Capítulo 24

− Preciso de falar contigo – digo ao Matias, assim que o consigo alcançar no corredor que vai dar aos quartos dos rapazes.

Nestes últimos dias tenho estado sempre à procura da oportunidade perfeita para falar com o Matias. No entanto, parecia que essa oportunidade nunca iria chegar. Sempre que o via, ele estava ou num lugar repleto de pessoas ou com o seu amigo inseparável, o Leandro.

Como é óbvio, para pedir o favor de que precisava, ele tinha que estar completamente sozinho, e este parecia ser o momento ideal para isso.

− Eu sabia que este dia ia chegar – comenta o Matias com um sorriso matreiro no rosto.

− Como assim?

− Então, o dia em que serias tu a andar atrás de mim e não o contrário.

− Quero que me faças um favor – peço, indo direta ao assunto.

Não posso perder muito tempo. A qualquer altura pode aparecer alguém no corredor e ouvir a nossa conversa, e quanto mais tempo passa, maior é a probabilidade de isso acontecer.

− Ruivinha, tu sabes que eu faço qualquer coisa por ti. Considera-o feito.

− Ainda bem − digo com um sorriso de vitória nos lábios. Agora vai ser muito mais difícil de ele se recusar a fazer o que eu lhe quero pedir. – Preciso que me tragas do laboratório de saúde alguns produtos de higiene.

− Como?! – pergunta atónito. – Porquê?

− Não é óbvio? – remexo alguns dos caracóis do meu cabelo ruivo indomável. – O meu cabelo dá cá um trabalho! Com mais produtos seria mais fácil, sem ter de os partilhar com ninguém e sem dar satisfações da quantidade que gasto com o meu cabelo. Mas é claro que seria muito discreta a usá-los, ninguém ficaria a saber que os tinha. Era um sonho para mim! – Não é propriamente mentira, penso.

− Bom, eu gostava de realizar esse teu sonho, mas... − hesita. Sei que está com dúvidas, contudo sei que o Matias não me vai fazer essa desfeita. Neste momento, tenho o Matias nas minhas mãos.

− Não me digas que não consegues tirar esses produtos sem que ninguém veja. Pensava que gostavas de desafios...

− É claro que... Eu consigo! Podes contar comigo. Eu arranjo-te esses produtos e ninguém vai dar por nada. Contudo, para tos entregar, preciso de ir ao teu quarto, quando não estiver lá ninguém... − sugere com um tom provocador.

Não tinha pensado nisso, mas é, de facto, o mais seguro.

No entanto, a ideia de ter um rapaz no meu quarto assusta-me ligeiramente. E as regras são claras, nenhum rapaz pode entrar no quarto das raparigas ou vice-versa.

Mas porque haverei eu de me importar com as regras? Já quebrei tantas! Mais uma não vai fazer diferença.

− Tudo bem. Amanhã, assim que saíres do laboratório vem diretamente para o meu quarto. As minhas colegas de quarto só costumam voltar depois do jantar.

− Isso, sim, vai ser uma bela de uma recompensa!

− É apenas um quarto, não é diferente de todos os outros.

− E quem disse que é no quarto que eu estou interessado – declara voltando-me costas e deixando-me sozinha no corredor.

Não gostei nada do que ele disse, mas sei que com o Matias é tranquilo. Ele gosta muito de dizer umas piadas e umas frases de engate, que aprendeu, de certo, com o Leandro, contudo não passa disso. Ele nunca seria capaz de fazer nada que eu não quisesse. Porém, tenho de admitir que as suas últimas palavras não me saem da cabeça. Ouço-as, repetidamente, tentando analisar e perceber se existe algum sinal de perigo.

Um rapaz passa por mim e lembro-me, de repente, de que continuo no mesmo corredor de há pouco. Exatamente na mesma posição em que o Matias me viu quando me lançou aquele último olhar, seguido daquelas palavras, que não me pareceram as mais adequadas. Aquelas palavras que não me saem da cabeça, nem quando recupero a consciência e começo a andar em direção à grande sala central.

Palavras, não passam disso. Eu já aprendi que não devo ligar muito ao que o Matias me diz. Mais de metade são mentiras ou disparates.

Ao entrar na grande sala central, vejo o Salvador encostado ao quadro digital preto, onde costumo afixar os comunicados da enfermaria, e de braços cruzados. Rígido e imóvel como se de uma estátua se tratasse. Com a mesma postura das estátuas de cariz religioso que adornam a pequena capela da nave.

Quando encontra os meus olhos, pisca-me o olho e segue em direção ao piso inferior da nave. Sem sorrir, sem descontrair os músculos. Simplesmente frio.

Sigo-o imediatamente, ao ver que mais ninguém se encontra na sala. Mas se mais ninguém se encontra aqui, porque estava ele com aquela postura? Pensava que já se tinha habituado a mim, que comigo ele podia ser verdadeiro e humano. Talvez me tivesse enganado... Ou será que fiz alguma coisa de errado?

O que quererá ele falar comigo? Porque me terá chamado a esta hora? Nós nunca descemos lá abaixo depois do jantar, é demasiado arriscado. São muitas as pessoas que andam a deambular na nave, sem nada que fazer, a esta hora do dia.

Não vale a pena estar a sofrer de antecipação, daqui a alguns segundos vou saber o que ele quer.

Desço as escadas e sigo-o através dos corredores estreitos e escuros a que já me habituei.

De repente, vejo-o parar e dirigir-se a mim, encurtando a distância que nos separava.

Apesar de não o conseguir ver muito bem, vejo os seus contornos a apenas alguns centímetros de mim e sinto a sua respiração ofegante, como se tivesse estado a correr. O seu corpo emana um calor e um cheiro tão agradável, tão reconfortante, que, por momentos, desejo tê-lo ainda mais perto de mim.

Anseio pelo seu toque, mas ele não chega. É apenas a sua voz fria e rígida que chega a mim, como um golpe repentino, que me traz violentamente para a realidade do corredor estreito e escuro.

− Porque foste atrás do Matias depois do jantar?

Então é disso que se trata. Como é que não adivinhei?!

− Tu sabes porquê. Eu tinha-te dito.

− Pensei que tinhas mudado de ideias. Passaram-se dias depois da nossa conversa...

− Só agora consegui estar a sós com o Matias. – Vejo os contornos do seu corpo a afastarem-se ligeiramente de mim. Como se a curta distância entre nós fosse insuportável. Doesse de alguma forma. Ou terão sido as minhas palavras? De qualquer das formas, não gosto do gesto, magoa-me mais do que as palavras frias que me dirige.

− Ele aceitou − continuo ao recuperar do choque do seu afastamento. – O Matias vai ajudar-nos. Amanhã antes do jantar ele vai até ao meu quarto para me dar os produtos de higiene.

− Como?! Tu e ele sozinhos no teu quarto?! – Pergunta com um tom de voz alterado.

Raiva? Espanto? Incredulidade? Porque é que nunca consigo perceber as suas emoções? Sinto, contundo, um certo tom de acusação na sua voz.

− Sim. Qual é o mal?

Ele próprio quebra inúmeras regras, não pode estar a recriminar-me por isso.

− Essa tua ingenuidade... − Percebo que passa a mão, nervosamente, pelo cabelo. – Aurora, tu não podes estar sozinha com um rapaz no teu quarto!

− E tu não podes roubar medicamentos da enfermaria. Nem roubar água da nave. Nem roubar alimentos! Se tu podes quebrar regras, eu também posso!

− Não se tratam das estúpidas regras da comunidade! – o seu tom aumenta cada vez mais e é notória uma certa irritação. – Não percebes que é isso que ele quer! É claro que ele vai roubar os produtos, porque vai ganhar uma coisa demasiado tentadora em troca... − fala como se estas últimas palavras doessem só de as proferir.

− Eu não sou nenhuma parva, ok? Eu sei o que vem à ideia do Matias quando pensa em nós dois juntos num quarto. Acontece que são necessários dois para se dançar a valsa! – grito já exasperada com as suas insinuações.

− E tu não queres? – pergunta o Salvador quase num sussurro.

Sinto-o imobilizar novamente, quase não o distinguido entre a escuridão do local. Tem os músculos contraídos, expectante por uma resposta.

Fico em silêncio. Não por ter dúvidas numa resposta que é clara como a água para mim. Não por o querer ver a sofrer naquela posição de esforço. Não por achar que a resposta é óbvia, que por acaso até pensava que era. Mas, sim, por não estar à espera de uma pergunta destas vinda dele.

Já tivemos uma conversa parecida anteriormente. Pensava que tinha ficado claro que eu não quero nada com o Matias. Será que ele pensa que lhe menti? Será que pensa que os sentimentos mudam numa questão de míseros dias? Ou será que pensa que eu sou como a Olívia, que anda de quarto em quarto, de rapaz em rapaz?

− Não – o corpo do Salvador relaxa ao ouvir a minha voz e vejo-o novamente a mexer-se levemente entre a escuridão. Por momentos, questiono-me se terá sido a minha voz que surtiu tal efeito ou se a resposta que dei. − É claro que não.

− Anda, vamos para a sala secreta um pouco – diz, num tom de voz tranquilo, recomeçando a andar e desaparecendo rapidamente entre a escuridão.

Confusa ainda com a conversa que acabámos de ter apresso-me a seguir atrás do Salvador. Não com medo de me perder naqueles corredores, que já me são tão familiares, mas por querer estar o mais perto possível dele.

Assim que volto a conseguir distinguir a sua silhueta entre a escuridão, toda a confusão se dissipa, e a única coisa em que penso é o quanto o seu corpo já esteve perto do meu.



− Tu gostas muito dele, não é verdade? – pergunta a Ângela, que está sentada ao meu lado num dos colchões, trazendo-me de volta para junto dela.

Confesso que estava completamente fixada no Salvador, que tenta adormecer as 5 crianças da sala, contando-lhes uma história que não sei do que se trata, visto estar um pouco longe deles. Contudo, não é o facto de não saber o conteúdo da história que me está a despertar a atenção para eles, mas antes a cena em si.

Quem diria que o Salvador podia ser tão meigo e ter tanto jeito para as crianças?

Se eu contasse isso a qualquer uma das pessoas da comunidade, iriam pensar que lhes estava a mentir. A pessoa fria e rígida que conhecem não combina com esta pessoa carinhosa e meiga. Eu própria, em tempos, duvidaria disso se me viessem contar, mas começo a acreditar cada vez mais nesta versão do Salvador. E, à medida que o vou conhecendo cada vez melhor, mais difícil é de me afastar dele. Mais difícil é de pensar nele e não sorrir.

− Sim, é verdade – confesso. Não tenho como mentir perante uma mulher que já viveu tanto. E não quero mentir. – Ele é uma boa pessoa, um bom amigo.

− Ambas sabemos que é um pouco mais do que isso – afirma, fitando-me com os seus olhos negros sem vida, uma vida apagada pelas circunstâncias, não pelo tempo. Sempre que me olham, sinto-me tentada a afastar o olhar, a fugir da rede de sofrimento contida neles. – Mas não vou insistir. Cada um sabe o que faz aos seus próprios sentimentos. Embora tenha que dizer que esconder dos outros o que sentimos não é mau, mau é quando escondemos o que sentimos de nós próprios.

A Ângela surpreende-me sempre. A sua experiência, a sua astucia, a sua capacidade de dizer exatamente o que precisamos de ouvir, mesmo que não o queiramos. Mesmo que as suas palavras nos deixem inquietos pensamentos.

Eu sei que sinto alguma coisa de diferente pelo Salvador, disso já me dei conta. Mas a insegurança, a incerteza, não me deixam ver para além disso. Por enquanto, são suficientes os momentos que tenho com o Salvador. Apesar de, por vezes, todo o meu corpo e alma pedirem algo mais dele, que nunca chegam a receber.

− Confesso que nunca pensei que te viesse a conhecer um dia.

− Como assim, Ângela? Ouviu falar de mim antes de me conhecer? O Salvador falou-lhe de mim? – pergunto-lhe confusa, mas, acima de tudo, extremamente curiosa.

− Não, não foi ele. Foi a tua bisavó.

Ouvi mal. Só posso estar a ouvir mal. Isto não é possível, ou é?

− É verdade − confirma a Ângela ao ver a confusão que estou a sentir espelhada no meu rosto. – A tua bisavó esteve aqui, nesta mesma sala, algumas vezes. Inclusivamente, já esteve sentada nesse mesmo lugar que ocupas agora.

− Mas isso não é possível! Ela não pode ter-vos conhecido. Se o tivesse feito, ela ter-me-ia contado.

− Tu não contaste da nossa existência a ninguém, pois não? Porque haveria ela de o ter feito? Jurou-nos guardar segredo, tal como tu o fizeste.

− Mas eu pensava...Pensava que a minha bisavó fosse um livro aberto, que me contasse todos os segredos que tinha.

− Há segredos que não nos pertencem. Segredos que não temos o direito de espalhar por aí. Mais importante ainda, segredos que, por vezes, é mais seguro guardar para nós próprias.

Aceno com a cabeça, tristemente. Não posso não concordar. Eu própria o tenho feito inúmeras vezes. Tenho guardado segredos. Segredos que não me pertencem. Segredos que envolvem demasiados riscos, se descobertos.

− A tua bisavó veio dar um novo animo à sala. Chegou como uma estranha, mas rapidamente conseguiu encantar todos os presentes com as suas histórias tão reais e, ao mesmo tempo, tão fantasiosas para aqueles que nunca chegaram a conhecer o nosso planeta. Essa semelhança ligou-nos imediatamente. Tanto eu como ela tínhamos vívido nesse planeta que ninguém, para além de nós, tinha visto. Mas não se tratava apenas das histórias, e, sim, da alma que as contava, do coração que as sentia. A tua bisavó tinha um coração puro, e quando ela me dizia que a sua bisneta tinha um coração ainda mais puro, eu duvidava. Não podia ser possível. Mas, há medida que o tempo passa, começo a ver aquilo que ela também via em ti, e que um dia tu também verás.

Lágrimas começam a percorrer suavemente o meu rosto.

A tristeza molha-me a face. Uma tristeza profunda, que pensava já não poder encontrar novamente.

Contudo, a perda tem destas coisas, principalmente quando é uma perda irreversível. O sentimento torna-se eterno. Podemos ir enterrando-o, guardando-o num local cada vez mais longínquo, cada vez mais afastado da nossa consciência, porém nunca sai de dentro de nós. Torna-se mais fraco, mais ténue, mas nunca inexistente. E, por vezes, uma simples memória, um simples toque, uma simples palavra, podem ter a força suficiente para o trazer de novo à superfície, como se a dor tivesse sido causada neste momento, e o tempo tivesse sido apagado.

− Temos de ir, Aurora – anuncia o Salvador ao aproximar-se de nós.

Levanto-me quando ele já se encontra a uns dois passos do colchão onde eu e a Ângela nos encontramos sentadas.

− Estás a chorar?! Porque é que estás assim? – questiona-me preocupado, ao fitar os meus olhos azuis que devem estar mais cristalinos do que nunca graças às lágrimas que parecem não ter fim.

− É apenas a saudade − respondo correndo para os seus braços à procura de conforto.

Abraço-o fortemente, colocando os meus braços à volta do seu tronco e a minha cabeça pousada no seu peito, com a sua t-shirt branca a enxugar-me as lágrimas. Em resposta, ele coloca, rapidamente, os seus braços fortes em volta do meu corpo frágil, amparando-me.

As lágrimas cessam ao sentir-me protegida. Ao ouvir o seu acelerado batimento de coração tão perto de mim, ao sentir o seu odor mais intenso do que nunca, ao sentir a sua respiração no topo dos meus cabelos, ao sentir a pressão do seu corpo quente contra o meu.

Ia quase jurar que os nossos corações batem exatamente à mesma velocidade, exatamente ao mesmo ritmo. Como se, neste momento, se revessem um no outro, se assemelhassem mais do que nunca.

− Estás melhor? – interroga o Salvador afastando-se ligeiramente de mim, para me olhar nos olhos.

Queria pedir para ele não o fazer, para ele continuar a abraçar-me. Queria continuar a senti-lo perto de mim. Queria que este momento durasse eternamente. Podia mentir-lhe e dizer que não, que não estava melhor, que continuava a precisar do seu abraço. No entanto, não tenho coragem para admitir esta minha estranha necessidade e limito-me a acenar a cabeça em resposta à sua pergunta.

Depois do Salvador se assegurar de que eu estou mesmo bem, analisando-me o rosto por mais alguns segundos, agarra-me na mão, o que faz o meu coração voltar a disparar, e leva-me para fora daquela sala, em que quase todos os olhos estavam bem despertos e atentos a nós.

− O que é que a Ângela te disse? – Pergunta-me o Salvador assim que a porta se fecha atrás de nós.

E cá estamos nós cercados, novamente, pela escuridão de há pouco, penso.

− Tu sabias que a minha bisavó também conhecia este sítio e estas pessoas, não sabias? Porque é que não me disseste nada? – pergunto sem conseguir esconder a desilusão que sinto.

− Simplesmente pensei... − sussurra quase impercetivelmente, como se lhe tivesse sido sogada quase toda a força do corpo. Como se não tivesse energia nem para estar de pé, quanto mais falar. − Pensei que te estaria a poupar de um sofrimento desnecessário.

− Não o devias ter feito. Eu não sou tão frágil quanto aparento. – Ok, talvez seja um pouco mais frágil do que quero admitir, penso ao lembrar-me das lágrimas quase infindáveis de há pouco. – De qualquer das formas, eu tinha o direito de saber.

− Tens razão. Desculpa.

Sinto a mágoa na sua voz. Sei que está arrependido. Tenho vontade de o abraçar, confortar, de lhe dizer que está tudo bem, que não tenho como ficar chateada com ele por causa disto. Quase o faço, mas, de repente, um pensamento inquietante paralisa-me os músculos.

− Como é que ela descobriu? Como é que a minha bisavó veio aqui parar?

− Acho que foi pura sorte. Ela andava a deambular pelo piso inferior e acabou por esbarrar comigo aqui à porta. Coisas do destino... Uma grande coincidência: bisavó e bisneta descobrirem um segredo, que até agora, mais ninguém descobriu.

− Quando é que isso aconteceu? Por quanto tempo teve de esconder ela a verdade?

− Não muito... − Apesar de só distinguir os seus contornos, consigo ver o seu corpo a ficar repentinamente estático e rígido. – A tua bisavó morreu duas semanas depois de ter conhecido a sala secreta.

A menção da morte da minha bisavó faz-me estremecer, sentir um aperto no peito. Tornar-me, novamente, consciente do vazio que deixou em mim quando partiu de um momento para o outro, há 3 anos atrás. Rutura de um aneurisma cerebral, disseram os médicos. Eu não acreditei. Só quando a vi, deitada, imóvel e fria, numa das camas do centro médico, percebi que nunca mais a iria ver, nunca mais ia ouvir a sua voz, e que ela nunca mais me iria envolver ternamente nos seus braços.

Uma lágrima, solitária, desce pela minha face.

Ainda bem que está escuro, penso. O que iria o Salvador pensar se me visse novamente de rosto molhado?

Subtilmente, levo a mão à cara para tentar apagar o rasto da lágrima. Infelizmente, o gesto não faz com que os pensamentos, que lhe deram origem, desapareçam.

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