Onde Está Minha Paz? - Parte 01
Perdi a conta de quantas noites passei em claro "trabalhando" nas madrugadas, organizando mentalmente minha agenda, lendo alguma instrução nova, tentando entender alguns procedimentos novos, podendo assim interagir com o líder competente de cada setor ou muitas vezes fazendo cursos EAD em casa, deixando de brincar com os pequenos ou conferindo extratos de banco com o razão das empresas no lugar de estar namorando gostoso minha ex esposa. Trabalhei feito maluco para trazer clientes e segurar cada um deles, afim de ter um patrimônio decente e não dever nada a ninguém.
Hoje minha falta de sono é devido a um incidente em minha residência, pela qual luto para manter as parcelas do financiamento em dia. Algo pegou fogo no meu quarto e queimou tudo rapidamente. Por sorte os bombeiros agiram com a mesma rapidez para apagar o fogo, bendito seja o vizinho que me contou que os acionou ao ver a fumaça preta que saía pela janela onde os vidros explodiram com o calor. Tenho que dar graças porque não estava no local e que o fogo não se alastrou. Tudo incomum para mim.
Fiquei boa parte da madrugada envolvido com tudo aquilo.O bombeiro disse que meu quarto seria lacrado por no mínimo 24 horas e assim os peritos poderem avaliar e emitir o laudo para fins de acionamento de seguro e providências em caso de suspeita de crime. De qualquer forma minha paz foi roubada.
O dia clareou e sinto a brisa da manhã balançando a cortina do quarto de Braz. Ele dorme placidamente de bruços, o grande homem bronzeado, forte, másculo, bruto e delicado ao mesmo tempo e tornou-se em poucos dias o meu porto seguro. Em meu dedo há uma prova de que ele quer estar comigo e quer eu considere nossa relação algo mais sério ainda, um compromisso. Mentiria se falasse que não me importo com mais nada, porque ainda penso e muito, mas as poucas pessoas a minha volta que sabem me transmitiram muita força com a simples naturalidade que lidaram com esse fato novo da minha vida.
Tento fechar os olhos, hoje quinze de novembro é feriado, completo trinta e dois anos, devia ser um dia alegre. Com meus olhos fechados eu vejo tudo destruído, paredes chamuscadas de preto, fumaça que ainda parece impregnada no meu nariz. Perdi coisas que meu trabalho me proporcionou, mas ganhei a chance de continuar vivo. Só preciso descansar um pouco e depois erguer a cabeça.
Meus olhos abrem para encontrar dois olhos escuros me olhando com carinho e recebo seu sorriso e um abraço apertado que quase me esmaga.
- Feliz aniversário... – Ele me abraça, se estica e me aperta tudo ao mesmo tempo.
- Preciso mesmo.
- Pensa no que falei ou no que os bombeiros disseram, que aquilo pode ter sido um pequeno curto ou deixou alguma coisa na tomada e em cima da cama. Espera para ouvir o resultado do laudo.
Eu sei que Braz só quer me deixar mais calmo, mas não é tão fácil. Prometi a mim mesmo que não ficaria acusando pessoas mentalmente, por tudo deste mundo, queria que fosse realmente apenas um acidente. Não consegui dormir e quando me sento tenho aquela sensação de tontura e cansaço.
Braz levanta, toma seu banho, me traz um analgésico e sua empregada me traz até café na cama quando ele vai para o mercado, me prometendo que antes do almoço volta para ficar a tarde comigo.
Ligo para Ira que me tranquiliza dizendo que está tudo tranquilo com ela e as crianças e que está recebendo visita de uns amigos nossos. Depois ligo para o meu patrão que me sugere pegar uns dois dias para organizar tanto as ideias como as questões ligadas ao incêndio e desta forma emendar com o final de semana.
Quando desligo, respondo infindáveis mensagens de felicitações em meio a bocejos de um sono atrasado que vem com tudo para me nocautear. Dia quinze termina comigo apagado pelo cansaço. No dia seguinte não obtenho novidades e só dia dezessete que recebo uma ligação diferente com código de área do Paraná onde tenho familiares e amigos, mas quem me liga me causa um espanto muito grande.
- Pai? – Meu pai está me ligando de casa, estranho. – Pai, porque o senhor não foi me visitar em casa, ficou quantos dias por aqui?
- Aonde Túlio? Nem saímos de casa, já está ficando louco? Depois eu que sou velho. – Ele fala alto com sotaque forte de alemão da colônia e dá uma risada. – Não dá para viajar nessa época porque as meninas tem aula. Olha piá, o pai ligou para te dar parabéns, só lembrei hoje.
- Poxa, que alegria, pai. Gosto tanto quando o senhor liga. Obrigado, esse é um presente dos mais valiosos, sabia Pedrão?
- Quando o pai for te visitar, vai te levar um monte de coisa, mas só lá para o final de dezembro...
Nossa conversa prossegue de forma tão gostosa, fazendo-me lembrar do tanto de coisa que ele me faz carregar quando volto de sua casa no interior, carne de porco, banha, quilos de erva mate, feijão, milho de pipoca, salame e queijo colonial e abobora moranga tamanho "monstro", sempre um exagero.
- Pai, eu preciso perguntar uma coisa. A Ira me disse que o senhor estava aqui na cidade e ligou para ela pedindo para ver as crianças... Mas agora o senhor disse que nem veio, que estranho, não acha?
- Aquela mulher é louca, sempre te disse para ficar com um pé atrás.
- Pai, por favor.
- Mas a gente tem que aturar, é mãe dos meus netos. – Ele nunca gostou de Ira e nunca tentou disfarçar. – Mas, espera lá. Uma mulher andou me ligando e perguntando umas coisas. Perguntou quando eu ia te visitar.
Meu pai é um homem simples que vive no interiore sem muita instrução, embora seja meio grosseirão, basta alguém falar bonito que ele se encanta e dá conversa.
Antes de me despedir, aconselho-o a não dar assunto a pessoas estranhas que ligam, por segurança. Não comento nada sobre minhas suspeitas, nem menciono o incêndio, Valentin ou Braz, sendo que este último me dói não comentar.
Levanto e tomo uma ducha rápida, escovo os dentes com uma escova que Itália, a empregada de Braz me comprou. Eu e ela conversamos um pouco e sinto sono que me faz lutar para manter os olhos abertos. Tenho dormido muito mal, sempre um sono ruim cheio de pesadelos.
Caio na cama antes das dezenove horas e apago, sem sonhar com nada dessa vez, tal o efeito da "baga" que tomei. Sinto minhas costas coçando e acordo irritado.
- Porra, não estou com cabeça para isso, Braz eu estava dormindo, que saco.
- Que é "moça"? TPM? - Ele grita comigo sem motivo, lógico. – Me ligaram porque um menino birrento fica namorando no celular e não atende.
- Quem "ligaram"?
Ele não reponde e me passa o celular com uma foto.
- Um carvão?
- O carvão de um notebook. Foi encontrado em seu quarto onde houve incêndio.
- Onde achou essa foto?
- Na página do facebook do jornal local.
Lá está a postagem, a fachada da minha casa e a foto que Braz me mostrou. "Notebook explode causando incêndio em residência". Na descrição do ocorrido, informa que um notebook foi deixado carregando sobre a cama e foi esse ato de irresponsabilidade que causou o incêndio. Diz também o quanto repetitiva é a mídia com esses assuntos de prevenção. E claro, abaixo da reportagem nos comentários, tem pessoas que se mostram solidárias enquanto outras me xingam de burro. Um bando de críticos de merda que me dão vontade de responder e mandar todos tomarem no cú.
- Braz, eu não me lembro de ter deixado o note em cima da cama.
- É a idade. O perito cansou de ligar para você, ficou ocupado por quanto tempo?
- O pai me ligou, depois deliguei e retornei porque ele só reclamava que ligar para celular tem muito gasto.
- O meu sogro? Contou que ficou noivo?
Fico desconfortável e finjo não ter ouvido.
Vamos ao escritório do corpo de bombeiros no dia seguinte para novos esclarecimentos, pegar a via do laudo e quaisquer outras informações que preciso para enviar ao seguro. E vou com Braz até minha casa que foi liberada com exceção do quarto que está lacrado até a avaliação da seguradora para a reforma.
Tiro minhas coisas do carro e digo ao Braz que não tenho problemas em ficar sozinho por ali.
- Liberaram muito rápido o acesso a sua casa, muito estranho a forma como encontraram a causa do acidente. Rápido demais, não acha? – Ele me diz olhando a volta.
- Você está sendo o neurótico agora. Estou tão aliviado.
- Bom, você vai comigo, te levo a uma loja para comprar umas peças de roupa.
- Amo e odeio a diarista... – Eu interrompo Braz. - Não tinham roupas na lavação, nem sujas, nem limpas.
- Não conheço, mas amo sua diarista. Por mim pode andar pelado dentro do meu apartamento.
- Eu acabei de perder todas as minhas roupas, cama, TV que nem acabei de pagar, computador, quase perdi a vida e você pensando em sexo.
- Baixa a voz comigo. Quem falou em sexo, seu estressado. Quando tento te acalmar, você se irrita. Anda, pega o que precisa e vamos.
- Eu vou ficar.
- Não me estressa, Túlio.
Não gosto de ver Braz com esse olhar, então não contrario. Mas me dirijo ao meu carro para segui-lo a sua residência.
- Vou no meu carro, porque se você me estressar, não fico preso e saio quando quiser. – Digo com raiva, esse cara acha que manda e mim.
- Deixa o carro Túlio, não me testa mais. – De novo ele determina as coisas. – Já disse que vou cuidar de você, confia um pouco em mim.
No caminho, que não demora tanto assim, abordamos o assunto daquela ligação ao meu pai e dou uma ligada para Ira.
- Túlio eu não vou perder tempo, vou tomar providencias e garantir alguma segurança e você deve fazer a mesma coisa. Não fica achando que foi um acidente a explosão do seu computador, fique mais alerta.
- Eu sei, nesse sábado vou a sua casa para pensarmos juntos. Mas e a ligação que você recebeu, era mesmo a voz do meu pai?
- Ele me ligou poucas vezes, mas lembro-me que ele tem muito sotaque e não me tratou lá tão bem assim. Não fiquei nervosa, pensando que não podia ser ele, mas por ser ele. Entende? Ele não gosta de mim.
- Não diz isso, ele é só um homem grosseirão e simplório.
- Nem vou te dizer o que acho que ele é de verdade. Fica em paz, querido. Até sábado então.
- Até, amor.
Sequer desligo e já ouço o senhor Brutus a me perturbar:
- Imagina se eu chamasse o bombonzinho de amor. Porque tenho que aceitar o jeito que você trata a Iraci? Porra, na minha frente chamar a outra de amor.
- Foi sem querer...
- Teu cú, que foi sem querer. Não quero nem saber, faz um ano que você separou dela. Eu, você nem chama assim.
- Quem está sendo criança?
- Não enche meu saco.
- Desculpa, então, amor.
- Enfia no rabo o "amor".
Grosso demais. Não vou me humilhar o tempo inteiro, eu já pedi desculpa e ele que deve entender que eu estou com problemas e de certa forma a culpa é dele. Se eu fosse um simples divorciado não estaria nessa tensão toda.
Quando chego em casa ele fala de forma mais estupida ainda:
- Vai para o banho e me espera na cama.
- Ah, certo. Virei uma puta de luxo, agora.
- Não era isso que você fazia comigo para aliviar o seu estresse? Descontando na foda seus problemas de trabalho, família e sei lá, que outras merdas... hoje você vai ter aquilo que precisa para ficar calmo pelo menos uma semana.
- Não tenho cabeça para sexo.
- Ou toma seu banho e espera-me na cama ou leva na bunda aqui mesmo.
- Onde está o romantismo, não somos namorados?
- Hoje não tem romantismo, tem um cara irritado que vai meter no rabo de um estressadinho mal comido.
Chego perto dele e tento abraçar e ele me rejeita.
- Estou indo. – Viro chateado indo na direção no quarto dele.
- Olhos verdes... – Ouço seu riso. – Desculpa, estou meio cansado.
- Continua a me tratar mal e te dou um soco.
Mentira, beijo ele e digo com sinceridade.
- Te amo, bicho peludo e suado.
- Seu nariz empinado, viadinho.
Depois me beija para não me ouvir retrucar.
Braz boceja e me segue para tomarmos banho juntos. É sempre o maior tesão ver o meu cara, pelado com a água a escorrer por seu corpo grande e peludo. O cabelo dele é preto, com fios grossos que tende a armarem se não os manterem em corte curto, gosto da forma como ele conserva seus pelos tão naturalmente sem aparar em qualquer parte, o rosto é charmoso e não tem a beleza clássica de traços comuns e isso torna-o ainda mais atraente. Enquanto ele enxagua a cabeça mantem seus olhos fechados deixando a água espumosa a escorrer pelo rosto, a mesma água faz escorrer a espuma do sabonete do peito, da barriga e da região pubiana. Que se foda, adoro olhar isso, o fio de água que cai do seu pau durante o banho parece uma torneira, esse pensamento me faz rir.
Braz já lavou o rosto e está me olhando, até olha para seu pau seguindo meu olhar.
- Que houve? Porque está rindo? – Ele pergunta tão sério e desconfiado que rio ainda mais.
- Nada. É só que... olhando fico excitado...
Ele olha meu pau e ri também.
- Seu tarado. Como pode ficar assim só de ver um homem pelado e inocente a se banhar. Hoje o papai aqui está muito bravo com meu menino de olhos verdes...
Braz chega pertinho e segura meu saco, massageia bem carinhoso enquanto me beija de levinho fazendo um barulho estalado com seus beijos e não me deixando beijar de língua.
- Vai deixa eu te castigar bem gostoso, eu posso?
- Braz... Pode. Sem me bater, pode.
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