[3] Através de livros
Eu não vou me livrar do espelho, mas isso não significa que eu darei ao Jimin o gostinho de me assustar ou de me convencer a ajudá-lo. Portanto, temporariamente não entrarei naquele quarto.
Decidi buscar ajuda no lugar mais óbvio que qualquer ser humano, na minha situação, iria: a igreja.
Brincadeira.
Sentei no sofá da sala, pus meus óculos redondos no rosto, abri o notebook e fui até a aba de pesquisa. Sim, eu iria pesquisar na internet como me livrar de um bruxo preso em um espelho ou ao menos, puxar a ficha criminal do velhinho que me vendeu o espelho.
Se tudo der errado, vou até a igreja mais próxima procurar por um grupo de apoio, quem sabe eu não encontro "anônimos perseguidos pelo diabo."
Os primeiros resultados da pesquisa foram recomendações de livros e da minha própria editora, por sinal, ótimo trabalho do setor de marketing, mas não vou elogiá-los. Se até a minha situação está escrita em livros porque não duvidar da minha sanidade mental.
Desisti de procurar e fui direto ao site da polícia de Seul. Busquei em diversas categorias de crimes com gravidades diferentes e achei pessoas muito parecidas com o velho, mas nunca o próprio.
Minhas vistas já estavam cansadas e minha coluna implorava por um descanso. Decidi dar uma breve pausa, indo até a cozinha buscar um copo de água. Encarando fixamente a geladeira, eu pensei no que o protagonista de algum livro faria no meu lugar e minha mente se iluminou.
É isso, livros.
Não existe lugar melhor de pesquisa que não seja no universo literário onde há situações fictícias que podem ajudar a minha realidade.
— Jungkook, vão me levar. Por favor, me ajude! — Me assustei com a gritaria do bruxinho vindo do andar de cima. — Jungkook, socorro!
— Mas que porra... — Demorei alguns segundos para assimilar antes de sair correndo.
Subi os degraus de dois em dois, sentia que meu coração iria a qualquer momento saltar do peito e vez ou outra ele falhava algumas batidas.
Parei diante da porta de madeira entreaberta e nem se quer cogitei entrar. Lá no fundo eu queria que o levassem e minha vida voltasse ao sossego. Porém, eu queria isso mesmo?
O suor escorria pelas minhas têmporas, mãos e costas. Novamente meu coração errou algumas batidas e finalmente empurrei a porta com toda a força. E estava tudo...
Vazio.
O espelho continuava no mesmo lugar, intacto.
Jimin surgiu no espelho e sua gargalhada alta alcançou meus ouvidos. Ele estava rindo... rindo do bobão aqui que subiu para salvá-lo de algo que não estava acontecendo.
— Você se preocupa comigo. — O moreno sorriu.
Dessa vez ele trajava um terno verde de camurça bem alinhado ao seu corpo com uma echarpe da mesma cor e os mesmos colares de pedras coloridas enfeitavam sua camisa branca de cetim.
Por que ele sempre se vestia como o chapeleiro maluco?
— É claro que não. — Respondi rispidamente ainda me recuperando da corrida.
— Não foi uma pergunta, eu estava afirmando. — Sorriu ladino e cruzou os braços na altura do peito.
— Meus sinceros, vai se foder. — Mostrei o dedo do meio. — E nunca mais me assuste dessa forma.
— Olha que eu quebro esse seu dedo com magia. — Apontou o dedo para mim.
Revirei os olhos e fui até a estante procurar algum livro que eu pudesse usar como pesquisa.
— O que está procurando? — Jimin perguntou.
— Meu Deus, como você é enxerido. — Bufei. — Não te interessa, Park Jimin. — Voltei a me concentrar na estante.
— Você sabe que só é me perguntar qualquer coisa que queira saber, né? — O bruxo começou a batucar seus dedos na borda do espelho.
— Não quero nada de você. — Puxei um livro que nunca havia visto na minha estante.
O livro era todo azul, exceto por sua lombada prata e na capa havia escrito em dourado: Tria speculis mortis.
Esquisito, não me recordo de ter o comprado ou ganhado e eu tenho uma ótima memória.
Folheei o livro rapidamente já que não havia sinopse, entendi apenas algumas palavras desconexas e encontrei uma espécie de mapa quase que apagado no meio do mesmo.
— Você sabia que no meu reino não se pode brincar com qualquer livro que se acha por aí? — Voltei meu olhar ao espelho e Jimin estava sentado em uma cadeira de madeira acolchoada e seus pés apoiados em algum móvel dentro do espelho.
— Por que? — Puxei uma cadeira até a frente do espelho e me sentei cruzando as pernas, apoiando o livro em meu colo.
— É um reino de bruxos e criaturas diversas, você pode acabar lendo um ritual para invocar um demônio sem saber. — Jimin me fitou seriamente. — Não se brinca com o que não conhece.
Soou mais como uma advertência do que como uma informação banal. Porém, não estamos no reino de Jimin e meus livros não contém rituais de invocação, então tudo tranquilo.
— Não pense que só porque não estamos no meu reino que nada irá lhe acontecer. O demônio dos traumas foi um exemplo quase fatídico disso. — O moreno descruzou as pernas. — Se quiser sobreviver após ter me conhecido, precisa andar sob minhas regras.
— Silêncio bruxinho, você fala demais. — Levantei e saí deixando-o sozinho.
Não tenho privacidade dentro da minha própria casa. É complicado, viu.
Caminhei lentamente até a sala, folheando novamente algumas páginas do livro. Essa falta de atenção ao caminho quase me levou a cair da escada, ou melhor, tive a sensação de ser empurrado e como pode ser uma das pirraças de Jimin, não me importei.
Confirmei o que eu já havia deduzido: o livro está em um idioma desconhecido por mim.
As palavras desconexas na verdade fazem parte de outra língua e agora terei o trabalho de traduzi-la, mas como não quero ficar com essa parte chata, irei solicitar ao setor de tradução da empresa que faça isso para mim. É lógico que farei discretamente, pedindo diretamente a Seokjin e Namjoon, amigos próximos do Taehyung que atuam no setor.
Liguei imediatamente para Seokjin e como o departamento é bem ocupado, tentarei agendar um horário com ele para tratar sobre isso. Não que eu precise dar justificativas.
— Eu já falei que eu não quero assinar nenhum plano da porra dessa operadora. — Seokjin atendeu.
— Jin, é o Jungkook. — Revirei os olhos.
— Jungkook?! — Gritou surpreso. — Meu Deus, me desculpe. — Ao fundo Namjoon sussurrava algo e risos atravessavam a fala de Jin.
— É muito bom saber que você atende o telefone empresarial dessa forma. Se eu fosse um investidor desistiria de qualquer possível acordo. — Disse irônico. Não era bem um sermão, estava mais para um sermão brincalhão.
— Ah, qual é! não é possível que nenhuma operadora ou número de outro país te liguem.
— É, eles fazem. — Sorri divertido. — Enfim, eu liguei para saber se você tem um tempo disponível amanhã.
— Eu nunca tenho tempo disponível, mas para você haverá uma exceção, ou melhor, uma promoção: uma hora de conversa equivale a café e pão doce para o setor inteiro.
— Mas que sem vergonha... — Dentro da minha própria empresa eu necessito pagar para ter uma reunião. É o preço do capitalismo. — Amanhã, às três. — Ao fundo eu pude ouvir as comemorações e a voz de Namjoon pedindo que fizessem silêncio.
— Foi muito bom negociar com você, Jungkook. — Falou divertido. — Até amanhã.
Eu amo conversar pessoalmente com as pessoas, trocar mensagens requer uma grande interpretação para adivinhar o contexto, entonação, gírias, etc.
Por isso, frequentemente opto por ligações apesar de não ser tão fã delas.
Depois de resolver todas as minhas pendências, senti como se estivesse sob efeito de um sonífero, o sofá se tornou muito aconchegante e minhas pálpebras pesaram em poucos segundos. O maior dos problemas foi acordar tempos depois e não estar em casa, muito menos na empresa.
Eu estava caído em uma floresta, à minha frente havia uma grande vila e muitas pessoas passeavam pela mesma, ou melhor, muitas criaturas.
Levantei atordoado e fui em busca de informações. Avistei uma barraca de madeira com um arco de galhos e flores vermelhas ornando-a, pendurada na mesma havia uma placa escrito: prosin-moliuns.
Meu Deus, onde é que eu tô.
— Puta que pariu, que susto do caralho! — Uma espécie de burro com asas vermelhas aproximou-se da bancada da barraca.
— Você cheira a humano. — Levantou uma das mechas do meu cabelo com uma das patas. — O que faz aqui?
— Uma das explicações seria estar sob efeito de drogas pesadas, mas caso não seja, então eu não sei. — Olhei ao redor nervoso e preocupado. — Inclusive, onde eu estou? — Uma brisa suave bagunçou alguns dos fios presos em minha testa.
— Você está no reino de Alfather, meu caro humano. — Congelei. — Um reino onde se encontra a felicidade na magia e nas criaturas que aqui habitam. — O burro sorriu.
O reino de Jimin.
Como eu vim parar aqui?
⊱✙⊰
[Caixinha para depositar sua opinião/teoria sobre o capítulo]
Tria speculis mortis = Os Três Espelhos da Morte
Prosin-moliuns = Linguagem de Alfather e será explicado futuramente.
olá, minha gente! não sei bem com que cara eu apareço aqui depois de um tempinhokk
me desculpem :( eu tive tantas idéias de como prosseguir esse terceiro cap, mas ao mesmo tempo nenhuma delas me agradava.
de qualquer forma eu consegui desandar e o próximo cap tem tour por alfather com coisas legais e reveladoras.
o jk solto em Alfather, socorro! vamos fazer um bolão pra ver quanto tempo ele dura sem ser decapitado por tratar alguém de forma rude? chuto um dia e meio.
enfim, não se esqueçam de votar, se cuidem, um beijão na boca e até a próxima!🌷
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top