4° Trimestre Agitado - Parte 02
Não, não me senti atraído por Cássio. Diferente do meu Braz que é charmoso e selvagem, Cassio é sexy. O cara conversa bem demonstrando cultura e muitíssima educação. Fala com carinho no irmão e me pede um favor antes de sair da minha sala.
- Seu Túlio, aquele pestinha não quer seu patrimônio de volta quando o processo acabar. Isso é loucura, se houver alguma oportunidade de falar com ele, tente lhe convencer a não abrir mão do que batalhou arduamente para conseguir.
- Se um dia conversarmos, falarei com certeza.
Apertamos as mãos, então eu noto uma larga aliança de ouro no dedo direito, de noivo e, no pescoço dele uma corrente prateada com dois pingentes de "bonequinha".
- Tem duas filhas?
- Sim, as duas adotivas seu Túlio, filhas de coração. Pai é quem cria, não é verdade?
- Atitude nobre, muito nobre, Cássio. Muito sucesso nas lojas e bem-vindo ao nosso escritório.
Uma dentre muitas pessoas impressionantes a passar por nossa vida todos os dias.Enquanto vemos filmes de super-heróis achando que seria o máximo ter superpoderes, alguns desfilam a nossa frente fazendo outros tipos de milagre, como a adoção.
Em finais de tarde enquanto dirijo ou em outros momentos onde usava minha cabeça para assuntos não contábeis, tenho matutado sobre as coisas estranhas que me aconteceram, coisas que ficaram sem muita explicação, como ficou o caso do filho de Braz. Talvez o avô de Miguel vivia com a consciência pesada e tentou saltar fora de um esquema criminoso, causando dessa forma a morte de sua filha e do pequeno e inocente neto. Isso ficará sem resposta, pois ele está morto. Valentin e Rosa não falam, apenas acusaram meio mundo e ameaçaram outra metade.
Porém, nós tocamos a vida e acompanhamos a resolução disso tudo no dia a dia.
Chegamos finalmente em 30 de outubro. Seu Camilo, que só anda com um segurança depois do susto, me "expulsa" da contabilidade para que eu possa ter meu feriadão de início de novembro com meu homem, que virou um chato ciumento e dengoso. Agora implica com Eliseu sempre que pode.
- Atrasadinho, como sempre. – Braz não aguenta esperar por nada, é afobado. Por horário já cansou de brigar comigo. Mas não são por atrasos de 15 ou 20 minutos, sim por atrasos de 2 ou 3 minutos.
- Percebeu como você está ficando ranzinza? Porra, isso é coisa de velho reinento... como você reclama, Braz.
- Olha quem fala, o sujeito mais chato do mundo. Pega. – Braz joga no meu peito a chave da caminhote dele e diz: - Você dirige, ainda estou puto com você pela outra vez.
- Porra, o que é agora, está me tratando com patada porquê? Desde que cheguei, só estou levando.
- Quem manda se atrasar.
- Dois minutos Braz. Cara, quer me fazer cancelar essa merda de passeio, faço já.
- Sabe que eu odeio...
- Ah chega, te fode. – Jogo a chave no peito dele com força e me viro para sair. Mas sou impedido por uma mão muito forte que me puxa de volta contra seu grande corpo.
- Perdoa eu, Túlio. Não me mate saindo por aquela porta.
- Perdoa eu, amor. Sei que você odeia atrasos, mas não foi tanto assim.
- Eu sei. Túlio, não estou com vontade de irmos para o interior.
- O que? – Meus ombros caem em desânimo, enquanto ele me aperta com força contra o corpo grande, sem camisa e peludo. – Tive que dar uma entrada porque você cancelou da outra vez.
- Te reembolso. – Braz beija o topo da minha cabeça. E diz algo estranho. – Quero te levar para o mato.
- Que? Me solta. – Braz me aperta tão forte, está tão estranho que me faz rir. – Cara, o que você tem?
- Quero te mostrar uma coisa, mas antes liga na Pousada e cancela o chalé.
Eu faço o que ele pede e ouço uma senhora com sotaque germânico me destratar, dizendo que não irá me reembolsar pela palhaçada de reservar por duas vezes o mesmo chalé e depois efetuar o cancelamento.
- Viu o que você fez? Porque?
- Não estou com vontade de sair para longe da cidade com você e só durmo mais calmo quando tenho você nos meus braços. De outra forma, olhos verdes, tenho dormido só abaixo dos "calmantes" que o psiquiatra me prescreve.
- Ainda está preocupado com tudo que aconteceu, não é?
- Fomos afetados diretamente por pessoas que se envolveram com eles, até seu Camilo andou sofrendo ameaças. Só vou me acalmar quando todo mundo for preso e condenado, até lá sempre acho que algo de ruim nos ronda.
- Amor, não fala assim, isso me assusta.
- Te amo tanto, Túlio. – Braz me abraça.... Depois se afasta e percebo seus olhos molhados. Um grande homem que luta com seu sofrimento, lidando com isso a base de alguns medicamentos que lhe permitem estar mais calmo e menos emotivo. Percebo suas alterações de humor e tem horas que não me controlo e estouro com ele, mas algumas vezes apenas o deixo explodir e se acalmar novamente. Braz ainda sofre, mas luta firme.
- Que história de mato era aquela? – Pergunto para deixar ele mais calmo.
- Ah, tenho que te mostrar, vem.
Braz joga a chave de seu carro no meu peito novamente e muito puto eu o sigo. Nunca dirigi seu carro antes e hoje, apanhando um pouco com o fato de ser uma caminhonete, vou sendo guiado por suas palavras. São apenas quinze minutos do edifício onde ele mora, até entrarmos num lugar que parece uma chácara grande, muito arborizada, com gramado a imitar um tapete verde e bem cuidado.
- Que lugar é esse?
- Nosso canto. Comprei do meu pai para a gente ficar juntos, em vez de ficar em seu apartamento ou o meu, viemos para cá. Olha lá...
Ele me puxa de leve pela cintura, mandei fazer balanço e escorregador para o teu menino. Ah, amor tem um caseiro que mora aqui, já trabalhava para o meu pai...
Braz vai me falando e caminha me puxando pela mão, descendo uns degraus feitos na própria terra e revestidos de grama. Nunca vi ele assim tão empolgado, feito menino, me mostra tanta coisa e diz que a casa ainda não está toda mobiliada, mas ele não resistiu.
- Então amor, a casa é do jeito que sempre achei um charme, estilo sobrado, com quartos em cima feitos de madeira e sala e cozinha nessa área grande aqui em baixo. Olha que legal esse sofá, é feito de pallet, pintado, envernizado e com essas almofadas.... Gostou?
Percebo que estou sem palavras e num acesso de emoção forte me jogo no peito forte dele e choro emocionado.
- Braz..... Isso é loucura.... Fez isso as escondidas...
- Ei, não chora...
- Você também está chorando, me deixa. – Mas só consigo apertar ele ainda mais forte. Depois começamos a rir juntos, dois barbados parecendo jovens meninos apaixonados.
- Queria te amar aqui mesmo, mas o Betinho está por aí roçando o mato. Pode chegar de surpresa.
- E dentro da casa.
- Ah, nem entramos para você ver... Falta basicamente e mobília toda, mas isso é questão de poucos dias e a gente vem dar uma trepada comemorativa.
- Romântico....
- Cancelar o chalezinho, foi por uma boa causa?
-Levei um baita esporro por sua causa, peludo.
- Mudou os apelidos, careca.
- Calvo, para você.
Depois de umas risadinhas bobas, conheço o tal do Betinho e o casal de netos que veio passar o final de semana com os avós e com isso brincar nos brinquedos do Edu. Me sinto meio ciumento ao ver aquelas crianças correrem de um brinquedo para o outro, porque o Braz disse que fez para o meu filho.
O caseiro nos empresta um colchão de casal e nos convida para almoçar. Fico animado em passar o final de semana e o feriadão por ali, mas lembro que minha bolsa de roupas que já tinha preparado para o outro passeio ficou no meu carro na garagem de Braz.
- Vamos ficar sem roupa? – Eu pergunto enquanto descemos por entre uma vastidão de bananeiras para conhecer o galinheiro, os bois confinados, uma dúzia de ovelha que fica longe pra caramba, patos na lagoa dos peixes, um ganso invocado que ameaça de vir para cima nos fazendo correr.
- Já pensou Túlio, eu e você, dois velhos juntos.
- Imagina o quanto vamos brigar.
- Só pensa nisso, homem. – Braz dá uma risada. – Eu digo, passar a velhice num lugar calmo assim. Tem água corrente que passa pelo terreno, essa bicharada, netos.
- Nem me fale.
- O que?
- Minha filha. Só de pensar que vai crescer, minha menina, e casar com alguém.... Já começa a dar saudade da época em que trocava as fraldas dela.
- É, mas o tempo não para, isso é inevitável. Olha para nós, em janeiro, serão dois anos daquele dia, lembra...
- Lembro bem do dia em que você me seduziu a força.
- Alto lá. – Braz pensa em protestar, mas vê que eu rio, me abraça e dá uma risada junto comigo. – Acho que caminhamos uns dois quilômetros, isso todos os dias vai ajudar a manter os velhos sarados.
O caseiro pelo jeito não para, pois quando voltamos, vejo três vacas imensas pastando e começo a enumerar o tanto de atividades que compete a ele, imaginando o quanto cansativo deve ser repetir todos os dias a mesma labuta.
A esposa do Betinho, uma mulher bem mais alta e encorpada que o marido, cuida de uma extensa horta, canteiros compridos onde brotam coisas que ainda não consigo identificar do que se trata. Ela ralha com os netos que deixam a bola cair sobre as pequenas plantas e Braz sorri.
- Amor... – Ele começa alguma frase, mas o celular toca bem na hora.
- Pronto. – Não faço ideia do que seja, mas pela expressão preocupada dele, começo a sentir contrações no estomago. – Certo Itália, me mantenha informado.... Sim, estamos no sítio, ele adorou. Eu disse.... Sim, agradeça seu filho pelas informações.
- Braz...
- Tentaram invadir a casa do seu Camilo e ouve troca de tiros... O segurança foi baleado e revidou, mataram uma pessoa da quadrilha...
**************************************************************
De novo eu por aqui?
Agora só amanhã posto mais.... Um abração a todos, porque abraço é tudo de bom. Especialmente aquele de partir as costelas...
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top