Capítulo 30

3448 Palavras

De braços cruzados, me mantenho parado na varanda de casa com minhas costas escoradas no batente da porta da cozinha, observando a cidade sob o pesado véu da noite de hoje, em luzes que não rompem o ar soturno presente hoje. A gélida brisa noturna pode ser facilmente sentida, penetrando minha pele e envolvendo ser, mas o frio não me incomoda.

O silêncio da noite é rompido pelo canto de alguns insetos, e os ruídos do próprio vento que fazem com que a natureza ao redor inicie sua dança noturna e seu canto se espalhe ao redor, em uma melodia reproduzida somente pelo balançar das folhas.

Concentro-me na quietude da casa por alguns instantes, mas não me sinto confortável em desfrutar desse silêncio nesse momento. Um silêncio que, tantas outras vezes me fora agradável, agora não me atrai de forma alguma.

Ergo meu olhar ao céu nublado, acompanhando o vagaroso mover das nuvens, batucando um dedo no braço algumas vezes e pressionando o lábio com força.

Já faz um bom tempo desde que Mika pegou suas coisas e saiu às pressas para cumprir seu trabalho. Não esperava que, mesmo morando aqui, ela seguiria recebendo trabalhos do submundo. Eu imaginava que as barreiras em torno da casa conseguiriam ocultar a presença de Mika, e por consequência, ela não receberia novos trabalhos.

A aparição daquela orbe foi uma surpresa muito desagradável. Pelo jeito, mesmo as barreiras em torno dessa casa não conseguem esconder Mika daqueles que lideram o submundo. Eles ainda conseguem encontrá-la aqui.

E pela forma que ela reagiu quando disse precisar cumprir com esse novo trabalho, soube que era algo extremamente importante para ela. Não sei o motivo exato, apenas sei que é importante para ela cumprir com esse trabalho. Desde então, permaneci em casa apenas aguardando.

Mesmo não gostando da minha própria ideia, decidi dar uma hora para Mika cumprir com seu novo trabalho, e no fim dessa uma hora, caso ela ainda não houvesse terminado, eu iria até o local de seu trabalho para impedi-la.

Segundo as instruções que ouvi ela receber, seu trabalho se resume a coletar duas almas não muito longe daqui, e imaginei que uma hora seria tempo o suficiente para ela cumprir esse trabalho. Um trabalho aparentemente fácil, e também rápido. Com certeza ela terá terminado antes do prazo que dei.

Mas por que estou com essa sensação de que alguma coisa está errada?

O que é todo esse nervosismo?

Desde que Mika saiu, estive muito inquieto. Vim para fora de casa observar a cidade, mas por mais que eu tente não pensar a respeito, essa sensação vem crescendo em mim a cada instante. Parece haver alguma coisa muito errada nesta noite.

Não sei se isso é porque tomei a decisão de dar tempo para Mika cumprir com seu trabalho sem me mover daqui por uma hora. Pode até ser, nunca antes ocorreu de eu saber que almas humanas estavam para ser levadas, e eu simplesmente ficar parado de braços cruzados.

Sempre que soube que havia algo colocando as vidas humanas em perigo, não perdia um único segundo. Abria minhas asas e voava até o local para fazer algo a respeito, impedir que vidas fossem tomadas, proteger vidas humanas é meu trabalho. Essa é a primeira vez que fico no lugar, aguardando o tempo passar.

Talvez isso esteja causando tamanha estranheza em mim.

Mas mesmo assim, o nervosismo não passa de maneira alguma. Não sei o porquê disso, mas meus pensamentos gritam que existe alguma coisa muito errada, mas simplesmente não consigo sentir nada que justifique isso.

Não notei alteração alguma no vento, e nem senti algo diferente vindo da cidade. Ainda assim, meus instintos me alertam que alguma coisa está errada e algo pode estar acontecendo, e isso vem me incomodando já a bastante tempo.

Lanço meu olhar sobre o ombro, por mais uma vez buscando o relógio onde estou acompanhando as horas desde que Mika saiu. Passaram cerca de quarenta minutos, ainda restam mais vinte para esperar até finalmente poder agir.

Solto um suspiro, voltando minha atenção para a cidade, tendo meu corpo inteiro completamente tenso. Me desencosto do batente e caminho para longe de casa, passando as mãos pelo cabelo algumas vezes, quando por fim meus olhos vão ao céu.

Não quero mais ficar aqui esperando, cada parte do meu corpo quer deixar o chão e ir até onde Mika está o mais breve. Seja para impedir que cumpra seu trabalho, como também para ter a certeza de que nada está acontecendo e tudo não passa de pensamentos sem sentido.

Viro-me para casa, decidido a entrar e tentar me distrair com alguma coisa até o prazo se encerrar, seja com uma leitura ou qualquer coisa que seja, mas algo me faz esquecer essa ideia no mesmo instante.

Percebo que todo o chão está inteiramente coberto por uma densa camada de neblina, que surgiu de repente e sem qualquer explicação. Ela se espalhou por todos os lados, e me dou conta que a neblina também está cobrindo a cidade, que agora só pode ser identificada pelo brilho das luzes dos postes, e até mesmo parece ter invadido minha casa.

Imediatamente manifesto minhas asas e deixo o chão num pulo, alcançando uma grande altura num curto segundo, e correndo meus olhos de um lado ao outro, buscando qualquer coisa próxima que possa ser a causa disso.

Isso não é normal, se essa fosse uma neblina comum, certamente eu teria notado sua chegada vagarosa, mas isso não é normal. O que está acontecendo? Quem está causando isso?

Lanço meu olhar na direção da cidade por mais uma vez, tendo um sentimento de urgência crescendo em meu peito, e o nervosismo atingindo seu auge. Não posso mais ficar aqui parado!

Ignorando qualquer combinado que tenha feito ou qualquer tempo que ainda resta esperar, disparo em direção da cidade. É certo que os demais anjos também já notaram o que está acontecendo, e também já estão agindo para descobrir o que está havendo na cidade.

Por isso, eu preciso ser rápido.

Levo bem poucos minutos voando até estar próximo do local onde sei que Mika veio cumprir seu trabalho. Não é nem um pouco longe de casa, de carro é um trajeto rápido, voando é ainda mais rápido.

Percebo que conforme vou avançando, a névoa se torna cada vez mais densa, de forma que me encontro completamente mergulhado no denso nevoeiro, pálido, úmido e frio, onde mal consigo enxergar o que existe ao meu redor.

Olhando para os lados, não encontro casa alguma, e olhando para baixo, sequer consigo ver as ruas. A única iluminação presente agora provém do brilho das minhas asas e minha auréola.

Não conseguirei fazer isso voando, sequer consigo enxergar a rua. Tenho que voltar ao chão e continuar minha procura a pé.

Devagar volto ao chão, e assim que meus pés encontram o chão, me certifico de recolher minhas asas imediatamente, para não correr o risco de nenhum humano próximo me veja e acabe descobrindo que sou um anjo. Mas estando em meio a madrugada e com toda essa neblina, creio que isso seja difícil de acontecer.

Começo a caminhar apressado, percebendo que o único ruído que consigo ouvir nesse instante, são dos meus próprios passos. Parece até que não existe nada além de mim aqui.

Caminho por algumas ruas, tentando me orientar como posso pelo local, e buscando algum sinal da presença de Mika. Com as presentes condições, essa não é uma busca nem um pouco fácil, e na verdade, estou contando principalmente com o fato de Mika não ser muito discreta quando vai cumprir seus trabalhos, isso sempre facilita muito para encontrá-la.

Sei que, talvez, essa possa ser uma busca inútil. A essa altura ela pode já ter completado seu trabalho, e esteja a caminho do submundo para entregar as almas que coletou. Mas ainda assim, acredito que só consiga me acalmar e fazer com que todo o nervosismo desapareça de uma vez por todas quando me certificar por mim mesmo.

De repente, sinto uma outra presença próxima de mim, e então, outros passos além dos meus podem ser ouvidos no ar. Procuro com os olhos a origem desse som, e vejo que logo a frente, uma silhueta está se formando por entre a neblina, vindo na direção oposta a minha.

Percebo se tratar de um homem com traços de alguém não muito velho, vestido com roupas escuras e com incontáveis desfiados em todo o tecido de sua jaqueta sem mangas e calça. Seus cabelos estão bem desalinhados, e ele tem consigo muitos adornos, sendo esses algumas pequenas correntes em torno dos pulsos, pescoço e também presos na calça, além de brincos presos nas orelhas.

Em aparência, ele é completamente o oposto de mim. Suas vestes escuras, surradas, desalinhadas, e repletas de adornos, contrasta e muito com a forma como me visto, sendo minhas vestes um terno completamente branco, em roupas bem alinhadas e sem qualquer tipo de adorno presente em mim.

Não deixo de notar também que ele tem um cigarro na boca, e um olhar despreocupado e quase arrogante, junto de um sorriso presunçoso que transmite a mesma arrogância.

Percebo também as várias marcas de cicatrizes antigas presentes em seus braços, e marcas de queimaduras bem recentes em seu rosto.

O silêncio que, antes já era esmagador, agora parece muito maior do que antes, e em silêncio cruzamos um pelo outro, e franzindo a sobrancelha por um momento, me dou conta de algo, e imediatamente interrompo meu caminhar.

Poucos segundos depois, não escuto mais seus passos, e sei que ele também parou.

Mesmo sem me virar, já notei como o ar ficou muito mais pesado, e ao lançar meu olhar sobre o ombro, constato também a intensa agressividade emanada desse homem. Não resta dúvidas, ele veio do submundo.

Então, isso significa que eles já estão na cidade.

A figura está parada, me encarando com um sorriso presunçoso, e um olhar ardente, onde até tenho a impressão de enxergar chamas selvagens escondidas em seu interior.

Para tornar as coisas ainda mais difíceis, ele já notou que sou um anjo.

A hostilidade nesse momento é mútua, e a agressividade vinda dele é tão grande, que estou completamente em alerta, pois pressinto que ele poderá me atacar a qualquer momento. Meus olhos e meus instintos estão atentos a qualquer ação dele, um mínimo movimento não passa despercebido.

Ele solta um curto riso de deboche, retirando o cigarro da boca e logo soltando toda a fumaça ao alto, e acompanho cada movimento friamente. Ele então, me lança um cumprimento, tornando a colocar o cigarro na boca, e por fim voltando a caminhar.

Permaneço onde estou, observando ele se afastando até mergulhar na densa neblina e sua silhueta desaparecer. Seus passos ficam cada vez mais distantes, até que já não consigo mais ouvi-los. Com isso, volto a seguir pelo meu próprio caminho sem olhar para trás.

Não esperava que o submundo já houvesse enviado mais alguém para essa região. Isso é preocupante, e também muito problemático. As coisas estão ficando cada vez mais perigosas.

Mesmo sabendo de onde ele veio, não seria inteligente iniciar um confronto imediato. Não sei se existem outros escondidos nas proximidades, isso tornaria qualquer ação completamente arriscada, e também, esse não é o momento para lidar com ele. Tenho algo mais importante para me preocupar agora.

Sigo meu caminho pelas ruas em passos apressados, mas a neblina torna quase impossível qualquer busca. Até mesmo minha noção de tempo está incerta nesse instante, de maneira que não sei quanto tempo perdi vagando neste lugar sem encontrar nada.

Estou prestes a retornar para casa, quando percebo um carro bem familiar parado perto de onde estou, e me aproximando, me dou conta que é o carro de Mika.

Apertando os olhos, me aproximo devagar, atento a todos os ruídos próximos. Antes que eu possa investigar o carro, noto que uma casa próxima está com o portão aberto, muito diferente das outras casas próximas.

Se seu carro ainda está aqui, significa que ela ainda não terminou seu trabalho. Provavelmente Mika ainda está dentro dessa casa. Sabendo disso, avanço pelo corredor da casa, não ignorando o detalhe que a tranca por portão não foi forçada, mas sim derretida.

Assim que alcanço a porta entreaberta da sala, espio dentro por alguns segundos, notando como tudo muito quieto, e não existe bagunça aparente – Mika? – A chamo.

Não tenho resposta alguma.

Aperto os olhos e entro devagar na casa, olhando atentamente tudo a minha volta, pisando devagar para minimizar qualquer ruído que eu possa fazer. Se ocorrer algum barulho dentro dessa casa, quero estar atento o bastante para poder escutar.

Investigo os cômodos inferiores sem demora, não encontrando sinal algum de que Mika tenha passado por aqui. Tudo parece intocado, e tenho em mente que nada ocorreu por aqui.

Viro-me para a escada, observando como o andar superior está escuro, e tudo continua quieto. Quieto demais. Alguma coisa está errada.

Subo as escadas, e mal chego ao corredor, e sinto o estranho odor de queimado presente no ar. Além disso, em uma das portas logo a frente, uma iluminação irregular chama minha atenção, parece ser de alguma coisa que está se movendo.

Caminho até o quarto e, olhando dentro, o que encontro tira minha reação.

Sobre a cama vejo dois corpos completamente carbonizados com expressões de dor e desespero no que sobrou de seus rostos. Duas almas vagam sem rumo sobre eles, seguindo movimentos circulares pouco acima de seus antigos corpos...

E no canto do quarto, com as costas escoradas na parede e cabeça baixa, está Mika.

- Mika! – Grito ao vê-la caída, saltando rapidamente e me abaixando ao seu lado. Ela está desacordada, e sua respiração está muito fraca, quase inexistente.

Não me atrevo a tocá-la ao ver quantos machucados estão espalhados pelo seu corpo. Seu estado indica que ela entrou em confronto com alguém, mas o mais preocupante são várias queimaduras presentes em sua pele, principalmente em torno de seu pescoço.

O que aconteceu com você?

Assustado com seu estado e me sentindo desorientado, com cuidado ajeito meus braços em torno de seu corpo e a ergo do chão devagar, e sinto meu peito doer ao perceber Mika tremendo, seu rosto se contorce e um ela esboçando um fraco gemido de dor. Você estava acordada todo esse tempo?

- Calma Mika, eu sei que está doendo. – Sussurro tentando confortá-la de alguma forma, já caminhando para fora do quarto com o máximo de cuidado para não causar ainda mais dores a ela – Logo vai passar. Você vai ficar melhor, eu te prometo.

Mas o que posso fazer? Não consigo cuidar dela aqui, mas também não tenho certeza de onde posso levá-la para que possa se recuperar. A condição dela é séria, e não posso perder tempo, mas não sei o que posso fazer.

Nesse instante, algo me vem em mente. Lembro de algo que pode ser capaz de curar Mika.

Eu preciso levar ela de volta para casa, e preciso ser rápido.

Antes de sair do quarto, paro por um instante, e abrindo uma das minhas mãos, manifesto o brilho da minha graça por um instante, de forma que consigo atrair as duas almas para mim, e assim que elas se aproximam, as seguro com firmeza, e volto a fazer meu caminho para fora dessa casa.

Enquanto atravesso o corredor, abro minhas asas de imediato, e no exato instante que ponho meus pés para fora da casa, me lanço aos céus o mais rápido que consigo, não me importando com o barulho que posso ter causado, e também não me importando se existe alguém se aventurando nas ruas tão tarde da noite e com toda essa neblina. E caso tenha, duvido que irão acreditar se ele contar que viu o vulto de um anjo deixando uma casa e ascendendo aos céus.

Vão dizer que é um delírio causado pela neblina. Torço para que digam isso.

Firmando bem Mika em meus braços, tento ir para casa o mais rápido que posso. Duas coisas me passam em mente nesse instante.

Da mesma forma que quero escapar dos olhares humanos, quero passar despercebido dos demais anjos. Para isso eu até poderia usar o carro dela, mas o movimento de seu corpo no carro poderia lhe causar mais dor, e com certeza demoraria demais para chegar em casa, e tempo é o que não quero perder.

Poucos minutos são necessários para atravessar os céus e chegar em casa. Demorei mais do que queria por causa da neblina que ficou ainda mais espessa, criando uma grande parede pálida que se espalha por todos os lados, e mesmo tendo feito esse trajeto por tantas vezes, tive certa dificuldade em encontrar minha casa.

Tocando o chão da varanda, abro a porta da cozinha e empurro com o corpo, caminhando com pressa para meu quarto, soltando as duas almas assim que alcanço o corredor.

Abro a porta do meu quarto, encontrando a aura dourada pairando silenciosa ao centro do quarto. Olho para Mika uma última vez, e caminho até a aura.

Ela se expande devagar, envolvendo nossos corpos aos poucos, e posso sentir seu calor acolhedor nos abraçando. Tenho meu corpo levemente erguido e puxado ao interior da aura, quando ela finalmente se fecha ao nosso redor como se nos acolhesse em todas as formas.

Abro minhas asas e firmo Mika em meus braços, mantendo meus olhos sobre si. Nesse instante, cada parte de mim torce em expectativa de que dê certo, e principalmente que Mika desperte logo.

*****

Encosto a porta do carro, e em passos nada demorados, fecho o portão de casa, olhando para o céu por um momento.

Apesar de ainda ser bem cedo, está um dia claro e bem quente, o sol brilha no céu em toda sua intensidade e resplendor, e encontro pouquíssimas nuvens no alto.

Solto um suspiro e entro em casa, sendo recebido pelo profundo silêncio.

Sempre fui recebido pelo silêncio nos últimos anos, mas por que somente agora, ele parece incomodar tanto assim?

Todo o silêncio me transmite um estranho e muito desagradável sentimento de que está faltando algo, e é algo importante.

De certo modo, sei o que é esse algo, e realmente está fazendo falta.

Deixo algumas coisas que comprei ajeitadas sobre o sofá, e subo ao meu quarto, o qual deixei a porta entreaberta antes de sair.

Ao entrar, vejo Mika ainda adormecida em meio a aura, continuando sua recuperação.

Já fazem quatro dias desde que a encontrei naquela casa.

Hoje, seu corpo já está visivelmente recuperado, e não existe mais vestígio algum das várias marcas de queimaduras de dias atrás. Mas ainda assim, ela não despertou em nenhum momento. Não sei o quão profundos foram seus machucados, e por isso, não sei quanto tempo levará até que esteja completamente recuperada.

Em passos lentos me aproximo dela, e com minha aproximação, a aura reage, expandindo seu tamanho a ponto de conseguir abraçar meu corpo e, aos poucos, me fazer levitar até seu interior.

Parando frente a Mika, toco seu rosto com cuidado, e a observo. Apesar de tudo, seu semblante continua tão leve que aparenta estar mergulhada em um leve sono, e nada mais que isso.

Um sono que desejo que ela acorde logo.

Percebo Mika reagindo baixinho, não mais em sinais de dor. Ela parece resmungar de um jeito manhoso.

Suas sobrancelhas contraem, e ela se mexe bem pouco – Klauss... – A ouço chamar bem baixinho.

- Mika? – Sussurro a chamando, olhando a ela fixamente e passando os dedos pelo seu rosto com cuidado e carinho – Ei, está acordada?

Ela não responde, permanecendo adormecida da mesma forma de quando entrei no quarto. Aguardo por algum tempo, mas ela permanece como está.

Solto um suspiro baixinho, passando uma mão pelo seu cabelo em um lento carinho, parando a mão em sua bochecha. Me aproximo devagar, a ponto do meu rosto quase tocar o seu, e com pesar, fecho meus olhos, tocando minha testa na sua, permanecendo dessa maneira.

Por favor, acorde logo.

Começo a me afastar dela, sem desviar meus olhos dela nem por um momento. Tenho meu corpo descendo devagar e logo meus pés tocam o chão, mas ainda assim, meus olhos estão nela, e dessa forma permaneço por algum tempo.

Devagar baixo meu olhar ao chão, me repreendendo por ter esperado por tanto tempo naquela noite ao invés de ter saído antes. Com isso, viro sobre os pés e caminho para fora do quarto.

- Klauss...? – Ouço atrás de mim e interrompo meu passo.

Fico com dúvidas se realmente ouvi algo, ou se foi minha mente me enganando. Mesmo assim, lanço meu olhar sobre o ombro, notando um olhar singelo e bastante confuso voltado a mim.

Mika finalmente acordou.

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