas de poder colidem em um novo e devastador estrondo, que abala todo o lugar onde estamos, iniciando um conflito tão intenso que mesmo com tantos anjos a nossa volta, é como se existisse somente eu e Ka'Ruel neste lugar, já que é claro que ninguém tentará intervir.

Porém dessa vez o resultado do confronto é muito diferente de antes. Toda a força que tenho é repelida rapidamente e a imensa massa de poder manifestada pelo Arcanjo vem rapidamente a mim. Novamente não tenho tempo de me esquivar, por isso opto rapidamente em usar toda a minha graça para criar uma grande muralha moldada a minha frente e resistir ao ataque ao máximo que posso. Uma parede translúcida e emanando fragmentos do poder dos anjos surge diante de mim imediatamente e o ataque do Arcanjo atinge essa parede, num estrondo tão intenso que vaza energia luminosa e multicolorida tanto ao redor como por cima de mim, e apesar de sentir toda a pressão, não sou atingido.

Mesmo tentando dar o máximo de mim, esta parede começa a apresentar fissuras conforme o ataque se mostra imparável, tornando clara a diferença de forças entre mim e meu mestre arcanjo.

Ser o anjo com a graça semelhante a dos Arcanjos é muito diferente de possuir a graça de um Arcanjo verdadeiro. Me aproximo de suas forças a ponto de conseguir rivalizar com eles por um curto instante, porém não sou um deles.

Tenciono meu corpo e me levo tão ao limite quanto consigo, aperto os dentes e concentro todos os meus sentidos apenas em manter essa barreira, porém as fissuras aumentam tornando-se grandes rachaduras, e logo fendas surgem nas extremidades.

É impossível. Não tenho como vencer isso sozinho. Se Mika estivesse aqui, ou Nick, talvez até mesmo o Cara do Casaco, haveria alguma chance.

De repente, a muralha que já estava danificada se reconstitui rapidamente, tornando-se tão densa quanto no momento que a manifestei, talvez um pouco mais. Não entendo como isso foi possível, quando de canto de olho, percebo haver mais alguém aqui.

Layla está logo ao meu lado, com os braços esticados e também manifestando sua graça. Ela avança alguns passos, e me olha de soslaio – Klauss, vai!

- Mas e você, Layla?! – Questiono a encarando rapidamente, sabendo os riscos que ela corre ao ficar no meu lugar. – Você está ferida!

- Vou conseguir resistir! – Aperto os olhos em hesitação em deixá-la frente a tamanha onda de poder. Por fim me decido e olhando a ela novamente, dou um aceno com a cabeça, e Layla sorri com uma confiança temerosa. – Pode ir!

Devo ser rápido.

Parando de manter a barreira, dou um salto com todas as forças que ainda restam, alçando voo acima da onda de poder, e me lanço para frente, em direção ao Arcanjo.

Concentro minhas forças em meu punho e assim que estou próximo o suficiente, consigo acertar um golpe em cheio na face do Arcanjo, onde minha graça expande tão intensamente que a última coisa que vejo é o rosto de Ka'Ruel virando bruscamente.

A tensão em meu corpo causada pela sua graça desapareceu por completo, a aura manifestada em torno de seu corpo some, e por um instante, tudo mergulha no mais absoluto silêncio, onde o arcanjo apenas permanece com seu rosto virado, parecendo ter sentido todo o impacto de meu ataque.

Contudo, seu olhar vira rapidamente a mim um impacto explosivo atinge meu corpo, com tanta força que tudo apaga por um curto instante. Quando volto a enxergar com clareza, me encontro caído no chão, com o corpo se recuperando de algo que sequer percebi quando me atingiu.

Viro o rosto devagar para onde Layla está, porém ela está sendo contida pelos demais anjos. Ela se debate, mas não consegue se livrar deles.

Com alguma dificuldade tento me erguer outra vez, encarando o Arcanjo a minha frente, passando as costas da mão no rosto – Certamente, é digno de ser considerado aquele com a graça comparada aos Arcanjos.

Sinto minha roupa sendo agarrada e meu corpo ser erguido do chão, Ka'Ruel me segura no ar com apenas um braço, me encarando com ar desdenhoso.

- Mas agora chega! – Ele torna a erguer sua mão a mim, onde novas partículas de sua graça emergem de sua mão em um brilho suave – Está na hora de lembrá-lo qual seu devido lugar Ka'Su.

Tento me livrar de alguma forma, mas não consigo. Ele se mostra imóvel.

Quando ergue sua mão para um novo ataque, alguém surge segurando o braço do Arcanjo, e o olhando em um tom sério – Já chega Ka'Ruel!

Ka'Ruel o encara de canto de olho – Não pedi para que se intrometesse. O que faz aqui?

- Suas ações estão abalando todo o paraíso! – Dessa vez outra voz pode ser ouvida, e mais alguém surge – Baixe sua mão e liberte Ka'Su, agora!

O Arcanjo não olha a mim, apenas abre sua mão, me lançando no chão novamente, e não consigo reagir a tempo de me manter de pé. Assim que olho novamente, vejo outros dois arcanjos parados próximos de Ka'Ruel. Hil'Del e So'Riel.

- Ainda não explicaram o que vieram fazer aqui. – Ele rosna, nem um pouco incomodado por ser confrontado por outros dois Arcanjos – Este é um assunto pertinente somente a Legião. Devem ficar fora disso!

- Viemos intervir neste confronto. – Hil'Del diz direto, com as sobrancelhas unidas – Já dissemos que suas ações estão abalando, não somente a Alta Esfera, mas sim todo o Paraíso. Foi possível sentir o abalo de muito longe.

- Caso continue com isso, poderá haver sérias consequências no Paraíso. – So'Riel completa em um tom de voz mais brando, mas ainda assim firme.

- E o que esperam que eu fizesse? Permitisse que Ka'Su continuasse a se envolver com uma caída traidora e seu demônio de estimação? Que levasse outro importante membro da Legião ao caminho dos corrompidos? – Ka'Ruel soa cada vez mais áspero em sua fala, ao tempo que consigo me erguer, e olho de soslaio para Layla, que continua contida pelos demais anjos – Eles estão se aproximando não somente de demônios, esses anjos chegaram a agir junto aos seres do Abismo! Algo deve ser feito!

- Este não é o lugar e momento para isso Ka'Ruel. – Hil'Del diz em alerta, e me olha – Nem o método adequado.

- E o que sugere? Que deixemos que ambos vão embora? – Ka'Ruel questiona – Sabe que seu querido Anjo Boreal caído está envolvido, não é?

- Anjo Boreal? – Hil'Del questiona apertando os olhos, quando parece se dar conta de quem está sendo mencionado. – Mi'Ka? Estou ciente.

- Está mesmo? Sabe que ela foi o estopim de tudo, não é? – Ka'Ruel retorna seu olhar a mim – Devo impedir que um dos nossos melhores anjos torne-se um corrompido traidor antes que seja tarde, e puni-lo por suas transgressões!

- Não discordamos quanto a isso, de fato será lastimável perder alguém tido como uma lenda em todo o Paraíso. – So'Riel diz com temor – Porém, a interferência não partiu de nós Ka'Ruel. Veja.

Os três arcanjos viram-se para trás e encaram uma figura imensa que vem se aproximando. Algo tão silencioso e imperceptível que sequer reparei que estava aqui, não havia sentido sua presença, mas agora que o olho, uma pressão absurda requer sobre mim, algo que faz com que meu corpo inteiro comece a tremer.

A figura está encapuzada, de forma que sua face está completamente oculta por uma densa sombra, e seu corpo inteiro está envolto por um denso manto branco que se arrasta pelo chão conforme avança até nós, e em torno de si, reparo que o ambiente, antes devastado, começa a surgir uma suave vegetação viva. O que me chama a atenção não é somente sua estatura imensa, maior que a dos arcanjos, mas sim os três pares de asas que possui.

Apenas um ser possui três pares de asas em todo o Paraíso, aquele conhecido como a potência e autoridade máxima entre todos e dotado da mais poderosa graça, o Grão Mestre Arcanjo Hel'El.

Todos os anjos em volta baixam suas cabeças e se curvam de imediato, restando somente os Arcanjos ainda de pé, olhando diretamente ao soberano do Paraíso. Percebo que não consigo me mexer.

- O recente ocorrido chamou minha atenção. – A imensa figura se pronuncia finalmente. – A muito não sentia sua graça tão agitada, Ka'Ruel.

- Estava tomando providências quanto a Legião, e evitando o surgimento de um possível corrompido. – Ka'Ruel explica, e fico surpreso que mesmo diante ao Grão Mestre Arcanjo, seu tom não alivia nem por um momento. – Contudo, houve uma inesperada resistência que já havia sido resolvida.

- Resistência? – Ele questiona, e apesar de seu rosto estar quase que inteiramente oculto pelo capuz, sinto que a atenção de Hel'El está em mim – Suponho que este seja Ka'Su.

- Sim, é ele. – So'Riel confirma sem se prolongar.

- O anjo dito ter a graça mais próxima a dos Arcanjos. – Ele pronuncia como se me avaliasse – Visto a maneira que seu confronto pode ser sentido em todo o Paraíso, é pertinente afirmar que tal fala seja verdadeira.

Não sei se esse foi um elogio ou algo próximo, mas não me sinto elogiado. Na verdade, estou tenso.

- Ao que parece, senhor Hel'El, Ka'Su está diretamente envolvido com Mi'Ka e com um demônio do submundo. – Hil'Del explica.

- Seu envolvimento é se relacionar com a caída que rastejou para o submundo, e fazer amizade com demônios sujos. – Ka'Ruel diz em tom de correção. – E está levando consigo aquele outro anjo, que ousou se apaixonar pelo mesmo demônio.

- Mi'Ka, recordo-me deste nome. Creio que Raika se atreveu a libertá-la. – Hel'El para seu avanço – Tem algo a declarar em sua defesa?

Me mantenho calado, apenas olhando de volta ao Grão Mestre Arcanjo. Mesmo se quisesse, não sei se conseguiria pronunciar qualquer coisa coesa.

Ele vira e afasta-se devagar, e mesmo que não me olhe, ainda é como se estivesse com toda sua atenção em mim.

- Aquele anjo tem uma estranha tendência a perturbar a ordem natural, seja por si, ou por aqueles que a rodeiam. – Ouço Hel'El pronunciar – Prossiga sem novos conflitos Ka'Ruel. Caso ocorra, Hil'Del e So'Riel estão autorizados a intervir.

- Sim! – Os três respondem em conjunto.

- A propósito, Ka'Su. – Ouço o Grão Mestre Arcanjo falar meu nome, tão alto que parece ecoar em todo o ambiente, ao mesmo tempo que pareceu ser dentro da minha cabeça – Tenho ciência de todas as suas ações, e com quem está se envolvendo, não pode se esconder de mim. Sugiro que daqui em diante reflita suas ações com prudência, essa é sua segunda chance.

Minha segunda chance?

O imenso ser tem seu corpo desaparecendo no ar, como se nunca estivesse aqui. Apesar disso, ainda sinto a pressão que sua presença causou, é como se ainda estivesse aqui conosco.

Assim que seu corpo finalmente some, o chão abaixo de mim começa a tremer de repente, e algo começa a acontecer. Da terra queimada, uma nova vegetação começa a nascer, flores desabrochar, e novas árvores crescem ao redor, surgindo em torno e dos próprios restos da antiga vegetação que havia aqui, ao ponto de em segundos tudo ter crescido novamente, como se nada nunca houvesse acontecido.

Um distante som de água corrente pode ser ouvido, e devagar um fio de água cada vez maior surge molhando nossos pés, formando um novo lago que cada vez mais ganha tamanho e profundidade.

Ka'Ruel volta a me olhar e passamos a nos encarar, sem que nenhuma palavra seja dita a princípio. – Lay'L! Aproxime-se!

Alguns segundos passam até que ouço os passos do anjo, que para ao meu lado. Ela também nada diz, porém consigo sentir o quão tensa está.

Os demais Arcanjos aguardam ao lado de Ka'Ruel, a postos para impedir caso um novo embate se inicie. Os demais anjos se posicionam ao redor, mas não se aproximam.

- Ambos cometeram desvios para com o Paraíso, e apesar da desnecessária plateia que temos, suas punições estão decididas! – Ele encara Layla – Lay'L, sua punição será eliminar o demônio por quem ousou se apaixonar!

- O que?! – Layla exclama surpresa.

- Ka'Su, sua punição será eliminar Mi'Ka, e por seu atrevimento em se opor e tentar me desafiar, também deverá eliminar e trazer a cabeça da criança que adotou! – O choque que me atinge agora é muito maior do que o de antes. – Somente assim serão perdoados por seus atos. E para mostrar minha benevolência, ambos tem um mês para aproveitarem para se despedir.

- Isso é loucura mestre Ka'Ruel, não podemos fazer isso! – Rebato sua fala imediatamente, não consigo me manter calado e apenas acatar.

- Irá questionar minhas ordens novamente Ka'Su?! – Seus olhos pulsam em um tom branco intenso, e sua voz grave soa como uma ameaça – Será que devo eu mesmo descer a terra, e trazer de volta o que restar de Mi'Ka e da criança?

Não consigo responder, qualquer coisa que diga agora é crítico. Se enfurecer Ka'Ruel ainda mais, é certo de que ele irá atrás de Mika e Mel, e não tenho como impedir que o faça.

- Ambos se esquecem de quem são, e eu os lembrarei! – Ele passa seu olhar de mim a Layla lentamente – São anjos da Legião, que protegem os humanos e o Paraíso. Por isso, parem de agir como se fossem humanos!

Espio Layla de canto de olho, e a vejo com uma expressão perdida e o olhar baixo. Ela parece completamente arrasada.

- Se continuarem neste caminho, suas ações perturbarão a ordem natural, e o preço a ser pago por isso será grande. De hoje em diante, é bom que reflitam muito bem antes de brincarem de se apaixonar. – Ele termina sua fala e faz um gesto de mão, que reconheço ser um sinal para que todos baixem suas armas, e todos os anjos obedecem – Aproveitem este tempo para se despedirem e cumpram com o ordenado. Agora, saiam da minha frente!

Desvio meu olhar dos Arcanjos e aproximo-me de Layla, e com uma mão em seu ombro, a levo para fora deste lugar sem me atrever a olhar para trás.

*****

Seguimos o caminho de volta sem dizer uma palavra que seja. Layla está calada desde antes de deixarmos o paraíso, e sua expressão que antes era perdida, deu lugar a um semblante desolado, ao mesmo tempo que tenta ficar sério.

Não tentei romper o silêncio, afinal estou perdido em meus pensamentos sobre o que fazer agora, mas não importa o quanto reflita, não consigo encontrar uma solução.

Mas agora, creio que o mais adequado seja cuidarmos de nossas feridas e recuperarmos nossas forças, para somente então pensar como lidar com tudo.

Por sorte, já estamos próximos de casa. Passo meus olhos pela cidade a muitos metros abaixo de nós, e posso dizer que nunca me senti tão aliviado em voltar para casa como estou me sentindo agora.

Vamos baixando nossa altura aos poucos conforme nos aproximamos de casa, e no momento que estamos prestes a pousar na rua, percebo que existe alguém à frente dos portões da casa.

Estranho isso e faço um sinal para Layla, para que toquemos o chão devagar, e assim o fazemos, enquanto meus olhos focam na pessoa a nossa frente. É um homem alto e quase pálido, de cabelos brancos longos, e vestindo uma roupa preta extremamente elegante.

Ele vira seus olhos cinzentos e quase congelantes a nós, e exibe um sorriso após um curto instante nos encarando – Ora, que inesperado.

Percebo de imediato que esse homem não é alguém normal – Quem é você?

- Não liguem para mim, apenas vim visitar uma subordinada. – Ele fica de frente para nós, e olha diretamente para mim, sem deixar de sorrir de uma maneira educada e estranhamente penetrante – Klauss, estou certo? Sempre tive vontade de conhecê-lo.

- Não respondeu minha pergunta. Quem é você? – Questiono sério.

Seu sorriso aumenta no canto de sua boca – Eu sou Minos. Creio que já tenha ouvido falar a meu respeito.

- Minos, o juiz do submundo? – Layla sussurra ao meu lado, e ergo uma mão, evitando que ela decida avançar contra ele. Meu corpo inteiro está em alerta, mas na condição em que estou, não acredito que conseguirei enfrentar um dos três juizes.

- Acalmem-se, não vim aqui para desafiá-los. Apenas decidi visitar e dar companhia a minha subordinada, que não vejo a muito tempo... Sentia muita falta dela, creio que você sabe que cuidei de Mika quando esteve no Submundo. – Ele diz em um tom estranho, começando a caminhar e passa por nós tranquilamente – Mas já estou indo, infelizmente não posso ficar muito tempo... A propósito, vocês tem uma bela filha.

Ouço essas palavras e me viro rapidamente, contudo Minos já não está mais em nenhum lugar. Ele simplesmente desapareceu.

Ele veio aqui para ver a Mika? Isso não faz sentido.

Não fico muito tempo procurando pois entendo a urgência e o problema que significa a presença de um dos três juízes do submundo. Imediatamente giro o corpo e avanço rapidamente a porta, entrando em casa – Mika!?

- Oi, estou aqui na cozinha! – Ouço sua voz vindo da cozinha, e sigo até ela em passos largos. Ela me olha um pouco surpresa no momento que entro no cômodo, com um sorriso que rapidamente desapareceu. Ela passa seu olhar por mim, e a surpresa muda para preocupação – O que aconteceu com você Klauss?!

- Mika, o que o Minos veio fazer aqui? – Pergunto direto.

- O que? – Responde confusa – Mas ninguém veio aqui em casa, desde a hora que você saiu... Espera, você disse Minos?

- É, encontramos ele do lado de fora de casa. – Explico apressado, quando ouço um som atrás de mim e de canto de olho, vejo Layla entrando – Disse que veio aqui para ver você.

Mika parece confusa e claramente tensa com o que ouviu, juntando as sobrancelhas e balançando a cabeça em negação – Não sabia que Minos estava tão perto, porque não recebi ninguém desde o momento que você saiu.

Torço a boca preocupado, quando algo me vem à mente – Onde está a Mel?

- Acabei de levar ela para o quarto, ela dormiu depois que almoçou. – Mika olha para mim, tocando meu rosto com ambas as mãos com cuidado – O que aconteceu no Paraíso?

Nossos olhares permanecem envolvidos, e olhar no azul de seus olhos e em seu rosto me traz uma grande tranquilidade, em meio a tantos pensamentos.

Solto um suspiro, sabendo que não devo ocultar tudo que aconteceu – Muita coisa... Precisamos conversar.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top