Imobilizando meu Ativo - Parte 02

- Não vou poder fazer nada. Ele vive sua vida e eu a minha. Depois o velho Pedrinho sempre foi contra meu casamento com a Iraci só por conta de sua opinião racista e se eu o tivesse deixado me influenciar na época não teria me casado. Ira é uma grande mulher, mesmo que hoje estejamos divorciados, olha o que me sobrou... Duas crianças lindas, amizade, respeito e hoje até mesmo o apoio dela.

– E o nosso também, meu e da Lívia. Ex-funcionário, mas nem por isso ex amigo. - Mauro dá um sorriso. - E vai se preparando que final desse ano vou quitar minha casa e vai rolar meu casório na Igreja em janeiro, já vai se prevenindo com bastante dinheiro que quero um presente bem caro. Ah e claro que o Braz já está na lista de convidados, ok?

- Sim, ok. – Dou aquela coçada na cabeça que faz Mauro sair da sala dando gargalhadas. Meu celular toca e atendo sorrindo. – Fala, Carlinho.

- Ai, Túlio chorei muito de alegria quando o Braz me ligou para atender o mercado com meu produto. Ai, ele disse assim que era para eu agradecer você, que só fez isso por que você pediu. – Ele despeja tudo muito rápido sem me dar brecha para abrir a boca. - Não dá para perder a Páscoa Túlio, já estamos em cima da hora. Obrigadinho mesmo.

- Bom dia, Carlinho. – Ele começou a falar tão empolgado que nem me deu chance.

- Desculpa eu, Túlio. Olha, o Valente me contou que vocês voltaram.

Sinto um calafrio que me gela até a alma.

- Ele contou?

- Sim. Toma cuidado Túlio, aquela bruxa da boca de perereca fica sabendo das coisas e conta tudo para ele e acho que alguém da sua contabilidade fala as coisas para ela. O Valente é meu ex marido sabe, ele me traía com a velha só porque ela enchia ele de dinheiro e me batia quando eu ameaçava ir embora. Só se acalmou porque eu o processei. Ai, eu juro que só quero minha vida bem tranquila também.

Eu fico muito atordoado mesmo, me sinto no meio de uma novela Global.

- Viveu com ele?

- Sim,eu era bem novinho, mas não tenho lembranças boas da época, saí de um inferno e entrei em outro. Quando eles casaram, a Rosa e o Valente me deixaram em paz, mas ele a traiu uma vez com o Braz e ela ficou louca. Túlio me perdoa daquelas coisas? Eu não queria ficar pelado no seu escritório.

Eu emudeço do outro lado. Tem mais coisa, tenho certeza. Preciso levar esse cara na maciota.

- Olha Carlinho, eu falei com o Braz porque tenho quase certeza que você não tem culpa nessa intriga toda, mas escuta com atenção, não se envolve mais nisso rapaz. Aqui na contabilidade eu estou bem ligado no que você falou e agradeço, então esqueçamos tudo isso e a menos que haja algo que possa por em risco a vida de alguém você fala, senão já sabe, essa boquinha aí fechada.

- Eu entendi. Desculpa, eu não podia estar te ligando, só posso te ligar quando o Valente e a bruxa me mandavam.

- Viu só eles são gente perigosa, você não deve se envolver.

- Aquela velha é minha mãe adotiva, Túlio, já estou envolvido.

Porra, essa frase martela na minha cabeça por pelo menos uns três dias.

Finalmente chega o sábado e não vou deixar isso atrapalhar o que preparei para meu homem. Vou até a filial onde ele disse que passaria o sábado e dou aquela olhada nos preços dos ovos da Pascoa que as crianças pediram, enquanto ele conversa com a funcionária da limpeza que parece aflita ao se explicar que o piso estava molhado e havia placa sinalizando.

- A velha é que é burra ou cega, a placa estava lá, seu Braz.

- Burra ou cega, não me interessa, ela é uma cliente que não compra uma batata que não seja aqui, depois não é nem pelas compras dela, já pensou se ela quebrou alguma coisa.

- Tinha a placa, seu Braz.

- Tá, tá... eu entendi, mas você encharca essa merda de chão, vai me dizer que não? Lembra que até eu caí uma vez.

Quem nunca riu na cara de alguém na cara desse alguém que atire a primeira pedra. É o que faço.

Braz me lança um olhar mortífero, ainda mais quando a funcionária descabelada da filial começa a rir também, certamente por lembrar-se da cena.

- Desculpa cara, mas dois metros de Braz caindo de boca no chão deve ter sido a coisa mais engraçada do mundo.

- E foi, ele quase me mandou pra rua. – A moça da limpeza fala chorando de tanto rir e ele cruza os braços cheio de charme olhando para cada um de nós, fazendo nosso riso morrer.

- Que feio rir do próprio namorado. – Ele fala na frente dela e isso faz o repositor olhar me olhar assustado. – Eu caí de bunda, não de cara.

Eu fico provavelmente roxo. O sigo até o escritório do gerente daquela loja e mal entro, sou prensado na parede por seu corpão.

- Portuga lazarento. – Eu provoco imitando o Crézio. – Vim buscar você.

- Não vai dar Túlio, uma cliente se esborrachou no corredor e fiz o gerente daqui acompanhar ela ao hospital só para ter certeza que não se machucou com gravidade. Depois a Sunamita, está precisando de uma advertência faz tempo.

- Suna o que? – Começo a rir.

- Cara, você tem certeza que tem trinta e dois anos?

- Quem que pega no meu pé para eu ter uma atitude mais cool? Quando dou risada de alguma coisa já me censura...

- Sim, riu do meu tombo e agora do nome da minha colaboradora. Coisa de moleque.

- Que se foda. Mas esquece disso, vou embora para não te atrapalhar. – Finjo de emburrado, mas quando me viro segurando o riso, ele me chama de volta.

- Não ganho nem um beijo? – Ele encosta-se à mesa do gerente, apoiando as mãos para trás. Sou obrigado a dar aquela conferida no "material", todo gostoso, vestido de roupa social, me envolvendo com seu perfume antes de eu abraça-lo pelo pescoço e beijar com vontade.

- Vai ficar o dia todo? Almoça comigo então. – Peço puxando de leve seu lábio inferior e sinto sua ereção.

- Então cozinha pra mim? Quem sabe eu tire a tarde de folga para namorar gostoso com você.

- Preciso mesmo de uma namorada gostosa, olha só. – Puxo sua mão e coloco no meu pau meia bomba. – Parece que perdeu o tesão em mim.

- Ah, tá. – Ele ri com sua voz grave. – Pega na jeba do teu macho.

- Jeba? – Acabo rindo com a cara enfiada em seu peito e ele se irrita, emendo na cena que formei na cabeça, Braz estendido no chão e puto de raiva.

- Já vi que na foda hoje alguém vai tomar um corretivo daqueles.

Ele acaba com meu sorriso na hora. O fetiche de um pode ser o suplício do outro.

- Hoje vai rolar algo básico no almoço, arroz feijão e bife, tá bom?

- Ah, comida boa. Está ótimo. – Depois de mais uns beijos vou embora.

No caminho, ligo para a casa de Ira com vontade de conversar um pouco com as crianças e tenho uma surpresa meio esquisita.

- Túlio? E aí, cara como vai essa força? Não, a Iraci foi à feira, liga para o celular dela. Quer falar com a Rafa?

- Pode ser. – O João Carlos é quem me atende, outro contador que fez o segundo grau comigo e Ira, gente boa sem dúvida, não tem nada que o desabone, mas acho um pouco demais a Ira deixar meus filhos com ele sozinhos em casa.

- Oi, paiiiii. – Rafa me atende numa empolgação que nunca vi antes.

- Rafa, filha você está sozinha com ele?

- O tio João trouxe a Isa pra brincar com a gente, pai. E outro dia nós fomos dormir na casa da mãe da Isa.

- Oh anjo do pai, você está bem? E o Edu?

- O Du foi com a mãe na feira, o pai vai deixar a mãe casar com o tio João?

- Se ele for um homem do bem o pai deixa, ele é legal?

- É sim, ele é muito legal.

- Então quando a mãe chegar pede para ela me ligar?

- Tá. Beijo, xau. – Rafaela desliga na minha cara assim que termina de falar. Se eu não conhecesse essa menina... Rio sozinho.

O João é sim um cara bacana, bonitão, meio grisalho e tem nossa idade. Fico feliz mesmo pela Ira que merece uma pessoa do bem ao seu lado, por ela e pelas crianças.

Na garagem do prédio encontro com Eliseu, que é professor de História, tem trejeitos meio exagerados e também não se preocupa em disfarçar. Ele está subindo com umas caixas e me ofereço para ajudar, seguindo-o ao seu apartamento que fica dois andares acima do meu.

- Posso te oferecer um café? – Ele pergunta. – Senta um pouco, a semana passa voando e só te vejo no elevador de manhã cedo....

- Outro dia talvez, hoje já estou meio atrasado para começar o almoço.

- Nós somos vizinhos e nunca tiramos um tempo para uma conversa, venha um sábado a tarde conversar um pouco. – Eliseu é um rapaz educado e sempre prestativo com os vizinhos pelo que soube, mas eu acho melhor não lhe dar expectativa.

- Fica meio complicado, querido. Eu tenho compromisso com uma pessoa e é melhor não dar motivo para desentendimentos, eu mesmo não ia gostar de saber que ele toma cafezinho da casa de um vizinho bonito.

- Ele? Ah. – Ele morde o lado da boca e me olha. – Um cara? Aquele que as vezes está por aí?

- Ele mesmo, o Braz.

- Não o conheço, só de vista na verdade, mas sou muito mais eu.

Não respondo, apenas me despeço estando tremendamente atrasado.

Enquanto descongelo feijão, tempero a carne, adianto a salada, tento fazer um comparativo entre Eliseu e Braz. Não há como comparar duas pessoas tão diferentes só por serem gays. O próprio Braz disse que não devemos nos prender a rótulos, gays, lésbicas ou héteros, somos todos iguais, mas sim devemos defender o que somos caso sejamos rotulados e brigar se for preciso. Levei tempo para entender, conhecer-me melhor e me aceitar, pois nunca esperei que um homem, pai de duas crianças, divorciado de uma mulher fosse se apaixonar e gostar tanto de uma pessoa do mesmo sexo.

Braz chega perto das treze horas e faminto, eu sorrio enquanto vejo devorar minha comida.

- Ando bem cansado, Túlio. Me faz uma massagem, mima um pouco teu urso?

- E eu como fico? Braz eu estou subindo pelas paredes, percebeu que nem transamos depois que voltamos? Acabou o tesão?

- Ah, Túlio não enche meu saco. Vou te dar um vibrador aí você mete no rabo a hora que quiser, certamente vai estar sempre duro e sem problemas.

- Eu prometi a mim mesmo que não ia falar palavrão hoje. Quer saber, te fode.

- Não é homem de palavra.

- Não. Estou há quatro meses sem... – Acho constrangedor.

- Levar uma vara.

- Usa o termo que você quiser, seu grosso, mas é estranho eu não ter ganho...

- Vara?

- Porra, dá um tempo. Não fez nada comigo, é estranho isso.

- Vai lá e toma um banho caprichado, faz uma chuca e vira a bunda pra Lua que vou lá te comer gostoso, seu estressado. É uma semana de felicidade garantida nessa cara emburrada.

Eu acabo rindo, estava com saudade mesmo disso tudo, Braz sendo Braz e eu tendo vontade de socar a cara dele.

♥♥♥♥♥

Mais um capítulo entregue, viu só? 

Estou feliz demais pelos votos e comentários, muito obrigado mesmo pelo carinho!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top