Ativo que é Meu Bem por Direito - Parte 01

Foram dias difíceis e intermináveis que constituíram quase quatro meses longe do meu homem. Aprendi a gostar dele, mas não a esquecê-lo. Não quero esquecer, não vou arrancar Braz de mim. Ele sofre e meu coração sente isso, porque também estou sofrendo, apaixonado, amando e com raiva.

Eu queria quebrar a cara de quem fez isso tudo comigo.

Na academia aproveito o boxe parra esmurrar o saco de areia como se fosse a cara de Valentin, Carlinho, meu pai, Braz, Camilo Júnior, o bombeiro, o filho da puta que anda me seguindo para tirar fotos, a moça que contou ao meu pai que seu único filho macho virou uma bicha. Bicha, eu soco com muito mais raiva o saco de pancada, sou bicha, foda-se. Não tenho medo de ser chamado assim, (soco) nem viado, (soco) gay, (soco) puto. Porque isso é tão relevante? Nunca foi, mas dei importância demais.

Estou banhado de suor e leve como uma pena, agora é só tomar um banho e implorar para que o cansaço me derrube. Não tenho coragem de entrar no elevador no estado que estou e subo cinco andares de escada correndo quase derrubando um vizinho que descia distraído e tem que se agarrar em mim para não cair.

- Nossa, me desculpe. – Fico envergonhado.

- Desculpa, eu. – Ele parece ainda mais encabulado que eu quando me solta e comenta para não sair sem assunto. . – Escada é bom para exercitar as pernas...

- É muito bom na verdade, não tinha visto você por aqui ainda. – Eu comento e estendo a mão. – Prazer, sou Túlio.

- Prazer é meu Túlio, meu nome é Eliseu eu sou professor, trabalho sessenta horas por semana, aí fica difícil de me ver. – Nos despedimos e termino de subir correndo os degraus.

Decidi que hoje dia 26 de março vou encostar o Braz na parede. Farei isso por nós dois e como já decidi, começaremos do zero se for preciso. A menos que ele não me queira mais.

Mais tarde na recepção da diretoria do supermercado, passam uns dez minutos das dezoito horas e sua secretária Jessica me informa que Braz está viajando atendendo a única filial que é fora do estado e voltará no início da próxima semana.

- Ele anda um fel. O Crésio teve que expulsar ele daqui. – Comenta Jessica dando uma risada. – Semana que vem tomara que volte mais calmo, senão vou pedir demissão e um emprego na contabilidade. Eu sou formada em Administração, já deu de atender telefone e aguentar o chefe que anda soltando os cachorros em todo mundo ultimamente.

- Quem sabe no futuro.

- Será que posso perguntar uma coisa?

Penso em negociar com ela e respondo:

- Com certeza.

- Você e o seu Braz, não estão mais, né... – Ela fica constrangida

- Nem sei Jessica, por isso preciso conversar com ele. Mas agora é sua vez, aquele vendedor magrinho do chocolate está sempre aqui, não é?

- O Carlinho, tadinho. O seu Braz gritou com ele não faz um mês e ele saiu chorando.

- O que será que deu? – Não estou com tanta pena dele.

-Não ouvi a conversa, só que eles discutiram e a recepção estava cheia naquele dia. Tadinho do Carlinho, ele é tão queridinho, sabe, eu morro de dó dele. Um dia me contou que quando pequeno o pai adotivo mexia nele... – Jessica interrompe-se. – Mas então Túlio, o senhor quer que eu agende ou avise ele?

- Não precisa, mas obrigado mesmo assim. Eu passo por aí outro dia, vou ligar antes, não quero sair chorando também.

Vou embora pensando o quanto perigoso pode ser uma secretária muitas vezes. Elas sabem muito de nós e acabam confiando nas pessoas que lhes tratam bem. Não estou de forma alguma generalizando. Mas se Jessica abriu o bico, porque Kelly não pode estar fazendo o mesmo.

Lembro-me da dona Rosa, quando penso em Kelly. Desde sempre, essa mulher invocou conosco como se fossemos um casal, fomentando essa ideia, dando uma de alcoviteira e minha secretária nunca se defendeu, eu que tinha que fazer. Nunca levei em conta as sugestões que ela faz, mas da ultima vez ela disse:

"Tadinha da gordinha, tão apaixonada."

Me passou a impressão de um desabafo de Kelly. E porque uma dondoca rica que parece vilã de novela das nove, se preocupa com uma moça assalariada que nunca tinha visto antes?

Porra, Kelly é casada. Volto meu pensamento ao assunto, será que é besteira da velha ou Kelly andou comentando que de sua parte, pode haver um interesse em mim. Ou será que há outra pessoa com interesses e usando a Kelly? Como vou saber. Posso constranger Kelly se não souber como abordá-la. Bem no fim deve ser um monte de paranoia.

Como se fosse de caso pensado, no dia seguinte após ter ido ao supermercado, recebo a visitinha do "bombom rebolante".

Carlinho é moreno jambo, então as cores claras lhe caem bem destacando sua cor bonita. Seu cabelo é bem cortado num corte social, dentes certinhos, olhos meio puxados, nariz pequeno e a boca pequena e muito carnuda, completam o visual de boneca Bratz. Homens com filhas se não conhecem, vão conhecer pelo menos uma dentre as Pollys, Barbies e Bratz. Como sempre, bem vestido e perfumado, usa uma calça tão apertada que faz seu corpo parecer com o de uma mulher. Será que esse cara tem pau?

- Bom dia, Carlinho. Tudo em paz?

- Ai, Túlio, mais ou menos. As lojinhas sim, mas o "poblema" sou eu sabe, não sabia que você tinha terminado com o urso e ele até brigou comigo.

- Por quê ele brigou?

- Porque o Valente que nem mora mais no país e, nem sei como ficou sabendo, ligou para ele e contou que você descobriu o segredo do filho dele e eu que fiz fofoca.

- Carlinho, chega de intriga na minha vida. Eu e Braz estamos separados e com isso parou de acontecer muita coisa estranha. Tem algo grave de verdade que devo saber?

- Não, só o que falei mesmo, é o Valente que sabe das coisas. Ai, Túlio eu não gosto daquele modelo falido, ele já me agrediu uma vez e agora só consigo ouvir quieto quando ele me liga, nunca respondo nadinha.

- Bom, vamos ao que interessa, esqueça tudo, você é nosso cliente, seus honorários estão mais do que em dia, deixamos de lado esse assunto que não traz lembrança boa nem para mim nem você.

- Ai, é que o Braz não quer mais que eu atenda ele. – Carlinho me confessa triste. – Eu não devia ter contado aquelas coisas. Ele até gritou comigo. Nunca o vi tão bravo, pensei que ia apanhar. Ele estava fora de si.

Carlinho chora e parte mais uma vez meu coração. Mas tento desviar de assunto.

- Como estão as vendas?

Os olhos dele se iluminam mesmo cheios de lágrimas.

- A gente vende bem essa época, logo vem a Páscoa, meu chocolate tem muita saída. Túlio, você não ficou com ninguém depois que vocês terminaram?

- Não.

- Posso te mostrar uma coisa?

- Claro, sem problemas. – Pela expressão dele, eu creio que deva ser algo que vai me causar muito efeito, fico observando ele caminhar rebolando até a porta e a tranca. Depois ainda de pé tira a echarpe e abre cada um dos botões do camisete social.

Tenho no rosto a tradução do que é incredulidade que não consigo falar. Esse cara está sem camisa e sem cerimônia tira as botas de cano longo até os joelhos e depois a calça sem estar prevenido com roupas íntimas.

Carlinho é muito magro, de corpo bem feito, com curvas sinuosas que deviam ter placas de sinalização indicando: curvas perigosas. Sua cor bonita é parelha, seu pênis escuro, pequeno e amolecido balança hipnoticamente quando ele caminha contornando a mesa para ficar numa distância de menos de vinte centímetros. E que mamilos são esses? Estranho, são inchados e eróticos.

- Acha que consigo seduzir um homem com meu corpo? - Eu tento me livrar da visão desviando o olhar para a porta. Ele puxa minha gravata e mia: - Não tenho o que você gosta?

- Carlos, porque está nu? Estou em pleno horário de trabalho e não vou aceitar seu assédio. – Falo baixo tentando primeiro de forma pacífica afasta-lo.

- Ai Túlio, não é assédio... – Ele fica enrolando minha gravata no dedo e me encarando. – Estou te seduzindo para mim.

O que faz um homem morrendo de sede no deserto quando lhe oferecem um copo de água? Ele bebe.

Mas quando leva aos lábios essa água e descobre que é absinto?

Levanto de repente e o ergo pela cintura pondo ele sobre minha mesa e assim tirá-lo do meu caminho. Ele solta um gemidinho que parece uma menina e percebo que ele ficou de pau duro.

- Vou tomar um café, quando eu voltar esteja vestido ou não esteja mais aqui. – Falo abrindo a porta sem me preocupar que alguém pode entrar e flagrar um cidadão completamente pelado sentado na minha mesa. Olho- o de relance e o vejo descer da mesa e baixar-se para pegar suas peças de roupa. Bato a porta e Kelly dá um pulo em sua mesa quando me vê.

- Túlio... – Ela se estica olhando para minha sala. – Seu Carlos está lá?

- Se ele não aprendeu a se tele transportar, está. – O limite de um cara pode ser extrapolado, várias e várias vezes. Hoje foi uma dessas vezes.

Retorno a minha sala e Carlinho termina de arrumar seu echarpe.

- Desculpe por esse comportamento, seu Túlio, queria só te compensar pelo que tenho feito você passar. Por minha causa se separaram.

- Quis me compensar com sexo? Eu e Braz não tínhamos só sexo, Carlinho. Ainda não sei se você é culpado ou inocente nisso tudo. Vou refazer a pergunta: sabe de algo mais?

- Não, só o que Valente me contava.

Sinto um ímpeto quase incontrolável de dar na cara dele até ele vomitar tudo que sabe, mas me seguro.

Resolvo coisas e mais coisas e converso com Ira no domingo a tarde.

- Mas, e você e as crianças? Sinto tanto medo, Ira. Acho que aconteceu alguma coisa com Braz no passado, porque ele disse que minha família ficaria mais segura se terminássemos.

Iraci lava a louça do café da tarde e eu seco, fico olhando para ela que parece estar no mundo da lua e me dá impressão de não ter ouvido nada.

- Está difícil de superar. Não é como se eu tivesse sido traído, aí terminávamos e teria que me conformar e esquecer ou então aceitar ser feito de palhaço só para não ficar sozinho. – Ira continua em silêncio. – Mas eu tenho certeza que ele está sofrendo. Ah, Ira, me diz alguma coisa.

Minha diva dá aquele sorriso largo e diz:

- Túlio, não dá para viver com medo, rapaz. Não sei o que está esperando. Eu que sou muito mais tranquila que você já tinha dado uma prensa nele. – Ela tira o pano de pratos da minha mão e completa. – Fica se enrolando e quando seus filhos estiverem na faculdade e você com impotência, ruim do joelho, caduco, mijando fora do vaso o Braz vai estar lá em seu voto de celibato te esperando para concluir essa saga de amor.

- Não foi gentil, Ira. – Ela está aprendendo muito com nossa filha como ser franca.

- Não pede minha opinião então. Agora, vai de uma vez que esse não é seu fim de semana com os dois e eu estou esperando alguém para jantar conosco.

- Já está saindo com alguém?

- Queria o que? Divórcio não é voto de castidade, depois o João é gente boa, você conhece.

- O meu concorrente? Ira ele é separado, tem uma filha.

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