Sons e Enganos: O Encontro Inesperado
Jisung ergueu a pilha de papéis de sua escrivaninha quando a porta do apartamento foi destrancada e fechada com um estrondo, indicando que seu companheiro com quem dividia o aluguel chegara.
Saiu do quarto para ver Felix jogado no sofá, esparramado de barriga para baixo. Ele estava claramente cansado devido à intensa semana na academia de dança, onde trabalhava como professor. Os cabelos claros de Felix estavam desgrenhados e ele esfregava os olhos com as costas das mãos, tentando afastar o cansaço.
Os dois dividiam o apartamento há três anos, mesmo que sua amizade fora estabelecida desde o ensino fundamental e agora eles já eram adultos quase formados. O aniversário dos dois estava se aproximando e para a surpresa de ambos quando se conheceram, eles faziam aniversário com um dia de diferença. Por isso sempre combinavam a comemoração.
Lee Felix foi o primeiro a alugar o apartamento após terminar o ensino médio, a fim de diminuir os custos, fez o convite para o melhor amigo se juntar a ele. Então, três anos se passaram e eles ainda dividiam o aluguel e saíam juntos, tendo como resultado vários questionamentos sobre a relação deles.
“Amigos ou namorados?”
O loiro já havia beijado Jisung em um dos seus surtos de beijoqueiro quando estava bêbado, mas claro que houve outras ocasiões. Não tinham um relacionamento de amizade colorida nem nada do tipo, mas Felix adorava beijar seu melhor amigo. Embora Han fugisse dos seus lábios como um gato com medo d’água.
Na verdade, a dinâmica entre eles era um verdadeiro quebra-cabeça para todos que estavam ao redor. Enquanto Felix não hesitava em mostrar seu afeto de forma física, Jisung mantinha uma distância cautelosa, evitando situações que levassem a mais do que uma amizade convencional. Era um jogo delicado de equilíbrio, onde as emoções de Felix eram tão transparentes quanto o vidro, enquanto Jisung mantinha suas inseguranças escondidas nas sombras de seu sorriso sempre presente.
Vendo o amigo se acomodar no sofá, Jisung reclamou:
— Eca, você está sujando o sofá de suor. — O rapaz se mexeu novamente, agarrando a almofada para jogar contra o outro, porém a fraqueza logo o abateu e o fez desistir. — Você está realmente detonado. O que aconteceu? Hyunjin pegou tão pesado assim?
Felix gemeu frustrado, recordando o ensaio com o seu colega de trabalho. Hwang Hyunjin era um péssimo professor. Ele esbanjava sorrisos, que para Yongbok eram falsos, mas deixava sua máscara cair quando os alunos não estavam mais presentes. Ele era o dono da academia, então naturalmente dava aulas para os outros professores também, lembrando-os do que deveriam melhorar.
Durante a semana, o loiro teve que trabalhar o dobro e teve sua paciência esmagada pelo professor Hwang. As palavras dele ainda ecoavam repetidas vezes em sua cabeça:
“Ainda não está bom.”
“Faça novamente.”
“Está errado, Yongbok.”
Cada vez que lembrava da voz irritante dele, um zumbido incômodo no ouvido era o alerta mais decente para ficar calmo e não atacá-lo. Sentia-se vitorioso por conseguir reprimir a violência que sempre o tentava a socar o professor, mas foi paciente e obediente.
Entretanto, era difícil. Yongbok passou a mão pelos cabelos, tentando encontrar algum consolo na sensação familiar das mechas deslizando entre os dedos.
— Ele não para de me criticar. Odeio aquele cara! — Disse com voz rouca, a frustração e a exaustão colorindo suas palavras. — Sinto como se nunca fosse suficiente para ele, não importa o quanto eu me esforce. — Han riu, organizando as folhas para colocá-las na mochila. — Você ri porque não é você quem está sofrendo. Ele é tão ruim que me fez repetir a coreografia seis vezes. Seis vezes, Sung! — A indignação era palpável em sua voz rouca e cansada.
O amigo suspirou, finalizando seus afazeres.
— Você é incrível, Felix. Não deixe que as palavras dele afetem sua confiança. Eu te vi dançar, sei do seu talento. Hyunjin pode ser o chefe, mas isso não significa que ele esteja sempre certo. No entanto, sabia que ele ia pegar pesado com você, Lix. Você o beijou semana passada e, no dia seguinte, fingiu que nada aconteceu. Acho que ele ficou chateado. — Jisung lembrou de quando o amigo chegou em casa com o rosto vermelho, revelando que beijara Hyunjin por “acidente” na aula.
As bochechas de Yongbok ficaram vermelhas.
— O beijo foi acidental, você sabe. Pisei em falso e o Hyunjin foi me ajudar, mas acabamos caindo juntos. — O acastanhado riu novamente, colocando a mochila nas costas. — Foi a coisa mais platônica.
Jisung arqueou uma sobrancelha, um sorriso brincando em seus lábios.
— Platônica, é? Então, por que você está corando tanto, beijoqueiro? — provocou ele, fazendo Felix revirar os olhos.
— Não comece com isso, Han. Não há nada de romântico entre nós. Somos apenas amigos. Amigos que, ocasionalmente, se beijam por acidente.
Jisung riu, apertando gentilmente o ombro de Felix.
— Acredito em você, Lix. Mas talvez, você devesse esclarecer isso com o Hyunjin. Ele parece estar pegando pesado contigo porque está confuso sobre o que aconteceu. E quem sabe, talvez ele também esteja sentindo algo… mais do que platônico.
Felix revirou os olhos novamente, mas dessa vez com um toque de preocupação.
— Você acha?
Jisung assentiu, seu sorriso suavizando.
— Acho que a honestidade é sempre o melhor caminho, especialmente com coisas assim. Seja honesto com ele, Lix. E, se precisar de apoio, estarei aqui para você. Como sempre estive.
Felix olhou para o amigo, grato por ter alguém como Jisung ao seu lado. Ele sabia que, acontecesse o que acontecesse com Hyunjin, teria o apoio e a compreensão de seu melhor amigo. E naquele momento, isso era tudo o que precisava para encontrar a coragem necessária para encarar a situação.
Jisung acariciou os fios loiros do amigo dobrando os joelhos para ficar rente a ele.
— Lavei a louça e deixei comida pronta para você, sabia que chegaria cansado. Preciso ir para o estúdio do Chan, voltarei às oito, okay?
Felix ronronou com a carícia, afundando o rosto no sofá enquanto soltava um barulho de satisfação.
— Você é tão bom, Hanji! — Deu seu melhor sorriso, franzindo a testa, quando lembrou que deveria contar algo importante para Jisung, mas naquele momento não conseguia lembrar bem o que era. — Hannie, eu…
— Beleza, estou atrasado. — O acastanhado levantou-se prontamente, ajustando novamente a mochila. Pegou a cópia da chave do apartamento e deu um “tchauzinho” para Felix. — Bons momentos para você e o Hyunjin.
A expressão desacreditada do Lee fez Jisung rir alto e fugir antes de ser atacado.
— Eu não vou sair com ele! — Felix gritou, já com energia suficiente para dar algumas palmadas no amigo.
— Então boa sorte com Changbin! — Jisung abriu rapidamente a porta. — Também me deseje sorte, quero pisar em falso e cair em um bom pau.
Yongbok resmungou enquanto Han fugiu e dirigiu-se ao estúdio.
[★]
Um suspiro escapou de seus lábios; estava um pouco frio quando saiu do edifício. A suave brisa tocava a pele sensível do rosto, já que suas vestes embrulhavam seu corpo, mantendo-o quentinho. Trajava uma camiseta branca e um moletom azul, que cobria até seus dedos de unhas decoradas de preto. A calça jeans preta justa combinava com o coturno.
Acomodou-se no banquinho da parada de ônibus. Han viu alguns colegas que trabalhavam com ele no turno da noite do bar e os cumprimentou gentilmente com um sorriso. Estava trabalhando há dois anos no bar para poder pagar o aluguel e manter sua renda relativamente estável. Além disso, passava horas no estúdio de Christopher, ajudando-o com a composição musical. Não era do agrado de seus pais, mas era um dos seus passatempos favoritos.
Na verdade, a música era seu refúgio, um lugar onde podia expressar todas as emoções que muitas vezes mantinha escondidas. Christopher, o produtor talentoso que possuía o estúdio, tornou-se mais do que um mentor para Han; ele se tornou um amigo próximo e um confidente. Juntos, eles exploravam diferentes notas e ritmos, criando melodias que brotavam de suas almas.
À medida que o ônibus se aproximava, Jisung começou a reunir seus pensamentos. Ele sabia que seu caminho não era o mais convencional aos olhos dos outros, mas era o caminho que ele escolhera para si. O bar e o estúdio eram seus santuários, lugares onde podia ser verdadeiramente ele mesmo, longe das expectativas e das pressões externas.
Enquanto subia no ônibus, Han olhou pela janela, perdido em seus pensamentos. Ele estava determinado a seguir sua paixão pela música, mesmo que isso significasse enfrentar desaprovações e obstáculos pelo caminho. Sentou em uma das cadeiras do fundo. Colocou seus fones de ouvido, notando uma nova mensagem nas notificações. Felix, estava lhe avisando que iria sair com Hyunjin e Changbin e que não sabia que horas voltaria. É claro que ele também o convidou, mas Jisung recusou educadamente.
O ônibus partiu, levando Han em direção ao seu próximo destino. Minutos depois, ele já estava em frente ao prédio de Christopher. Quando entrou, viu o melhor amigo conversando no celular, acenou para ele indicando que iria para o estúdio. Han se acomodou no sofá, pegando sua pilha de papéis de dentro da mochila.
Não importa quanto tempo passasse ou o quão cansativo fosse ir todos os dias para o estúdio, Jisung nunca se cansava. Além disso, ele tinha Chris ao seu lado todo o tempo, seja nos momentos bons ou ruins. A música era sua vida, e o estúdio se tornou um segundo lar para ele. Cada acorde, cada batida, era uma extensão de sua alma, uma maneira de expressar suas emoções mais profundas.
No estúdio, eles experimentavam, arriscavam e se desafiavam mutuamente. Cada sessão de gravação era uma jornada de descoberta, explorando novos sons e ideias.
Christopher abriu um sorriso irresistível ao ver Jisung passar pela porta, feliz por vê-lo ali. Embora isso fosse tão costumeiro, Jisung sempre ficava contente.
— Está atrasado e não é a primeira vez. — O ruivo fingiu estar indignado, cruzando os braços no peito. — Tente ser mais pontual, Han Jisung.
— Na semana passada, você também chegou atrasado por dois dias, hyung. — Retrucou, juntando os papéis sobre a mesa. — Escrevi essa música para o Jeongin, ainda precisa de alguns ajustes, mas gostaria de um feedback seu.
Christopher pegou os papéis, avaliando o material escrito. Han levantou os olhos, encarando-o com expectativa, porém sua atenção foi atraída pelas olheiras do ruivo. Além disso, sua expressão estava detonada como uma sonolência assustadora.
— Você parece cansado, Chris. Está trabalhando demais? — Jisung perguntou, preocupação marcando sua voz enquanto observava seu amigo.
Christopher suspirou, esfregando as têmporas como se tentasse afastar o cansaço.
— Estou ocupado com os shows e as gravações, mas isso não é nada novo. Aconteceu algo inesperado no estúdio na semana passada. Uma confusão com os equipamentos e acabamos perdendo um dia inteiro de trabalho. Estou tentando recuperar o tempo perdido, mas está difícil.
Jisung assentiu compreensivo. Ele sabia como a pressão da indústria musical podia ser esmagadora às vezes.
— Não se sobrecarregue, Chris. Se precisar de ajuda, estou aqui. A música que criamos juntos é importante para mim também. Estamos nisso juntos, lembra?
O sorriso cansado nos lábios de Christopher se suavizou, seus olhos refletindo gratidão.
— Eu sei, Jisung. E sou grato por ter você ao meu lado. Superemos isso juntos, como sempre fizemos.
— Mas, hyung, não acha melhor deixarmos para entregar tudo na próxima semana? — As sobrancelhas se arquearam em busca de resposta.
— Eu gostaria de descansar, mas realmente precisamos entregar tudo antes do fim de semana. Desde que Seungmin assinou com a empresa, ele não parou de ligar cobrando a música. Acredita que ele me ligou às duas da manhã?
Han balançou a cabeça, frustrado.
— Acredito. Ele é um fodido, quase me atropelou quando saiu da garagem com o carro novo.
Seungmin assinou com a empresa há menos de cinco meses e já causava dores de cabeça. O estúdio 3racha ficou encarregado de compor a nova música do ídolo, a pedido da empresária, Nayeon. Ela lhes deu um prazo, mas o novato não estava disposto a esperar. Ele os importunava até mesmo durante os horários das refeições, ligando como se estivesse cobrando uma dívida. Após ganhar um carro do pai, o garoto adorava exibir o novo presentinho e, claro, causar mais problemas.
Ficava claro para o trio de produtores que Seungmin não entendia o processo criativo. Para ele, as músicas deveriam surgir instantaneamente, como mágica, sem considerar o tempo e esforço necessários para criar algo verdadeiramente significativo. Changbin, Han e Chris, membros do 3racha, passaram noites sem dormir, imersos em sua arte, tentando atender às expectativas cada vez mais altas do novato. Mas parecia que nada estava bom o suficiente para Seungmin.
Nayeon, a empresária, também sentia o peso das expectativas de Seungmin e tentava mediar a situação. No entanto, o jovem ídolo parecia estar fora de controle, incapaz de entender a complexidade do processo criativo. Ele exigia resultados imediatos, ignorando completamente o fato de que a verdadeira arte levava tempo.
Jisung lembrava bem do momento em que quase foi atropelado pelo ídolo. Se não fosse por Jeongin, teria sido arremessado. A gravação da música de Yang havia sido finalizada quando Han decidiu acompanhá-lo até o estacionamento. No entanto, Seungmin estava saindo da garagem em alta velocidade com seu carrão, e Jisung tinha certeza de que ele os viu caminhando. Entretanto, dirigiu o carro na direção dos outros dois, rindo alegremente quando percebeu que os assustou.
Jeongin puxou o amigo pela roupa, jogando-o para trás e livrando-o do impacto. Seungmin não fingiu estar preocupado; apenas murmurou algo sobre a música que queria pronta o mais rápido possível antes de partir com seu carro caro. Han estava muito abalado para xingá-lo; seu coração batia desesperadamente.
— Esqueça ele e vamos voltar ao trabalho. Por algum motivo, Changbin não veio hoje. — O ruivo sentou-se na cadeira da escrivaninha enquanto ligava o notebook.
— Felix.
— O que foi?
— É por isso que ele não veio hoje. Eles vão sair. — disse Jisung, e Chanie riu.
— Ele não está namorando o Hyunjin?
— Talvez eles tenham uma relação… a três? — Os olhos pequenos arregalaram-se, e as bochechas gordinhas brilharam coradas.
Christopher assentiu, ainda concentrado na tela do notebook, mas em sua mente já formulava uma boa reclamação para Changbin.
— Ok, vamos deixar esse assunto para quando formos beber. Agora temos trabalho a fazer.
Ambos realmente se concentraram no trabalho, e horas depois, Jeongin apareceu com lanches, e eles se fartaram entre risadas e fofocas. Mais tarde, os três saíram do edifício satisfeitos com a produtividade. Antes que pudessem atravessar a rua, um carro parou na frente deles, a janela desceu e o rosto sorridente de Seungmin apareceu.
— Hyung, tudo pronto? — Christopher coçou o couro cabeludo, respirando fundo. — Ok, OK, não irei perguntar de novo hoje. Quer uma carona?
Chris, Han e Jeongin trocaram olhares rápidos, surpresos com o convite repentino.
— Eu quero! — Jeongin acenou sorridente, mas o dono do carro ignorou sua presença.
— O ponto do ônibus é do outro lado. — Sorrindo, ele verificou o relógio caro no pulso. — Acho que seu ônibus já vai passar, Han.
A provocação direcionada a Jisung quase teve efeito, porém o acastanhado estava de bom humor e ele não ia se estressar tão fácil assim. Jisung era conhecido por seu temperamento, que oscilava tão rápido quanto um foguete, por isso, Seungmin esperava que ele explodisse com sua provocação.
Jisung, no entanto, apenas deu de ombros, um sorriso brincando em seus lábios. Ele decidiu que não deixaria a provocação de Kim estragar seu dia.
— Acho que vou esperar o próximo ônibus, então. Tenho tempo de sobra. E afinal, quem está com pressa aqui? — Jisung respondeu com calma, surpreendendo o novato com sua serenidade. — Vou indo, hyung. Jeongin, não esqueça de me mandar o feedback da música que compus para você. — O mais novo assentiu, sorrindo para Han e depois para Seungmin. — Cuidado, hyung, essa carona é rumo ao inferno.
O outro ficou momentaneamente sem palavras, não esperando uma resposta tão tranquila. Ele esperava ver Jisung irritado, mas em vez disso, encontrou um homem calmo e confiante.
— É verdade, Chan hyung, você vai ser levado pelo próprio capeta. — Christopher gargalhou alto com a implicância dos meninos, mas foi em direção ao carro.
— Eu dirijo. — Disse o produtor, abrindo a porta do carro para que Seungmin mudasse de lugar com ele.
— Você não vai dirigir esse bebê. — O cantor retrucou, obviamente chateado
Isso foi a última coisa que Jisung viu antes de Kim ceder e Christopher assumir o volante. Han voltou para casa cansado e com sono, sua barriga roncava mesmo depois da refeição feita poucas horas atrás.
Ele só queria chegar em casa, tomar um banho gelado, comer algo e ir dormir.
[...]
Parou no corredor e tirou as chaves do bolso enquanto estalava o pescoço. Suas costas doíam um pouco por passar horas sentado no sofá velho de Chris. Quando sua mão tocou a maçaneta, Jisung franziu a testa quando percebeu que ela não estava trancada. Um arrepio dançou por suas costas, atingiu sua espinha e o medo lhe consumiu.
Yongbok ainda não havia voltado para casa e Jisung sabia disso porque ele havia enviado uma mensagem. Então, Han tremeu quando duas opções passaram por sua cabeça: ou Felix esqueceu de trancar a porta ou alguém estava em seu apartamento.
Seu estômago embrulhou quando girou a maçaneta com cuidado, a porta se abriu revelando a sala vazia. Com as mãos tremendo, ele discou o número de Felix após resgatar o celular do bolso da calça. O insistente “tu… tu… tu…” da chamada continuava ao que os pés de Jisung adentraram na casa silenciosamente.
Com passos cautelosos e o celular pressionando a orelha ele foi em direção à cozinha, mas também estava vazia. Ele podia relaxar um pouco, mas ainda precisava verificar outros lugares. Ao voltar à sala, seus olhos ficaram arregalados ao perceber que uma luz brilhava por baixo da porta do seu quarto, e ele se recordava de ter desligado tudo.
Seu coração disparou e ele ficou inquieto, tremendo. Com a respiração entrecortada, se aproximou do quarto, a mente girando com possibilidades assustadoras.
— Hannie! — A voz grossa soou no celular, assustando Jisung, que pulou alarmado e pôs as mãos no coração.
— Porra, Lix! Quer me matar do coração? — Gritou, respirando com dificuldade.
— Não posso matar você, Hannie. Você é meu brother. — A voz arrastada indicava que ele já deveria ter bebido o suficiente, mas não estava completamente bêbado.
— Lix, você deixou a luz do meu quarto acesa? — Jisung virou-se e deitou as costas na porta, escorando-se enquanto se livrava do tremor do susto.
Antes que pudesse ouvir a resposta do amigo, a porta atrás dele se abriu. Suas costas receberam o impacto de algo molhado, duro e com cheiro de seu shampoo. Olhando para cima, um rosto sério, maxilar travado e olhos penetrantes roubaram toda a respiração de Jisung.
O pânico o atingiu como um soco no estômago e o embrulho voltou, quase o fazendo vomitar.
— Quem é você? — Indagou, pulando para longe do peitoral bem trabalhado do invasor.
— Eu sou…
O desconhecido não teve chance de responder, pois o menino sumiu tão rápido quanto um foguete.
Jisung correu para fora do quarto, a adrenalina pulsando em suas veias, sem olhar para trás. Ele não sabia quem era o intruso, mas uma coisa era certa: não queria ficar para descobrir. Seus passos ecoaram pelos corredores da casa enquanto ele buscava um lugar seguro.
— Felix, porra, invadiram nosso apartamento. Chama a polícia! — Jisung correu pelo corredor, indo até a cozinha para pegar algo para se defender.
— Como invadiram nosso apartamento? Espere, Hannie, estamos indo. Segura ele.
Segurar ele? Aquele homem que parecia uma porta não precisava de muito para lhe atacar.
Sua mente girava enquanto ele tentava entender o que estava acontecendo. Quem era aquele estranho? Por que invadiu sua casa? Todas essas perguntas dançavam em sua cabeça enquanto se escondia em um canto escuro da cozinha, rezando para que o intruso não o encontrasse.
Engoliu em seco espiando para ver se ele o havia seguido. Para o alívio de Jisung, o homem não tinha. Entretanto, isso não aliviou seu desespero. Apertou o celular no peito, as mãos tremendo antes de levar novamente para a orelha.
— Como caralhos você quer que eu segure o homem? Ele está quase pelado! — O cara certamente estava quase nu e ainda por cima estava no seu quarto. Era um pervertido. — Vou chamar a polícia!
— Já estamos chegando, ele não vai fugir. — Era a voz de Changbin do outro lado da linha.
— Tudo bem, mas não desligue a chamada. — Implorou, temendo por sua vida.
Lutando contra as lágrimas, Han tentou espiar novamente, mas dessa vez, seu rosto quase colidiu com um semelhante. O desespero tomou conta de seu corpo quando braços fortes o seguraram antes que o seu corpo encontrasse o chão em um baque doloroso.
— E-Eu vou chamar a polícia. — Ele tentou fingir que não estava com medo, mas falhou miseravelmente.
O homem deu uma leve risada, um barulho tão convidativo que se Han não estivesse nesta situação, ele o teria acompanhado em sua risada.
Aquele rapaz tinha um rosto estupidamente bonito, era cheiroso e sua mão gigante apertava Jisung sem o machucar, porém sabia que ele poderia fazê-lo sem dificuldade. Os lábios finos pareciam pecaminosos e os olhos eram charmosos, captando cada detalhe da face assustada de Han.
— Eu sou a polícia. — Ele disse suave, com a intenção de tranquilizá-lo. Os dedos grossos fizeram carinho na pele macia, porém Jisung tremeu, afastando-se do contato.
— Você não é um policial, é um pervertido. — Insistiu, sentindo o rosto esquentar de raiva quando percebeu que aquele homem estava zombando dele. — Como entrou aqui?
Han tentou atacá-lo, mas ele o impediu, virando-o de costas. O peito largo e agora coberto por uma camisa preta, logo se juntou às costas do acastanhado.
— Felix me deixou entrar. — respondeu, apertando os pulsos de Jisung facilmente. Outro ataque e o homem não teve escolha senão o empurrar contra a parede, mantendo o rapaz preso com o seu corpo. — Eu não quero te machucar, bunda bonita, mas não terei escolhas se você tentar me atacar.
Jisung se sacudiu, fraco e indefeso. A voz dele lhe traçava um formigamento estranho, mas resolveu não dar atenção para aquilo. Ainda que se debatesse para se livrar do aperto, Jisung percebeu que o homem não aplicara força para machucá-lo. O que realmente o impedia de sair daquela posição era o quadril do estranho pressionado ao seu.
O invasor parecia ter controle absoluto sobre sua força, Han conseguia sentir a respiração lenta atrás de sua orelha. Ofegante, sedutor e relaxado, o homem era quente.
O celular em sua mão caiu devido ao amolecimento do seu corpo.
— Eu não vou te machucar, garoto. — A mão calejada deixou um toque suave e gentil na cintura de Jisung.
— Então, por que está me prendendo? Me solte! — Han não tinha certeza do que faria quando ele o soltasse.
Suas pernas estavam bambas e o cheiro do shampoo, que era seu, estava lhe deixando entorpecido. Por isso, foi incapaz de perceber que já ouvira aquela voz muitos anos atrás.
— Já disse, sou policial e não um pervertido. — Disse firme e Jisung balançou a cabeça, ainda lhe restavam dúvidas se era verdade ou não. — Se eu te soltar, você pode cair. — Ele sabia que estava fraco, e o que mantinha em pé era sua marra e os braços fortes. — Não precisa ter medo de mim.
— Como não? Você invadiu o meu apartamento e eu não te conheço. — A diversão encheu o rosto do desconhecido, deixando Han irritado. — Do que está rindo?
— Esse apartamento é do meu irmão. — ele disse como se fosse óbvio.
Jisung parou de lutar, digerindo a informação. O que aquele homem estava dizendo não fazia sentido. Se aquele era o apartamento do irmão do intruso, por que ele estava lá? Especialmente no seu quarto?
— Irmão?
De repente a porta se abriu, para o alívio de Han. Mas ele estava muito confuso para perceber Hyunjin segurando um galho e Changbin arregaçando a camisa.
— Minho, o que tá fazendo? Larga ele. — Felix gritou, entrando no apartamento.
— Você conhece esse pervertido? — Os olhos atordoados de Han se arregalaram e ele olhou por cima do ombro, direto para o rapaz que o segurava.
O tal Minho não se moveu, também não desviou os olhos do acastanhado. Ele estava focado no rosto bonito se deliciando com a visão das bochechas coradas.
— É claro, ele é meu irmão. — Rouco e com a voz embargada pela bebida, o loiro disse como se suas palavras fossem resgatar memórias da juventude deles. Quando Minho poucas vezes apareceu na escola para buscá-lo, porém, Jisung sequer lembrava.
Jisung lutou contra as lágrimas de vergonha, mordendo o lábio para impedir que um palavrão e coisas horríveis saíssem de sua boca, especificamente para Felix.
A pressão deleitosa nos pulsos magros foi se desfazendo, o quadril largo se afastou junto com a extensão não exageradamente musculosa. Finalmente Han pode respirar e manter-se livre do irmão do seu amigo. Contudo, ao levantar os olhos para encará-lo, as lembranças do peito nu e molhado fizeram seu baixo ventre repuxar.
Lee Minho não tirou os olhos do seu corpo, não precisava encará-lo de volta para saber. Sua pele ardia sob o olhar exigente e sedutor dos olhos pretos dele.
“Bunda bonita.”
Recordou-se das palavras suaves, cuidadosamente controladas. Desviou o olhar, se perguntando se ele percebia que o fitava tão intensamente, como se quisesse tirar um pedaço de carne.
— Desculpa, Hannie. Esqueci de avisar que meu irmão vinha passar as férias aqui em casa e como não tinha outro quarto, cedi o seu. — A voz de Felix o trouxe à realidade, abraçando seu corpo e quase chorando. — Mas veja pelo lado bom, vamos dividir o mesmo quarto enquanto ele estiver aqui.
— Estou tentando achar o lado bom disso. — resmungou, visivelmente chateado.
O loiro fingiu-se ofendido, soltando Jisung.
— A qual é, meu irmão é legal. Ele é policial — segredou a última parte, mas os outros conseguiram ouvir. Hyunjin escondeu a madeira atrás de si e Changbin arrumou a camisa. — Lee Minho, esse é o meu amigo que te falei, Han Jisung.
— É um prazer finalmente conhecê-lo, Jisung. — O acastanhado ofegou, encarando a mão estendida em sua direção. Seu nome nos lábios dele, tão suave e controlado, sugeria que ele estava provocando.
— Ah, sim. É…
Seo Changbin fez um barulho com a garganta, chamando a atenção de ambos.
— A gente vai indo. Fico feliz que você esteja bem, Hannie. — Ele recuou tão rápido com Hyunjin logo atrás dele. — Cuide do Felix por mim.
Eles acenaram e partiram como se não tivessem percebido o irmão mais velho de Felix vasculhando com os olhos cada pessoa presente no apartamento.
— Vou dar banho nele. — disse antes que o outro pudesse falar alguma coisa e fugiu arrastando Felix.
Han banhou o loiro com dificuldades, já ele insistiu em fazer corpo mole. Depois o vestiu com um pijama e o colocou na cama, ia fazer o mesmo se ele não tivesse pedido bem baixinho um copo com água. Jisung assentiu, saindo do quarto na ponta do pé para não fazer barulho e ter que encontrar Minho.
Quando voltou com o copo cheio, quase transbordando, ele encontrou o Lee mais velho. O corpo malhado estava escorado no batente da porta, os lábios puxados para um sorriso sorrateiro e sugestivo. Jisung estremeceu perante o olhar penetrante, um arrepio subindo por sua espinha.
— Boa noite, Senhor Lee. — Ele era policial e pelo episódio constrangedor de horas atrás, decidiu que seria formal. Tentou um sorriso, mas estava nervoso o suficiente para fingir que não estava abalado.
— Tenha uma boa noite, bunda bonita.
Jisung praticamente correu para o quarto, derrubando água pelo caminho. Entrou e fechou a porta em um baque, trancando-a. Esperava que o policial não prolongasse a sua estadia no apartamento ou ficaria louco.
Quando olhou para cama, Felix dormia confortável, agarrando o travesseiro.
É, ele definitivamente o mataria na manhã seguinte.
Notas Finais
postando aqui só para guarda a fic ❤️
agradeço imensamente a Carla, Thaís e Emilly, minhas melhores amigas. Obrigado por sempre me incentivar, amo esse quarteto das idosas 🥺💕🤏
E obrigado de todo coração a Carla pela betagem, te amo 💕
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